MEMÓRIA MENSAL DA REVELAÇÃO DA MEDALHA MILAGROSA

Estamos a um mês da Festa da Virgem Imaculada Nossa Senhora da Medalha Milagrosa ou Nossa Senhora das Graças, quando celebraremos 188 anos da revelação da Medalha Milagrosa.

Optamos, neste mês, reproduzir um texto publicado num antigo periódico quinzenal denominado “O LEGIONÁRIO”, da Congregação Mariana da Legião de São Pedro anexa à Paróquia de Santa Cecília (São Paulo), de janeiro de 1930, por ocasião do ano comemorativo do primeiro Centenário das Aparições, não só por seu conteúdo histórico e mariano, como por nos trazer também (saudosas) notícias das diversas manifestações devocionais, daquela época, à Virgem Imaculada.

Vejamos:

“O CENTENÁRIO DA MEDALHA MILAGROSA E O REINADO DOS SGDOS. CORAÇÕES DE JESUS E MARIA

1830 – 1930

Através das múltiplas mensagens e divinas comunicações de que foi objeto e instrumento a feliz Vidente, Venerável Catarina Labouré^*, no decorrer do ano de 1830, aparecem assaz claro e manifestos os intuitos e amorosos desígnios do céu para com a mísera humanidade.

Nenhuma ocasião ou conjuntura tão favorável como a da passagem do Centenário Mariano da manifestação da Medalha Milagrosa, para salientar por estas colunas marianas, algumas dessas miras ou traças divinas, colimadas no desenrolar dos memoráveis acontecimentos a que nos referimos.

Três são, em nosso humilde entender, as faces precípuas ou privilégios extraordinários que dos mesmos derivam para Nossa Senhora, e que a maneira de pedras preciosíssimas esmaltam a sua coroa augusta, reafirmadas e proclamadas à face do mundo pelas célebres aparições à mensageira da rua du Bac, em Paris: 1ª) – a revelação do mistério da Imaculada Conceição de Nossa Senhora, representado nas diversas atitudes com que se manifesta a Visão e nas palavras de inscrição ovalada – 'Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós' – reveladora da consoladora verdade que vinte e cinco anos após seria definida como dogma de fé por S. S. Pio IX, e decorridos quatro anos a partir dessa venturosa efeméride, teria a confirmação divina nas aparições de N. Sra. de Lourdes; 2ª) – a prerrogativa da mediação universal de Nossa Senhora, dispensadora de todas as graças, afirmação mariana, prestes a ser definida como artigo de fé e que Nossa Senhora da Medalha Milagrosa dignou-se a manifestar à sua fiel serva e confidente por dois modos ou atitudes diferentes quais foram, a da prece, segurando com as mãos à altura do peito o globo, qual se o quisesse acalentar com o fogo sagrado do seu Imaculado Coração, chamando sobre o mesmo a divina misericórdia e a da Rainha meiga e clemente, com as mãos estendidas a espargir raios de graças e favores sobre todos os mortais; 3ª) – a união e harmonia que deve sempre existir na devoção e no culto a serem tributados aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, o que muito claramente se colige pela simples contemplação do reverso da Medalha Milagrosa. 

'O M e os dois Corações são bastante significativos' disse a SSma. Virgem à sua fiel confidente, Catarina Labouré.

Gravura do reverso da célebre Medalha 
Milagrosa revelada em 1830
'Signum magnum apparuit in coelo':
Um grande sinal foi visto rebrilhar no
azulado firmamento.

Em essas doze estrelas rutilantes que os circundam, acaso não estarão representados os esforçados apóstolos ou cruzados modernos na Realeza dos SS. CC., a irradiarem por todo mundo a luz de suas virtudes heroicas, brilhando a modo de astros de primeira grandeza no céu da Igreja militante?

Não padece dúvida; um dos desígnios amorosos da Providência no desenrolar dos extraordinários acontecimentos cujo centenário ocorre no fluente ano, foi o de revelar ao mundo os sublimes mistérios de amor encerrados nos Sacratíssimos CC. de Jesus e Maria e por aí apressar o advento do reinado do seu amor nas almas e nos corações de todos os mortais. 'Venha a nós o Vosso Reino'.

