Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS!

quinta-feira, 31 de agosto de 2017

SANTA CATARINA LABOURÉ: O RETRATO DA VERDADEIRA FILHA DA CARIDADE



S. Vicente de Paulo traçou, numa célebre conferência, o retrato da verdadeira Filha da Caridade. A seu ver, tem todas as as virtudes das “boas camponesas”. Diz o Santo que foi por estas virtudes que a padroeira de Paris chegou “a tão alta perfeição”1.

Nossa Irmã Catarina imitou a S. Genoveva e, durante os últimos anos de sua vida, tornou-se o modelo acabado da verdadeira Filha da Caridade. As inúmeras pessoas, que dela se aproximaram, de 1866 a 1876, e cujos testemunhos foram colhidos no Processo Apostólico, reconhecem, unanimemente, que a serva de Deus possuía, no alto grau, a simplicidade, a modéstia, a sobriedade, o espírito de pobreza, a humildade, a obediência das moças de aldeia, tal como compreendia S. Vicente.

“As filhas da aldeia são extremamente simples; vão a Deus diretamente em todas as coisas, porque simplicidade não é mais do que isto; ir a Deus diretamente e em todos os momentos.” Assim era a vidente da Imaculada Conceição nas suas relações com Deus e com suas companheiras, nas afeições da família e em todos os acontecimentos.

Sua vida interior concentrava-se nestes dois nomes benditos: Jesus Cristo e a Virgem Maria. O Sagrado Coração de Jesus, realmente presente na Eucaristia, e o Coração Imaculado de Maria, intimamente unido ao seu divino Filho, bastavam à piedade dessa alma contemplativa.

Durante a oração da manhã, que começa às quatro horas e meia, a Irmã Catarina permanecia ajoelhada durante meia hora como as outras, mas sempre firme, apoiada apenas nas extremidades das mãos, olhando fixamente para o sacrário ou para o altar da Virgem Santíssima.

Como lhe perguntassem qual a melhor maneira de rezar, respondia:

Não é difícil. Vou à capela, prostro-me diante de Deus e lhe digo: Senhor, eis-me aqui, dai-me o que vos aprouver. Se recebo algum favor, sinto-me contente e lho agradeço. Se nada recebo, agradeço também, porque nada mereço. E depois, digo-lhe tudo quanto me ocorre ao espírito, conto-lhe as minhas penas e alegrias, e escuto. Se vós o escutardes, Ele vos falará também. Não basta falar a Deus; é preciso escutá-lo. Ele nos fala sempre que o procuramos com retidão e simplicidade.”

Na presença do Santíssimo Sacramento, a Fé da Irmã Catarina transparecia. Todas as testemunhas o declararam, com admiração, no Processo. Desde a meninice, ela gostava de rezar na igreja; e este amor foi aumentado ao sabor dos anos. “A sua Fé, dizem outras testemunhas2, manifestava-se não somente pela sua edificante posição na capela, imóvel, mas pelo seu olhar fixo ou no sacrário, ou na estátua de Nossa Senhora, de modo tão natural que encantava.” Este olhar místico da Vidente de Maria deve ter edificado a todas as Irmãs de Reuilly, porque todas a louvam no Processo de Beatificação3.

Frequentes vezes durante o dia visitava o Santíssimo Sacramento. Lembrava-se da palavra que a Santíssima Virgem lhe dissera na primeira aparição: “Vinde rezar ao pé deste altar, aqui encontrareis muitas consolações.” Antes de entrar, tirava o avental branco, fazia profunda reverência4, muito respeitosa ao sacrário, olhava com piedade filial para a estátua de Nossa Senhora, e ajoelhava-se por alguns instantes. Depois saía, com o rosto radiante, retomava o avental e ia para seu trabalho.

Preparava-se para a Comunhão desde a véspera. Exortava as outras a se prepararem também, dizendo-lhes: “Vamos. É preciso fazer alguma coisa para agradar a Deus. Preparemo-nos para a Comunhão de amanhã.” Voltava da mesa eucarística profundamente compenetrada da presença de Nosso Senhor. O Padre Chevalier, diretor geral das Irmãs, depôs no Tribunal: “Lembro-me que eu muito me edificava, notando os sentimentos de Fé e de piedade, que irradiavam do seu rosto, após a Comunhão.”5

“O amor de Deus é o resumo de sua vida, diz outra testemunha. Desde menina acostumou-se a dar a Deus todos os momentos de cada dia, pelas orações e pela fidelidade ao dever. Uma força interior a prendia a Deus e às virtudes difíceis. E assim se preparou para a grande missão de receber e espalhar a Medalha Milagrosa. Sua única ambição foi a glória de Deus.”

A Esperança era outra via, que a inflamava de puro amor. Considerava Deus como seu fim e como sua recompensa eterna. “Sua coragem provinha de sua confiança em Deus”, declarou o Padre Villette. “Ela só queria os bens do céu: este pensamento dava-lhe paz e igualdade de gênio.”6

A intimidade, forma particular do puro amor, tornou-se contínua na Vidente de Maria. No Processo de Beatificação, as declarações são de grande encanto: “Trabalhava pensando sempre em Deus”, diz uma testemunha – “Pode-se dizer que sua vida foi um ato perene de amor de Deus”, diz outra – “Ela vivia em constante oração, quer andando, quer nos trabalhos”, afirma uma terceira7.
Santa Catarina Labouré morreu no dia 31 de Dezembro de
1876, com 70 anos de idade. Na foto, seu corpo incorrupto
repousa em uma urna na Capela das Aparições, rua du Bac,
140, Paris.


O fruto desse amor completo a Deus são as virtudes que aperfeiçoam todas as potências da sua alma: a resignação, o desprezo do mundo, a perfeição das ações ordinárias, a humildade e o amor ao próximo. Em todas estas virtudes, a Irmã Catarina atingiu ao heroísmo, como provam as testemunhas do Tribunal canônico.







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1Oewres de Saint Vicent de Paul, t. IX, p. 76
2Sumário do Proc. Apost. pp. 227, 232, etc.
3Irmã Catarina foi beatificada pelo Papa Pio XI em 28 de Maio de 1933 e canonizada pelo Papa Pio XII em 27 de Julho de 1947.
4Naquela época as mulheres não faziam genuflexão.
5Sum. Do Processo, p. 257.
6Idem, p. 269.

7Idem, p. 272 (Citados por L. Misermont.).





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FONTE: livro “Santa Catarina Labouré e a Medalha Milagrosa”, Pe. Jerônimo Pedreira de Castro, C.M., Editora Vozes, 1951, pp. 184 a 187 – excertos do Capítulo VII, com o subtítulo: A Bela Alma de S. Catarina Labouré. O Título, os destaques e algumas notas de rodapé, são nossos. Texto revisto e atualizado.

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