Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS!

segunda-feira, 30 de julho de 2018


SANT'ANA E SÃO JOAQUIM, PAIS DA VIRGEM IMACULADA


São Joaquim, Sant'Ana e a Virgem Maria menina.
(Foto: Museu do Prado, Autor Anônimo, óleo sobre tela, séc. XVII) 

No último dia 26 de Julho a Igreja celebrou a Festa dos Pais da Virgem Imaculada e Avós terrenos de Jesus Cristo, Sant'Ana e São Joaquim. Antes da última reforma eram comemorados em datas distintas, pois diverso também foi o desenvolvimento do culto e devoção aos Pais de Maria Santíssima.

A devoção aos Pais de Maria Imaculada é muito antiga no Oriente, onde são cultuados desde os primeiros séculos cristãos, mas atingindo sua plenitude no século VI. Já no Ocidente cristão, o culto a São Joaquim foi autorizado pelo Papa Júlio II, por volta do século V, sendo suprimido pelo Papa Pio V e restabelecido, posteriormente, pelo Papa Gregório XV, em 1625, tendo sido confirmado definitivamente e estendido a toda Igreja pelo Papa Leão XIII, em 1879.

No início, São Joaquim era celebrado no dia 20 de Março, associado a São José, porém, foi posteriormente estabelecida sua festa no dia 16 de Agosto, associando-a ao triunfo da Assunção de sua Santíssima Filha. Com a última reforma do Calendário, passou a ser celebrado juntamente com sua esposa, Santa Ana (Sant'Ana).

O culto a Sant'Ana, no Ocidente, começou por volta do século VIII, quando suas relíquias, no ano 750, foram levadas da Terra Santa para Constantinopla, e distribuídas por diversas igrejas do Ocidente, mas tornou-se bastante popular na Idade Média. No ano de 1378, o Papa Urbano IV oficializou seu culto, mas foi o Papa Gregório XIII, em 1584, que fixou a data de sua festa no dia 26 de Julho, e o Papa Leão XIII a estendeu para toda Igreja, em 1879.
S. Joaquim e a Virgem Maria

Segundo a Tradição, Sant'Ana e São Joaquim casaram-se já idosos, e dessa união não houve prole, causando aos mesmos grandes constrangimentos, em especial a São Joaquim. Conta-se que ficou impedido de apresentar Sacrifícios no Templo de Jerusalém, por um tal de Rúben, por não dar filhos a Israel, como se estivesse sofrendo um castigo divino, retirando-se para o deserto onde rezava e jejuava, enquanto sua Esposa continuava na residência do casal, em Jerusalém, próximo à Porta dos Leões (hoje, no local, há uma igreja dedicada a Sant'Ana). Ainda segundo a Tradição, Sant'Ana teria tido uma visita do Anjo do Senhor lhe anunciando que conceberia um filho: “Ana, o Senhor ouviu tua oração; conceberás e darás a luz. Sobre o fruto de ventre, falará o mundo inteiro”. Esse mesmo Anjo teria aparecido em sonho a S. Joaquim, na mesma oportunidade, e anunciado-lhe a concepção de sua esposa.

Autores medievais viram durante um casto beijo de reencontro do casal pela manhã, na Porta Áurea de Jerusalém, o momento da imaculada concepção de Maria Santíssima.

