Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS!

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

O TESTAMENTO DE SANTA CATARINA LABOURÉ


Fotografia autêntica de Santa Catarina Labouré tirada
em vida, em 1876, pouco antes de sua morte, e a assi-
natura é um fac-símile.
Testamento? Como assim?

No sentido corrente do vocábulo, especialmente no âmbito jurídico, é de um ato pelo qual alguém dispõe de seus bens, na sua totalidade ou parte deles, para depois de sua morte (espécie de ato de última vontade). Infelizmente, tais atos de última vontade terminam gerando enormes confusões entre seus beneficiários.

Na vida dos Santos, o sentido não difere muito, mas eles não deixam, em regra, bens materiais para possíveis herdeiros. Em geral, são recomendações, exortações, ensinamentos, testemunho de vida e conversão, e, eventualmente, algum bem que possuíram em vida. Mas, ao contrário dos Testamentos mundanos, não costumam gerar brigas e discórdias, são luzes para o caminho daqueles que desejam servir a Deus seguindo o exemplo de vida do autor do Testamento.

Nas obras que narram a vida do Poverello de Assis, São Francisco de Assis, há um livro denominado “Testamento de São Francisco”, que constitui sua última vontade, o patrimônio que recolheu em sua breve, mas intensa vida evangélica, o tesouro do seu coração que agora deixa como herança, ou seja, como possibilidade de toda uma vida que seus seguidores podem e devem assumir, aprofundar e fazer frutificar.1

É com esse objetivo que, prescrutando a vida da Santa Vidente de Nossa Senhora em 1830, encontramos uma espécie de testamento oral deixado por ela pouco antes de sua morte, no dia anterior de sua partida para o céu.

Pois bem.

Corria o ano de 1876, e a irmã Catarina Labouré continuava no Asilo de Enghien, situado no número 77 da rua Reuilly, Paris, cuidando dos idosos ali asilados, e naquele lugar estava desde o fim de seu período de formação, em 5 de Fevereiro de 1831. Entretanto, a Santa sabia que se aproximava o momento de sua partida para o céu, e a cada festividade ou celebração anual que participava, dizia: É a última vez que celebro esta festa, Eu não verei o ano próximo …, ou, ainda, Não querem me acreditar, mas repito que não verei o ano de 1877.
Jardim do Asilo d'Enghien, muito apreciado por Santa
Catarina no período que residiu lá;

Já era a decana no Asilo desde 25 de Novembro de 1871, após o falecimento da Irmã mais velha, Vicente Bergerot, e, à época, Irmã Catarina já contava 65 anos de idade, porém, desde agosto de 1876 suas forças se declinavam a olhos vistos, tanto que precisou guardar o leito, a fim de aliviar suas crises de asma, tosse e dores nos joelhos.

Vendo aproximar-se sua hora, o pensamento da morte não lhe deixava, e continuava dizendo Eu não verei o ano próximo, e quando eu morrer, não será preciso levar meu corpo para o cemitério, será enterrado debaixo da capela.2 Essa profecia se concretizou, tendo sido inicialmente enterrada num túmulo construído embaixo do assoalho da capela do Asilo, ainda não usado por ninguém, por vontade da Superiora, à época, Irmã Mazin.

Em Novembro daquele ano, já bem melhor, obteve autorização de participar do retiro anual na Casa-Mãe das Filhas da Caridade, na rue du Bac, 140, local das aparições da Santíssima Virgem. Participou ativamente de todos os exercícios juntamente com as demais irmãs, como o de permanecer ajoelhada nos momentos apropriados, embora fosse a mais idosa e sofresse das doenças antes citadas.

Antiga fotografia do interior da Capela da Rue du Bac,
local das Aparições de 1830.
Após o retiro, retornou para Enghien e voltou a piorar, ficando de novo de cama. Entretanto, para sua grande alegria, sua Superiora, Irmã Dufès, em 8 de Dezembro, festa da Imaculada Conceição, resolveu levá-la, mais uma vez, à Capela das aparições, na Casa-Mãe. Após participar da celebração festiva, Santa Catarina sofreu um pequeno acidente no caminho. “Ao subir no carro, para a volta (julgaram-na demasiado corajosa), Catarina caiu e deslocou o pulso. Não disse palavra alguma, e ninguém se deu conta do acontecido. Ela mesma enrolou num lenço o braço machucado.

