Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS!

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

SANTA CATARINA LABOURÉ: O RETRATO DA VERDADEIRA FILHA DA CARIDADE



S. Vicente de Paulo traçou, numa célebre conferência, o retrato da verdadeira Filha da Caridade. A seu ver, tem todas as as virtudes das “boas camponesas”. Diz o Santo que foi por estas virtudes que a padroeira de Paris chegou “a tão alta perfeição”1.

Nossa Irmã Catarina imitou a S. Genoveva e, durante os últimos anos de sua vida, tornou-se o modelo acabado da verdadeira Filha da Caridade. As inúmeras pessoas, que dela se aproximaram, de 1866 a 1876, e cujos testemunhos foram colhidos no Processo Apostólico, reconhecem, unanimemente, que a serva de Deus possuía, no alto grau, a simplicidade, a modéstia, a sobriedade, o espírito de pobreza, a humildade, a obediência das moças de aldeia, tal como compreendia S. Vicente.

“As filhas da aldeia são extremamente simples; vão a Deus diretamente em todas as coisas, porque simplicidade não é mais do que isto; ir a Deus diretamente e em todos os momentos.” Assim era a vidente da Imaculada Conceição nas suas relações com Deus e com suas companheiras, nas afeições da família e em todos os acontecimentos.

Sua vida interior concentrava-se nestes dois nomes benditos: Jesus Cristo e a Virgem Maria. O Sagrado Coração de Jesus, realmente presente na Eucaristia, e o Coração Imaculado de Maria, intimamente unido ao seu divino Filho, bastavam à piedade dessa alma contemplativa.

Durante a oração da manhã, que começa às quatro horas e meia, a Irmã Catarina permanecia ajoelhada durante meia hora como as outras, mas sempre firme, apoiada apenas nas extremidades das mãos, olhando fixamente para o sacrário ou para o altar da Virgem Santíssima.

Como lhe perguntassem qual a melhor maneira de rezar, respondia:

Não é difícil. Vou à capela, prostro-me diante de Deus e lhe digo: Senhor, eis-me aqui, dai-me o que vos aprouver. Se recebo algum favor, sinto-me contente e lho agradeço. Se nada recebo, agradeço também, porque nada mereço. E depois, digo-lhe tudo quanto me ocorre ao espírito, conto-lhe as minhas penas e alegrias, e escuto. Se vós o escutardes, Ele vos falará também. Não basta falar a Deus; é preciso escutá-lo. Ele nos fala sempre que o procuramos com retidão e simplicidade.”

Na presença do Santíssimo Sacramento, a Fé da Irmã Catarina transparecia. Todas as testemunhas o declararam, com admiração, no Processo. Desde a meninice, ela gostava de rezar na igreja; e este amor foi aumentado ao sabor dos anos. “A sua Fé, dizem outras testemunhas2, manifestava-se não somente pela sua edificante posição na capela, imóvel, mas pelo seu olhar fixo ou no sacrário, ou na estátua de Nossa Senhora, de modo tão natural que encantava.” Este olhar místico da Vidente de Maria deve ter edificado a todas as Irmãs de Reuilly, porque todas a louvam no Processo de Beatificação3.

Frequentes vezes durante o dia visitava o Santíssimo Sacramento. Lembrava-se da palavra que a Santíssima Virgem lhe dissera na primeira aparição: “Vinde rezar ao pé deste altar, aqui encontrareis muitas consolações.” Antes de entrar, tirava o avental branco, fazia profunda reverência4, muito respeitosa ao sacrário, olhava com piedade filial para a estátua de Nossa Senhora, e ajoelhava-se por alguns instantes. Depois saía, com o rosto radiante, retomava o avental e ia para seu trabalho.

