À
VIRGEM IMACULADA: “SALVE
RAINHA, MÃE DE MISERICÓRDIA”
Coroação Gloriosa de Maria no Céu |
FESTA
NOSSA SENHORA RAINHA
(Terceira
e última Parte/Continuação)
“A
VÓS BRADAMOS, DEGREDADOS FILHOS DE EVA”
Como
pobres filhos da infortunada Eva, somos réus da mesma culpa e
condenados à mesma pena. Andamos errando por este vale de lágrimas,
exilados de nossa pátria, chorando por tantas dores que nos afligem
no corpo e no espírito. Feliz, porém, aquele que entre tais
misérias se dirige muitas vezes à consoladora do mundo, ao refúgio
dos pecadores, à grande Mãe de Deus. Feliz quem a invoca e implora
com devoção! Bem-aventurado o homem que me ouve e que “vela
todos os dias à entrada de minha casa”
(Prov.
8, 34). Bem-aventurado, diz Maria, quem ouve meus conselhos e
permanece constantemente à porta de minha misericórdia, invocando
minha intercessão e meu auxílio. […]
Nem
mesmo a multidão de nossos pecados deve diminuir a confiança,
quando nos prostramos aos pés de Maria. Ela é a Mãe de
misericórdia, mas a misericórdia não tem razão de ser onde não
há misérias para aliviar. Uma boa mãe não hesita em tratar de um
filho coberto de chagas repugnantes, ainda que lhe custe abnegações
e trabalhos — observa Ricardo de São Lourenço. Da mesma forma
também não sabe nossa boa Mãe abandonar-nos, quando por Ela
chamamos, por mais horripilantes que sejam os pecados dos que precisa
nos curar. E justamente isto quis Maria significar quando apareceu a
Santa Gertrudes, estendendo o seu manto para cobrir com ele todos os
que a Ela recorriam. Ao mesmo tempo entendeu a santa que todos os
anjos têm empenho em defender os devotos de Maria contra os assaltos
do inferno. […]
Pecado de Adão e Eva. Expulsão do Paraíso |
E
se alguém duvidar de ser socorrido de Maria ao invocá-la, ouça a
repreensão de Inocêncio III: “Quem
é aquele que pediu socorro a esta doce Soberana e Ela não o
atendeu?”
Aqui
exclama o Beato Eutiquiano: “Ó
Virgem Santa, que podeis ajudar todo miserável, salvar os maiores
pecadores, quem alguma vez solicitou vosso poderoso patrocínio e por
vós foi desamparado?”
Tal
caso nunca se deu e nunca se há de dar.
“Concordo,
diz
São Bernardo, que
nunca mais exalte vossa misericórdia, ó Virgem Maria, aquele que,
tendo invocado vosso auxílio em suas necessidades, se recorde de ter
sido abandonado por vós”.
[…]
Digam,
pois, todos com grande confiança, invocando esta Mãe de
Misericórdia, o que lhe dizia o Pseudo-Agostinho:
“Lembrai-vos,
ó piedosíssima Senhora, que não se tem ouvido, desde que o mundo é
mundo, que alguém fosse de vós desamparado. E por isso, perdoai-me
se vos digo que não quero ser o primeiro infeliz, que, recorrendo a
vós, não consiga o vosso amparo”.
[…]
Não
só do Céu e dos santos é Maria Santíssima Rainha, senão também
do inferno e dos demônios, porque os venceu valorosamente com suas
virtudes. Já desde o princípio do mundo tinha Deus predito à
serpente infernal a vitória e o império que sobre ela obteria nossa
Rainha. “Eu
porei inimizade entre ti e a mulher; Ela te esmagará a cabeça”
(Gn
3, 15).
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“A
VÓS SUSPIRAMOS, GEMENDO E CHORANDO NESTE VALE DE LÁGRIMAS”
A Imaculada Conceição, vencedora da serpente infernal |
A
invocação e veneração dos santos, particularmente a de Maria,
Rainha dos bem-aventurados, é uma prática não só lícita, senão
útil e santa. Pois procuramos por meio dela obter a graça divina.
