A MEDALHA MILAGROSA E A CONVERSÃO DE AFONSO RATISBONNE
Madonna del Miracollo |
"Nessa
maravilhosa conversão manifesta-se o dedo de Deus; aí se admira o
poder de Maria Santíssima, pois não havia nada, absolutamente nada
que dispusesse Afonso Ratisbonne para receber tão assinalado favor.
Nasceu
Afonso em Strasburgo, no meio de uma rica família israelita. Eram ao
todo dez irmãos. Teodoro, doze anos mais velho que Afonso, chega à
fé cristã após longas e penosas pesquisas, na calma da reflexão e
na plena madureza de espírito.
Teodoro,
recebeu o batismo aos 25 anos, após haver concluído seu curso de
Direito. Abraçou o estado eclesiástico e foi sagrado sacerdote
cinco anos depois do seu batismo.
Seu
irmão Afonso, desde a primeira mocidade jactava-se de não ter
nenhuma religião. “Eu era judeu de nome, diz ele; eis tudo, porque
eu não acreditava nem sequer em Deus. Nunca abri um livro de
religião e, na casa do meu tio, bem como entre meus irmãos e irmãs,
não se praticava a menor prescrição do judaísmo”.
Um
ano e quatro meses antes da sua conversão, enfermara gravemente um
dos seus sobrinhos, filho do seu irmão mais velho. O Padre Teodoro,
que então exercia os seus ministérios sacerdotais em Paris,
desejava pelo menos abrir as portas do céu a seu sobrinho,
conferindo-lhe o santo batismo.
Teria
talvez alcançado o assentimento do pai, se não fosse a intervenção
do seu irmão Afonso que, cheio de indignação e de furor, enxotou
violentamente para longe do pequenino moribundo o ministro de Deus.
Este, que já havia sofrido tanto da parte da sua família e de toda
a colônia israelita, retirou-se com calma, disposto a sofrer ainda
mais pelo nome de Jesus Cristo e pela salvação dos seus.
No
Santuário de Nossa Senhora das Vitórias, onde trabalhava, fazia o
piedoso sacerdote ferventes preces pela conversão do seu irmão
Afonso que o não podia tolerar. Como explicar tamanho ódio contra
seu bondoso irmão Teodoro, se Afonso era judeu religiosamente
falando só de nome? É que ele se filiara a maçonaria e então era
implacável inimigo dos cristãos.
Havia
Afonso concluído seu curso de Direito e estava para completar 27
anos, quando os desejos da sua família, corroborados por simpatia
recíproca, o induziram a casar-se com a sua sobrinha, filha do seu
irmão mais velho. “Pensei, então, narra Afonso, que a minha
felicidade fosse completa. Via minha família no auge da alegria,
pois devo dizê-lo, há poucas famílias cujos membros se unem tanto
como a minha… Só um dos seus membros me parecia odioso: era meu
irmão Teodoro. Entretanto ele também nos amava, mas seu hábito me
causava repulsa, seu pensamento me turbava, sua palavra grave e séria
excitava a minha cólera”.
“E,
continua Afonso, “por causa da conversão de Teodoro eu nutria
acerbíssimo ódio contra os padres, as igrejas, os conventos, e
sobretudo contra os jesuítas, cujo nome só bastava para provocar o
meu furor”.
A
noiva de Afonso contava 16 anos apenas, pelo que julgaram seus pais
conveniente diferir por algum tempo o casamento.
Neste
meio tempo Afonso empreenderia uma viagem ao estrangeiro com o duplo
fim de distrair-se e de revigorar a sua saúde.
Afonso
deixou Strasburgo a 17 de novembro de 1841, decidido a visitar
Nápoles, a passar o inverno em Malta e a voltar pelo Oriente.
Outros, porém, eram os desígnios da Providência. Demorou alguns
dias em Marselha e partiu para Nápoles.
Durante
a viagem fundeou o navio em Civitavecchia: era o dia 8 de dezembro e
a artilharia disparava algumas salvas. Maravilhado, perguntou Afonso
qual era o motivo daqueles rumores de guerra nas terras pacíficas do
Papa. Responderam-lhe que era a festa da Imaculada Conceição.
Sacudiu os ombros com desdém e não quis desembarcar. Não tinha
nenhum desejo de visitar Roma, embora dois amigos seus o estimulassem
vivamente a dar esse passo. Deus, porém, o guiava para o Cidade
Eterna. Ao deixar Nápoles, em vez de comprar passagem para Palermo.
por engano achou-se numa diligência que se dirigia para Roma e lá
chegou a 6 de Janeiro.