Preparava-se para a Comunhão desde a véspera. Exortava as outras a se prepararem também, dizendo-lhes: “Vamos. É preciso fazer alguma coisa para agradar a Deus. Preparemo-nos para a Comunhão de amanhã.” Voltava da mesa eucarística profundamente compenetrada da presença de Nosso Senhor. O Padre Chevalier, diretor geral das Irmãs, depôs no Tribunal: “Lembro-me que eu muito me edificava, notando os sentimentos de Fé e de piedade, que irradiavam do seu rosto, após a Comunhão.”5

“O amor de Deus é o resumo de sua vida, diz outra testemunha. Desde menina acostumou-se a dar a Deus todos os momentos de cada dia, pelas orações e pela fidelidade ao dever. Uma força interior a prendia a Deus e às virtudes difíceis. E assim se preparou para a grande missão de receber e espalhar a Medalha Milagrosa. Sua única ambição foi a glória de Deus.”

A Esperança era outra via, que a inflamava de puro amor. Considerava Deus como seu fim e como sua recompensa eterna. “Sua coragem provinha de sua confiança em Deus”, declarou o Padre Villette. “Ela só queria os bens do céu: este pensamento dava-lhe paz e igualdade de gênio.”6

A intimidade, forma particular do puro amor, tornou-se contínua na Vidente de Maria. No Processo de Beatificação, as declarações são de grande encanto: “Trabalhava pensando sempre em Deus”, diz uma testemunha – “Pode-se dizer que sua vida foi um ato perene de amor de Deus”, diz outra – “Ela vivia em constante oração, quer andando, quer nos trabalhos”, afirma uma terceira7.
Santa Catarina Labouré morreu no dia 31 de Dezembro de
1876, com 70 anos de idade. Na foto, seu corpo incorrupto
repousa em uma urna na Capela das Aparições, rua du Bac,
140, Paris.


O fruto desse amor completo a Deus são as virtudes que aperfeiçoam todas as potências da sua alma: a resignação, o desprezo do mundo, a perfeição das ações ordinárias, a humildade e o amor ao próximo. Em todas estas virtudes, a Irmã Catarina atingiu ao heroísmo, como provam as testemunhas do Tribunal canônico.







____________________
1Oewres de Saint Vicent de Paul, t. IX, p. 76
2Sumário do Proc. Apost. pp. 227, 232, etc.
3Irmã Catarina foi beatificada pelo Papa Pio XI em 28 de Maio de 1933 e canonizada pelo Papa Pio XII em 27 de Julho de 1947.
4Naquela época as mulheres não faziam genuflexão.
5Sum. Do Processo, p. 257.
6Idem, p. 269.

7Idem, p. 272 (Citados por L. Misermont.).





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FONTE: livro “Santa Catarina Labouré e a Medalha Milagrosa”, Pe. Jerônimo Pedreira de Castro, C.M., Editora Vozes, 1951, pp. 184 a 187 – excertos do Capítulo VII, com o subtítulo: A Bela Alma de S. Catarina Labouré. O Título, os destaques e algumas notas de rodapé, são nossos. Texto revisto e atualizado.

segunda-feira, 28 de agosto de 2017

As Aparições de 1830, Mãe de Todas as Aparições...

APARIÇÕES DA VIRGEM EM 1830: MÃE DAS APARIÇÕES DOS SÉCULOS XIX E XX - PARTE II

(Continuação da postagem anterior)

REMÉDIO FRENTE AO RACIONALISMO E AO MATERIALISMO

Este é outro fim de Maria ao aparecer a Catarina Labouré: Dar um antídoto ao racionalismo reinante e ao materialismo que estava por aparecer (desenvolver-se).

No centenário das aparições de Lourdes, o Cônego Barthas tomou à mão um livro: "De la Gruta a la encina verde (de Fátima)", pelo qual mostrou que nas manifestações marianas de 1830 a 1953 (Siracusa) – data mais provável – são a revelação progressiva das riquezas do Coração Imaculado de Maria, como antídoto às falsas místicas dos séculos XIX e XX. Analisa particularmente os casos de Lourdes e de Fátima e mostra que Lourdes foi um remédio ao racionalismo e Fátima ao ateísmo. Pois bem, ambas manifestações são intervenções da Imaculada.