O que houve, Irmã Catarina? – Perguntou irmã Dufès.

Ela mostrou o punho enfaixado do outro braço e respondeu alegremente: Ah, irmã, estou levando meu buquê. Todos os anos a Virgem Santa o manda deste modo!

Catarina tomava como dádiva as alegrias e infortúnios. Irmã Charvier não ficou menos chocada.

– Ela lhe faz cada uma, a Virgem Santa!

Catarina respondeu com muita calma:

Quando a Virgem Santa nos manda um sofrimento, é uma graça que recebemos!

Sim, tudo era graça para Santa Catarina.”3

No Jardim do Asilo de Enghien,  havia
uma estátua da Santíssima Virgem, pe-
rante a qual Santa Catarina Labouré fa-
zia diariamente uma curta oração.
Ainda no mês de dezembro, dia 30, Santa Catarina foi visitada pela Irmã Cosnard, e esta queria ter uma conversa mais íntima com a Vidente, mas havia outras irmãs no ambiente, tendo então a visitante se aproximado do leito e murmurado:
Minha irmã Catarina, quereis partir sem me dizer uma palavra sobre a Santíssima Virgem?”.

Santa Catarina então soprou-lhe estas palavras: Nada posso dizer, murmurou a moribunda, inclinando-se; compete ao Padre Chavalier – diretor das Filhas da Caridade – dizer o que sabe4. Mas acrescentou:

Cuide para que rezem; que o bom Deus inspire os superiores a honrar Maria Imaculada. É o tesouro da comunidade. Que rezem o rosário. As vocações serão numerosas … se forem aproveitadas. Elas diminuirão se não forem fieis à regra, à Imaculada Conceição, ao rosário. Já não somos suficientes servas dos pobres. É preciso que as postulantes vão aos hospitais, para aprenderem a se superar.5

No dia seguinte, 31 de Dezembro de 1876, às 19 horas, rodeada por suas irmãs de Congregação, que recitavam as orações dos agonizantes, a Ladainha da Imaculada Conceição e outras preces, a Vidente da Santíssima Virgem deixava este mundo, rumo ao repouso eterno, ou, como costumava dizer quando era questionada se não tinha medo da morte: Medo? Por que hei de ter medo, se vou encontrar a Nosso Senhor, Maria Santíssima e S. Vicente?6

Eis, portanto, a nosso ver, o “Testamento” de Santa Catarina Labouré: honrar Maria Imaculada, por meio da fidelidade à regra, à Imaculada Conceição e ao Rosário.

Sem dúvida, essas exortações da Vidente da Virgem Imaculada, inicialmente, destinavam-se às suas irmãs da Congregação das Filhas da Caridade; no entanto, podem ser por nós também seguidas, observadas e praticadas. A “fiel observância à regra”, traduz-se na fiel observância – leia-se, obediência – aos Mandamentos de Deus e da Igreja, na fiel observância de nossas obrigações de estado (solteiros, casados ou viúvos), obrigações profissionais e, em especial, a prática do verdadeiro amor em nossas relações interpessoais, a caridade para com os pobres e necessitados …
Antigo postal da Santa, do período
anterior à sua canonização.

São nas relações com o outro que temos a oportunidade de exercitar o amor ao próximo, o perdão, a caridade. Com as diferenças, aprendemos a tolerância. Com aqueles de difícil relacionamento, aprendemos a ter paciência. São apenas alguns exemplos dos frutos que podemos colher das relações interpessoais.

A devoção “à Imaculada Conceição”, consistente na prática de uma autêntica devoção à Virgem Imaculada, ou seja, na imitação de suas virtudes, na preparação e realização de novenas e procissões por ocasião de das festas que a Igreja lhe reconhece, e outras também de natureza particular, na propagação da Medalha Milagrosa, que tantos prodígios tem operado nestes quase 200 anos de sua revelação, além de outras que já fazem parte de nossa vida devota.

Santa Catarina nos deixou um maravilhoso exemplo da verdadeira devoção à Virgem Imaculada: acolher como graça as alegrias e infortúnios que lhe sobreviessem, como o pequeno acidente narrado acima, sofrido após ter participado da festa da Imaculada Conceição.

O “Santo Rosário”, essa devoção tão cara a Nossa Senhora, sempre lembrada por Ela em suas aparições, sobretudo nas de Lourdes e Fátima, como poderoso instrumento de conversão, de defesa contra os ataques dos demônios, remédio para as diversas enfermidades da alma, do coração e do corpo, de alívio às almas do purgatório, de paz para o mundo.