Era
o ano de 1842. Afonso Ratisbonne achava-se em Roma, a cidade eterna,
da qual cada pedra é uma lembrança sagrada e tem uma voz para
celebrar as grandezas da fé cristã. Ali Ratisbonne encontrou seu
companheiro de infância Gustavo Bussíère, irmão do barão Teodoro
de Busssière.
Teodoro
de Bussière era íntimo amigo do Padre Teodoro Ratisbonne. O Barão
abandonara o protestantismo para fazer-se católico e por esta razão
inspirava a Afonso Ratisbonne uma profunda antipatia. Gustavo
Bussière mantinha-se protestante e, em companhia de Afonso
Ratisbonne, metia frequentemente a ridículo a Igreja Católica.
Afonso Rastibonne já padre |
A
15 de Janeiro, nove dias apenas depois de sua chegada, resolveu
Afonso deixar Roma e se viu na dura contingência de ir apresentar
suas despedidas ao indesejável barão Teodoro de Bussière. O
distinto e piedoso barão suportou pacientemente, durante uma hora,
uma saraivada de sarcasmos proferidos pelo jovem Afonso contra o
catolicismo, procurando evidentemente atingir os dois Teodoros
convertidos: o seu irmão Ratisbonne convertido do judaísmo; e o
irmão de Gustavo Bussière, convertido do protestantismo.
“Então,
– refere o barão – apresentou-se à minha mente uma ideia
maravilhosa, uma ideia celeste, que os sábios do mundo teriam
julgado rematada loucura: “Já que sois um espírito tão forte e
seguro de vós mesmo, lhe disse, não recusareis trazer o que estou
para dar-vos”.
- De que se trata? perguntou secamente Afonso. – “Respondi-lhe mansamente – disse Bussière, trata-se simplesmente desta medalha”. Era a medalha milagrosa de Nossa Senhora das Graças. Recusou-a Afonso com um misto de indignação e de espanto.
- “Mas – acrescentou o barão Bussière friamente – segundo o vosso modo de ver, isto vos deve ser absolutamente indiferente, ao passo que para mim trará um grandíssimo prazer”. – “Oh! – exclamou Afonso rindo a bom rir, a bandeiras despregadas – “então a trarei por mera complacência para mostrar-vos que é sem razão que acusam os judeus de obstinação e de invencível teimosia. Além disso me fornecereis um belíssimo capítulo para as minhas notas e impressões de viagem”.
“E,
prossegue o barão, “Ratisbonne continuava com motejos que me
ralavam o coração… Entretanto, passei-lhe ao pescoço uma fita à
qual minhas netinhas tinham pregado uma medalha. Mas restava-me ainda
uma coisa mais difícil de obter: queria que ele recitasse a piedosa
invocação de São Bernardo: “Lembrai-vos, ó piíssima Virgem
Maria…” Revoltou-se ao ouvir este segundo pedido. “Mas uma
força interior impelia-me, prossegue B. de Bussuère, a lutar contra
as suas reiteradas recusas com uma espécie de obstinação.
Apresentei-lhe a oração suplicando-lhe que a trouxesse consigo e
que tivesse a bondade de copiá-la porque eu não dispunha de outro
exemplar”. Então, com um movimento de impaciência e ironia, para
se ver livre das minhas importunações, disse ele: “Bem! eu
escreverei; dar-vos-ei a minha cópia e conservarei a vossa”. E
retirou-se visivelmente contrariado.
Afonso
cumpriu a palavra; copiou a oração, leu-a e releu-a tantas vezes
que já a sabia de cor. As palavras de “Memorare” não lhe saíam
da memória.
No
dia 20 de Janeiro, festa de São Sebastião, Afonso ainda se achava
em Roma, onde o retinha uma força misteriosa. Ao meio dia conversou
num café com dois amigos. “Se neste momento – diz ele – um
terceiro interlocutor se tivesse aproximado de mim e me tivesse dito:
“Afonso, dentro de um quarto de hora adorarás Jesus Cristo, teu
Deus e teu Salvador… e renunciarás ao mundo, a suas pompas, a seus
prazeres, a tua fortuna, a tuas esperanças, a teu futuro, e se for
necessário renunciarás ainda a tua noiva, à afeição da tua
família… Digo que se algum profeta me tivesse feito semelhante
predição, só a um homem eu julgaria mais insensato que ele, e
seria aquele que tivesse dado crédito à possibilidade de tal
loucura”.
