Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS!

quinta-feira, 12 de outubro de 2017

O BRASIL SOB O MANTO PROTETOR DA IMACULADA CONCEIÇÃO


Imagem da Virgem Imaculada Nossa
Senhora da Medalha Milagrosa, no
altar-mor da Capela da Rue du Bac,
140, Paris.
Muito antes mesmo da proclamação do dogma da Imaculada Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria por SS. o Papa Pio IX, em 8 de Dezembro de 1854, através da Bula Ineffabilis Deus, o povo fiel já acreditava e professava sua fé nesse privilégio da Mãe de Deus, tendo o próprio Pontífice reconhecido isso a quando da declaração do dogma.

Como todos sabemos, “Maria foi Imaculada na Conceição, concebida sem pecado original, privilégio único e irrepetível na humanidade, porque estava predestinada para ser a Mãe de Deus, tendo em vista o nascimento e méritos futuros de seu Unigênito Filho Redentor, porque a Mãe de Jesus teria que ser, como o foi, Puríssima, Imaculada.”[1].

Em postagem anterior, fizemos referência às Aparições da Virgem Imaculada a Santa Catarina Labouré, em 1830, como a “Mãe das Aparições dos Séculos XIX e XX”, uma antecipação do dogma que só seria solenemente declarado vinte quatro anos depois, e confirmado juntamente com a infalibilidade papal, no dia 25 de março de 1858 (Solenidade da Anunciação), à humilde camponesa Santa Bernadette Soubirous, que, diante de sua insistência acerca da identidade da Aparição, assim afirmou a Santíssima Virgem: “EU SOU A IMACULADA CONCEIÇÃO!”.

A Medalha Milagrosa (reverso e anverso).

A antecipação do dogma nas Aparições da Rue du Bac em 1830 se deu por meio da Medalha Milagrosa, na qual vem inscrita a oração-jaculatória “Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS!”, isto é, esta breve e prodigiosa oração já assentava a fé da Igreja de que Maria Santíssima foi concebida sem a mancha do pecado original, foi concebida PURA e IMACULADA.

Pois bem, hoje é um dia todo especial para os católicos do Brasil. Celebra-se a festa da Padroeira, Nossa Senhora da Conceição Aparecida, e os 300 Anos do encontro de sua Imagem no rio Paraíba do Sul por três pescadores: João Alves, Felipe Pedroso e Domingos Garcia. A narrativa histórica do encontro da Imagem nos remete à Pesca Milagrosa, primeiro e segundo milagres operados por Jesus Cristo (Lc 5, 3-9 e Jo 21, 1-8). Os pescadores, a despeito de lançaram suas redes ao rio, nada pescavam, não conseguiam peixes para o banquete a ser oferecido a Dom Pedro de Almeida e Portugal, o Conde de Assumar – à época, Governador da Província de São Paulo e Minas Gerais – que passava em visita à região.
Ilustração do achado da Imagem de Nossa Senhora
da Conceição Aparecida  - "Pesca Milagrosa", capturada do site
do Santuário Nacional.
 

Milagrosamente, e após várias tentativas, vem na rede dos pescadores uma pequena Imagem em dois pedaços: o primeiro, o corpo sem a cabeça, e rio abaixo, o segundo, a cabeça da Imagem anteriormente encontrada, e a partir de então, suas redes passaram a vir cheias de peixes[2]. Embora ainda não soubessem a que invocação de Nossa Senhora representava a estátua, para nossa alegria e gáudio, tratava-se de uma pequena imagem da Imaculada Conceição de Maria.

À época da aparição da Imagem, em outubro de 1717, o Brasil já estava sob o manto protetor da Imaculada Conceição, tinha-a como sua Padroeira, pois, sendo como era Colônia de Portugal, estava sujeito aos efeitos da consagração oficial a Nossa Senhora da Conceição proclamada por D. João IV, precisamente no dia 25 de março de 1646, como Padroeira do Reino, tendo inclusive o Rei jurado defender até a morte o insigne privilégio da Imaculada Conceição[3].
Imagem original antes da res-
tauração, sem manto e coroa.

Essa proteção da Imaculada Conceição foi reconhecida pelo Santo Padre o Papa Pio XII, em 07 de setembro de 1954, numa alocução dirigida ao povo brasileiro através de rádio: “Se o Brasil nasceu à sombra da Cruz, organizou-se, cresceu, prosperou amparado sempre pela Mãe Santíssima, venerada ternamente e invocada sob numerosos títulos, cada qual mais belo e expressivo. ...Entre os títulos marianos prevalece o da Imaculada, que exorna, com muitos secundários, mais de 350 dos templos principais. E era natural. Desde os primórdios floresceu em Terras de Santa Cruz a devoção à Imaculada Conceição de Maria, implantada pelos descobridores[4].

Talvez alguns estranhem – o que é compreensível – o fato de atribuir-se à Imagem encontrada a denominação de Nossa Senhora da Conceição, pois essas geralmente representam a Virgem Maria vestida de branco e com manto azul, algumas com véu branco, outras com os cabelos soltos... Santa Catarina Labouré assim descreveu a Mãe de Deus na Aparição do dia 27 de novembro de 1830, quando lhe foi revelada a Medalha Milagrosa: “...a Santíssima Virgem... estava de pé, vestida de branco-aurora, feito à moda que ordinariamente chamam à la vierge, de mangas compridas, com um véu branco, que lhe descia até a orla do vestido; por baixo do véu percebi os seus cabelos, separados em bandós, sob uma renda de três centímetros de largura, mais ou menos, sem pregas, pousando ligeiramente sobre os cabelos...[5].

