Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS!

quinta-feira, 27 de setembro de 2018


MEMÓRIA MENSAL DA REVELAÇÃO DA MEDALHA MILAGROSA
(FESTA DE SÃO VICENTE DE PAULO)

Efígie da Virgem Imaculada e Santa Catarina Labouré a seus pés, 
ajoelhada, lembrando a 1ª Aparição. 

Neste dia que a Igreja celebra a memória litúrgica de São Vicente de Paulo, e a Família Vicentina, formada por padres (Lazaristas), freiras (Filhas da Caridade) e leigos engajados (Vicentinos), celebra de maneira solene seu fundador, resolvemos publicar excertos de uma segunda Conferência preparatória de Renovação Anual dos votos das Filhas da Caridade, na qual se tratou acerca da devoção mariana na Companhia das Filhas da Caridade, a fim de homenagear seu Santo Fundador.

A relação do tema abaixo com a Memória Mensal da Revelação da Medalha Milagrosa, é intrínseca, pois a escolhida para receber sua revelação foi Filha da Caridade, Santa Catarina Labouré, e antes mesmo de se iniciarem as aparições da Virgem Imaculada, o próprio São Vicente de Paulo se manifestou em duas vezes, pelo menos, como se estivesse preparando a Noviça para sua grande missão. Na primeira, quando irmã Catarina tinha 18 anos de idade e ainda não havia ingressado na Companhia. Em sonho lhe diz: “Minha filha, agora tu foges de mim, mas um dia me procurarás. Deus tem seus desígnios sobre ti, nunca te esqueças disso.1

Na segunda, ocorrida poucos dias depois de seu ingresso no noviciado das Filhas da Caridade, teve a visão do coração de São Vicente, em três cores diferentes: “O coração de São Vicente – narra ela – me apareceu três vezes de modo diferente, três dias seguidos: claro, cor de carne, o que anunciava paz, calma, inocência e união. Depois o vi vermelho cor de fogo, o que devia inflamar a caridade nos corações. Parecia-me que toda a comunidade devia se renovar e se estender até os confins do Mundo. Por fim o vi vermelho-negro; o que me punha a tristeza no coração; vinham-me tristezas que eu tinha dificuldade em superar. Não sabia porque nem como, essa tristeza se relacionava com a mudança de governo.2

Ambas as manifestações acima já foram postadas neste blog (Clique nos números: 1 e 2).

A própria Virgem Imaculada, em sua primeira Aparição da noite do dia 18 para o dia 19 de Julho de 1830, revelou a Santa Catarina Labouré sua especial atenção à Companhia das Filhas da Caridade, afirmando: “Minha filha, eu gosto de derramar graças sobre a comunidade em particular. Eu gosto muito dela, felizmente ...3.

Os excertos transcritos abaixo constam de artigo publicado no boletim “Ecos de la Compañía”, do ano de 2002, de autoria de Fernando Quintano, C.M., por nós traduzido e adaptado para o português do Brasil4.

Que São Vicente de Paulo nos inspire verdadeira e profunda devoção a Maria Imaculada, a prática do amor a Deus e ao próximo, especialmente aos mais pobres e necessitados.

Por Maria a Jesus!

Sou todo teu, Maria.

A DEVOÇÃO À VIRGEM NA COMPANHIA DAS FILHAS DA CARIDADE


[…] O carisma da Companhia das Filhas da Caridade é um modo peculiar de seguir a Cristo herdado de seus fundadores. São Vicente e Santa Luísa transmitiram às Irmãs sua fé e sua experiencia espiritual. Ambos viveram a devoção a Maria de uma maneira concreta, e passaram a fazer parte e integrar toda a herança espiritual da Companha. Como foi a devoção mariana dos fundadores? Como teria que ser a das Filhas da Caridade para ser coerente com os demais elementos essenciais que integram sua espiritualidade vicentina?

