Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS!

sexta-feira, 27 de setembro de 2019


MEMÓRIA MENSAL DA REVELAÇÃO DA MEDALHA MILAGROSA


1ª Aparição de Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré, em 19 de Julho de 1830
A Medalha Milagrosa e a virtude da Obediência

...Nossa Senhora, nas primeiras décadas do século passado (século XIX), apareceu a uma santa religiosa, hoje canonizada pela Igreja, Santa Catarina Labouré, em um convento de Paris, da Rue du Bac. É uma religiosa das Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo. E várias vezes, durante a noite, um anjo sob a forma de criança, conduziu essa religiosa à capela do convento, que estava, entretanto, fechada por várias portas, trancadas a chave, intransponíveis, etc. Conduziu essa religiosa até a capela aonde Nossa Senhora se encontrava sentada em uma cadeira que até hoje se conserva ali. E lhe dirigiu a palavra, comunicou-lhe várias coisas e, sobretudo, lhe comunicou esta devoção à Medalha Milagrosa.

Essa medalha representa Nossa Senhora das Graças, quer dizer, Nossa Senhora calcando aos pés uma serpente. É a Imaculada Conceição, que calcou aos pés a Serpente infernal, de acordo com o que está dito na Sagrada Escritura. E com as mãos abertas e, delas, partindo feixes de luz resplandecentes.

A invocação de Nossa Senhora das Graças quer dizer Nossa Senhora que têm em suas mãos todas as graças, porque Ela é depositária de todos os tesouros de Deus. Mas quer dizer também Nossa Senhora dadivosa, misericordiosa, que quer dar todas as graças e que por isso tem as mãos abertas, Ela deseja dar tudo. Ela é a Mãe de Misericórdia, Ela quer tocar todas as almas, Ela quer inundá-las de benefícios.

Ela quer encher o mundo inteiro das manifestações soberanas e celestes de Sua bondade e de Seu poder! E determinou que as pessoas que trouxessem essa medalha – que tem, então, no seu aspecto principal Nossa Senhora e os dizeres: “Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós”. E com as outras características que acabo de declarar, determinou que essas pessoas fossem especialmente protegidas pela Providência Divina e que recebessem dela graças enormes, especialmente no que diz respeito à boa morte.

É celebre o fato de que a grande maioria das pessoas que morrem usando essa medalhinha, ainda que sejam ateias ou muito afastadas de Deus, pelo uso dessa medalhinha acabam se entregando a Nosso Senhor, se arrependendo à última hora pelos rogos onipotentes de Maria.
Medalha Milagrosa (frente e verso)


É compreensível – e é disso que quero tratar, porque se revela aí um traço muito bonito da Sabedoria divina – que Nossa Senhora queira ligar esta devoção a Ela enquanto Rainha e Mãe de todas as graças, com um grande número de graças. É compreensível. É compreensível também que tenha dito: Quem usar uma medalha com a minha efígie e com esses dizeres, recomenda-se a Mim mais especialmente e eu, por causa disto, ajudarei a essa pessoa.

Mas Nossa Senhora põe uma lei. Ela indicou tudo: indicou a forma ovalada da medalha, indicou umas iniciais com o nome dEla etc., para serem usadas no verso da medalha. Ela indicou uma porção de pormenores a que a medalha tem que se conformar para verdadeiramente corresponder às suas exigências. A tal ponto que em grande número de rosários, no entroncamento dos dois braços do rosário existe a Medalha Milagrosa. E quando se oscula o terço, quando há nele a Medalha Milagrosa, é de bom alvitre oscular a medalha e o terço, não só o terço.

Muitas vezes, por exemplo, na parte de cima, colocam rosas; um bispo conhecido disse que o simples fato de serem colocadas rosas em relevo, de maneira a tirar o caráter ovalado da medalha, faz com que ela não corresponda [às exigências de Nossa Senhora]. É essa caracteristicamente a medalha. [Se nessa] face houvesse, em saliência, rosas, poderia já não corresponder à devoção e poderia, portanto, já não merecer as graças que foram prometidas por Nossa Senhora nessa ocasião. Por quê? Porque a medalha era ovalada. Isso não quer dizer o seguinte: Nossa Senhora não dará nenhuma graça! Medalha, qualquer que seja sua forma, é um objeto de piedade. Mas isso quer dizer apenas que não têm as garantias daquela promessa.