Célebre também é o Sermão de São João Damasceno (c. 676-749), sobre a Natividade de Maria Santíssima, exaltando a esterilidade da bem-aventurada Sant'Ana e a castidade do casal, cujos trechos transcrevemos abaixo:
Mas por que nasceu a Virgem Maria de uma mulher estéril? Àquele que é o único verdadeiramente novo debaixo do sol, como coroamento das Suas maravilhas, deviam ser preparados os caminhos por maravilhas, para que lentamente as realidades mais baixas se elevassem de modo a serem as mais altas. E eis uma outra razão, mais alta e mais divina: a natureza cedeu o lugar à graça, pois ao vê-la tremeu, e não quis mais ter o primeiro lugar. Como a Virgem Mãe de Deus devia nascer de Ana, a natureza não ousou prevenir o fruto da graça, mas permaneceu ela própria sem fruto, até que a graça trouxesse o seu. Era necessário que fosse primogênita aquela que deveria gerar «o Primogênito de toda a criação, no Qual tudo subsiste». Ó Joaquim e Ana, casal venturoso! Toda a criação está em dívida para convosco, porque através de vós ela pôde oferecer ao Criador o dom – entre todos o mais excelso – de uma Mãe venerável, a única digna d’Aquele que a criou. Ditosos os rins de Joaquim, de onde saiu uma semente totalmente imaculada, e admirável o seio de Ana, graças ao qual se desenvolveu lentamente, onde se formou e de onde nasceu uma tão santa criança! Ó entranhas que levastes um céu vivo, mais vasto que a imensidade dos céus! Ó moinho onde foi amassado o Pão vivificante, segundo as próprias palavras de Cristo: «Se o grão de trigo não cair na terra e morrer, ficará só». Ó seio que aleitaste aquela que alimentou Aquele que alimenta o mundo! Maravilha das maravilhas, paradoxo dos paradoxos! Sim, a inexprimível Encarnação de Deus, cheia de condescendência, devia ser precedida por estas maravilhas. Mas como prosseguirei? O meu espírito está fora de si, dividido que estou entre o temor e o amor; o meu coração bate e a minha língua se move: não posso suportar a alegria, as maravilhas deitam-me por terra, o ardor apaixonado aprisionou-me num arrebatamento divino. Que o amor vença, que o temor desapareça e que cante a cítara do Espírito: «Alegrem-se os céus, exulte a terra»!
S. Joaquim, Sant'Ana e a Imaculada Conceição

Ó Joaquim e Ana, casal castíssimo, «par de rolas» no sentido místico! Observando a lei da natureza, a castidade, merecestes os dons que ultrapassam a natureza: gerastes no mundo uma Mãe de Deus sem esposo. Depois de uma existência santa e piedosa numa natureza humana, gerastes uma filha superior aos anjos e que agora reina sobre eles. Ó Filha graciosíssima e dulcíssima, ó lírio nascido entre os espinhos, da descendência nobilíssima e real de David! Por ti a realeza encheu-se com o sacerdócio; por ti foi cumprida «a mudança da Lei», e revelado o espírito escondido sob a letra, pois que a dignidade sacerdotal passou da tribo de Levi à de David. Ó Rosa nascida dos espinhos do judaísmo, que enche o universo de um perfume divino! Ó filha de Adão e Mãe de Deus! Ditosos os rins e o seio de onde surgistes! Ditosos os braços que te levaram, os lábios que experimentaram os teus castos beijos, os lábios de teus pais, para que em tudo tu fosses eternamente virgem. Hoje é para o mundo o início da salvação. «Aclamai o Senhor, terra inteira, cantai, exultai, tocai instrumentos». Elevai a vossa voz, «fazei-a escutar sem temor», porque na Santa Probática nos nasceu uma Mãe de Deus, de quem quis nascer o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.

Monsenhor Ascânio Brandão, em uma de suas obras (“Sant'Ana Mãe da Mãe de Deus”), também exalta a pessoa e o papel de Sant'Ana:
... Que Mãe depois de Maria foi mais honrada, mais privilegiada que a Mãe daquela que foi a Mãe do seu Criador? Podemos dizer também a Sant'Ana nas devidas proporções do louvor: – Todas as gerações vos hão de chamar bem-aventurada, porque sois bendita entre todas as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre Maria. Louvamos a Maria porque é Mãe de Deus. Louvamos a Sant'Ana porque é Mãe da Mãe de Deus. Não se pode fazer uma ideia mais elevada, mais nobre e ao mesmo tempo mais exata do mérito e das virtudes extraordinárias de Sant'Ana, diz o Pe. Croiset, que dizendo e meditando esta verdade: Ela deu ao mundo a Mãe do Filho de Deus Humanado!1.
Sant'Ana Mestra e a Virgem Maria menina