A Medalha Milagrosa |
Era
20 de Janeiro de 1842. Ratisbonne acha-se ainda em Roma. Saindo de um
Café onde acabara de conversar com dois amigos, encontra uma
carruagem: é do Barão de Bussière que o convida para dar um
passeio. Afonso, sem muito entusiasmo, mais para não fazer uma
descortesia àquele do qual pouco antes tinha sido hóspede, aceita o
convite. Acharam-se logo diante da igreja de Santo André delle
Fratte. O piedoso conde de Laferronays devia receber as honras
fúnebres e o Barão de Bussière fora encarregado de reservar uma
tribuna para a família do defunto.
“Será
coisa de dois minutos, diz ele a Afonso que, durante este tempo
resolve visitar a igreja. Esperava-o nesta igreja a misericórdia de
Maria Santíssima. Soara a hora da graça que desde a conversa no
café, já trabalhava suavemente em sua alma. A Mãe de Deus se
deixara comover pelas orações do barão de Bussière , do conde de
Laferronays que morrera repentinamente depois de ter dito à sua
esposa: “Repeti hoje mais de cem vezes o Lembrai-vos”, e
sobretudo pelas orações e lágrimas ardentes que em seu Santuário
derramava seu diletíssimo servo o Padre Teodoro, irmão de Afonso
Ratisbonne.
Tenta
Afonso descrever o que então se passou em sua alma: “Esta igreja é
pobre e deserta; creio que nela me achei mais ou menos só… Nenhum
objeto de arte atraiu a minha atenção… Subitamente nada mais
vejo… ou antes, ó meu Deus, vejo uma só coisa! Como seria
possível falar do que vi? Oh! não, a palavra humana não deve
tentar exprimir o que se não pode exprimir; toda descrição, por
sublime que seja, não seria mais que uma profanação da inefável
realidade…”
Tornando
à igreja, Barão de Bussière não encontra Afonso onde o havia
deixado, mas ajoelhado diante da capela de São Miguel Arcanjo e de
São Rafael, submergido em profundo recolhimento.
“A
esta vista, pressentindo um milagre, depõe o barão, apoderou-se de
mim um frêmito religioso. Dirijo-me a ele, agito-o várias vezes sem
que ele dê conta da minha presença. Afinal, voltando para mim seu
rosto banhado de lágrimas, junta as mãos e me diz: “Oh! como este
senhor rezou por mim!”
Compreendi
logo que se tratava do falecido Conde de Laferronays. Amparado, quase
levado por mim, sobe à carruagem. Onde quereis ir? pergunto-lhe eu.
– “Levai-me
para onde quiserdes. Depois do que vi, obedeço”.
Declara-me
em seguida que só falará com o consentimento de um padre, porque o
que eu vi – acrescenta ele – só o posso dizer de joelhos”.
Conduzido
à igreja do Jesú, dos padres jesuítas, ao lado do padre Villefort
que o convida a explicar-se, tira Afonso a medalha, abraça-a,
mostra-a e exclama: “Eu a vi! Eu a vi!… Havia uns instantes que
eu estava na igreja, quando repentinamente me senti dominado por uma
turbação inexprimível. Ergui os olhos; todo o edifício
desparecera à minha vista; só uma capela tinha, por assim dizer,
concentrado toda a luz; e, no meio desta irradiação, apareceu, em
pé sobre o altar, grande, brilhante, cheia de majestade de doçura a
Virgem Maria, tal qual está em minha medalha; uma força
irresistível atraiu-me para ela. A Virgem com a mão me fez sinal
para que me ajoelhasse. Pareceu dizer-me: “Está bem! Não me falou
nada, mas eu compreendi tudo”.
Mais
tarde dirigiu-se Afonso à Basílica de Santa Maria Maior a fim de
agradecer a sua celeste benfeitora o grande benefício recebido.
Ao
entrar na capela de Nossa Senhora, exclamou: “Oh! como estou bem
aqui! Gostaria de ficar aqui para sempre: parece-me que já não
estou na terra!”
Ao
fazer a visita ao Santíssimo Sacramento, por pouco não desfaleceu.
Apavorado, exclamou: “que coisa horrível estar na presença do
Deus vivo sem ser batizado!”
Afirma
o Padre Roothan, geral da Companhia de Jesus, que “depois da sua
conversão o senso da fé nele se manifestava de modo tão intenso
que lhe fazia sentir, penetrar e reter tudo o que lhe era proposto,
tanto que em pouco tempo o julgaram suficientemente instruído para
receber o santo Batismo”.
