A VIRGEM IMACULADA E A MENSAGEM DA RUE DU BAC, CONFORME CARTA DO P. ALADEL AO ABADE LE GUILLOU
A Virgem Imaculada Nossa Senhora da Medalha Milagrosa |
Já
tivemos a oportunidade de postar aqui neste blog outros artigos
relativos às Aparições da Virgem Imaculada no ano de 1830, e a
revelação da Medalha
Milagrosa,
bem como as dificuldades que Santa Catarina Labouré se deparava no
confessionário quando relatava as visões ao seu diretor espiritual,
Padre Aladel, não só para lhe convencer da veracidade de suas
visões, como para ver concretizado o desejo da Santa Mãe de Deus,
para que fosse cunhada a Medalha que lhe havia revelado.
Pois
bem. A carta que abaixo transcrevemos retrata, de certa forma, essas
dificuldades e as desconfianças lançadas sobre os relatos da
Vidente, reconhecidas por seu próprio Diretor.
Na
sua tradução e adaptação para o português do Brasil, tomamos o
máximo cuidado de sermos fieis ao texto original, a fim de não
alterar seu conteúdo, por refletir o contexto histórico em que se
deu o desenvolvimento da devoção à Virgem Imaculada e a propagação
da Medalha Milagrosa, uma vez que, em março de 1834, esta insígnia
da Imaculada Conceição já se consolidava com o título que hoje a
conhecemos: MEDALHA
MILAGROSA.
Ao
final da carta, também acrescentamos os comentários da fonte,
feitos pelo autor da publicação original, acrescentando alguns
comentários nossos, baseados em outros escritos não menos
confiáveis acerca das Aparições da rue
du Bac.
Padre Aladel Faleceu no dia 25.4.1865 |
Vejamos
como o Padre Aladel relata as visões da Santa e o início da
propagação da Medalha Milagrosa:
“Paris, 17 de março de 1834.
… Era final do ano 1830, Sor N…1, noviça em uma Comunidade de Paris consagrada ao serviço dos pobres, havia crido ver, durante a oração, como em um quadro, a Santíssima Virgem, tal como se costuma representá-la de ordinário sob o título da Imaculada Conceição, em pé e com os braços estendidos; de suas mãos, como em feixes, saiam raios de um brilho deslumbrador; e ouviu essas palavras: «estes raios são o símbolo das graças que Maria obtém aos homens.» Ao redor da imagem ela lia, em letras de ouro, esta pequena invocação: «Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós.» Depois de haver contemplado por alguns momentos, este quadro se moveu, dando a volta, e no reverso viu a letra 'M' com uma cruz em cima, e debaixo os SS. CC. de Jesus e de Maria. Então a voz se fez ouvir de novo e lhe disse: «Faz cunhar uma medalha segundo este modelo, e as pessoas que a levarem indulgenciada e dizerem com piedade esta pequena oração desfrutarão de uma proteção especialíssima da Mãe de Deus.»
Esta pessoa comunicou-me imediatamente, porém, confesso que tomei tudo isto por uma pura ilusão de sua imaginação piedosa, e me contentei com dizer-lhe algumas palavras sobre a verdadeira devoção a Maria, indicando-lhe que imitar suas virtudes é o meio mais seguro para honrá-la e assegurar-se sua proteção. Ela se retirou, sem ocupar-se mais do que havia visto.
Uns seis meses mais tarde teve a mesma visão, e, havendo dado-me conta dela, eu a tratei como da primeira vez. Por fim, depois de um intervalo igual, de seis meses, viu e ouviu pela terceira vez as mesmas coisas, mas a voz lhe disse, acrescentando, que «a Santíssima Virgem não estava contente de que se descuidassem em fazer cunhar a medalha.»
A representação da Imaculada Conceição já naquela época |
“Desta vez, eu não deixei de atribuir ao assunto certa importância, porém, sem manifestar-me exteriormente, e experimentando um certo temor de desagradar àquela a quem a Igreja chama, com justo título, 'refúgio dos pecadores'. Entretanto, algumas semanas mais tarde, tendo tido ocasião de ver ao Monsenhor o Arcebispo, durante nossa conversa, apareceu-me a oportunidade de comunicar à sua Excelência todos estes detalhes, e o Monsenhor me disse que não via inconveniente em fazer cunhar esta medalha, já que não tinha nada que não estivesse em conformidade com a fé da Igreja e com a piedade dos fiéis para com à Mãe de Deus, e que ela (a Medalha) só iria contribuir para se honrá-la.
“Depois das palavras do venerável Prelado eu resolvi fazer cunhar a Medalha. Todavia, alguns incidentes fizeram retardar este projeto até o mês de junho de 1832, quando foi cunhada segundo o modelo de que tive a honra de vos falar.
“Esqueci de dizer ao Monsenhor que, em uma das três visões, a pessoa perguntou se havia de se pôr algumas palavras no lado em que estava a letra 'M', a cruz e os dois corações, como havia no outro lado; foi-lhe respondido que não, porque estes objetos já diziam o bastante à alma piedosa.