Quantas graças alcançadas pelas pessoas que têm em seu cotidiano a prática dessa devoção. De quantos perigos já foram livradas, por meio da oração do Rosário?

São João Paulo II, inicia sua Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, de 16.10.2002, afirmando: O Rosário da Virgem Maria (Rosarium Virginis Mariae), que ao sopro do Espírito de Deus se foi formando gradualmente no segundo Milênio, é oração amada por numerosos Santos e estimulada pelo Magistério. Na sua simplicidade e profundidade, permanece, mesmo no terceiro Milênio recém iniciado, uma oração de grande significado e destinada a produzir frutos de santidade. Ela enquadra-se perfeitamente no caminho espiritual de um cristianismo que, passados dois mil anos, nada perdeu do seu frescor original, e sente-se impulsionado pelo Espírito de Deus a «fazer-se ao largo» (duc in altum!) para reafirmar, melhor «gritar» Cristo ao mundo como Senhor e Salvador, como «caminho, verdade e vida» (Jo 14, 6), como «o fim da história humana, o ponto para onde tendem os desejos da história e da civilização»7

São caminhos que nos levarão, um dia, a desfrutar as alegrias eternas junto a Nosso Senhor, a Maria Santíssima, São Vicente, Santa Catarina Labouré e tantos outros bem-aventurados.

Que Santa Catarina Labouré interceda por nós junto a Deus e à Virgem Imaculada.

Por Maria a Jesus!

Sou Todo Teu, Maria.




☞ NOTA DO BLOG: Os destaques e grifo, são nossos.





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1 cf. “Fontes Franciscanas”, Edição Comemorativa do Oitavo Centenário da Conversão de São Francisco (tradução do original latino “Fontes Franciscani”), Editora Mensageiro de anto Antônio, Santo André-SP, 2005, 1ª Parte, 2. Testamentos, p. 81.

2 CASTRO, Padre Jerônimo Pereira de. Santa Catarina Labouré e a Medalha Milagrosa, Editora Vozes, 2ª edição/1951, p. 229.

3 LAURENTIN, René. “Catarina Labouré Mensageira de Nossa Senhora das Graças e da Medalha Milagrosa”, Edições Paulinas, São Paulo/2012, p. 108.

4 CASTRO, Pe. Jerônimo Pereira de. op. cit., p. 235.

5 LAURENTIN. René. op. cit. p. 114.

6 CASTRO, Pe. Jerônimo de. op. cit., p. 236.


quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

A PREDESTINAÇÃO DA VIRGEM IMACULADA


Nossa Senhora de Belém. Óleo sobre tela de Melchior
Paul Deschwanden - 1873. Acervo da Catedral Metro-
politana de Belém, Pará-Brasil
Estamos a poucos dias da grande Solenidade do Natal do Senhor, já celebrando sua Novena Preparatória, e hoje, em especial aos que celebram o Ofício Divino, é o dia da Antífona Maior do Advento: «Ó sol nascente justiceiro / resplendor da Luz eterna: / Oh! Vinde e iluminai os que jazem entre as trevas / e, na sombra do pecado e da morte, estão sentados.»1.

A antífona deste dia faz referência ao Deus da Luz, Nosso Senhor Jesus Cristo, o Emanuel, o “Sol nascente justiceiro”, que veio ao mundo para ser a luz de seu povo (Is 60,19-20), para «o povo que andava nas trevas viu uma grande luz!» (Is 9,1). Portanto, se é certo que Cristo é o “astro-rei”, a estrela mais brilhante que se vislumbra no céu e cuja luz brilha no dia da salvação, não é menos certo também que a piedade cristã chama Maria Santíssima de a “Estrela da Manhã”, que vem antes do sol, como a preparar a vinda do astro maior, Jesus Nosso Senhor: Essa Estrela – que é o Sol, representação de Jesus – é sempre prenunciada por outra estrela da manhã cuja luz é um reflexo brilhante do Astro-Rei: Maria anuncia Jesus e conduz os homens a Jesus2.

