O BRASIL SOB O MANTO PROTETOR DA IMACULADA CONCEIÇÃO
Imagem da Virgem Imaculada Nossa Senhora da Medalha Milagrosa, no altar-mor da Capela da Rue du Bac, 140, Paris. |
Muito
antes mesmo da proclamação do dogma da Imaculada Conceição da
Bem-Aventurada Virgem Maria por SS. o Papa Pio IX, em 8 de Dezembro
de 1854, através da Bula Ineffabilis
Deus,
o povo fiel já acreditava e professava sua fé nesse privilégio da
Mãe de Deus, tendo o próprio Pontífice reconhecido isso a quando
da declaração do dogma.
Como
todos sabemos, “Maria foi Imaculada na Conceição, concebida sem
pecado original, privilégio único e irrepetível na humanidade,
porque estava predestinada para ser a Mãe de Deus, tendo em vista o
nascimento e méritos futuros de seu Unigênito Filho Redentor,
porque a Mãe de Jesus teria que ser, como o foi, Puríssima,
Imaculada.”[1].
Em
postagem anterior, fizemos referência às Aparições da Virgem
Imaculada a Santa Catarina Labouré, em 1830, como a “Mãe das Aparições dos Séculos XIX e XX”,
uma antecipação do dogma que só seria solenemente declarado vinte
quatro anos depois, e confirmado juntamente com a infalibilidade
papal, no dia 25 de março de 1858 (Solenidade da Anunciação), à
humilde camponesa Santa Bernadette Soubirous, que, diante de sua
insistência acerca da identidade da Aparição, assim afirmou a
Santíssima Virgem: “EU SOU A IMACULADA CONCEIÇÃO!”.
A Medalha Milagrosa (reverso e anverso). |
A
antecipação do dogma nas Aparições da Rue
du Bac
em 1830 se deu por meio da Medalha Milagrosa, na qual vem inscrita a
oração-jaculatória “Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS
QUE RECORREMOS A VÓS!”, isto é, esta breve e prodigiosa oração
já assentava a fé da Igreja de que Maria Santíssima foi concebida
sem a mancha do pecado original, foi concebida PURA e IMACULADA.
Pois
bem, hoje
é um dia todo especial para os católicos do Brasil. Celebra-se a
festa da Padroeira, Nossa
Senhora da Conceição Aparecida,
e os 300 Anos do encontro de sua Imagem no rio Paraíba do Sul por
três pescadores: João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia. A
narrativa histórica do encontro da Imagem nos remete à Pesca
Milagrosa, primeiro e segundo milagres operados por Jesus Cristo (Lc
5, 3-9 e Jo 21, 1-8). Os pescadores, a despeito de lançaram suas
redes ao rio, nada pescavam, não conseguiam peixes para o banquete a
ser oferecido a Dom Pedro de Almeida e Portugal, o Conde de Assumar –
à época, Governador da Província de São Paulo e Minas Gerais –
que passava em visita à região.
Ilustração do achado da Imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida - "Pesca Milagrosa", capturada do site do Santuário Nacional. |
Milagrosamente,
e após várias tentativas, vem na rede dos pescadores uma pequena
Imagem em dois pedaços: o primeiro, o corpo sem a cabeça, e rio
abaixo, o segundo, a cabeça da Imagem anteriormente encontrada, e a
partir de então, suas redes passaram a vir cheias de peixes[2].
Embora ainda não soubessem a que invocação de Nossa Senhora
representava a estátua, para nossa alegria e gáudio, tratava-se de
uma pequena imagem da Imaculada Conceição de Maria.
À
época da aparição da Imagem, em outubro de 1717, o Brasil já
estava sob o manto protetor da Imaculada Conceição, tinha-a como
sua Padroeira, pois, sendo como era Colônia de Portugal, estava
sujeito aos efeitos da consagração oficial a Nossa Senhora da
Conceição proclamada por D. João IV, precisamente no dia 25 de
março de 1646, como Padroeira do Reino, tendo inclusive o Rei jurado
defender até a morte o insigne privilégio da Imaculada
Conceição[3].
Imagem original antes da res- tauração, sem manto e coroa. |
Essa
proteção da Imaculada Conceição foi reconhecida pelo Santo Padre
o Papa Pio XII, em 07 de setembro de 1954, numa alocução dirigida
ao povo brasileiro através de rádio: “Se o Brasil nasceu à
sombra da Cruz, organizou-se, cresceu, prosperou amparado sempre pela
Mãe Santíssima, venerada ternamente e invocada sob numerosos
títulos, cada qual mais belo e expressivo. ...Entre os títulos
marianos prevalece o da Imaculada, que exorna, com muitos
secundários, mais de 350 dos templos principais. E era natural.
Desde os primórdios floresceu em Terras de Santa Cruz a devoção à
Imaculada Conceição de Maria, implantada pelos descobridores”[4].
Talvez
alguns estranhem – o que é compreensível – o fato de
atribuir-se à Imagem encontrada a denominação de Nossa Senhora da
Conceição, pois essas geralmente representam a Virgem Maria vestida
de branco e com manto azul, algumas com véu branco, outras com os
cabelos soltos... Santa Catarina Labouré assim descreveu a Mãe de
Deus na Aparição do dia 27 de novembro de 1830, quando lhe foi
revelada a Medalha Milagrosa: “...a
Santíssima Virgem... estava de pé, vestida de branco-aurora, feito
à moda que ordinariamente chamam à la vierge, de mangas compridas,
com um véu branco, que lhe descia até a orla do vestido; por baixo
do véu percebi os seus cabelos, separados em bandós, sob uma renda
de três centímetros de largura, mais ou menos, sem pregas, pousando
ligeiramente sobre os cabelos...”[5].