Monsenhor também relata a devoção de grandes Santos da Igreja aos Pais da Virgem:
Ora, a devoção a Sant'Ana foi também sempre querida dos heróis da santidade. Santa Tereza legou ao Carmelo, com a devoção a São José a devoção a Sant'Ana e S. Joaquim. A apóstola e arauto do Coração de Jesus, Santa Margarida Maria, juntava as invocações a Nossa Senhora as de Sant'Ana e seu Santo Esposo. Nas saudações escritas por ela estão estas: 'Eu Vos saúdo Maria bendita entre todas as mulheres, e bendito é o fruto de vosso ventre Jesus. Bendito seja vosso esposo S. José! E bendito seja vosso Pai S. Joaquim e bendita vossa Mãe Sant'Ana!'. A grande Santa Brígida, cujas revelações são tão conhecidas e célebres, era devotíssima da grande Matriarca. Um dia procurava ela um meio de honrar convenientemente uma relíquia de Sant'Ana que lhe fora dada. Apareceu-lhe a Mãe de Nossa Senhora dizendo: Eu sou Ana, mestra de todas as esposas de Cristo antes da Nova Lei, e Mãe de todos depois da Redenção. E, porque Deus quis nascer do fruto bendito de minhas entranhas, quero minha filha que rezes sempre esta oração: 'Bendito sejais ó Jesus, Filho de Deus e da Virgem que escolhestes por Mãe do matrimônio santo de Ana e Joaquim. Pelas orações de Sant'Ana, tende piedade de todos os que estão no estado de matrimônio para que produzam frutos do Senhor. Dirigi e guiai os que se preparam para o matrimônio, para que Deus seja honrado por eles'. Bela oração e hoje tão necessária! Os santos enfim, pelo amor de Jesus e Maria, amaram e invocaram muitos deles com devoção especial e fervorosa a gloriosa Sant'Ana.2

Na primeira Aparição da Virgem Imaculada a Santa Catarina Labouré, na noite do dia 18 para o dia 19 de Julho de 1830, a Noviça vidente faz breve referência a Sant'Ana; na verdade, a um quadro existente na Capela, no trecho que descreve a posição da Santíssima Virgem: “Ouvi então um ruído, como um frufru de vestido de seda, que vinha do lado da tribuna, junto ao quadro de São José, e que pousava sobre os degraus do altar; do lado do Evangelho, sobre uma cadeira semelhante à de Sant'Ana. …”.

Nossa Senhora sentou-se na cadeira do Diretor, como se apresenta Sant'Ana em um quadro (até hoje existente na Capela das Aparições); como geralmente é representada: sentada em uma cadeira ou poltrona ensinando a Virgem Maria ainda menina, pelo menos a partir dos séculos XVII e XVIII, por ocasião do ressurgimento da devoção.

A iconografia a representa na posição de uma “matrona”, de uma mãe já idosa e respeitável, cujo amor não se contenta apenas a carícias e afagos maternais, mas se preocupa com a instrução d'Aquela que haveria de ser a “Sede da Sabedoria”. É Sant'Ana ensinando Maria a ler.


São Joaquim e Sant'Ana, Pais da Virgem Imaculada, deixam para nós, em especial às famílias, verdeiros testemunhos das mais sublimes virtudes cristãs, como: a fidelidade a Deus (ainda que em meio às duras provações da vida), a firme esperança e a inabalável confiança, e o perseverante espírito de oração, que não desiste e nem se dá por vencido, mas tudo espera da Providência Divina.

Concluímos rogando aos digníssimos Pais da Virgem Imaculada, Sant'Ana e São Joaquim, que fortaleçam a nossa fé, a nossa esperança, a nossa confiança e perseverança, aumentem em nós o espírito de oração e a devoção à Santíssima Virgem, caminho seguro para o Coração amantíssimo de Jesus. Amém.

Por Maria a Jesus!

Sou todo teu, Maria.




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FONTES CONSULTADAS:






___________________
1 cf. BRANDÃO, Monsenhor Ascânio. “Sant'Ana Mãe da Mãe de Deus”, Editora Paulinas, 1954, Cap. Mãe da Mãe de Deus, p. 14 (texto atualizado)

2 cf. idem, Cap. Devoção dos Santos à Mãe de Maria Santíssima, pp. 53-54 (destaque em negrito é nosso).

sexta-feira, 27 de julho de 2018

A Mensagem da Rue du Bac - A Aparição se Repetiu Muitas Vezes


MEMÓRIA MENSAL DA REVELAÇÃO DA MEDALHA MILAGROSA

 A MENSAGEM DA RUE DU BAC – A APARIÇÃO SE REPETIU MUITAS VEZES


A estátua da Virgem dos Raios no altar principal da capela da Rue du Bac, Paris, 140
Todos quantos têm escrito sobre a Medalha ou sobre a vida de Santa Catarina Labouré são coincidentes ao afirmarem que a aparição da Virgem dos Raios e também da Virgem do Globo, são as mesmas em fases distintas, repetiram-se várias vezes. Porém, quantas? Joseph Dirvin, Luden Misermont, Jesús Cavanna e Francesco Avidano asseguram terem sido cinco, ao menos: setembro, novembro e dezembro de 1830 e em março e setembro de 1831. As três primeiras tiveram lugar enquanto a Irmã Catarina estava em seu noviciado, mas as outras duas ocorreram em suas visitas à Rue du Bac, quando vinha de Enghien.