Esta verdade é de fé, estabelecida pelos concílios contra os
hereges que a condenam como injúria feita a Jesus Cristo, nosso
único Medianeiro. Mas se, depois da morte, um Jeremias reza por
Jerusalém; se os anciãos do Apocalipse apresentam a Deus as orações
dos santos; se um São Paulo promete a seus discípulos lembrar-se
deles depois da morte; se Santo Estêvão intercede por seus
perseguidores e um São Paulo, por seus companheiros; se, em suma,
podem os santos rogar por nós, por que não poderíamos nós, por
nossa vez, rogar-lhes para que intercedam por nós? Às orações de
seus discípulos recomenda-se São Paulo: “Irmãos,
rezai por nós”
(1
Tess. 5, 25). São Tiago exorta-nos a “rogarmos
uns pelos outros”
(5,
16). Podemos, por conseguinte, fazer o mesmo.
Que
Jesus Cristo seja o único Mediador de justiça a reconciliar-nos com
Deus pelos seus merecimentos, quem o nega? Não obstante isto, Deus
se compraz em conceder-nos suas graças pela intercessão dos santos
e especialmente de Maria, sua Mãe, a quem tanto deseja Jesus ver
amada e honrada.
Seria
impiedade negar semelhante verdade. Quem ignora que a honra prestada
às mães redunda em glória para os filhos? Os pais são as glórias
dos filhos, lemos no livro dos Provérbios (17, 6). Quem muito
enaltece a mãe, não precisa ter receio de obscurecer a glória do
filho. Pois quanto mais se honra a Mãe, tanto mais se louva o Filho,
diz São Bernardo. E observa Santo Ildefonso: “É
tributada ao Filho e ao Rei toda a honra que se presta à Mãe e à
Rainha”.
Ao mesmo tempo está fora de dúvida que pelos merecimentos de Jesus
Cristo foi concedida a Maria a grande autoridade de ser Medianeira da
nossa salvação, não de justiça, mas de graça e intercessão,
como bem lhe chamou Conrado de Saxônia com o título de "fidelíssima
medianeira de nossa salvação".
E
São Lourenço Justiniano pergunta: “Como
não ser toda cheia de graça, aquela que se tornou a escada do
paraíso, a porta do Céu e a verdadeira Medianeira entre Deus e os
homens?”.
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A
INTERCESSÃO DE MARIA PROVÉM DA SUA COOPERAÇÃO NA REDENÇÃO
Virgem Imaculada, Medianeira de Todas as Graças |
Uma
sentença de São Bernardo diz: “Cooperaram
para nossa ruína um homem e uma mulher. Convinha, pois, que outro
homem e outra mulher cooperassem para a nossa reparação. E estes
foram Jesus e Maria, sua Mãe. Não há duvida, Jesus Cristo, só,
foi suficientíssimo para remir-nos, mas conveniente era, entretanto,
que para a nossa reparação servissem ambos os sexos, assim como
haviam cooperado ambos para a nossa ruína”.
Pelo que Santo Alberto chamou Maria “a
cooperadora da nossa Redenção”.
A
própria Virgem revelou a Santa Brígida que assim como Adão e Eva
por um pomo venderam o mundo, assim também Ela e seu Filho com um
Coração o resgataram. “Do
nada pôde Deus criar o mundo, observa Santo Anselmo, mas não quis
repará-lo sem a cooperação de Maria”.
[…]
“EIA,
POIS, ADVOGADA NOSSA”
Tão
grande é o prestígio de uma mãe, que nunca pode tornar-se súdita
de seu filho, ainda que ele seja monarca e tenha domínio sobre todas
as pessoas do seu reino. É verdade que, sentado agora no Céu, à
direita de Deus Pai, reina Jesus com supremo domínio sobre todas as
criaturas e também sobre Maria. E o tem mesmo como homem, diz Santo
Tomás, por causa da união hipostática com a pessoa do Verbo.
Todavia, também é certo que quando vivia na Terra, nosso Redentor
quis humilhar-se a ponto de ser submisso a Maria. “E
lhes estava sujeito”
(Lc
2, 51). “Sim,
desde que Jesus Cristo se dignou escolher Maria por Mãe, estava como
Filho realmente obrigado a obedecer-lhe”,
diz
Santo Ambrósio. “Os
outros santos
—
reflete Ricardo de São Lourenço — estavam
unidos à vontade de Deus; contudo teve Maria maior ventura. Pois não
só foi submissa à vontade de Deus, mas também o Senhor se submeteu
à sua vontade”.
