A VIRGEM COM O GLOBO, A VIRGEM PODEROSA OU VIRGO POTENS – UM SEGREDO AINDA A REVELAR – PARTE I
Ilustração da 1ª Fase da Aparição de 27 de Novembro de 1830. A Virgem Imaculada com o globo nas mãos e à altura do peito. |
“Foi o martírio de
minha vida...” Palavras
de Santa Catarina Labouré à sua Superiora, Irmã Jeanne
Dufès, ao expressar o sofrimento que a acompanhava desde a segunda
Aparição da Santíssima Virgem, em novembro de 1830, trazendo um
globo nas mãos e à altura do peito, representando o mundo.
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Desde
o começo do ano de 1876, a Irmã Catarina anunciava sua morte. À
medida que iam passando as festas da Liturgia ou da Comunidade,
dizia: “É
a última vez que assisto esta festa.”
Aos que julgavam infundada este predição, assegurava com firmeza
que ela não veria o ano seguinte.
Era
grande seu pesar, vendo a devoção à Imaculada Conceição menor e
menos geral do que no tempo do Padre Aladel; e lastimava que o seu
diretor espiritual, tão cedo colhido pela morte, não tivesse podido
realizar todas as recomendações deixadas pela manifestação da
Santíssima Virgem, a 27 de Novembro de 1830.
Padre Aladel, primeiro confessor de Santa Catarina Labouré, faleceu em 25 de Abril de 1965 |
Sentindo-se,
por sua vez, perto de morrer, viu-se constrangida a revelar ao seu
último confessor certas particularidades, que sem isso ficariam
enterradas para sempre com o Padre Aladel.
Corria
o fim do mês de Maio e começo de Junho de 1876. O Padre Chinchon,
nomeado diretor do seminário interno da Congregação da Missão,
com o qual a Irmã Catarina se confessava desde muitos anos, deixara
de ir a Reuily e a Enghien para exercer seu ministério. Entretanto,
a ele só é que a Vidente queria confiar os últimos segredos e as
apreensões que lhe enchiam a alma.
Para
este fim, ela, que nunca saia de casa, foi à Casa-Mãe dos
Lazaristas, à rua de Sèvres, com a permissão da sua Superiora, e
pediu ao Padre Eugênio Boré, Superior Geral dos Padres e das Irmãs
de S. Vicente, a autorização excepcional de se dirigir ainda com o
Padre Chinchon sobre assuntos de sua consciência. O Superior Geral
não conhecia os fundamentos desse pedido, e recusou conceder essa
exceção.
A
Irmã Catarina obedeceu; voltou humildemente para casa, mas sofreu
uma angústia cruel. Procurou a Superiora e, sem poder conter as
lágrimas, que lhe brotavam dos olhos, disse:
Irmã Jeanne Dufès (foto de ABIM) |
"Minha
Irmã, sinto que estou perto de morrer; como não posso falar ao meu
antigo confessor, preciso falar-vos. Sabeis a que respeito?
Irmã
Catarina –
respondeu a Irmã Dufès (a quem o Padre Etienne dera informações
sobre a Vidente) – sei que recebestes a Medalha Milagrosa da nossa
Imaculada Mãe. Nunca vos falei disto, para não parecer indiscreta.
Pois
bem – replicou
a santa Irmã, mais animada com este começo de confidência –
Amanhã consultarei a Santíssima Virgem, durante a oração. Se ela
me disser que devo falar. Se ela me disser que devo falar, contarei
tudo. Ao contrário, se disser que devo calar-me, nada direi a
ninguém. Se a Virgem permitir que eu fale, virei procurá-la às dez
horas. Conversaremos no parlatório de Enghien; ali estaremos
tranquilas”.
A
Superiora ouviu estas palavras, ditas entre lágrimas, com comoção
extraordinária e aperto do coração. Foi a primeira vez que tomou
em consideração o que lhe dizia a Irmã Catarina. Prometeu ir a
Enghien. Nessa mesma noite contou à sua auxiliar o que se passara e
acrescentou: Imaginai a minha ansiedade até amanhã às dez horas.
