SANT'ANA E SÃO JOAQUIM, PAIS DA VIRGEM IMACULADA
São Joaquim, Sant'Ana e a Virgem Maria menina. (Foto: Museu do Prado, Autor Anônimo, óleo sobre tela, séc. XVII) |
No
último dia 26 de Julho a Igreja celebrou a Festa dos Pais da Virgem
Imaculada e Avós terrenos de Jesus Cristo, Sant'Ana e São Joaquim.
Antes da última reforma eram comemorados em datas distintas, pois
diverso também foi o desenvolvimento do culto e devoção aos Pais
de Maria Santíssima.
A
devoção aos Pais de Maria Imaculada é muito antiga no Oriente,
onde são cultuados desde os primeiros séculos cristãos, mas
atingindo sua plenitude no século VI. Já no Ocidente cristão, o
culto a São Joaquim foi autorizado pelo Papa Júlio II, por volta do
século V, sendo suprimido pelo Papa Pio V e restabelecido,
posteriormente, pelo Papa Gregório XV, em 1625, tendo sido
confirmado definitivamente e estendido a toda Igreja pelo Papa Leão
XIII, em 1879.
No
início, São Joaquim era celebrado no dia 20 de Março, associado a
São José, porém, foi posteriormente estabelecida sua festa no dia
16 de Agosto, associando-a ao triunfo da Assunção de sua Santíssima
Filha. Com a última reforma do Calendário, passou a ser celebrado
juntamente com sua esposa, Santa Ana (Sant'Ana).
O
culto a Sant'Ana, no Ocidente, começou por volta do século VIII,
quando suas relíquias, no ano 750, foram levadas da Terra Santa para
Constantinopla, e distribuídas por diversas igrejas do Ocidente, mas
tornou-se bastante popular na Idade Média. No ano de 1378, o Papa
Urbano IV oficializou seu culto, mas foi o Papa Gregório XIII, em
1584, que fixou a data de sua festa no dia 26 de Julho, e o Papa Leão
XIII a estendeu para toda Igreja, em 1879.
S. Joaquim e a Virgem Maria |
Segundo
a Tradição, Sant'Ana e São Joaquim casaram-se já idosos, e dessa
união não houve prole, causando aos mesmos grandes
constrangimentos, em especial a São Joaquim. Conta-se que ficou
impedido de apresentar Sacrifícios no Templo de Jerusalém, por um
tal de Rúben, por não dar filhos a Israel, como se estivesse
sofrendo um castigo divino, retirando-se para o deserto onde rezava e
jejuava, enquanto sua Esposa continuava na residência do casal, em
Jerusalém, próximo à Porta dos Leões (hoje, no local, há uma
igreja dedicada a Sant'Ana). Ainda segundo a Tradição, Sant'Ana
teria tido uma visita do Anjo do Senhor lhe anunciando que conceberia
um filho: “Ana, o
Senhor ouviu tua oração; conceberás e darás a luz. Sobre o fruto
de ventre, falará o mundo inteiro”.
Esse mesmo Anjo teria aparecido em sonho a S. Joaquim, na mesma
oportunidade, e anunciado-lhe a concepção de sua esposa.
Autores
medievais viram durante um casto beijo de reencontro do casal pela
manhã, na Porta Áurea de Jerusalém, o momento da imaculada
concepção de Maria Santíssima.