A mensagem de Maria a Santa Catarina (Labouré) influiu consideravelmente no desenvolvimento da devoção mariana da Companhia, desde aqueles acontecimentos passados já há quase dois séculos. Não há que fazer-se uma releitura da mensagem da Rua du Bac? Como fazer-se uma tal releitura sem que resulte estranha à identidade da Companhia e à sua devoção mariana específica? A resposta a estas indagações postas constitui o tema desta segunda conferência.

A devoção a Maria segundo São Vicente

S. Vicente de Paulo, Santa Luísa de Marillac e
as Filhas da Caridade

Desde há alguns anos se fala frequentemente de 'espiritualidade vicentina'. São Vicente nunca utilizou a palavra 'espiritualidade'. E com esta expressão 'espiritualidade vicentina' se quer dizer o caminho espiritual pelo qual o Espírito Santo conduz nosso fundador até a santidade, mediante uma maneira concreta de seguir a Cristo e de continuar sua missão.

A vida espiritual de Vicente de Paulo tem como fonte o mistério da Santíssima Trindade e como eixo central Cristo encarnado para evangelizar e servir aos pobres. São Vicente se sentiu chamado a continuar essa missão, e a mesma finalidade têm as instituições que fundou. Estava convencido de que não era possível continuar a missão de Cristo senão utilizando os meios que Ele utilizou e se revestindo de seu mesmo espírito. A isso tendem as virtudes apostólicas específicas: a humildade, a simplicidade e a caridade. Tal era o núcleo da espiritualidade vicentina e, logicamente, da espiritualidade da Companhia. A devoção de São Vicente a Maria se integra nesse conjunto como algo natural e coerente com a dita espiritualidade e missão.

Para São Vicente, Maria é o exemplo de como devem ser as Filhas da Caridade na missão de servir aos pobres que Deus lhes confia. O fundador, ao contemplar a Cristo (na pessoa do pobre), descobre n'Ele três aspectos concretos que lhe mostram como missionário do Pai: adorador, servidor e evangelizador. Quando contempla Maria, descobre igualmente três traços pelos quais se sente atraído e que fazem de Maria um exemplo para a missão da Companhia: são as atitudes de Maria nos mistérios de sua Concepção Imaculada, da Anunciação e da Visitação.

São Vicente não nos deixou uma exposição sistemática de sua espiritualidade, tampouco sobre Maria. Não era o que entendemos hoje por um mariólogo, nem tampouco um desses santos que, na historia da Igreja, distinguiram-se por sua devoção mariana. O Pe. Dodin, em um artigo publicado em 1969, constata o grande florescimento dessa devoção no século XVII francês. Se imagina que São Vicente passou ao largo dos autores espirituais de seu tempo, como àqueles de quem se costuma dizer: 'certamente é um da família, porém, é um parente pobre' (distante).
Fachada atual da "Chapelle Notre Dame de la Medaille
Miraculeuse
", à rua du Bac, 140, Paris-França (Casa-
Mãe da Companhia), tendouma efígie de Maria
 Santíssima com o Menino Jesus ao colo

Entre as oito mil páginas que ocupam os escritos de São Vicente, e que chegaram até nós, nenhuma de suas conferências e cartas tratam expressamente sobre a Virgem. Somente se refere a ela em oitenta passagens, mas bem curtas e superficialmente. Em sua maior parte, trata-se de invocações ao final de algumas conferências nas quais apresenta Maria como exemplo da virtude sobre a qual pregou, implorando sua intercessão a fim de obtê-la para a Companhia. São referências espontâneas e que fluem de seu coração. Recordemos algumas: 'Rezemos à Santíssima Virgem para que ela peça a seu Filho por nós, a fim de que nos dê as graças necessárias para isso. Santíssima Virgem, tu que intercedes por aqueles que não têm língua e não podem falar, suplicam-te, estas boas filhas e eu, que assistas a esta pequena Companhia'. 'Recorramos à Mãe de misericórdia, a Santíssima Virgem, vossa grande patrona, posto que esta Companhia da Caridade foi fundada debaixo do estandarte de sua proteção, e se outras vezes vos temos chamado Mãe nossa, agora vos suplicamos que aceiteis o oferecimento que te fazemos desta Companhia e de cada uma em particular… E uma vez que obtivestes de Deus a fundação desta Companhia, aceita-a sob tua proteção'.