LOURDES: REMÉDIO FRENTE AO RACIONALISMO

A Imaculada Concepção revelada em Lourdes foi um remédio providencial contra o racionalismo. Os Papas Gregório XVI e Pio IX, já haviam compreendido que o dogma da Imaculada Concepção era um contrapeso aos erros modernos. Pio IX, sobretudo, havia captado o nexo real entre este dogma mariano, que se encontra no centro dos mistérios da salvação e as negações ou alterações da verdade provocadas pelo racionalismo. Por este motivo sobretudo, definiu a Imaculada Concepção, dogma que Maria devia confirmar quatro anos mais tarde em Lourdes.

FÁTIMA: REMÉDIO FRENTE AO ATEÍSMO

Por outro lado a revelação do Coração Imaculado de Maria e do Rosário em Fátima constituiu um remédio contra o ateísmo. Maria se manifestou aqui ao mesmo tempo que estava na Rússia a revolução vermelha e declarava a respeito: «Se fizerem o que peço (recitação diária do Rosário e consagração do mundo a seu Coração Imaculado) haverá paz e a Rússia se converterá.»

Ora, ao aparecer na Capela da rua du Bac em 1830 e trazer a Medalha, a Virgem já se declara Imaculada em sua Concepção e anuncia a devoção ao seu Coração Imaculado. Sobre a Medalha faz escrever: «Ó Maria concebida sem pecado...!»; é o equivalente ao que dirá em Lourdes: «Eu sou a Imaculada Conceição». Começa, portanto, em 1830 a combater o racionalismo. Na outra parte da Medalha (no verso) está seu Coração Imaculado ao lado do Coração de Jesus.

Anuncia de antemão a luta contra o materialismo que não ia tardar em aparecer. É evidente que as aparições da Virgem estão relacionadas com as necessidades das almas e da Igreja. Estão voltadas à natureza dos erros que era especialmente urgente combater. Assim, porque desde que conheceu as manifestações da Capela da rua du Bac, o Papa Gregório XVI favoreceu com todo seu influência a devoção à Medalha Milagrosa.

Porque justamente em nosso tempo, no qual o materialismo, teórico ou prático, traz o risco de submergir tudo, mais que nunca é necessário que nos voltemos à Imaculada, que escutemos as recomendações do Imaculado Coração de Maria, para o qual já nos orientava a Medalha (Milagrosa) e repitamos sem cessar a invocação: «Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós!».





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FONTE: excertos extraídos do artigo denominado "Medalha Milagrosa: Explicações das Aparições", por René Laurentin, capturado em http://www.misevi.org/docs_web/esp/art/mm_explicacion/mm_explicacion_total.htm, traduzido e adaptado por nós para o português do Brasil - O título é nosso.

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

As Aparições de 1830, Mãe de Todas as Aparições...

APARIÇÕES DA VIRGEM EM 1830: MÃE DAS APARIÇÕES DOS SÉCULOS XIX E XX - PARTE I  


O que primeiro impressiona nas aparições da Capela da rua du Bac, quando as comparamos com as manifestações posteriores da Santíssima Virgem, aprovadas pela Igreja, são as numerosas relações existentes com as últimas.

Não somente é necessário relacioná-las com as outras quatro grandes manifestações marianas que se sucederam na França ao longo do século XIX: em 1846 em la Salette; em 1858 em Lourdes; em 1871 em Pontmain; em 1876 em Pellevoisin, como também assinalar sua conexão com as de Fátima em 1917.

As aparições de 1830 contém o gérmen de todas as outras. São como o resumo de tudo o que Maria dirá cada vez com mais claridade e insistência em suas manifestações sucessivas. Maria tem um plano que vai se desenrolar com maior precisão nas outras intervenções. Como se tem dito: a aparição a Santa Catarina Labouré é a aparição mãe da qual se originaram todas as demais.