Das outras virgens diz-se que “seguem
o Cordeiro por toda parte”.
Porém de Maria, pode-se dizer que o Cordeirinho de Deus a seguia,
porque lhe foi submisso.
Daí
concluímos que ainda que não possa dar ordens a seu Filho no Céu,
as súplicas de Maria são eficacíssimas para obterem tudo quanto
Ela pode. Pois os seus rogos são sempre rogos de Mãe. […]
É
certo, em suma, que não há criatura alguma que nos possa obter
tantas misericórdias como esta boa advogada. Não só Deus a honra
como sua serva dileta, mas sobretudo como verdadeira Mãe. Diz
Guilherme de Paris: “Uma
só palavra de seus lábios é quanto basta para o Filho atendê-la”.
[…]
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MARIA
CUIDA DE CADA UM DE NÓS
"Confia em mim, filha minha, que sou tua Mãe" |
São
Boaventura anima os pecadores nestes termos: “Que
deves fazer se, por causa de teus pecados, temes a vingança de Deus?
Vai, recorre a Maria, que é a esperança dos pecadores. Estás,
porém, receoso de que Ela não queira tomar tua defesa? Pois então
fica sabendo que é impossível tal repulsa; pois o próprio Deus
encarregou-a de ser o refúgio dos pecadores”.
“É
lícito a um pecador desesperar de sua salvação, quando a própria
Mãe do Juiz se lhe oferece por mãe e advogada?”
– pergunta
o abade Adão de Perseigne. E continua: “Vós,
ó Maria, que sois Mãe de Misericórdia, recusaríeis interceder
junto ao vosso Filho que é Juiz por um filho vosso que é pecador?
Em favor de uma alma recusaríeis falar ao Redentor, que morreu na
cruz para salvar os pecadores? Não; não podeis fazê-lo; pelo
contrário, de coração vos empenhais por todos os que vos invocam”.
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“ESSES
VOSSOS OLHOS MISERICORDIOSOS A NÓS VOLVEI”
“Durante
sua vida na Terra, tinha a Virgem um coração cheio de piedade e
ternura para com os homens”,
observa
São Jerônimo; mas tinha-o de tal forma que ninguém pode sentir tão
vivamente suas próprias aflições, como Maria sentia as alheias.
Bem o mostrou nas bodas de Caná. Na falta de vinho, diz São
Bernardino de Siena, “a
Senhora assumiu espontaneamente o ofício de compassiva consoladora.
Compadecida da aflição dos noivos, empenhou-se junto ao Filho e
obteve o milagre que fez abundar o vinho nas talhas de água”.
Dirige-se
São Pedro Damião a pergunta: “Porventura
vos esquecestes de nós, miseráveis, agora que estais exaltada à
dignidade de Rainha do Céu? Longe de nós tal pensamento! É
incompatível com a grande piedade do vosso coração o olvido de uma
tão grande miséria como a nossa”.
“As
honras mudam os costumes”,
afirma
um conhecido adágio. Mas ele não é aplicável a Maria. Vale para
os homens no mundo, que se ensoberbecem e esquecem os antigos amigos
pobres, logo que se veem elevados a alguma dignidade. Maria
Santíssima não procede assim. Justamente para melhor ajudar aos
miseráveis é que se rejubila com sua grandeza. […]
Quando
se dizem devotamente à Santíssima Virgem estas palavras: “Eia,
pois, advogada nossa, esses vossos olhos misericordiosos a nós
volvei”,
não
pode Maria deixar de volver os olhos para quem a invoca. Assim foi
revelado a Santa Brígida. […]
Se,
por causa de nossos pecados, a desconfiança nos invadir, digamos com
Guilherme de Paris: “Ó
Senhora minha, não me lanceis em rosto meus pecados, porque lhes
oporei vossa grande misericórdia. Jamais se diga que minhas culpas
puderam contrabalançar no juízo a vossa misericórdia. Pois esta é
muito mais eficaz para obter-me o perdão, que todos os meus pecados
para valerem-me a condenação”.
