« O M e os dois corações dizem o bastante »
É
no contexto dessas festas marianas – em especial, a Festa do
Santíssimo Nome de Maria – que queremos refletir acerca das
palavras de Santa Catarina Labouré ao seu confessor, Padre Aladel:
"O M e os dois corações dizem o
bastante", após ter sido questionada se não haveria uma
outra inscrição a ser posta no reverso da Medalha2.
Era
o ano de 1831, portanto, o ano seguinte às Aparições de Nossa
Senhora à sua vidente, e ainda não havia sido atendido o pedido que
a Mãe de Deus tinha feito: "Fazei cunhar uma medalha
conforme esse modelo....", isso causava muita angustia à
Irmã Catarina, e no outono daquele mesmo ano, dirige-se novamente ao
seu confessor, e com certa ousadia, afirma: "A Virgem está
descontente!". A esta afirmação da Santa, o Pe. Aladel
resolveu então se dirigir ao procurador-geral dos Lazaristas, Padre
Étienne, e após ambos obterem a aprovação do superior-geral,
Padre Salhorgne, foram a Paris ver o Arcebispo de Quelen, que, sendo
grande devoto de Nossa Senhora e de sua Imaculada Conceição, ao
tomar conhecimento do caso, não viu nenhum inconveniente mandar
cunhar a medalha na forma apresentada na Aparição do dia 27 de
novembro de 1830, pois, no mínimo, era mais uma maneira de fomentar
a crença na Imaculada Conceição de Maria.
Santa
Catarina tinha ficado em dúvida ao ser questionada por seu
confessor, e, após dirigir suas preces à Virgem Imaculada, recebeu
como resposta essas palavras: «O M e os dois
corações dizem o bastante», e dizem mesmo.
O
M compõe o monograma de Maria, é a primeira letra de
seu nome, e os dois corações justapostos, o Coração de Jesus e
o Coração de Maria, na forma como estão representados no
reverso da Medalha Milagrosa, fazem referência à
Corredenção de Nossa Senhora, sua efetiva participação no
mistério da redenção do gênero humano.
Estamos
na véspera da Festa Litúrgica do Santíssimo Nome de Maria, assim,
deter-nos-emos um pouco mais na letra M que representa
o nome de Maria.
Na
arte, diversas têm sido as representações do monograma de Maria,
algumas das quais mostramos aqui nesta postagem.
Mas,
qual o significado do nome de Maria para nós católicos,
especialmente seus devotos?
Santo
Afonso Maria de Ligório afirma que o “sublime nome de Maria não
foi encontrado na terra, nem inventado pelo entendimento ou arbítrio
dos homens, como se dá com outros nomes. Veio de Deus e foi-lhe
imposto por ordem divina, como o atestam S. Jerônimo, S. Epifânio,
S. Antonino e outros. Diz Ricardo de S. Lourenço: A Santíssima
Trindade vos conferiu este nome, ó Maria, que é superior a todo
nome, depois do nome de vosso Filho; ela enriqueceu-o de tanto poder
e majestade, que ao proferi-lo quer que se dobrem os joelhos dos que
estão no céu, na terra e no inferno. Vários privilégios outorgou
o Senhor ao nome de Maria.”3.
“Foi
imposto esse nome à Senhora, não casualmente ou por arbítrio
humano, senão (como dizem os Santos) por disposição divina e
instinto do Espírito Santo; e porventura foi anunciado a Sta. Ana
por algum Anjo, como foi o do precursor ao seu pai Zacarias. E já
alguns antigos rabinos o sabiam, como testifica Pedro Galatino de
Rabbi Haccados, respondendo a um cônsul romano que lhe mandou
perguntar como se chamaria a Mãe do Messias.”4.
O
nome de Maria, portanto, é celestial e divino, e assim, dotado de
virtudes que se destinam a nós, seus filhos e devotos. Diversas são
as virtudes ou poderes a ele atribuídos, que vão desde sua doçura
e suavidade até o poder de fazer voltar para nós a misericórdia de
Deus e afugentar os demônios.
“S.
Antônio de Pádua nele achava tanta doçura como S. Bernardino no de
Jesus. O nome da Virgem Mãe, repetia ele, é alegria para o coração,
mel para a boca, melodia para o ouvido de seus devotos”5.
Não é apenas doce e suave teu nome, ó Maria, mas tem o poder de
bálsamo que sara as feridas, desarma e abre o coração de Deus para
os homens ao mesmo tempo que é terrível para o inferno.
“Maria
é a vida e a respiração de seus servidores, a saúde dos enfermos,
o remédio dos pecadores. Ricardo de São Vítor, interpretando estas
palavras do Eclesiastes (VII, 2): «É
melhor o bom nome do que os bálsamos preciosos»,
as aplica assim à Bem-aventurada Virgem: «O
nome de Maria cura os males do pecador com maior eficácia do que a
dos unguentos mais procurados; não há doença, por desastrosa que
seja, que não ceda imediatamente à voz desse bendito nome»6.