Podemos perguntar por que Nossa Senhora foi tão estrita na definição, no estabelecimento de todas essas condições? E alguém poderia perguntar o seguinte: isso não será uma mesquinharia e não está abaixo das grandezas de Nossa Senhora querer ser obedecida em tais ninharias? Não seria muito mais sapiencial que Nossa Senhora abrisse mão disto e que não exigisse minudências, minúcias tão exatas como estas?

Nós devíamos ver na própria minúcia uma manifestação de sabedoria, porque Nossa Senhora não faz nada que não seja perfeito. Então, devemos nos perguntar qual é a razão dessa minúcia, porque essa minúcia deve ter uma razão. E a razão, evidentemente, é de adestrar em nós duas virtudes: em primeiro lugar, a virtude da fé e, em segundo lugar, a virtude da obediência.


A virtude da fé quer dizer crermos firmemente que Ela quis que isso fosse assim. Crermos na sua revelação na íntegra e crermos que houve uma manifestação da Sua vontade, uma autêntica manifestação de Sua vontade. Ela indicou também esses pormenores e um resquício da virtude da obediência no seguinte: Ela é a Rainha e tem o direito de mandar aquilo que Ela quiser; e a menor das vontades dEla nos deve ser muito preciosa.

Não só muito preciosa – porque vem de uma autoridade excelsa, Ela é a Mãe de Deus e Rainha do universo – mas muito preciosa porque tudo quanto Ela quer é perfeito e nossa vontade deve unir-se muito à vontade dEla. Devemos dizer: “minha Mãe, Vós o quisestes assim, e porque Vós o quisestes assim, eu quero assim, porque eu quero o que Vós quereis. Eu não só faço o que Vós quereis que eu faça, mas eu quero que Vós queirais que eu queira, e como vós quereis que eu queira isto, que eu tenha essa medalha assim, e com essas minúcias para gozar de tais graças, eu me conformo humildemente à Vossa vontade soberana. Eu amo este gesto pelo qual Vós quereis exercer sobre mim a Vossa realeza e eu, por causa disso, me dobro; eu executo o que Vós quereis, reconhecendo que não sou senão uma criança nas Vossas mãos, que eu não sou senão um filho e um escravo nas Vossas mãos e que devo fazer tudo aquilo que Vós quereis”.

Para os senhores compreenderem bem como este ato de obediência, assim, é grande, eu tenho lido [livros] de vida espiritual que dizem que naquele fruto cuja ingestão era proibida a Adão e Eva no Paraíso, naquela proibição de comerem o fruto daquela árvore, não havia outra coisa senão um ato de vontade de Deus. A fruta não tinha nada de nocivo ao homem. Se não fosse uma proibição de Deus, os homens poderiam comer daquela fruta. Era uma coisa na aparência tão insignificante querer comer uma fruta, mas aquela ordem versando sobre uma coisa tão insignificante devia ser obedecida. Porque Deus é Senhor, porque Deus é nosso Pai.

E nós devíamos fazer a vontade dEle, porque Ele é Rei e porque é nosso Pai cheio de bondade e só pode querer um coisa boa. E foi por causa de um ponto tão pequeno em que não houve obediência, que houve a catástrofe do pecado original e todas as consequências que vieram depois.

Isto é, meus caros, uma lição magnífica de antiliberalismo. O revolucionário, o liberal, de bom grado – quando ele é assim, meio disfarçado, meio moderado – pensa o seguinte: “e daí? É linha geral da vontade de Nossa Senhora, eu faço. Mas nas minúcias, eu não creio que Nossa Senhora queira me obrigar à minúcia! Nas minúcias faço como entendo eu”. Ou então: “por que Nossa Senhora exigiu essas minúcias? Eu não estou de acordo que Nossa Senhora exija minúcias tais! Eu acho contra a minha dignidade obedecer em coisinhas assim. Eu vou fazer o que entender”.