Do conjunto dessas breves passagens referentes a Maria, São Vicente destaca três mistérios. Neles descobre as atitudes que devem animar as Filhas da Caridade em sua vida de entrega a Deus para servir aos pobres.

A Imaculada Conceição


Neste mistério, contempla São Vicente Maria como templo e digna morada da divindade, 'cheia de graça' e 'isenta de todo pecado', 'puro receptáculo'. É o exemplo de como as Filhas da Caridade têm que estar abertas para acolher a Deus, deixando-se encher de sua graça, esvaziando-se de si mesmas. A isso é que levam as virtudes da humildade e da pureza.

A Anunciação


São Vicente contempla neste mistério Maria acolhendo o plano salvífico de Deus e, entregando-se incondicionalmente a Ele, aceitou ser a Mãe do Verbo encarnado. O 'SIM' de Maria deu a seu Filho a possibilidade de entrar neste mundo e fazer parte da raça humana. As Filhas da Caridade, mediante sua entrega total a Deus, imitam o 'fiat' de Maria, colaborando com o projeto salvífico de Deus, que se dirige preferentemente aos pobres.
Santa Catarina Labouré, Filha da Caridade, distri-
buindo a Medalha Milagrosa

A Visitação


Maria, depois de acolher e entregar-se ao plano de Deus, sentiu-se impulsionada a visitar a Isabel. A entrega a Deus se faz no serviço ao próximo necessitado. Para São Vicente, as Filhas da Caridade são as verdadeiras 'visitandinas'5. Por isso têm que realizar o serviço aos pobres com as mesmas atitudes que teve Maria quando visitou a Isabel, isto é, para agradar a Deus, para servir aos pobres e por caridade.

A devoção mariana de São Vicente não é algo estranho ao conjunto dos outros elementos que integram sua espiritualidade cristocêntrica e missionária. Quando comunica às Filhas da Caridade sua fé e experiência sobre Maria, faz em total conformidade com o 'espírito' e o 'fim' da Companhia. Até neste aspecto se percebe o sentido prático do fundador. Em sua devoção a Maria predomina mais a imitação de suas virtudes que o simples louvor. As expressões da devoção de São Vicente à Virgem são simples e populares: peregrinação a santuários marianos (a Buglose, descalço, em 1623; a Chartres em 1629), ainda à véspera de algumas festas da Virgem, reza o rosário e o Angelus… Porém, sua devoção não equivale a práticas devocionais. A diferença de muitos dos espiritualistas de sua época, não é exuberante, mas bem sóbria e serena. Isto não equivale dizer-se que não fosse uma devoção sincera a Maria, nem tampouco que fosse 'um parente pobre' (distante) dos grandes devotos de seu tempo. A devoção não se mede pela extensão dos escritos e pela abundância de práticas devocionais senão pela intensidade do amor. Em São Vicente, e a seu exemplo na Companhia, a devoção mariana não é uma peça adicionada, mas perfeitamente engajada nos mistérios da Trindade e da Encarnação que constituem os dois pilares de sua espiritualidade. [...]”




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1 cf. SANTOS, Armando Alexandre dos. “A Verdadeira História da Medalha Milagrosa”, Editora Artpress, São Paulo, 2ª edição/2017, p. 12.

2 Idem, p. 15.

3 Idem, p. 24.

5 “Visitandinas”: trata-se de uma Ordem religiosa de clausura monástica fundada por São Francisco de Sales e Santa Joana de Chantal em 1610 (contemporâneos de S. Vicente), denominada “Ordem da Visitação de Santa Maria”.

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