Célebre
também é o Sermão de São João Damasceno (c. 676-749), sobre a
Natividade de Maria Santíssima, exaltando a esterilidade da
bem-aventurada Sant'Ana e a castidade do casal, cujos trechos
transcrevemos abaixo:
“Mas por que nasceu a Virgem Maria de uma mulher estéril? Àquele que é o único verdadeiramente novo debaixo do sol, como coroamento das Suas maravilhas, deviam ser preparados os caminhos por maravilhas, para que lentamente as realidades mais baixas se elevassem de modo a serem as mais altas. E eis uma outra razão, mais alta e mais divina: a natureza cedeu o lugar à graça, pois ao vê-la tremeu, e não quis mais ter o primeiro lugar. Como a Virgem Mãe de Deus devia nascer de Ana, a natureza não ousou prevenir o fruto da graça, mas permaneceu ela própria sem fruto, até que a graça trouxesse o seu. Era necessário que fosse primogênita aquela que deveria gerar «o Primogênito de toda a criação, no Qual tudo subsiste». Ó Joaquim e Ana, casal venturoso! Toda a criação está em dívida para convosco, porque através de vós ela pôde oferecer ao Criador o dom – entre todos o mais excelso – de uma Mãe venerável, a única digna d’Aquele que a criou. Ditosos os rins de Joaquim, de onde saiu uma semente totalmente imaculada, e admirável o seio de Ana, graças ao qual se desenvolveu lentamente, onde se formou e de onde nasceu uma tão santa criança! Ó entranhas que levastes um céu vivo, mais vasto que a imensidade dos céus! Ó moinho onde foi amassado o Pão vivificante, segundo as próprias palavras de Cristo: «Se o grão de trigo não cair na terra e morrer, ficará só». Ó seio que aleitaste aquela que alimentou Aquele que alimenta o mundo! Maravilha das maravilhas, paradoxo dos paradoxos! Sim, a inexprimível Encarnação de Deus, cheia de condescendência, devia ser precedida por estas maravilhas. Mas como prosseguirei? O meu espírito está fora de si, dividido que estou entre o temor e o amor; o meu coração bate e a minha língua se move: não posso suportar a alegria, as maravilhas deitam-me por terra, o ardor apaixonado aprisionou-me num arrebatamento divino. Que o amor vença, que o temor desapareça e que cante a cítara do Espírito: «Alegrem-se os céus, exulte a terra»!
S. Joaquim, Sant'Ana e a Imaculada Conceição |
“Ó Joaquim e Ana, casal castíssimo, «par de rolas» no sentido místico! Observando a lei da natureza, a castidade, merecestes os dons que ultrapassam a natureza: gerastes no mundo uma Mãe de Deus sem esposo. Depois de uma existência santa e piedosa numa natureza humana, gerastes uma filha superior aos anjos e que agora reina sobre eles. Ó Filha graciosíssima e dulcíssima, ó lírio nascido entre os espinhos, da descendência nobilíssima e real de David! Por ti a realeza encheu-se com o sacerdócio; por ti foi cumprida «a mudança da Lei», e revelado o espírito escondido sob a letra, pois que a dignidade sacerdotal passou da tribo de Levi à de David. Ó Rosa nascida dos espinhos do judaísmo, que enche o universo de um perfume divino! Ó filha de Adão e Mãe de Deus! Ditosos os rins e o seio de onde surgistes! Ditosos os braços que te levaram, os lábios que experimentaram os teus castos beijos, os lábios de teus pais, para que em tudo tu fosses eternamente virgem. Hoje é para o mundo o início da salvação. «Aclamai o Senhor, terra inteira, cantai, exultai, tocai instrumentos». Elevai a vossa voz, «fazei-a escutar sem temor», porque na Santa Probática nos nasceu uma Mãe de Deus, de quem quis nascer o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.”
Monsenhor
Ascânio Brandão, em uma de suas obras (“Sant'Ana Mãe da Mãe de
Deus”), também exalta a pessoa e o papel de Sant'Ana:
“... Que Mãe depois de Maria foi mais honrada, mais privilegiada que a Mãe daquela que foi a Mãe do seu Criador? Podemos dizer também a Sant'Ana nas devidas proporções do louvor: – Todas as gerações vos hão de chamar bem-aventurada, porque sois bendita entre todas as mulheres e bendito é o fruto do vosso ventre – Maria. Louvamos a Maria porque é Mãe de Deus. Louvamos a Sant'Ana porque é Mãe da Mãe de Deus. Não se pode fazer uma ideia mais elevada, mais nobre e ao mesmo tempo mais exata do mérito e das virtudes extraordinárias de Sant'Ana, diz o Pe. Croiset, que dizendo e meditando esta verdade: – Ela deu ao mundo a Mãe do Filho de Deus Humanado!”1.