Isso é liberalismo puro e desagrada a Deus. Nossa Senhora, quando recebeu a mensagem angélica de que seria a Mãe de Deus, teve como resposta um ato de obediência: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a Sua palavra”. O que quer dizer isso? Significa obedecer! Quer dizer, dobrar a nossa vontade na hora de receber as maiores honras ou de executar as maiores ordens, como nas menores, porque Deus tem o direito de ser obedecido em toda linha!

Nesse sentido a Medalha Milagrosa é, de algum modo, a festa da santa obediência. E temos uma boa ocasião de pedir a Nossa Senhora que nos dê o espírito de obediência, por exemplo, no que diz respeito à prática dos Mandamentos. Obedecer aos Mandamentos inteiros, inclusive em matéria que possa significar a mínima falta, a mínima imperfeição, por amor à vontade de Deus. Por amor à vontade da Igreja católica que tem seus mandamentos e tem poder de ditar os seus mandamentos. Por isso a gente obedece meticulosamente, inclusive nas menores coisas.

Que nossa vida seja assim também! Obediente até nas pequenas coisas. Obediente a Deus Nosso Senhor, a Nossa Senhora, que é nossa Medianeira junto a Ele; à santa Igreja Católica que é nossa medianeira junto a Nossa Senhora e junto a Deus e àqueles que a obediência colocou para nos corrigir.

Portanto, também às pequenas autoridades de nosso Grupo. Quando mandarem fazer alguma pequena coisa, obedecer, fazer como mandaram. Por quê? Porque nós devemos amar toda forma de autoridade, em todas as suas manifestações e, de bom grado, com a flexibilidade de alma sermos obedientes a essa autoridade. Isto é um dos aspectos contrarrevolucionários e antiliberais que se depreende da devoção à Medalha Milagrosa. …”



________excertos da conferência proferida por Plinio Corrêa de Oliveira, "Santo do Dia", em 26 de novembro de 1970
(véspera da Festa da Medalha Milagrosa),
e publicada na revista Catolicismo, nº 100 (Abril/1959)



NOTA: Hoje (27 de Setembro) celebra-se a Festa de São Vicente Paulo, cofundador da Companhia das Filhas da Caridade.



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segunda-feira, 23 de setembro de 2019


FILHAS DE MARIA: “DIGNIDADE DE MARIA”

"Confia em mim, filha minha, que eu  sou tua Mãe"