Todavia,
como dito anteriormente, na época do aparecimento da Imagem o Brasil
era colônia de Portugal, e a representação iconográfica das
imagens de Nossa Senhora da Conceição deveriam atender às
determinações de D. João IV acerca das cores e formas de
representação da Imaculada Conceição, como melhor descreve
Leonardo C. de Almeida, membro associado da Academia Marial de
Aparecida:
“A
iconografia dessa invocação mariana estabeleceu-se a partir da cena
descrita em Ap 12, 1-2 ('Então
apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida com o sol, tendo
a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze
estrelas. Estava grávida e gritava em dores de parto, atormentada
para dar à luz'
) na qual Maria, imagem da Igreja, é reconhecida como a mulher
grávida e vestida de sol apresentada por São João – razão pela
qual as imagens da Imaculada representam a Virgem com a lua sob os
pés e gestando o Salvador. Algumas são coroadas e/ou dotadas de uma
auréola composta de (doze) estrelas, além de retratar Maria
esmagando a cabeça de uma serpente, símbolo do mal e do pecado.
“Nos
dias de hoje, estamos habituados com as cores azul e branca nas
vestes das imagens mais modernas da Virgem da Conceição. Mas nem
sempre foi assim. Na época do Brasil colonial, as imagens da
Imaculada Conceição eram comumente representadas com riqueza de
douramento ornamental e com as cores azul escuro e vermelho granada
no manto e na túnica – cores oficiais do Império Português. Isso
decorre de uma determinação de Dom João IV, do ano de 1646, que
proclamava a Virgem da Conceição Padroeira de Portugal e de suas
colônias. Também é importante lembrar que, segundo a tradição da
antiga arte cristã oriental, manifestada, sobretudo, nos ícones, as
cores vermelho e azul estavam relacionadas, respectivamente, à
virgindade e à maternidade e relação com o divino. Dessa forma, o
período barroco em nosso país produziu um sem-fim de “imaculadas”
com essa identidade iconográfica.
Imagem policromada de Nossa Senhora da Conceição Aparecida (Fonte: Academia Marial). |
Essas
características artísticas todas estavam presentes na singela
imagem da Senhora da Conceição que mais tarde seria chamada
Aparecida. Como dissemos, era, originalmente, policromada. A carnação
do rosto e das mãos postas sinalizava pele branca. Os cabelos eram
(curiosamente) curtos e não chegavam sequer aos ombros. O ventre
estava avolumado, sugerindo a gravidez por obra divina. O rosto
apresentava bochechas avantajadas, covinha no queixo e boca pequena e
com dentinhos à mostra. Flores e um diadema ornavam-lhe a cabeça e
o vestido. Não havia pedestal. As nuvens com as pontas da lua
minguante e a cabeça de um anjinho serviam-lhe de base. Pouco tempo
após a pesca milagrosa, recebeu cordões dourados, mantos e coroas
(sendo os mais famosos e que lhe deram a identidade atual aqueles
oferecidos pela Princesa Isabel). Bem posteriormente apenas,
foram-lhe acrescidos o pedestal de prata e a cabeleira nas costas
(para melhor fixar a cabeça quebrada ao corpo).
A
imagem em terracota da Senhora da Conceição Aparecida, embora não
estivesse revestida do maior requinte, da riqueza e do esplendor do
Barroco brasileiro mais refinado, tornou-se célebre e adquiriu
profunda significação a partir da perda da policromia e da
coloração enegrecida que ganhou após anos imergida nas águas do
Paraíba e sujeita às luzes e à fuligem das velas, dos candeeiros e
lampiões, revelando a predileção do Deus Justo e Libertador pelos
pequenos do Reino, de maneira especial os afrodescendentes que
padeciam vítimas da política escravocrata daquele Brasil do século
XVIII.”[6].
Imagem original e atual com o manto e a coroa. |
Assim,
concluímos parafraseando o primeiro versículo do Cântico da
Santíssima Virgem, o Magnificat: A minha alma engrandece a ti, Senhor Deus, por teres colocado a
Nação brasileira sob o manto protetor da Imaculada Conceição desde os seus
primórdios, e que esta Nação, hoje em festa, honre e celebre
sempre, da forma mais digna possível, a sua Santa Mãe, NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO APARECIDA.
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[1] RAUEN, Benedito Felipe. “Noções de Mariologia”, Gráfica Vicentina Ltda.,verbete: A Imaculada, p. 20.
[1] RAUEN, Benedito Felipe. “Noções de Mariologia”, Gráfica Vicentina Ltda.,verbete: A Imaculada, p. 20.
[3] cf. SANTOS, Armando Alexandre dos.
“O Brasil sob o Manto da Imaculada”, Artpress, São Paulo/1996,
p. 12.
[4] Ibidem, p. 7.
[5] CASTRO, Pe. Jerônimo Pedreira de.
“Santa Catarina Labouré e a Medalha Milagrosa”, Editora Vozes,
2ª edição/1951, Cap. IV, p. 90 – Narração escrita pela Vidente
ao seu diretor espiritual, em 1841.
[6]
Excertos do artigo publicado no site da Academia Marial sob o título
“O nome bendito da Senhora da Conceição Aparecida”, no dia
24.03.2017, obtido em:
http://www.a12.com/academia/artigos/o-nome-bendito-da-senhora-da-conceicao-aparecida
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