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“E
DEPOIS DESTE DESTERRO, MOSTRAI-NOS JESUS, BENDITO FRUTO DO VOSSO
VENTRE”
Santa Maria de Belém (Foto: Wikipédia) |
É
impossível que se perca um devoto de Maria, que fielmente a serve e
a Ela se encomenda. À primeira vista talvez pareça um tanto ousada
esta proposição. Antes, porém, que seja rejeitada peço se leia o
que a respeito eu vou apresentar. Afirmo que é impossível perder-se
um devoto da Mãe de Deus. Não me refiro àqueles que abusam dessa
devoção para pecarem com menos temor. Desaprovam alguns que muito
se celebrem as misericórdias de Maria para com os pecadores, dizendo
que estes dela abusam para mais pecarem. Mas injustamente o
desaprovam. Pois esses presunçosos, por esta sua temerária
confiança, merecem castigo e não misericórdia. Falo tão somente
daqueles devotos de Maria que, ao desejo de emenda, unem a
perseverança em obsequiá-la.
Quanto
a estes, repito, é moralmente impossível que se percam. O mesmo
afirma o Padre Crasset em seu livro: A
verdadeira devoção à Virgem Maria.
E antes já o afirmaram Vega na sua Teologia
Mariana,
Mendoza e outros teólogos. Que eles não falaram irrefletidamente,
vê-lo-emos pelas afirmações dos Doutores e dos santos. Ninguém se
admire à vista de tantas sentenças uniformes dos autores. Quis
referi-las todas, a fim de provar o acordo geral dos escritores sobre
este ponto.
“É
impossível salvar-se quem não é devoto de Maria e não vive sob
sua proteção”,
diz Santo Anselmo, e também é impossível que se condene quem se
encomenda à Virgem e por Ela é olhado com amor. […]
No
salmo 99 de seu Saltério
Mariano chega
até a dizer que não só não se salvará, mas que nem esperança de
salvação terá aquele do qual Maria aparta o seu rosto. Até o
protestante Ecolampádio tinha por indício certo de reprovação a
pouca devoção à Mãe de Deus. […]
Por
isso o demônio trabalha para que os pecadores, depois de perderem a
graça de Deus, percam também a devoção de Maria. Eis as belas
palavras de São João Damasceno, reanimando a sua e a nossa
esperança: “Ó
Mãe de Deus, se em vós puser minha confiança, serei salvo. Se
estiver sob vossa proteção, nada tenho a recear porque a devoção
para convosco é uma segura arma de salvação, concedida por Deus só
aos que deseja salvar”.
Por
isso até Erasmo assim saudava a Santíssima Virgem: “Deus
vos salve, ó terror do inferno, ó esperança dos cristãos; a
confiança em vós assegura a salvação”.
[…]
Estes
e outros exemplos, entretanto, não devem servir para autorizar a
temeridade dos que vivem em pecado, confiados de que Maria os haja de
livrar do inferno, ainda que morram impenitentes. Rematada loucura
fora, certamente, lançar-se alguém para dentro de um poço, na
esperança de ver-se livre da morte, porque Maria em caso semelhante
já preservou a outros. Muito maior loucura seria, entretanto,
arriscar-se alguém a morrer no pecado, presumindo que a Santíssima
Virgem o preservará do inferno.
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MARIA
SOCORRE SEUS DEVOTOS NO PURGATÓRIO
Rainha do Monte Carmelo e as Almas do Purgatório |
Muito
felizes são os devotos desta piedosíssima Mãe. Pois Ela não só
os socorre neste mundo, mas também no Purgatório são assistidos e
consolados com a sua proteção. Por terem essas almas maior precisão
de socorro, empenha-se a Mãe de Misericórdia com zelo ainda mais
intenso em auxiliá-las. Elas muito padecem e nada podem fazer por si
mesmas. Diz São Bernardino de Siena que Maria Santíssima tem nesse
cárcere certo domínio e pleno poder, tanto para aliviá-las como
também para livrá-las completamente daquelas penas. […]
Refere
São Pedro Damião que certa mulher chamada Marózia apareceu depois
de morta a uma sua comadre, e lhe disse que no dia da Assunção de
Maria havia sido libertada do Purgatório. Que juntamente com ela
saíra um tão considerável número de almas, que excedia o da
população de Roma. A respeito das festividades do Natal e da
Ressurreição do Senhor, assevera Dionísio Cartusiano o mesmo
privilégio. Diz que em tais dias desce Maria ao Purgatório,
acompanhada por muitos anjos, e livra uma quantidade de almas
daquelas penas. E Novarino inclina-se a crer que o mesmo sucede em
todas as festas solenes da Santa Igreja.