I. Grande foi a santidade, grandes as virtudes de Maria, mas quem poderá dignamente ponderar toda a sua nobreza e glória? E aqui tens, minha filha, um novo título ao teu amor e um grande motivo de consolação. Não se trata do sangue real que corre em suas veias, nem da sua ilustre origem; mas unicamente da sua sublime dignidade de Mãe de Deus. Ah! Minha filha, que criatura pode ser comparada com Maria? Ainda ela não havia nascido, e já os primeiros pais do gênero humano por ela suspiravam; por ela que um dia havia de esmagar a cabeça da serpente; já os patriarcas a esperavam, como Mãe daquele em quem devia ser abençoada toda a sua posteridade. A sarça de Moisés, o velo de Gedeão, a Arca da aliança, o templo de Jerusalém, eram outros tantos símbolos, que significavam suas sublimes prerrogativas; os profetas anunciavam-na sob o emblema ora da mulher forte, ora de uma montanha, elevando se acima de todas as outras, ora de um jardim fechado e de uma fonte selada, ora da vergonha de Jessé, ora da virgem Mãe de Emanuel; enfim, ela era figurada pela formosa Rachel, pela intrépida Judith, pela gloriosa Esther e pelas mais celebres mulheres do Antigo Testamento. E tudo isto unicamente porque ela havia de ser minha Mãe. E houve jamais mulher alguma celebrada com tal encarecimento?
II. Mas para formar conceito da grandeza de Maria, é preciso aferi-la pela grandeza do Filho, a quem deu nascimento. É minha Mãe; de mim que sou verdadeiro Deus; é Mãe de um Filho que tem por Pai ao próprio Deus; é por conseguinte Mãe de Deus. Por um favor insigne, que jamais foi outorgado a criatura alguma nem o será nunca, trouxe nove meses a Deus no seu seio, alimentou a Deus com o seu leite durante muitos anos, velou pela subsistência de Deus, o qual lhe obedeceu e a tratou com a mais doce familiaridade, apertou-o ao coração e lhe imprimiu os mais ternos ósculos. Está tanto mais elevada acima dos anjos, quanto o nome que recebeu é mais excelente que o deles; porque qual é o anjo a quem Deus jamais disse: Tu és minha Mãe? -Oh! Se visses estes espíritos sublimes velarem a face diante da minha augusta Majestade e adorarem-na com santo tremor, que alta ideia não conceberias de Maria minha Mãe! que amor e que profundo respeito não sentirias para com ela!
III. O título de Mãe de Deus eleva Maria a tal altura, que o pensamento humano não pode alcançá-la; depois de Deus nada maior pode haver do que Maria. O Eterno, quando a formou, esgotou, por assim dizer, toda a sua onipotência; Ele poderia criar um mundo mais vasto, um céu mais brilhante, uma terra matizada de flores mais fragrantes e mais belas; mas ser-lhe-ia impossível formar mãe mais elevada em dignidade, mais excelsa do que a minha. Essa dignidade é como infinita, porque aquele a quem deu o ser é de uma grandeza infinita: logo, se nada há acima de Deus, também não pode haver criatura maior do que Maria. Mas como poderás compreender a grandeza de Maria, se tão somente a Deus é dado compreendê-la? A própria Virgem não pode compreender toda a extensão da sua grandeza; por isso, à vista das grandes graças com que Deus a tinha favorecido, contentou-se ela com dizer, que todas as gerações a chamariam bem-aventurada; que o Todo Poderoso obrara nela grandes maravilhas, e que por isso seu braço manifestara o seu poder. Oh! Minha filha, quanto és feliz por ter tal Mãe! Em verdade, tu deverias, diante dela, conservar-te em silêncio e em santo temor, sem mesmo ousares levantar os olhos para o esplendor da sua dignidade. Mas ela é tua Mãe; e por isso não somente não reprova que a ames com ternura e confiança de filha, mas até o deseja e te o pede. Vê a inefável bondade de Maria! Vê o teu feliz destino!

FRUTO
Reconheça-te indigna de seres filha de Maria. E por tal motivo, sem deixares de a considerar e amar ternamente como tua Mãe, oferece-te a ela na qualidade de escrava. Traze pendente do pescoço alguma imagem sua, ou uns bentinhos, coroa ou rosário, como sinal honorífico e como recordação do que és a tal Mãe. Agradece a Deus o tê-la escolhido por sua Mãe de preferência a qualquer outra criatura, e por isso mesmo alegra-te com ela, principalmente quando rezares as Ave Marias ao toque das Trindades. S. Leonardo de Porto Maurício nunca deixava de render a Maria este preito de amor filial, cada vez que ouvia dar horas.
-Rezarás hoje nove Ave Marias, para te alegrares com ela pela sua divina maternidade, e beijarás três vezes o chão, para testemunhar-lhe tua humilde servidão.

AFETOS
Ó Santa Mãe de Deus! Virgem sublime! Virgem incomparável! Não sei como testemunhar-vos o meu reconhecimento pelo insigne favor que me fizestes em quererdes ser minha Mãe, e considerar-me como vossa filha. Muda e confusa fico quando comparo a minha baixeza e indignidade com a vossa bondade e grandeza; mas fale meu coração por mim, pois eu não sei como expressar-vos os afetos que se acendem em minha alma. Ao menos já que me permitis, chamar-vos-ei com o doce nome de Mãe; invocar-vos-ei como minha Mãe, e como a Mãe vos amarei sempre, com ternura e confiança sem limites. Mas nem por isso deixarei nunca de me confessar vossa inútil e indigníssima escrava: Ó minha Mãe e minha senhora! Não permitais que eu me torne indigna de vós, por alguma ação que me desonre diante de Deus.
ORAÇÃO JACULATÓRIA

Virgem Maria, Mãe de Deus e minha Mãe, rogai por mim a Jesus.