Deste ponto de vista, as manifestações posteriores da Santíssima Virgem podem também nos ajudar a encontrar o sentido de tal ou qual detalhe simbólico das aparições da Capela da rua du Bac. Assim, no transcurso de suas aparições posteriores dos séculos XIX e XX, Maria vai insistir mais e mais sobre o Rosário. 

Em Salette, onde fala também abundantemente por símbolos, Maria leva ao redor de sua coroa, nas bordas de seu lenço e de seu vestido, rosas da cor rosada, rocha e ouro. Não há que se duvidar: Maria quer nos falar do Rosário com seus mistérios gozosos, dolorosos e gloriosos.


Em Lourdes é ainda mais precisa, leva o Rosário em seu braço, toma-o entre seus dedos, faz sinais a Bernadette para que o reze, se associa também à reza passando as contas do Rosário, dizendo o Glória ao Pai juntamente com a menina. Enfim, em Fátima, porém, será mais explícita: Maria aparece seis vezes e a cada vez pede a reza diária do Rosário. E em sua última aparição, em 13 de outubro de 1917, declara:


"Sou Nossa Senhora do Rosário. Desejo que se construa aqui uma Capela em honra minha e que se continue rezando o Rosário todos os dias."

Havendo dito isto, seria desconcertante não se encontrar o anúncio do Rosário em 1830. Com efeito, como veremos mais adiante, parece correto afirmar-se que os quinze anéis esmaltados com pedras preciosas que Maria leva em cada mão, não têm outro significado senão os quinze mistérios do Rosário. A constatação destas relações com as manifestações posteriores de Maria, mostra-nos, por conseguinte e de antemão, a importância e a riqueza das aparições a Catarina Labouré.

ASSENTA (FIRMA) O DOGMA DA IMACULADA CONCEIÇÃO

Parece comprovado que a Medalha Milagrosa suscitou a corrente de fé e desejada invocação, por assim dizer-se, o grau de pressão espiritual necessária para a definição dogmática de 1854.

Com efeito, é devido às milhões de medalhas que a Medalha da Imaculada Conceição (como se chamava a princípio), rapidamente se expandiu como um rastro de pólvora, não só na Europa, senão também em todo o mundo, semeando graças de conversões e frequentes milagres, daí o nome que lhe outorgou a voz do povo: "Medalha Milagrosa".

Desde 1833 (a medalha começou a ser cunhada em 1832) chegam cartas de bispos à rua du Bac ou ao arcebispado de Paris para atestar que a fé renascia, que a oração florescia de novo; movimentos de conversão manifestavam a razão da difusão da medalha de Maria sem pecado concebida, revelada em Paris. Por isso, em todas as partes reclamavam a famosa medalha, não só as pessoas, como também paróquias inteiras e ainda dioceses, por meio de seus párocos e bispos, de maneira que a invocação "Oh Maria concebida sem pecado...", que chegou a ser como uma oração-jaculatória dos anos de 1830 a 1850, preparava todos os corações católicos para o ato solene pelo qual Pio IX proclamaria, em 8 de dezembro de 1854, como dogma de fé e que devia ser crido por todo o mundo, o fato de que Maria foi preservada do pecado original desde o primeiro instante de sua Concepção.

Esta contribuição da Medalha Milagrosa à criação do ambiente adequado para proclamação deste dogma (Imaculada Conceição), foi reconhecida no Congresso Romano do Cinquentenário da definição da Imaculada Conceição em 1904.


Foi firmado também pelo Ofício Litúrgico de Nossa Senhora da Medalha Milagrosa. A Providência Divina tudo conduz maravilhosamente. A definição dogmática de 1854 foi preparada pelas aparições da rua du Bac e confirmada magnificamente pelas de Lourdes em 1858.