Todavia, como dito anteriormente, na época do aparecimento da Imagem o Brasil era colônia de Portugal, e a representação iconográfica das imagens de Nossa Senhora da Conceição deveriam atender às determinações de D. João IV acerca das cores e formas de representação da Imaculada Conceição, como melhor descreve Leonardo C. de Almeida, membro associado da Academia Marial de Aparecida:

“A iconografia dessa invocação mariana estabeleceu-se a partir da cena descrita em Ap 12, 1-2 ('Então apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida com o sol, tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas. Estava grávida e gritava em dores de parto, atormentada para dar à luz' ) na qual Maria, imagem da Igreja, é reconhecida como a mulher grávida e vestida de sol apresentada por São João – razão pela qual as imagens da Imaculada representam a Virgem com a lua sob os pés e gestando o Salvador. Algumas são coroadas e/ou dotadas de uma auréola composta de (doze) estrelas, além de retratar Maria esmagando a cabeça de uma serpente, símbolo do mal e do pecado.

“Nos dias de hoje, estamos habituados com as cores azul e branca nas vestes das imagens mais modernas da Virgem da Conceição. Mas nem sempre foi assim. Na época do Brasil colonial, as imagens da Imaculada Conceição eram comumente representadas com riqueza de douramento ornamental e com as cores azul escuro e vermelho granada no manto e na túnica – cores oficiais do Império Português. Isso decorre de uma determinação de Dom João IV, do ano de 1646, que proclamava a Virgem da Conceição Padroeira de Portugal e de suas colônias. Também é importante lembrar que, segundo a tradição da antiga arte cristã oriental, manifestada, sobretudo, nos ícones, as cores vermelho e azul estavam relacionadas, respectivamente, à virgindade e à maternidade e relação com o divino. Dessa forma, o período barroco em nosso país produziu um sem-fim de “imaculadas” com essa identidade iconográfica.
Imagem policromada de Nossa Senhora
da Conceição Aparecida (Fonte: Academia 

Marial).

Essas características artísticas todas estavam presentes na singela imagem da Senhora da Conceição que mais tarde seria chamada Aparecida. Como dissemos, era, originalmente, policromada. A carnação do rosto e das mãos postas sinalizava pele branca. Os cabelos eram (curiosamente) curtos e não chegavam sequer aos ombros. O ventre estava avolumado, sugerindo a gravidez por obra divina. O rosto apresentava bochechas avantajadas, covinha no queixo e boca pequena e com dentinhos à mostra. Flores e um diadema ornavam-lhe a cabeça e o vestido. Não havia pedestal. As nuvens com as pontas da lua minguante e a cabeça de um anjinho serviam-lhe de base. Pouco tempo após a pesca milagrosa, recebeu cordões dourados, mantos e coroas (sendo os mais famosos e que lhe deram a identidade atual aqueles oferecidos pela Princesa Isabel). Bem posteriormente apenas, foram-lhe acrescidos o pedestal de prata e a cabeleira nas costas (para melhor fixar a cabeça quebrada ao corpo).

A imagem em terracota da Senhora da Conceição Aparecida, embora não estivesse revestida do maior requinte, da riqueza e do esplendor do Barroco brasileiro mais refinado, tornou-se célebre e adquiriu profunda significação a partir da perda da policromia e da coloração enegrecida que ganhou após anos imergida nas águas do Paraíba e sujeita às luzes e à fuligem das velas, dos candeeiros e lampiões, revelando a predileção do Deus Justo e Libertador pelos pequenos do Reino, de maneira especial os afrodescendentes que padeciam vítimas da política escravocrata daquele Brasil do século XVIII.”[6].
Imagem original e atual com o manto e
a coroa.


Assim, concluímos parafraseando o primeiro versículo do Cântico da Santíssima Virgem, o Magnificat: A minha alma engrandece a ti, Senhor Deus, por teres colocado a Nação brasileira sob o manto protetor da Imaculada Conceição desde os seus primórdios, e que esta Nação, hoje em festa, honre e celebre sempre, da forma mais digna possível, a sua Santa Mãe, NOSSA SENHORA DA CONCEIÇÃO APARECIDA.







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________________
[1] RAUEN, Benedito Felipe. “Noções de Mariologia”, Gráfica Vicentina Ltda.,verbete: A Imaculada, p. 20.
[3] cf. SANTOS, Armando Alexandre dos. “O Brasil sob o Manto da Imaculada”, Artpress, São Paulo/1996, p. 12.
[4] Ibidem, p. 7.
[5] CASTRO, Pe. Jerônimo Pedreira de. “Santa Catarina Labouré e a Medalha Milagrosa”, Editora Vozes, 2ª edição/1951, Cap. IV, p. 90 – Narração escrita pela Vidente ao seu diretor espiritual, em 1841.
[6] Excertos do artigo publicado no site da Academia Marial sob o título “O nome bendito da Senhora da Conceição Aparecida”, no dia 24.03.2017, obtido em: http://www.a12.com/academia/artigos/o-nome-bendito-da-senhora-da-conceicao-aparecida

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