Está na consciência de todos os que acompanham de perto e sabem observar imparcialmente o evoluir dos fatos, que, a manifestação da Medalha Milagrosa e sua prodigiosa propagação por todo mundo, veio de modo admirável, realizar o lema sagrado que hoje, felizmente, acha-se inscrito na bandeira de ação e apostolado social de todas as agremiações marianas: 'A Jesus por Maria'. 'Ao Coração de Jesus pelo Coração de Maria'. 'Logo, ao Reinado do Coração de Jesus pelo Reinado do Coração de Maria'. A consequência não pode ser mais lógica.

E esse sublime ideal mariano que vem proclamar alto e bom som, todas as associações religiosas a que ultimamente tem dado origem a revelação da Medalha Milagrosa, como sejam: 'A Associação das Filhas de Maria Imaculada', a 'Associação da Medalha Milagrosa', erigida por um Breve de Pio X em 1 de Julho de 1907, a 'Cruzada da Medalha Milagrosa' com o objetivo principal de propagar a devoção chamada de Visita domiciliária por meio do 'brasão' ou insígnia das Famílias, constante de um quadro representando os dois lados da Medalha Milagrosa, e de modo particular, a 'Guarda de Honra dos Cruzados Marianos' cujo fim primordial é trabalhar intensivamente pela ação católica, aliada à prece, na grande Obra do Reinado social dos Sagrados Corações de Jesus e de Maria.”

Extraímos do 'Compromisso' dos Zeladores ou Guardas de Honra de honra da Medalha Milagrosa

A Virgem com o globo (Virgo Potens)

'Olhai, Guardas de Honra, e meditai em vossa medalha; o seu reverso vos apresenta o Coração Imaculado de Maria, ao lado do Coração de Jesus, e vos lembra que esses dois corações palpitam sempre uníssonos, que um amor o mais inefável os reteve para sempre na mais íntima união, e vosso dever é procurardes aproximar-vos o mais possível do sublime ideal, por Eles realizado. Vereis ainda dominando esses dois Corações e estreitando ainda mais por assim dizer a união desses dois Corações a letra M e a cruz que a encima, e reconhecereis não somente o simbolismo da participação da SS. Virgem no sacrifício do Calvário como tereis a melhor lição de abnegação que para a alma de um Guarda de Honra santamente ambiciosa de ser também corredentora com Maria, com Jesus, e por Jesus imolado'.

Aprazando para ulterior oportunidade o exame e enumeração da múltipla razões, de ordem teológico, histórico e litúrgico, que confirmariam a sobredita prática da Realeza social dos SS. CC. nos lares cristãos, sejamos lícitos brindar aos nossos caros leitores com uma passagem que traduzimos dos 'Anais da Medalha Milagrosa', em seu número de fevereiro de 1928:

'Intenção especial da Guarda de Honra para o mês de março: O Reinado de Jesus e de Maria pela entronização dos SS. CC., na família.

'O M e os dois Corações dizem o bastante.'

Reflexão – Unidos em eterna e indissolúvel vinculação, porquanto não constituem mais que uma mesma carne, um mesmo espírito e um mesmo amor 'esses dois Corações devem irradiar juntos pelo mesmo culto e pelas mesmas homenagens dos povos, cercados e glorificados por uma escolta de honra'. Não é justo separar duas coisas que Deus uniu tão estreitamente pelos laços mais fortes e pelos vínculos mais apertados da natureza, da graça e da glória.

Prática – Meditai, de modo particular durante vossa hora de guarda, sobre esta bela e consoladora verdade, a fim de compenetrar-vos mais e mais, da mesma, propagando-a com zelo e convicção. 'Para mais amar e melhor servir torna-se mister conhecer melhor o objeto amado'.

Invocação – Corações de Jesus e de Maria, intimamente unidos no culto e nas homenagens dos povos, reinai sobre as famílias.

________P. Valentin Armas, C.M.F.”

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FONTE: Artigo publicado no quinzenário “O Legionário”, Ano III, Nº 50, São Paulo, 12 de Janeiro de 1930, pp. 1 e 2 – Texto revisto e atualizado - Destaques do original. (https://issuu.com/nestor87/docs/leg_1930_50-71 )

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*Santa Catarina Labouré só foi beatificada em 1933, pelo Papa Pio XI, e canonizada em 1947, pelo Papa Pio XII.