Continua ...







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FONTE: excertos extraídos do artigo denominado "Medalha Milagrosa: Explicações das Aparições", por René Laurentin, capturado em http://www.misevi.org/docs_web/esp/art/mm_explicacion/mm_explicacion_total.htm, traduzido e adaptado por nós para o português do Brasil - O título é nosso.  

segunda-feira, 21 de agosto de 2017

As Estrelas que circundam a Medalha Milagrosa ...

AS ESTRELAS QUE CIRCUNDAM A MEDALHA MILAGROSA LEMBRAM A MULHER VESTIDA DO SOL E COROADA DE DOZE ESTRELAS DE MARIA (Ap 12,1)


Imagem da Virgem Imaculada da Medalha Milagrosa no altar-mor da Capela
da  rua du Bac, 140, Paris, no detalhe, coroada e com a auréola contendo doze
estrelas
 

O primeiro capítulo do livro do Apocalipse escrito por São João, quando deportado na ilha de Patmos, começa descrevendo a imagem de «uma Mulher revestida do sol», que a Tradição atribui à Virgem Maria e à Igreja, e revela-nos a realeza e a majestade de Nossa Senhora: «Apareceu em seguida um grande sinal no céu: uma Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés e na cabeça uma coroa de doze estrelas.» (Ap 12,1)[1].
Reverso da Medalha
Milagrosa

É certo que em nenhum dos relatos existentes acerca das Aparições da rua du Bac, Paris, em 1830, fazem referência às doze estrelas que se vê no reverso da Medalha Milagrosa. A efígie da Virgem sobre a meia esfera e pisando a serpente, os raios, a jaculatória ("Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!") em letras de ouro e ao redor de Nossa Senhora, e no reverso da Medalha, a letra M encimada por uma Cruz e tendo abaixo os Corações de Jesus e de Maria, são esses os relatos escritos da Segunda Aparição por Santa Catarina Labouré, ou seja, não há, de fato, referência à estrelas.

Entretanto, desde a primeira cunhagem da Medalha Milagrosa (em abril de 1832), aparecem as doze estrelas, e há relatos de que Santa Catarina afirmou muitas vezes, de forma oral, tê-las visto durante as aparições[2]. Portanto, é moralmente certo afirmarmos que as doze estrelas impressas no reverso da Medalha compõem as aparições e revelações da Santíssima Virgem.
Verso e reverso de uma das primeiras Medalhas Milagrosas,
obra do joalheiro parisiense Aureliano Vachette.[8]

Na verdade, se repararmos com atenção, a Medalha Milagrosa é uma síntese de teologia mariana, como afirma o Pe. René Laurentin, nela se vê a revelação dos diversos privilégios que Igreja reconhece a Nossa Senhora: a imaculada conceição de Maria, a mediação das graças, a vitória sobre o demônio (representado pela serpente sob seus pés), a corredenção (o Coração trespassado ao lado Coração de Jesus coroado de espinhos e a Cruz sobre a letra M), e sua realeza sobre o mundo (Maria está sobre meia esfera, que representa o mundo), assim, nada mais coerente e justo que a existência das doze estrelas coroando a Medalha.

É-nos lícito também firmar, com base em uma das interpretações que se dá às doze estrelas da coroa de Maria Santíssima, símbolo dos Doze Apóstolos, fazerem referência a um dos atributos de sua realeza: Rainha dos Apóstolos. É uma das invocações da Ladainha de Nossa Senhora (Lauretana), e, de fato, Ela é a Rainha dos Apóstolos, pois com estes permaneceu após a Ascensão do Senhor ao céu e em oração no Cenáculo, em Jerusalém, estava presente no dia de Pentecostes (At 1,13-14).

Se a Medalha Milagrosa é uma síntese de teologia mariana, nela se vê simbolizados diversos privilégios de Nossa Senhora, nada mais justo que a presença das doze estrelas que coroam nossa Rainha.