Sant'Ana Mestra e a Virgem Maria menina |
Monsenhor
também relata a devoção de grandes Santos da Igreja aos Pais da
Virgem:
“Ora, a devoção a Sant'Ana foi também sempre querida dos heróis da santidade. Santa Tereza legou ao Carmelo, com a devoção a São José a devoção a Sant'Ana e S. Joaquim. A apóstola e arauto do Coração de Jesus, Santa Margarida Maria, juntava as invocações a Nossa Senhora as de Sant'Ana e seu Santo Esposo. Nas saudações escritas por ela estão estas: – 'Eu Vos saúdo Maria bendita entre todas as mulheres, e bendito é o fruto de vosso ventre Jesus. Bendito seja vosso esposo S. José! E bendito seja vosso Pai S. Joaquim e bendita vossa Mãe Sant'Ana!'. A grande Santa Brígida, cujas revelações são tão conhecidas e célebres, era devotíssima da grande Matriarca. Um dia procurava ela um meio de honrar convenientemente uma relíquia de Sant'Ana que lhe fora dada. Apareceu-lhe a Mãe de Nossa Senhora dizendo: – Eu sou Ana, mestra de todas as esposas de Cristo antes da Nova Lei, e Mãe de todos depois da Redenção. E, porque Deus quis nascer do fruto bendito de minhas entranhas, quero minha filha que rezes sempre esta oração: – 'Bendito sejais ó Jesus, Filho de Deus e da Virgem que escolhestes por Mãe do matrimônio santo de Ana e Joaquim. Pelas orações de Sant'Ana, tende piedade de todos os que estão no estado de matrimônio para que produzam frutos do Senhor. Dirigi e guiai os que se preparam para o matrimônio, para que Deus seja honrado por eles'. Bela oração e hoje tão necessária! Os santos enfim, pelo amor de Jesus e Maria, amaram e invocaram muitos deles com devoção especial e fervorosa a gloriosa Sant'Ana.”2
Na
primeira Aparição da Virgem Imaculada a Santa Catarina Labouré, na
noite do dia 18 para o dia 19 de Julho de 1830, a Noviça vidente faz
breve referência a Sant'Ana; na verdade, a um quadro existente na
Capela, no trecho que descreve a posição da Santíssima Virgem:
“Ouvi
então um ruído, como um frufru de vestido de seda, que vinha do
lado da tribuna, junto ao quadro de São José, e que pousava sobre
os degraus do altar; do lado do Evangelho, sobre uma cadeira
semelhante à de Sant'Ana. …”.
Nossa
Senhora sentou-se na cadeira do Diretor, como se apresenta Sant'Ana
em um quadro (até hoje existente na Capela das Aparições); como
geralmente é representada: sentada em uma cadeira ou poltrona
ensinando a Virgem Maria ainda menina, pelo menos a partir dos
séculos XVII e XVIII, por ocasião do ressurgimento da devoção.
A
iconografia a representa na posição de uma “matrona”, de uma
mãe já idosa e respeitável, cujo amor não se contenta apenas a
carícias e afagos maternais, mas se preocupa com a instrução
d'Aquela que haveria de ser a “Sede
da Sabedoria”.
É Sant'Ana ensinando Maria a ler.
São
Joaquim e Sant'Ana, Pais da Virgem Imaculada, deixam para nós, em
especial às famílias, verdeiros testemunhos das mais sublimes
virtudes cristãs, como: a fidelidade a Deus (ainda que em meio às
duras provações da vida), a firme esperança e a inabalável
confiança, e o perseverante espírito de oração, que não desiste
e nem se dá por vencido, mas tudo espera da Providência Divina.
Concluímos rogando aos digníssimos Pais da Virgem Imaculada, Sant'Ana e São
Joaquim, que fortaleçam a nossa fé, a nossa esperança, a nossa confiança e perseverança,
aumentem em nós o espírito de oração e a devoção à Santíssima Virgem, caminho seguro
para o Coração amantíssimo de Jesus. Amém.
Por Maria a Jesus!
Sou todo teu, Maria.
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FONTES
CONSULTADAS:
___________________
1 cf.
BRANDÃO, Monsenhor Ascânio. “Sant'Ana Mãe da Mãe de Deus”,
Editora Paulinas, 1954, Cap. Mãe da Mãe de Deus, p. 14 (texto
atualizado)
2 cf.
idem, Cap. Devoção dos Santos à Mãe de Maria Santíssima, pp.
53-54 (destaque em negrito é nosso).
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