Celebrar, portanto, a Natividade do Salvador, remete-nos, por conseguinte, aos desígnios de Deus para a humanidade, muito antes de todo começo, antes de tudo que conhecemos, Nossa Senhora já estava predestinada a ser a Mãe do Verbo Encarnado, ou como a Ela se dirigem as palavras do Pe. Júlio Maria: E no esplendor do conhecimento infinito, no qual se envolve a augusta Trindade, e também os seres futuros, no amor que ela tributa às criaturas privilegiadas que existirão um dia, o Altíssimo predestinava a gloriosa e imaculada Virgem, dotando-a de antemão de todas as belezas e de todas as grandezas que uma criatura possa encerrar.3

E prossegue, com sabedoria e propriedade, discorrendo sobre a “Predestinação” da Virgem Imaculada: É assim que apareceu desde o começo (Prov 8, 23). Antes de todo começo, ab aeterno ordinata sum, a radiosa figura da Virgem-Mãe, objeto das complacências eternas da adorável Trindade, objeto de amor e de admiração para os mortais.
A Imaculada Conceição

Desde o começo já se lhe podem aplicar as célebres Palavras de S. Bernardo: Sic est voluntas Dei qui totum nos voluit habere per Mariama vontade de Deus é que tudo nos venha pelas mãos de Maria. Tudo por ela, nada sem ela.

Desde toda a eternidade havia Deus decidido que seu Verbo se faria carne e se revestiria da natureza humana. Mas a encarnação do Filho de Deus união da terra e do céu estava tão intimamente unida, nos decretos eternos, à maternidade divina de Nossa Senhora, que se eternamente o Verbo ocupou o pensamento de Deus, esta previsão devia naturalmente juntar-se à de Maria, Mãe de Deus. E então pode-se dizer com razão: E estava ai a Mãe de Deus Et erat mater Jesu ibi (Jo 2, 1-5).

De uma maneira especial Maria foi escolhida antes de todos os tempos para a realização desta inefável obra da misericórdia divina. 'A Mãe de Deus, diz Suarez, estava inseparavelmente unida ao seu divino Filho, nos decretos do Eterno'.

Eis por que a Igreja procura escolher sempre os próprios termos da Escritura Sagrada, que falam da sabedoria incriada e representam as suas origens eternas, para deles fazer aplicação à Santíssima Virgem, que foi, nos imutáveis desígnios de Deus, o objeto do mesmo decreto que a encarnação do Verbo divino4.

«O Senhor me possuiu no principio dos seus caminhos, desde o princípio, antes que criasse coisa alguma. Desde a eternidade fui constituída, e desde o principio, antes que a terra fosse criada. Ainda não havia abismos e eu já estava concebida; ainda as fontes das águas não tinham brotado, ainda não tinham assentado os montes sobre a sua pesada massa; antes de haver outeiros e eu tinha já nascido. Ainda ele não tinha criado a terra nem os rios, nem os eixos do mundo. Quando ele preparava os céus, eu estava presente; quando, por uma lei inviolável, encerrava os abismos dentro dos seus limites; quando firmava lá no alto a região etérea, e quando equilibrava as fontes das águas; quando circunscrevia ao mar o seu termo, e punha lei às águas, para que não passassem os seus limites; quando assentava os fundamentos da terra, eu estava com ele, regulando todas as coisas» (Prov 8, 22-28).

É, portanto, com muita razão que a Virgem Maria é chamada a «Primogênita antes de todas as criaturas primogênita ante omnem creaturam» (Eclo 24, 5), assim como Jesus Cristo nos é apresentado como «Primogênito de toda criatura Primogenitus omnis creaturae» (Cl 1, 15).

São Bernardo, ilustre apologista da Mãe de Deus, resumindo todos os piedosos transportes da tradição católica acerca desta verdade, assim se exprime: Ó Maria, vós precedestes a todas as criaturas no pensamento do Eterno, de preferência a todas as outras, mesmo as mais favorecidas; fostes escolhida e predestinada para ser a mãe do homem-Deus, nosso Salvador.
A Virgem Poderosa com o globo nas mãos.

Tal é, portanto, o segredo admirável da predestinação da Santíssima Virgem. Mas, como sondar este abismo? Nenhuma palavra humana poderia traduzir convenientemente estas maravilhas; língua alguma, fosse ela angélica, nos poderia revelar a compreensão deste grande mistério, nem penetrar nas profundezas deste santuário, onde Deus habita cercado e aureolado de uma luz inacessível.