Como chegaram os citados escritores a essa conclusão? Indubitavelmente ao recolherem as afirmações do Padre Aladel com as de Santa Catarina. Em sua carta ao Abade Le Guillou, o Padre Aladel disse que a aparição teve lugar “no final de 1830”, e em seu livro Notice precisa, somente na oitava edição, de 1842, que a Virgem da Medalha apareceu em setembro de 1830. Essa mesma afirmação foi feita sob juramento em 1836, interrogado por Monsenhor Quentin, promovedor do “Inquérito canônico sobre a origem e os efeitos da Medalha”. Porém, nestas três situações, a carta, o livro e a declaração canônica, o confessor da Vidente insiste que a visão se repetiu seis meses depois e de novo outros seis meses após, quer dizer, em março e em setembro de 1831.
A Virgo Potens ou Virgem Poderosa, no altar lateral
esquerdo.

Santa Catarina, por sua vez, disse em seu primeiro relato, o de 1841: “A 27 de novembro, que era sábado do primeiro domingo do advento, às cinco e meia da tarde.” E num segundo relato seu, dessa mesma data, acrescenta dentro do texto: “Pela terceira vez me apareceu; não recordo-me o tempo.” [data exata]. O Padre Jules Chevalier, ao organizar os papéis da Vidente, afirma que esta “terceira vez” corresponde ao mês de dezembro.

Eis aqui, pois, como se chega a essa conclusão das cinco datas: setembro de 1830 e março e setembro de 1831, mencionados pelo Padre Aladel; e em novembro de 1830, indicado por Santa Catarina, o mesmo em relação a dezembro desse mesmo ano, segundo interpreta o Padre Chevalier.

Entretanto, o historiador incorre em algumas contradições, ao menos aparentemente. O Padre Aladel afirma, na segunda seção da "pesquisa canônica de 1836”, que a Vidente fazia seis meses no Noviciado quando teve a visão. Pois bem, Santa Catarina ingressou no noviciado em 23 de abril. Como pôde ter a visão em setembro se até 23 de outubro ainda não havia completado os seis meses? Seria o resultado de impressões e conclusões literais e nada mais?

O documento mais antigo, com data do mês de agosto de 1833, firmado em Paris por Carlos Lamboley, assegura que a aparição teve lugar “no princípio do ano de 1831”.
Padre Aladel, diretor espiritual de Santa
Catarina Labouré

Como se explicam estas discordâncias? Todos os testemunhos concordam no fato de que a aparição se repetiu, ao menos três vezes. Na quinta seção do “Inquérito”, o Padre Aladel disse: “Ela me falava com temor, e isto quando se sentia atormentada, agitada e forçada pelo desejo de me confiar a repetição da visão, tal era a causa pela qual a Irmã não tenha me falado mais que três vezes, por mais que a visão tenha se repetido com mais frequência…” Seguramente, o número das visões são superiores a cinco, e assim se explica o fato dos confessores de Santa Catarina, e ela mesma, fazerem alusões a datas distintas, que também não se excluem.

A visão se repetiu umas vezes durante a missa e outras durante a oração da tarde; umas sobre o altar principal e outras sobre o altar de São José, hoje da Virgo Potens. A do dia 27 de novembro é adotada pela Igreja como data comemorativa da aparição. Porque se repetiu tantas vezes a visão é algo que resta à especulação: segundo uns, a Virgem queria que a visão ficasse bem gravada na mente da Noviça; outros, a repetição era uma espécie de insistência para que se cunhasse a Medalha. O Padre Aladel confirmava: “A Santíssima Virgem não estava contente de que se negligenciasse em fazer cunhar a Medalha.”
Santa Catarina Labouré