“E acrescentamos com o Pe. J. Guibert, que assim se expressa na sua
Meditação
para a festa do Santo Nome de Maria:
'O nome de Maria desarma o coração de Deus. Não há pecador, por
mais criminoso, que pronuncie em vão esse nome. Embora merecesse,
por suas faltas, todas as cóleras do céu, ele se vê protegido como
por inviolável pára-raios, logo que articule o nome de Maria. A
este nome, o perdão desce infalivelmente sobre as almas pecadoras,
não porque tenha Ela o direito de concedê-lo, mas porque é
onipotente para implorá-lo – Omnipotentia
suppex.
O nome de Maria abre o coração de Deus e põe todos os seus
tesouros à disposição da alma que o invoca.”.
“O
nome de Maria, enfim, é um nome de força. Quaisquer que sejam os
inimigos que vos ameaçam, venham eles do Inferno, como o demônio
que vos tenta; ou venham do mundo, como os adversários que vos
perseguem, invocai o poderoso nome de Maria e a todos vencereis.
Quaisquer que sejam vossas próprias fraquezas, provenham elas do
orgulho, da inveja, da sensualidade ou da preguiça, confiai vosso
débil coração à solicitude da Virgem, invocai o poderoso nome de
Maria, e vos vencereis a vós mesmos.”7.
São
inúmeros os testemunhos de grandes Santos e Doutores da Igreja
acerca do nome de Maria, seu poder, sua eficácia, os prodígios que
realiza na vida de seus devotos.
Quando
foi revelada a Medalha Milagrosa a Santa Catarina Labouré, nela viu
escrita em letras de ouro a jaculatória «Ó
Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós»,
uma pequena oração a ser recitada várias vezes ao dia por aqueles
que a usarem, com a promessa às «pessoas
que a trouxerem ao pescoço receberão muitas graças. As graças
serão abundantes para os que a trouxerem com inteira confiança.»,
conforme narração escrita pela Santa em 15 de Agosto de 18418.
A
cada vez que repetirmos devotamente essa curta oração-jaculatória,
e, se possível, osculando a Medalha, estaremos pronunciando o
Santíssimo Nome de Maria, recebendo, por conseguinte, as bênçãos,
graças, proteção, auxílio e etc., que a Santíssima Virgem tem
tanto prazer de nos conceder. Não nos deixam enganar os prodígios
ocorridos logo na primeira cunhagem da Medalha (1832), distribuídas
em Paris, na França, pelas Filhas da Caridade, refreando o avanço
da peste que dizimava a população, e, em pouco tempo, debelando
seus efeitos, passando a ser chamada de “milagrosa”, atraindo,
inclusive, como devoto e propagandista dessa nova devoção, o Papa
Gregório XVI.
Assim, desejo concluir essa reflexão com a parte final da oração composta por São
Bernardo de Claraval, em 2º Sermão sobre o Santíssimo Nome de Maria9:
«Nos perigos, nas angústias e nas incertezas, pensa em Maria, invoca Maria. [Maria] esteja sempre na tua boca e no teu coração; e, para obter a ajuda de sua oração, não esqueças de seguir o seu exemplo. Seguindo-a, não te desvias; invocando-a, não desesperas; pensando nela, não erras. Com seu apoio não cais, sob sua proteção não temes, se ela te guia não te cansas, se te é propícia chegas ao fim; e assim experimentas em ti mesmo o que, com razão, se diz: e o nome da Virgem era Maria».
_________
1
A
Igreja Católica no Brasil dedica o mês de setembro à Bíblia, foi
criada em 1971, por ocasião do 50º aniversário da Arquidiocese de
Belo Horizonte-MG, espalhando-se, posteriormente, para todo o Brasil
(http://www.abiblia.org/ver.php?id=1044).
2LAURENTIN,
René. Catarina Labouré Mensageira de Nossa Senhora das Graças
e da Medalha Milagrosa, Paulinas editora, 2012, pp. 40 a 42.
3LIGÓRIO,
S. Afonso de. Glórias de Maria, Editora Santuário, versão
da 11ª edição italiana, 2015, Cap. X, 1, p. 213.
4BERNARDES,
Padre Manuel. Meditações Sobre os Principais Mistérios da
Virgem Santíssima Senhora Nossa, Editora Pinus, 1ª
edição/2010, p. 54.
5LIGÓRIO,
op. cit., p. 213.
6DIAS,
João DS. Clá. Pequeno Ofício da Imaculada Conceição
Comentado, Editora Artpress, Setembro/1997, pp. 299 a 300.
7Ibidem,
p. 301.
8CASTRO,
Padre Jerônimo Pereira de. Santa Catarina Labouré e a Medalha
Milagrosa, Editora Vozes, 2ª edição/1951, Cap. IV, pp. 91 a
92.
9CLARAVAL,
São Bernardo de. Sermões para as Festas de Nossa Senhora,
Editora Vozes, Petrópolis/1999, 2º Sermão, n. 17, p. 52.
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