Ratisbonne
recebeu sem dúvida uma assistência toda especial de Deus e da
Santíssima Virgem.
A
31 de Janeiro, 11 dias após a aparição, Afonso Ratisbonne abjura
solenemente a maçonaria e recebe o batismo na igreja do Gesú das
mãos do cardeal Patrizzi. O vasto e suntuoso templo estava repleto.
Ali se encontrava o escol da sociedade romana e estrangeira.
Acompanhado pelo Padre Villefort e por seu padrinho, o barão de
Bussière, Afonso foi levado à porta da igreja. Vestido de uma longa
túnica de damasco branco, trazia o Terço e a medalha de Nossa
Senhora nas mãos.
– Que
pedes à Igreja de Deus? pergunta-lhe o oficiante.
– A
fé!
Ah!
diz uma testemunha ocular dessa cena majestosa, já tinha a fé
católica aquele a quem a estrela da manhã iluminara com os seus
raios.
Afonso
beija a terra e fica prostrado até ao fim dos exorcismos.
Levanta-se
e, guiado pelo pontífice, encaminha-se para o altar entre as bênçãos
de uma imensa multidão que respeitosamente se abre à sua passagem.
Perguntam-lhe
qual é o seu nome.
– Maria!
responde num arrebatamento de amor e de gratidão.
– Que
desejas?
– O
batismo.
– Crês
em Jesus Cristo?
– Creio!
– Queres
ser batizado?
– Quero!
Com
um sorriso de celeste beatitude levantou sua cabeça ainda umedecida
da água batismal. Acabava de transpor um abismo: era cristão.
Afonso,
cheio de Deus, radicalmente transformado pela graça, deixa o mundo e
entra na Companhia de Jesus. Nela viveu dez anos vida exemplar e só
a deixou, desfeito em lágrimas, para fazer a vontade de Deus que o
queria ao lado do seu irmão, o Padre Teodoro, para com ele trabalhar
numa obra tão grata ao mesmo Deus e de tanta relevância, qual é a
da conversão dos judeus.
O
piedoso Padre Maria Afonso Ratisbonne nunca se esqueceu de sua Mãe
amantíssima que o arrancou das trevas da incredulidade para os
esplendores da verdadeira fé.
Inclinava-se
profundamente sempre que ouvia no canto das ladainhas a invocação:
“Refúgio dos pecadores, rogai por nós!”
Os
que o ouviam falar da sua Mãe Celeste adivinhavam o que se passava
no seu coração; seu olhar fulgurante parecia que ainda contemplava
a mais bela e a mais pura das virgens.
A
medalha milagrosa, que exercera papel preponderante em sua conversão,
era o seu mais caro tesouro. Julgou um dia que a havia perdido; sua
aflição foi extrema; parecia-lhe que fora abandonado pela Virgem
misericordiosíssima. Suas lágrimas não cessaram de correr até que
a encontrou.
Maria
Santíssima foi a sua consolação em todas as penas e seu grande
motivo de esperança em todas as provações. Dizia que Maria
Santíssima não é outra coisa que uma mão de Deus, não a mão que
castiga, mas a mão das misericórdias.
Dizem
os historiadores que quando o Padre Ratisbonne pregava sobre Nossa
Senhora, todos os ouvintes se comoviam, muitos pecadores se
convertiam. Leiam por gentileza o próximo post deste blog e verão a
conversão mais importante que o Padre Maria Afonso obteve por
intercessão de Maria Santíssima.
Caríssimos
leitores, possa esse episódio tão comovente, que acabais de ler,
reavivar em vossos corações a chama da devoção a Santíssima
Virgem Maria.
Se
quisermos assegurar o único bem desejável que é a eterna salvação
de nossa alma, vivamos, como bons filhos, no Coração maternal de
Maria Santíssima.
Os
que a ela recorrem não deixam de ser ouvidos; os que choram em seu
regaço materno não deixam de ser consolados e os que nela depositam
inteira confiança e evitam tudo o que possa magoar-lhe o coração,
nada têm que temer nem na vida nem na morte.
A
devoção sincera a Maria Santíssima é penhor seguro de salvação.
Deus quis que por ela tivéssemos Jesus. E Jesus é a nossa salvação.
Por isso o pedido que nos faz a Nossa Mãezinha do Céu é este: “Não
ofendam mais o meu Filho!”
As
coisas aqui narradas foram quase integralmente extraídas do livro:
“O caminho que leva para Deus” do Pe. Arlindo Vieira, S. J.
USE
A MEDALHA MILAGROSA
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