“Esta Medalha, a princípio, começou a ser distribuída entre as Filhas da Caridade, que a deram a alguns enfermos e moribundos obstinados no mal. Produziram-se curas de todo assombrosas e muitas conversões. Então, de todas as partes, pediam-se essas Medalhas, de modo que o número delas já se faz incalculável.
A…, sacerdote da Missão.”
Esta
carta, densa de notícias, concisa e clara, serviu ao Abade Le
Guillou de prólogo à sua obra sobre a Medalha. Para o estudo, a
presente contém um valor básico, foi o esquema de (tudo) quanto se
disse durante meio século. Continha os dados suficientes de uma
parábola, para criar um clima de doutrina e mistério. A imaginação
descritiva podia acrescentar a cor maravilhosa do sobrenatural. O afã
da ciência encontrava um tema espiritual de discussão: as
revelações privadas. Teologicamente endossava
o dogma da Imaculada Conceição, e devocionalmente abria uma espécie
de respiro contra o materialismo, condenado por Gregório XVI em
1832.
Não
sabemos a reação de Soror Catarina Labouré quando leu esta carta.
Seguramente considerou que seus relatos eram incompletos e parciais.
Consideraria ilógico que se falasse unicamente da última parte da
visão, a da Virgem com os braços estendidos, mas não da primeira,
a da Virgem com o globo nas mãos. Porém, no fundo, estaria contente
de ver que tudo caminhava.
Esta
carta, permanece no pórtico2
de todas as pesquisas relativas ao movimento surgido com base nas
aparições de 1830. Não era tanto o que dizia a carta quanto o que
sugeria.
****
Aqui termina o texto original da fonte ****
Medalha Milagrosa |
De
fato, e a despeito da incompletude dos relatos escritos pelo Padre
Aladel, inclusive quanto ao momento da revelação da Medalha
Milagrosa, não há dúvida que se trata de um documento de valor
histórico inestimável, pois, além de trazer à lume a forma como
se deu a cunhagem das primeiras Medalhas, também faz referência à
importante
contribuição
das Aparições de 1830 à promulgação do dogma da Imaculada
Conceição de Maria, em 8 de Dezembro de 1854, pelo Papa Pio IX,
através da bula Ineffabilis
Deus.
Na
verdade, toda a simbologia da Medalha Milagrosa é uma expressão do
dogma: a efígie da Virgem Imaculada, vencedora da serpente infernal,
representando Nossa Senhora imune de todo pecado, inclusive o
original do qual, nós, filhos de Adão, formos marcados; os braços
estendidos derramando graças, além expressar a representação
iconográfica da Imaculada Conceição, à época, também nos remete
à crença (quiçá, futuro dogma)
da mediação de todas as graças; o fundo dourado, lembra-nos a “…
Mulher revestida do sol, a lua debaixo dos seus pés …”
(Ap 12,1); a oração jaculatória "Ó Maria concebida sem pecado ...", é a afirmação, vinda do alto, da concepção imaculada da Santíssima Virgem; no reverso da Medalha: o
M
com um travessão
sobre o qual está Cruz
de Cristo, e logo abaixo, os Sagrados
Corações de Jesus e Maria,
revelam-nos a estreita e inseparável união de Jesus e Maria,
lembrando, inclusive, aquela máxima católica, cantada em uma das
músicas do Padre Antônio Maria: “Não há Maria sem Jesus, nem
Jesus sem Maria”, além da corredenção da Mãe de Deus, sua
efetiva participação na Paixão de seu amado Filho.
Lembra-nos, também, o Calvário: “...
Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe … ”
(Jo 19,25), e a mesa da Eucaristia.
As
doze estrelas no reverso da Medalha, fazem referência aos doze
Apóstolos, aos privilégios da Santíssima Virgem, à invocação de
“Estrela do mar”, que guia os navegantes no mar da vida ao porto
seguro, Nosso Senhor Jesus Cristo.
Portanto,
a Medalha Milagrosa tem não só valor histórico, como um profundo
valor teológico mariano, é um verdadeiro “compêndio” de
mariologia.
Agora,
resta-nos darmos continuidade à propagação da devoção à VIRGEM
IMACULADA,
por meio de sua MEDALHA
MILAGROSA,
fonte de inúmeras graças para aqueles que a usam com fé e devoção.
Por
Maria a Jesus!
Sou
todo teu, Maria.
Receba
o conteúdo deste blog gratuitamente. Cadastre seu e-mail abaixo.
______________
1O
Padre Aladel faz referência a Santa Catarina Labouré, a vidente e
mensageira da Medalha Milagrosa.
2Espécie
de documento inicial ou a partir do qual se inicia toda uma
investigação, no caso, das Aparições de 1830.
FONTE: artigo de J. DELGADO, C.M., publicado originalmente em 1968, capturado em http://vincentians.com/es/el-mensaje-de-rue-du-bac-ii-carta-del-p-aladel-al-abate-le-guillou/ (O título foi por nós adaptado assim como acrescentamos alguns destaques, além da tradução e adaptação para o português do Brasil)
Nenhum comentário:
Postar um comentário