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FONTE: livro, em formato PDF, “Jesus Falando ao Coração das Filhas de Maria”, Rev. Padre Teppa, Lisboa/1901, obtido no blog Alexandria Católica.

segunda-feira, 2 de setembro de 2019


A ORAÇÃO «SANTÍSSIMA VIRGEM, CREIO E CONFESSO… »



(Continuação do post anterior)

COMENTÁRIO

A análise da mesma oração “Santíssima Virgem” nos revela a existência de duas partes bem definidas: a primeira, compõe-se de uma dupla invocação ou saudação. A segunda parte, por sua vez, contém sete petições que, na verdade, constituem uma síntese das principais inquietudes espirituais e apostólicas de Santa Luísa e de todas as Filhas da Caridade. As Irmãs, ao fazerem sua esta oração, aspiram render culto e homenagem à Imaculada Conceição, bem como desejam oferecerem-se à Virgem, em corpo e alma, ao estilo de Luísa de Marillac, quando fez sua oblação à Mãe de Deus em 1626. Ela mesma escreveria um ano mais tarde, em 1627:

É verdade que ao dizermos que és a Mãe do Filho de Deus, dizemos tudo, porém, que admiráveis são em si mesmas todas as operações da Mãe! Não sem razão a Santa Igreja a chama Mãe de misericórdia. E assim és, porque és Mãe da graça1.

A DUPLA INVOCAÇÃO OU SAUDAÇÃO A MARIA


A dupla invocação contida na saudação: Santíssima Virgem e Puríssima Virgem, resumem como um eco daquela longínqua saudação do Anjo a Maria, anunciando-lhe a encarnação do Verbo de Deus em seu seio: Alegra-te, cheia de graça. O reconhecimento da santidade e pureza virginal de Maria servia à Luísa de Marillac como um início, e continuava com a presença e comunicação com a Mãe de Deus, conversa que culminava com as sete petições dirigidas à única Mãe da Companhia para que obtivesse de seu amado Filho as graças mais urgentes para ela e para toda a Companhia das Filhas da Caridade, que no presente ou no futuro fariam parte da comunidade. Apoiadas na mediação insubstituível do amado Filho Jesus Cristo, fazem um ato de fé e amor antes de expressar suas necessidades particulares e comunitárias.
Antigo postal do Centenário da proclamação
do Dogma da Imaculada Conceição

Após a saudação vem a confissão de fé que as Irmãs fazem, à imitação de sua fundadora: creem com o coração e confessam com os lábios que Maria foi concebida sem pecado original em virtude da previsão e aplicação dos méritos da paixão e morte de seu Filho. Confiadas na gloriosa qualidade de Mãe de Deus e, por conseguinte, em sua intercessão maternal, pedem as sete graças que consideram mais prementes.

As três primeiras referem-se ao revestimento do espírito distintivo da Companhia, pois, se lhes falta o espírito, falta-lhes tudo. A perseverança na vocação se faz tanto mais urgente quanto a paciência no serviço dos pobres e a convivência fraterna em comunidade, que são a causa frequente do abandono da vocação. O dom de oração, obedece à necessidade constante da ajuda e intimidade com Deus, para manterem-se firmes e fieis em sua entrega a Deus. A vida santa responde à chamada universal de Deus à santidade, que as torna irreprováveis diante d'Ele, pelo amor e pela caridade.

Finalmente, pedem uma boa morte que coroe suas vidas de abnegação e de serviço, e as introduz na “missão do céu“, onde tudo é amor.