Quanto ao significado dessas estrelas, o Prof. Felipe Aquino publicou um livro com o título "A Mulher do Apocalipse", no qual apresenta, inspirado nos ensinamentos de São Luís Maria Grignion de Montfort, que viu na coroa de doze estrelas as glórias e méritos da Santíssima Virgem, na obra de Santo Afonso Maria de Ligório ("Glórias de Maria"), e nos demais ensinamentos da Igreja, dos santos Padres e Doutores, o significado de cada uma dessas estrelas, correlacionando-as às glórias, méritos e ao poder de Maria.

São essas as doze estrelas[3]:

1ª ESTRELA: A IMACULADA CONCEIÇÃO

2ª ESTRELA: A VIRGINDADE PERPÉTUA

3ª ESTRELA: A MATERNIDADE DIVINA

4ª ESTRELA: BENDITA ENTRE TODAS AS MULHERES

5ª ESTRELA: ESPOSA DO ESPÍRITO SANTO

6ª ESTRELA: SUBMISSÃO DE JESUS A MARIA

7ª ESTRELA: VENCEDORA DE SATANÁS E DAS HERESIAS

8ª ESTRELA: MEDIANEIRA DE TODAS AS GRAÇAS

9ª ESTRELA: MÃE DA IGREJA E NOSSA MÃE

10ª ESTRELA: ASSUNTA AO CÉU

11ª ESTRELA: RAINHA DO CÉU E DA TERRA

12ª ESTRELA: O MOLDE DE SANTIDADE

Além de ser recomendável a leitura da obra citada acima, para melhor e maior conhecimento, também cremos ser de suma importância honrarmos a Santíssima Virgem por meio de uma oração que contemple seus méritos, glórias e privilégios que compõem sua coroa de doze estrelas.
São Luís Maria Grignion
de Montfort

O grande santo mariano, São Luís Maria Grignion de Montfort, em sua célebre obra, "Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria", propõe uma prática devocional aos servos e escravos de Maria: a "Coroinha da Santíssima Virgem", que recomenda seja recitada diariamente por todos aqueles que aderirem à prática devocional mariana que propõe na referida obra:

"Rezarão todos os dias de sua vida, mas sem a isso se obrigarem, a coroinha da Santíssima Virgem. Esta compõe-se de três Pai-Nossos e doze Ave-Marias, em honra dos doze privilégios e grandezas da Santíssima Virgem. Esta prática é muito antiga e fundamenta-se na Sagrada Escritura. São João viu uma mulher coroada de doze estrelas, vestida de Sol e tendo a Lua debaixo dos pés (Ap 12, 1). Segundo os intérpretes, essa mulher é a Santíssima Virgem.
Há várias maneiras de recitar bem esta coroinha, e seria demasiado longo mencioná-las. O Espírito Santo as ensinará aos que forem mais fieis a esta Devoção. Entretanto, para rezá-la em sua forma mais simples dir-se-á ao começar: 'Dignai-Vos conceder-me que Vos louve, ó Virgem Sagrada, dai-me virtude contra os Vossos inimigos!' Em seguida reza-se o Credo, depois um Pai-Nosso, quatro Ave-Marias e um Glória ao Pai; e novamente um Pai-Nosso, quatro Ave-Marias e um Glória ao Pai, e assim por diante. No fim se dirá: 'Sob a Vossa proteção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus; não desprezeis as nossa súplicas em nossa necessidades; mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem Gloriosa e Bendita!'”[4]
De fato, diversas formas de recitação dessa coroinha têm sido divulgadas, mas, a forma abaixo é, a nosso ver, a mais fiel à exortação de S. Luís Maria Montfort[5]:


"℣. Concedei-me que Vos louve, Virgem Sagrada,
. Dai-me valor contra os vossos inimigos.
CREDO
I - Coroa de Excelência