Os encontros entre Irmã Catarina e o Padre Aladel no confessionário resultavam desagradáveis. As Irmãs que esperavam sua vez podiam escutar a peleja. Não entendiam acerca do que discutiam, porém, segundo declararam algumas, ante o solene tribunal convocado em Roma para investigar a santidade de Soror Catarina, ambos pareciam insistir em algo oposto. A mesma Soror Catarina, pouco antes de morrer, assegurou haver dito à Virgem que “melhor seria se tivesse aparecido para outra pessoa, porque ninguém acreditava nela, e seu confessor, ao saber disso, a chamou de 'vespa do mal”. A polêmica consistia no fato da Vidente querer ver cunhada o quanto antes a Medalha, mas o Padre Aladel não dava a devida atenção ao assunto. Provavelmente esta era uma das razões pelas quais se repetiu tantas vezes a visão. Esse embate entre diretor e dirigida resulta um tanto infantil, se bem que era real.

Pode admitir-se [portanto] a repetição como uma prova de autenticidade?


Bibliografia [da fonte]:
MISERMONT, Luden: La bienheureuse Catherine Labouré, Filie de la Charité…, págs. 98-106, 3′ edic., París, 1933; ídem: Les graces extraordinaires de la bienheureuse Catherine Labouré,págs. 272-302, Paris, 1933;
CAVANNA, Jesús: Manual of the Children of Mary Immaculate,página 206, Appendix I., Manila, 1957;
CHEVALIER, Jules: La Médaille Miraculeuse, pág. 80, 10. edic., Paris;
DIRVIN, Joseph: o. c., págs. 100-101;
DELGADO, José: o. c., págs. 131-32;
CRAPEZ, Edmond: o. c., págs. 63-647 74-75.

OREMOS:
“Ó Virgem Milagrosa, Rainha Excelsa, Imaculada Senhora, sede minha advogada, meu refúgio a asilo nesta terra, minha fortaleza e defesa na vida e na morte, meu consolo e minha glória no céu.” (extraída da Novena à Virgem Imaculada da Medalha Milagrosa)





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FONTE: artigo de J. DELGADO, C.M. , publicado originalmente em 1968, capturado em http://vincentians.com/es/el-mensaje-de-rue-du-bac-iii-la-aparicion-se-repitio-muchas-veces/ - Traduzido e adaptado para o português do Brasil por nós, bem como alguns destaques são nossos.

quinta-feira, 19 de julho de 2018


A PRIMEIRA APARIÇÃO DA VIRGEM IMACULADA A SANTA CATARINA LABOURÉ


A Primeira Aparição da noite do dia 18 para o dia 19 de Julho de 1830.
Na imagem acima, os quadros de S. José e Sant'Ana

Estamos no mês de julho, e é neste mês que, no ano de 1830, iniciam-se as aparições da Santíssima Virgem Imaculada à sua confidente Santa Catarina Labouré.

Na Primeira Aparição, Nossa Senhora ainda não revela a Medalha Milagrosa, apenas adverte a humilde Noviça de que Deus tem uma grande missão para ela, e logo em seguida passa a revelar os tristes acontecimentos que cairão sobre o mundo, especialmente a França, demonstrando grande preocupação e pesar com tudo que estava por vir, e ao mesmo tempo garante sua especialíssima proteção às duas Congregações fundadas por São Vicente de Paulo, Padres da Missão (Lazaristas) e a Companhia das Filhas da Caridade.

Na noite de 18 para 19 de julho de 1830, festa de São Vicente de Paulo1, pela primeira vez Santa Catarina vê Nossa Senhora. É seu Anjo da Guarda, na forma de um menino, que a conduz até a Virgem. Ainda uma vez, passemos a ler seu relato, que impressiona pela simplicidade e unção:
S. Vicente de Paulo, Santa Luísa de Marillac
e as Filhas da Caridade

'Haviam-nos distribuído um pedaço de roquete de linho de São Vicente. Eu cortei a metade e o engoli, e adormeci com o pensamento de São Vicente me obteria a graça de ver a Santíssima Virgem.