As causas e as razões, como se vê, para pedirem a graça e a bênção a Deus, por meio de sua Santa Mãe, a Virgem Maria, não podem ser mais emotivas: “Santíssima Virgem – dizia Luísa de Marillac –, tem compaixão de todas as almas necessitadas, pelo Filho de Deus e teu. Mostra a Justiça divina aos puríssimos seios que lhe ofereceram o sangue derramado na morte de teu divino Filho para nossa redenção, a fim de que o mérito desta seja aplicado a todas as almas dos agonizantes, dando-lhes uma completa conversão e a nós, alcançar-nos, com tuas súplicas, tudo aquilo que temos necessidade para glorificar eternamente a Deus em tua Bem-aventurança essencial, gozando, ainda, de tua eventual e visita, (normalmente) concedida aos bem-aventurados2.

OS SETE PEDIDOS DE PRIMEIRA NECESSIDADE

Santa Luísa de Marillac, rogai por nós.

As Imãs começam com um clamor unânime (primeira petição), pedindo a humildade, virtude que distinguiu o Filho de Deus encarnado, pois se rebaixou até fazer-se como um de nós, igual em tudo a nós, menos no pecado. A humildade é a primeira das virtudes que constitui o espírito das Filhas da Caridade, já que lhes faz ver a verdade do que são e têm. Dirigindo-se a Maria, comentava Luísa: “Que as pessoas… honrem teu estado puríssimo com a submissão, dependência, confiança na Providência de Deus, imitando o inesgotável abismo das virtudes que tua santa alma praticou durante o tempo em que estiveste sujeita a teu Filho Jesus, por meio da grande humildade que constantemente te colocava diante e à vista de tudo o que Deus fazia em ti e o que tu eras n'Ele3.

O segundo pedido refere-se à caridade, rainha e senhora de todas as virtudes, a que explica o nome da comunidade e o fim a que se propôs ao nascer na Igreja e no mundo: servir e amar a Jesus Cristo na pessoa dos pobres e enfermos, corporal e espiritualmente, afetiva e efetivamente. Luísa tem tão clara em sua mente e em seu coração esta necessidade que não aceita dirigir-se à sua Imaculada Mãe sem lhe expressar a dita necessidade que todos temos de praticar a caridade, a fim de viver, com dignidade, nossa condição de filhos de Deus e filhos espirituais de Maria.

Relativamente à caridade entre as Irmãs, amor que leva à uma profunda união, (Luísa) exortará um dia: “Parece-me que para sermos fieis a Deus, devíamos viver em grande união umas com as outras e, assim como o Espírito Santo provém da união do Pai e do Filho, assim também a vida que voluntariamente temos levado deve transcorrer nessa união dos corações, que impedirá de nos indignarmos com as ações dos demais e nos comunicará uma tolerância e paciência cordiais para com nosso próximo4.

O terceiro pedido é próprio dos simples que põem sua confiança no Senhor, isto é, àqueles que se esforçam em adquirir a pureza de coração, corpo e espírito, virtude que leva a tudo fazer para agradar somente a Deus em nossos pensamentos, palavras e obras, não aos homens, amigos das aparências e vaidades. A simplicidade que aqui se pede não é outra que a que o Evangelho reconhece como a bem-aventurança proclamada por Jesus: “Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus” (Mt 5, 8). Luísa comprovou e tinha experiência que as Irmãs verdadeiramente simples, Deus revela-lhes de modo particular os segredos do Reino e da Caridade.
Santa Luísa acompanhada de uma Filha da Caridade em oração
à Virgem Maria

O quarto pedido tem como objeto conseguir, por intercessão de Maria, a perseverança na vocação, no tempo da tentação, provação e tribulação; perseverança que deve ser entendida como fidelidade aos compromissos anexos à vocação. Como indicávamos acima, é tanto mais necessária quanto o serviço desinteressado dos pobres, (especialmente) quando torna-se cansativo e decepcionante com o tempo, tornando cada dia mais difícil a convivência entre umas e outras e a se deixarem arrastrar pelas investidas provocadas pelas aparências enganosas do mundo. Por isso, em carta de junho de 1642, Luísa animava Ir. Margarita Mongert: “Seja muito corajosa na desconfiança que deve ter de si mesma. O mesmo digo a todas nossas queridas irmãs; desejo que todas estejam cheias de um forte amor que as ocupe tão suavemente em Deus e tão caritativamente no serviço dos pobres, que seus corações não possam admitir pensamentos perigosos para sua perseverança. Ânimo, não pensemos mais do que agradar a Deus pela prática exata de seus santos mandamentos e conselhos evangélicos…5.