E é somente pelo estudo dos diferentes aspectos e consequências da predestinação, assim como das intimas relações existentes entre Maria Santíssima e o seu divino Filho, que chegaremos a conceber uma pálida ideia da sublimidade deste grandioso mistério.”5

Concluamos, portanto, com o seguinte cântico mariano:

AVE MARIA, ESTRELA DA MANHÃ6

Ave Maria, estrela da manhã
Tu que velaste esta noite por nós
Roga por nós que começamos este dia
Roga por nós por toda a nossa vida.
Ave Maria

Ó Mãe bendita, dá-nos o teu Filho
Que tu trouxeste no teu seio por nós
Nasceu por nós para nos libertar da morte
Morto por nós para nos conduzir à vida.
Ave Maria

Cheia de Graça, Luz do caminho
Onde há a vida preparada para nós
Pede por nós misericórdia ao Senhor
Pede por nós que nos dê a sua paz.
Amém




FELIZ  


ABENÇOADO 


    NATAL  

     A    

  TODOS  !








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__________________________
1 cf. “Liturgia das Horas Segundo o Rito Romano”, Vol. I Tempo do Advento e Tempo do Natal, Editoras Paulus, Paulinas, Vozes e Ave-Maria/1999, p. 322.

2 VAZ, Dom José Carlos de Lima. “O Louvor a Maria Comentários sobre as Invocações da Ladainha de Nossa Senhora”, Edições Loyola/2005, 34ª Invocação: Maria, Estrela da Manhã, p. 111.

3 LOMABERDE, Pe. Júlio Maria. “Por Que Amo Maria”, Edições Paulinas. 1960, Primeiro Motivo: A Vontade de Deus, p. 19.

4 Pio IX, bula Ineffabillis, 1854.

5 LOMBAERDE, Pe. Júlio Maria. op. cit. p.19 a 21.


segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

A TERCEIRA E ÚLTIMA APARIÇÃO DA VIRGEM IMACULADA NOSSA SENHORA DA MEDALHA MILAGROSA


Ilustração da Terceira Aparição da Virgem Imaculada Nossa
Senhora da Medalha Milagrosa, por trás do Sacrário. Imagem
divulgada pela AMM-Associação Internacional da MedalhaMilagrosa
Santa Catarina Labouré ainda estava com a alma embevecida pela Aparição da tarde do dia 27 de Novembro. Aquela visão da Santíssima Virgem lhe aparecendo tão bela ao ponto de dificultar uma descrição mais pormenorizada, como a própria Vidente declararia depois: ...Ela era tão bela, que me seria impossível exprimir a beleza arrebatadora (vide no relato abaixo), permanecia viva em sua mente e coração e, quiçá, provocava-lhe o ardente desejo de revê-LA novamente, como já havia sentido depois da primeira Aparição, em julho de 1830.

Mas havia também uma preocupação no coração da Irmã Catarina: saber como levaria a bom termo a missão que a Mãe do Céu lhe confiara na visão do dia 27 de Novembro: Fazei cunhar uma medalha conforme este modelo.... Era preciso convencer seu diretor espiritual, Pe. Aladel, para que a medalha fosse cunhada e distribuída, como desejava a Virgem Santíssima.

Era Dezembro de 1830, a data exata, a Vidente não se recordou, mas descreveu a visão, a forma como a bela Senhora lhe apareceu, similar à Aparição anterior. Vejamos como descreveu Santa Catarina:

De acordo com o relato de Santa Cata-
rina, a Virgem Santíssima lhe apareceu
dessa última vez trazendo o globo  nas
mãos, e dos dedos com anéis, desciam
raios que representavam as graças  que
lhe são pedidas.
  
Pela terceira vez, ela me apareceu, escreveu a irmã favorecida, mas não me lembro a data”. Como eu vivia sempre preocupada com a missão que eu tinha recebido da Santíssima Virgem, parecia-me que a veria ainda: eu vivia nessa esperança.