'Afinal, às onze e meia da noite, ouvi me chamarem pelo nome: Irmã Labouré! Irmã Labouré! Acordando, olhei para o lado de onde vinha a voz, que era o lado da passagem. Corro a cortina e vejo um menino vestido de branco, de mais ou menos quatro a cinco anos, e ele me diz: Levantai-vos logo e vinde à Capela: a Santíssima Virgem vos espera! …


'Vesti-me depressa e me dirigi para o lado do menino, que tinha ficado de pé, sem avançar além da cabeceira da minha cama. Ele me seguiu, ou melhor, eu o segui, com ele sempre à minha esquerda, levando claridade pelos lugares onde passava. Por todos lugares onde passávamos, as luzes estavam acesas, o que espantava muito. Porém, muito mais surpresa fiquei quando entrei na Capela: a porta se abriu mal o menino a tocara com a ponta do dedo. Mas minha surpresa foi ainda maior quando vi todas as velas e castiçais acesos, o que me fazia lembrar a missa da meia-noite.


'Entretanto, não via a Santíssima Virgem. O menino me conduziu ao presbitério, ao lado da cadeira de braços do Sr. Diretor. Ali me pus de joelhos, e o menino permaneceu de pé todo o tempo … Por fim, chegou a hora, o menino me advertiu: Eis a Santíssima Virgem.


'Ouvi então um ruído, como um frufru de vestido de seda, que vinha do lado da tribuna, junto ao quadro de São José, e que pousava sobre os degraus do altar; do lado do Evangelho, sobre uma cadeira semelhante à de Sant'Ana. …



'Então, olhando para a Santíssima Virgem, dei um salto para junto dEla, pus-me de joelhos sobre os degraus do altar; com as mãos apoiadas sobre os joelhos da Santíssima Virgem.

O Anjo da Guarda de Santa Catarina
presente durante a Aparição

'Ali se passou o mais doce momento de minha vida. Não me será possível dizer tudo o que senti. Ela me disse como eu devia me conduzir em relação ao meu diretor espiritual, e várias coisa que não devo dizer; a maneira de me conduzir em meus sofrimentos: vir lançar-me ao pé do altar (e mostrava com a mão esquerda o pé do altar) e ali abrir meu coração. Ali receberia todas as consolações de que tivesse necessidade. Então lhe perguntei o que significam todas as coisas que eu tinha visto, e Ela me explicou tudo.'

O colóquio com Nossa Senhora prolongou-se por aproximadamente uma hora e meia.

Em outro manuscrito, Santa Catarina Labouré foi mais explícita e revelou, pelo menos em parte, o que ouviu da Santíssima Virgem. Num primeiro momento, Nossa Senhora falou à jovem noviça sobre a missão que Deus lhe queria cofiar, as dificuldades que teria para cumpri-la, e como devia portar-se com seu confessor:

'Minha filha, o bom Deus quer encarregar-vos de uma missão. Tereis muito que sofrer; mas superareis esses sofrimentos pensando que o fareis para glória do bom Deus. … Sereis contraditada. Mas tereis a graça. Não temais. Dizei tudo [a vosso confessor] com confiança e simplicidade. Tende confiança, não temais.'


Mais adiante, Nossa Senhora passou a falar de acontecimentos futuros que logo se verificariam:

'Os tempos serão maus. Os males virão precipitar-se sobre a França. O trono será derrubado. O mundo inteiro será transtornado por males de toda ordem. (A Santíssima Virgem tinha um ar muito triste ao dizer isso). Mas vinde ao pé deste altar. Aqui graças serão derramadas sobre todas as pessoas, grandes e pequenas, que as pedirem com confiança e fervor.'

Em seguida, Nossa Senhora falou a respeito da comunidade das Filhas da Caridade, a que pertencia Santa Catarina, e dos Sacerdotes da Congregação da Missão (Lazaristas), também fundados por São Vicente de Paulo:
Nossa Senhora apontando, com a mão
esquerda o Sacrário (pé do altar),
local onde a Santa encontraria
consolo e auxílio
 

'Minha filha, eu gosto de derramar graças sobre a comunidade em particular. Eu gosto muito dela, felizmente. Sofro, porém, porque há grandes abusos em matéria de regularidade. As Regras não são observadas. Há grande relaxamento nas duas comunidades. Dizei-o àquele que está encarregado de vós, ainda que ele não seja o superior: Ele será encarregado de um maneira particular da comunidade. Ele deve fazer tudo o que lhe for possível para repor a regra em vigor. Dizei-lhe, de minha parte, que vigie sobre as más leituras, as perdas de tempo e as visitas.'