O quinto pedido visa obter de Maria o dom da oração que ela mesma recebeu, pois diz o Evangelho que (Ela) meditava em seu coração o que ouvia e via em seu Filho (Lc 2, 19, 51). Ademais, Luísa estava persuadida de que se faltasse o espírito de oração na comunidade, esta se dissolveria, ao faltar-lhe o alimento necessário para sustentar e manter a vocação. São tão conhecidos por todos nós os pensamentos e sentimentos de Luísa acerca da oração, que se faz desnecessário repeti-los para lembrá-los e convencê-los do porquê de sua insistência na fidelidade à oração, tanto pessoal como a comunitária.

O sexto pedido gira em torno da santa vida que deve levar a Filha da Caridade, pois, do contrario, não convencerão suas ações nem se distinguirão do resto dos cristãos, sem o que levarão uma vida superficial, não obedecendo ao mandato do Senhor: “Sede perfeitos como é perfeito vosso Pai celestial” (Mt 5, 47). Para Santa Luísa, a santidade consiste, efetivamente, na acepção e cumprimento do desígnio de Deus, praticando o mandamento do amor, que está acima de tudo: “Amarás ao Senhor teu Deus, com todo o coração, com toda a alma, com toda a mente e com todas as tuas forças” (Mc 12, 30).

A boa morte, objeto do sétimo e último pedido, vem coroar a vida de santidade da Filha da Caridade, consumida em obras de caridade para com o próximo, ao estilo de como São Paulo consumiu a sua correndo no estádio da vida, a espera de alcançar a coroa da justiça que o Senhor entregaria não só a ele, como a todos os que soubessem esperar com amor sua manifestação (cf. II Tim 4, 7-8). No mais, a vida é breve, uma viagem que nos leva à eternidade ou à “missão do céu”, como dizia Vicente de Paulo.

CONCLUSÃO


Por tudo o que foi dito e muito mais, explica-se a devoção das Filhas da Caridade à Imaculada Conceição, que como a música de Soror Carmen Pombo solenizam, de vez em quando, a reza do Rosário ou outros atos litúrgicos ou paralitúrgicos marianos como o canto da oração “Santíssima Virgem”, ao menos na Espanha. Embora não me conste, é provável que esta mesma oração esteja musicada também em outras línguas e as Irmãs a cantem com devoção, em honra da Imaculada Conceição.

Desde o tempo dos fundadores, tanto na C.M. (Congregação da Missão) como na Companhia das Filhas da Caridade, a solenidade da Imaculada se celebra com especial fervor. Talvez por isso a comunidade foi abençoada com as Aparições da Rue du Bac, em 1830. Os Superiores Gerais acostumaram desde 1852 escrever todos os anos às Irmãs, por ocasião da festa da Imaculada, uma carta circular exortando-as ao amor e à imitação de nossa Mãe. Seu ato de consagração anual a Maria Imaculada recorda hoje a todos aquele ato pelo qual Santa Luísa, a 17 de outubro de 1644, oferecia a Deus, na Catedral de Chartres, a nascente Companhia, “pedindo-lhe sua destruição antes que se estabeleça contra sua santa vontade…6.





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FONTE: Anuário Março-Abril de 2011. “À Santa Luísa de Marillac no 351 aniversário de seu natalício, 15 de março de 1660 - Antonino Orcajo, C.M. Ano de Publicação original: 2011 - http://vincentians.com/es/la-oracion-santisima-virgen-creo-y-confieso/ - Tradução e adaptação para o português do Brasil é nossa, assim como alguns destaques.

_____________
1 SLM. o. c., p. 763.

2 Id., p. 670.

3 Id., p. 669.

4 Id., p. 756.

5 Id., p. 82.

6 Id, p. 125.