Pai Nosso ...
Ave Maria ...
Sois Bem-aventurada, Virgem Maria, que levastes em vosso seio o Senhor, Criador do mundo; destes à luz a Quem Vos formou, e Sois Virgem perpétua.
Alegrai-Vos, Virgem Maria.
.  Alegrai-Vos mil vezes.
Ave Maria…
Ó Santa e imaculada virgindade, não sei com que louvores Vos possa exaltar; pois quem os céus não podem conter, Vós O levastes em vosso seio.
Alegrai-Vos, Virgem Maria.
.  Alegrai-Vos mil vezes.
 Ave Maria…
Sois toda formosa, Virgem Maria, e não há mancha em vós.
Alegrai-Vos, Virgem Maria.
.  Alegrai-Vos mil vezes.
Ave Maria…
Possuís, ó Virgem Santíssima, tantos privilégios, quantas são as estrelas no céu.
Alegrai-Vos, Virgem Maria.
℟ .  Alegrai-Vos mil vezes.
Glória ao Pai...
II - Coroa de Poder

Pai Nosso...
Ave Maria...
Glória a Vós, imperatriz do céu, conduzi-nos convosco aos gozos do paraíso.
Alegrai-Vos, Virgem Maria.
℟ .  Alegrai-Vos mil vezes.
Ave Maria…
Glória a Vós, tesoureira das graças do Senhor, dai-nos parte em vosso tesouro.
Alegrai-Vos, Virgem Maria.
℟ .  Alegrai-Vos mil vezes.
Ave Maria…
Glória a Vós, medianeira entre Deus e os homens, tornai-nos propício o Todo-poderoso.
Alegrai-Vos, Virgem Maria.
℟ .  Alegrai-Vos mil vezes.
Ave Maria…
Glória a Vós, que esmagais as heresias e o demônio: sede nossa bondosa guia.
Alegrai-Vos, Virgem Maria.
℟ .  Alegrai-Vos mil vezes.
Glória ao Pai...
III - Coroa de Bondade

Pai Nosso...
 Ave Maria...
Glória a Vós, refúgio dos pecadores; intercedei por nós junto ao Senhor.
Alegrai-Vos, Virgem Maria.
℟ .  Alegrai-Vos mil vezes.
 Ave Maria…
Glória a Vós, Mãe dos órfãos; fazei que nos seja propício o Pai Todo-Poderoso.
Alegrai-Vos, Virgem Maria.
℟ .  Alegrai-Vos mil vezes.
 Ave Maria…
Glória a Vós, alegria dos justos; conduzi-nos convosco às alegrias do céu.
Alegrai-Vos, Virgem Maria.
℟ .  Alegrai-Vos mil vezes.
Ave Maria…
Glória a Vós, nossa auxiliadora mui prestimosa na vida e na morte; conduzi-nos convosco para o reino do céu.
Alegrai-Vos, Virgem Maria.
.  Alegrai-Vos mil vezes.
Glória ao Pai...
Oremos:
Ave, Maria, Filha de Deus Padre; Ave, Maria, Mãe de Deus Filho; Ave, Maria, Esposa do Espírito Santo; Ave, Maria, templo da Santíssima Trindade; Ave, Maria, Senhora minha, meu bem, meu amor, Rainha do meu coração, Mãe, vida, doçura e esperança minha mui querida, meu coração e minha alma. Sou todo vosso, e tudo o que possuo é vosso, ó Virgem sobre todos bendita. Esteja, pois, a mim a vossa alma para engrandecer o Senhor; esteja em mim vosso espírito para rejubilar em Deus. Colocai-Vos, ó Virgem fiel, como selo sobre o meu coração, para que, em Vós e por Vós, seja eu achado fiel a Deus. Concedei, ó Mãe de misericórdia, que me encontre no número dos que amais, ensinais, guiais, sustentais e protegeis como filhos. Fazei que, por vosso amor, despreze todas as consolações da terra e aspire só as celestes; até que, para glória do Pai, Jesus Cristo, Vosso Filho, seja formado em mim, pelo Espírito Santo, vosso Esposo fidelíssimo, e por Vós, sua Esposa mui fiel.Assim seja."