Voltou, em seguida, a falar de terríveis acontecimentos que aconteceriam em futuro mais distante, prevendo com quarenta anos de antecedência as agitações da Comuna e o assassínio do Arcebispo de Paris, e prometendo sua especial proteção, nessas horas trágicas, aos filhos e às filhas de São Vicente de paulo:

'Conhecereis minha visita e a proteção de Deus, e a de São Vicente, sobre as duas comunidades. Tendes confiança! Não percais a coragem. Eu estarei convosco. Mas não se dará o mesmo com outras comunidades. Haverá vítimas (ao dizer isto, a Santíssima Virgem tinha lágrimas nos olhos). Para o Clero de Paris, haverá vítimas: Monsenhor, o Arcebispo (a esta palavra, lágrimas de novo) morrerá.

Comuna de Paris: O fuzilamento revolucionário do Arcebispo de Paris
(Foto: blog Lourdes e suas Aparições)
 
Minha filha, a cruz será desprezada e derrubada por terra. O sangue correrá. Abrir-se-á de novo o lado de Nosso Senhor. As ruas estarão cheias de sangue. Monsenhor, o Arcebispo, será despojado de suas vestes (aqui a Santíssima Virgem não podia mais falar; o sofrimento estava estampado em seu rosto). Minha filha, me dizia Ela, o mundo todo estará na tristeza. A estas palavras, pensei quando isso se daria. E compreendi muito bem: quarenta anos.'

Catarina, como sempre, tudo relatou com fidelidade a seu confessor. Este novamente se mostrou severo, dizendo tratar-se de 'pura ilusão' e repreendendo a noviça: 'Se queres honrar Nossa Senhora, imitai suas virtudes e precavei-vos contra a imaginação'. Mas o incrédulo confessor não pôde deixar de ficar estarrecido porque, já uma semana depois, as profecias começavam a se cumprir.

A 27 de julho tinham início as primeiras desordens de rua e em poucos dias estava deposto o Rei Carlos X. Ademais de liberal, a revolução de 1830 teve um caráter violentamente anticlerical. Numerosas igrejas foram profanadas, conventos masculinos e femininos foram invadidos, sacerdotes e religiosas sofreram perseguições. Mas os Lazaristas e as Filhas da Caridade, de acordo com a promessa de Nossa Senhora, atravessaram sem danos por esse período crítico.”2
Cadeira utilizada pela Santíssima Virgem,
permanece na Capela das Aparições até hoje
(Foto: Revista Catolicismo)

Assim se deu a Primeira Aparição da Virgem Imaculada na Capela das Filhas da Caridade, em Paris, rue du Bac, 140, à humilde noviça, Catarina Labouré, que há pouco havia ingressado no noviciado.

Das três aparições que se tem notícia, essa foi uma das mais longas e mais densa de revelações, e como já vimos anteriormente, precedida de sonho e visões do coração de São Vicente de Paulo e de Nosso Senhor no Santíssimo Sacramento.

Concluamos com o Ato de Consagração à Santíssima Virgem, a fim de que Ela nos ajude a jamais perdermos a fé e a confiança na misericórdia divina e na sua poderosa intercessão em nosso favor:



Ó VIRGEM MÃE DE DEUS, MARIA IMACULADA, nós vos oferecemos e consagramos sob o título de NOSSA SENHORA DA MEDALHA MILAGROSA, o nosso corpo, o nosso coração, a nossa alma, e todos nossos bens, espirituais e temporais. Fazei que esta Medalha seja para cada um de nós um sinal certo de Vosso afeto para conosco, e uma recordação contínua dos nossos deveres para convosco. E ao trazer a vossa Medalha, guie-nos sempre a vossa amável proteção e nos conserve na graça de vosso Divino Filho.


Ó poderosíssima Virgem, Mãe de Nosso Salvador, conservai-nos unidos a Vós em todos os momentos de nossa vida. Alcançai a todos nós, os vossos filhos, a graça de uma boa morte, a fim de que juntos convosco possamos gozar um dia da celeste beatitude. Amém.

Repete-se 3(três) vezes a invocação: Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!




__________________
1 Na época, antes da Reforma do Calendário Litúrgico, São Vicente de Paulo era celebrado no dia 19 de Julho, hoje, no dia 27 de Setembro.

2 SANTOS, Armando Alexandre dos. “A Verdadeira História da Medalha Milagrosa”, Editora Artpress, 2ª edição, São Paulo/2017, pp. 21 a 25.