Um dia, às cinco horas e meia da tarde, depois da meditação, no mais completo silêncio, julguei ouvir um ruído como o fru-fru dum vestido de seda, vi a Santíssima Virgem, perto do Sacrário, um pouco atrás...1, passando a descrever a visão:

... Vi a Santíssima Virgem junto do tabernáculo, por detrás. Ela estava vestida de branco... tendo sob os pés uma esfera branca... Ela era tão bela, que me seria impossível exprimir a beleza arrebatadora. As mãos, elevadas à altura do estômago de uma maneira muito natural, em atitude de oferecimento a Deus, seguravam uma esfera de ouro, que representava o globo, em cima com uma pequena cruz de ouro. De repente, os dedos se apresentaram ornados de anéis e de pedras preciosas de um brilho muito grande; os raios que delas saiam jorravam de todos os lados, o que enchia toda a parte de baixo, de maneira que não se viam mais os pés da Santíssima Virgem. Os anéis eram em número de três em cada dedo, o maior perto da mão, um de grandeza média ao meio, e o menor na extremidade. Cada anel era revestido de pedras, mais belas umas que as outras, de um tamanho proporcionado, umas maiores e outras menores. As pedras maiores davam raios mais grossos, e as menores raios menores. Dizer-vos o que entendi no momento em que a Santíssima Virgem oferecia o globo a Nosso Senhor, é impossível transmitir...”.

A Vidente também notou que de algumas pedras não saiam raios. E uma voz lhe disse: Estas pedras das quais não sai nada são as graças que os homens se esquecem de Me pedir. Na esfera branca sobre a qual estavam apoiados os pés da Virgem Santíssima, havia também uma serpente de cor esverdeada, com manchas amarelas.
Nesta ilustração a Virgem apa-
rece sem os raios que desciam
de suas mãos.

Como eu estivesse ocupada em contemplar a Santíssima Virgem, uma voz se fez ouvir no fundo do meu coração, que me disse: 'Estes raios são os símbolos das graças que a Santíssima Virgem obtêm para as pessoas que Lhas pedem'. Estas linhas devem ser postas como legenda em baixo da imagem da Santíssima Virgem2.

Por fim, a Irmã Catarina afirma ter recebido a seguinte mensagem: “Não me verás mais, mas ouvirás minha voz durante tuas orações3.

Entretanto, parece-nos moralmente legítimo supormos que Nossa Senhora tenha se manifestado outras vezes à sua Confidente, não só antes daquela que é tida como a “última” Aparição, como também depois de Dezembro de 1830, embora seus biógrafos não façam referência expressa a essas visões.

O suporte dessa nossa suposição, está no depoimento prestado no Inquérito Canônico pelo diretor espiritual da Santa, Pe. Aladel, segundo o qual a Santíssima Virgem apareceu várias outras vezes, inclusive em Setembro, à Irmã Catarina, assim como pensamos ser um forte indício o relato da Noviça quando questionada por seu confessor acerca dos símbolos existentes na medalha se Não haveria uma outra inscrição no reverso?, tendo Catarina afirmado que já não se lembrava, mas iria rezar, e na confissão seguinte, afirmou: O M e os dois corações já dizem o bastante4. Obviamente que essa resposta dada pela Santa ao seu confessor, tempos depois das Aparições, pode ter sido obtida por meio de uma santa inspiração durante a oração ou, simplesmente, ter ouvido a voz de Nossa Senhora, ou seja, sem uma efetiva aparição, por isso afirmamos se tratar de uma suposição nossa.
Visão do atual interior da Capela da Rue du Bac, onde se
deram as Aparições da Virgem Imaculada.

Encerrava-se, assim, o ciclo das Aparições de 1830, todas na Capela da Rue du Bac, 140, Paris, e tendo como vidente a noviça Catarina Labouré. Como as demais Aparições anteriores da Virgem Imaculada, essa “última” também traz mensagens a serem refletidas, e que pretendemos fazer oportunamente.




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1 CASTRO, Padre Jerônimo Pereira de. Santa Catarina Labouré e a Medalha Milagrosa, Editora Vozes, 2ª edição/1951, Cap. IV, p. 94: “O Padre Chevalier diz que esta terceira aparição foi durante o mês de Dezembro de 1830, mas, segundo o Pe. Aladel, a SS. Virgem apareceu várias outras vezes, especialmente, em Setembro. Deposição no Inquérito canônico, p. 4”

2 MACHADO, Antonio Augusto Borelli. “Há 150 Anos surgia a Medalha Milagrosa”, excertos do artigo publicado na revista “Catolicismo”, nº 359, dezembro de 1980, p. 5.

3 LAURENTIN, René. “Catarina Labouré Mensageira de Nossa Senhora das Graças e da Medalha Milagrosa”, Edições Paulinas, São Paulo/2012, p. 37.


4 Idem, p. 42.