Santa Catarina Labouré almejava muito que a Virgem Imaculada fosse honrada como Rainha, tendo até escrito as seguintes palavras proféticas:
Santa Catarina Labouré, a vidente e
a mensageira da Medalha Milagrosa

"Oh! como será belo ouvir-se dizer: Maria é a Rainha do Universo, particularmente da França, e as crianças exclamarão: E de cada um em particular, com transportes de alegria. Será um tempo de paz, de alegria e de felicidade que será longo; Ela será carregada em triunfo por todo mundo."[6] 

Esse santo desejo de Irmã Catarina foi atendido por Nossa Senhora, tendo, em Fátima, após falar sobre os castigos e provações que a humanidade terá de passar, enchei-nos de esperanças com esta promessa: "Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará". 

Finalmente, uma boa oportunidade de honrarmos a Virgem Maria coroada de doze estrelas, é celebrar-se dignamente amanhã – 22 de Agosto  a Festa de Nossa Senhora Rainha, instituída pelo Papa Pio XII, através da Carta Encíclica AD CAELI REGINAM, sobre a Realeza de Maria e a instituição da sua Festa, de 11.10.1954, inicialmente celebrada no dia 31 de Maio. Sua Santidade assim nos exorta:

"Procurem pois todos, e agora com mais confiança, aproximar-se do trono da misericórdia e da graça, para pedir à nossa Rainha e Mãe socorro na adversidade, luz nas trevas, conforto na dor e no pranto; e, o que é mais, esforcem-se por se libertar da escravidão do pecado, e prestem ao cetro régio de tão poderosa Mãe a homenagem duradoura da devoção dial. Frequentem as multidões de fiéis os seus templos e celebrem-lhe as festas; ande nas mãos de todos a piedosa coroa do terço; e reúna a recitação dele – nas igrejas, nas casas, nos hospitais e nas prisões – ora pequenos grupos, ora grandes assembleias, para cantarem as glórias de Maria. Honra-se o mais possível o seu nome, mais doce do que o néctar e mais valioso que toda a pedra preciosa; ninguém ouse o que seria prova de alma vil – pronunciar ímpias blasfêmias contra este nome santíssimo, ornado de tanta majestade e venerável pelo carinho próprio de mãe; nem se atreva ninguém a dizer nada que seja irreverente."[7]



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FONTES CONSULTADAS:

[1]  http://www.bibliacatolica.com.br/biblia-ave-maria/apocalipse/12/
[2] CASTRO, P. Jerônimo P de Castro. Santa Catarina Labouré e a Medalha Milagrosa, Editora Vozes, 1951, p. 94
[3] AQUINO, Felipe Rinaldo Queiroz de. A Mulher do Apocalipse, Editora Cléofas, 2016
[4] MONTFORT, São Luís Maria Grignion de. Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem Maria, edição em pdf, Primeira Edição Popular do Serviço de Animação Eucarística Mariana, cotejada com o original francês, bem como com edições italiana, espanhola e diversas brasileiras. Julho de 2002 Parágrafos 234 e 235, p. 162
[5] http://almasdevotas.blogspot.com.br/2012/04/coroinha-de-nossa-senhora.html
[6] SANTOS, Armando Alexandre dos. A Verdadeira História da Medalha Milagrosa, Editora Artpress, São paulo, 2ª edição/2017, p. 43
[7] http://w2.vatican.va/content/pius-xii/pt/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_11101954_ad-caeli-reginam.html#fn31 (Parágrafo 46)
[8] http://www.abim.inf.br/nossa-senhora-das-gracas-e-a-medalha-milagrosa-bastidores-de-uma-historia/#.WZEHoFWGPIU