No
dia seguinte, um pouco antes da hora marcada, a Irmã Catarina chamou
a Superiora, que logo atravessou o jardim e penetrou no parlatório
de Enghien, onde o colóquio começou. Duas horas durou a audiência.
Só o toque do Angelus,
ao meio-dia, pôs termo à conferência. No entanto, durante todo
esse tempo, as duas irmãs se conservaram de pé, como para uma
conversação de poucos minutos.
Imagem existente no jardim do Hospício de Enghien, perante a qual Santa Cata- rina fazia diariamente uma breve oração quando passava para seu ofício |
Que
declarações fez a Vidente à sua superiora?
“A
Irmã Catarina,
escreve a Irmã Dufès, durante
a nossa conversa, repetiu todas as particularidades das visões da
Santíssima Virgem. Num dado momento, disse que a Virgem tinha
aparecido com o globo nas mãos, à altura do peito, e viu que a
divina Mãe oferecera esse globo a Nosso Senhor, enquanto os seu
lábios se lhe moviam. A Irmã compreendeu que a Virgem rezava pelo
mundo inteiro.
“Eu
objetei o seguinte: nunca se falou desse globo nas mãos da
Santíssima Virgem; se falarmos nisto agora, todos dirão que estais
ficando louca. Ela respondeu: Não será a primeira vez que me chamam
de doida, mas eu direi até meu último suspiro que a Santíssima
Virgem, quando me apareceu, tinha o globo do mundo nas mãos.
Que
dizia a Santa Virgem ao oferecer o globo?
Ah!
Irmã, eu não ouvia, mas compreendi perfeitamente que ela rezava
pelo mundo inteiro.
E
depois, que foi feito do globo, oferecido pela Virgem?
Irmã,
eu não sei. E fez o gesto de estender os braços e as mãos, mas
acrescentou: Não vi mais senão raios que caiam sobre outro globo,
que a santíssima Virgem pisava, principalmente num ponto onde estava
escrita a palavra França.
Mas
repliquei, pode prejudicar a Medalha Milagrosa falar-se agora deste
globo.
Não,
não, Irmã, não se deve tocar na Medalha. Faça-se uma estátua com
o globo, e erija-se um altar no mesmo lugar onde a Virgem me
apareceu. Esta estátua tem sido o martírio de minha vida; eu não
queria comparecer diante da Santíssima Virgem sem que esta estátua
estivesse feita”.
A
Irmã Catarina indicou duas Irmãs de Caridade, das mais notáveis
pelas suas virtudes e pelas relações imediatas com o Padre Aladel,
as quais poderiam confirmar a verdade de suas palavras: a Irmã
Pineau, primeira sacristã da
Rue
du
Bac,
e a Irmã Maria Grant, antiga secretária geral no tempo do Padre
Aladel.
A
Irmã Dufès estava admiradíssima, ouvindo a Vidente contar com
tanta naturalidade e facilidade os favores que havia recebido de
Maria Imaculada. Perguntava a si própria se era aquela mesma Irmã
tão calada e considerada incapaz de exprimir de modo claro as
próprias ideias, e que nem sabia defender-se quando acusada
injustamente.
Mais
de uma vez, no correr da conversa, a Superiora teve vontade de cair
de joelhos aos pés da humilde e santa Vidente; ao menos, pediu-lhe
perdão por tê-la tratado com tanto desprezo. A mensageira de Maria
humilhou-se também e só exigiu da Superiora que fizesse construir o
altar e erigi-se a estátua da “Virgem
da Humanidade”,
Advocata
nostra,
chamada hoje de Virgo
Potens[1].
Continua....
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__________
[1]
Collete Yver, “La vie secrète de Catherine Labouré, p. 239.
FONTE:
CASTRO, Pe. Jerônimo Pedreira de, C.M., “Santa
Catarina Labouré e a Medalha Milagrosa”,
Editora Vozes, 2ª edição/1951, Cap. VIII, pp. 222 a 226 – O
texto
foi revisto e atualizado, sendo que o
título e os destaques são nossos.
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