Conhecidíssima
é a promessa que Maria fez ao Papa João XXII. Apareceu-lhe certo
dia e ordenou-lhe fizesse saber a todos aqueles que trouxessem o
escapulário do Carmo, que seriam livres do Purgatório no primeiro
sábado depois da morte. Fê-lo o Papa por uma Bula que publicou, e
que foi depois confirmada por Alexandre VII, Pio V, Gregório XIII e
Paulo V. […]
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“Ó
CLEMENTE, Ó PIEDOSA”
Rainha dos Corações e São Luís Maria Grignion de Montfort |
São
João acrescenta que Maria tem entranhas de tanta misericórdia, que
merece ser chamada não só misericordiosa, mas a própria
misericórdia. Por causa dos infelizes foi Maria constituída Mãe de
Deus e colocada para lhes dispensar misericórdia, ensina-nos São
Boaventura. Considera em seguida a imensa solicitude que Ela tem para
com todos os miseráveis, bem como a sua grande bondade, que acima de
tudo consiste em socorrer os necessitados. Essa consideração leva o
santo a dizer: “Quando
olho para vós, ó Maria, parece-me não ver mais a divina justiça,
mas a divina misericórdia somente, da qual estais cheia”.
Em
suma, tanta lhe é a piedade que, como diz o abade Guerrico, “seu
amoroso coração não pode cessar um momento de ser misericordioso
conosco”.
“E
que outra coisa pode jorrar de uma fonte de piedade, senão piedade?”
–
pergunta São Bernardo. Por isso, Maria foi chamada “uma
bela oliveira no campo”
(Ecli.
24, 19). Como da oliveira só sai o óleo, símbolo da misericórdia,
também só graças e misericórdias destilam as mãos de Maria. […]
Do
imperador romano Tito, conta Suetônio, que tinha muito prazer em
conceder as graças que se lhe pediam. No dia em que não tinha
ocasião de conceder alguma, lastimava-se, dizendo: “Hoje
foi um dia perdido para mim”.
Tito assim falava, provavelmente mais por vaidade ou por ambição de
ser estimado que por verdadeira caridade. Nossa Rainha, porém, se
possível lhe fosse passar um dia sem dispensar algum favor,
julgá-lo-ia perdido, tão grande é sua caridade, seu desejo de
espalhar benefícios. E até afirma o Bem-aventurado Bernardino de
Busti: “Ela
tem mais ânsia de nos fazer favores, do que nós temos desejo de os
receber. Por isso, sempre que a invocamos, a encontramos com as mãos
cheias de misericórdia e liberalidade”.
[…]
Concluamos
com a elegante e terna exclamação de São Boaventura: “Ó
clemente, ó piedosa, ó doce Virgem Maria! Ó Maria, sois clemente
para com os miseráveis, compassiva para com os que vos invocam, doce
para com os que vos amam; sois clemente para com os penitentes,
compassiva para com os justos, doce para com os perfeitos. Mostrai
vossa clemência, livrando-nos dos castigos; vossa piedade,
dispensando-nos as graças; vossa doçura, dando-nos a quem vos
procura”.
❀ ❀
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“Ó
DOCE VIRGEM MARIA”
São Bernardo e a Santa Mãe de Deus |
O
sublime nome de Maria não foi encontrado na Terra, nem inventado
pelo entendimento ou arbítrio dos homens, como se dá com os outros
nomes. Veio de Deus e foi-lhe imposto por ordem divina, como o
atestam São Jerônimo, Santo Epifânio, Santo Antonino e outros. Diz
Ricardo de São Lourenço: “A
Santíssima Trindade vos conferiu este nome, ó Maria, que é
superior a todo nome, depois do nome do vosso Filho; Ela enriqueceu-o
de tanto poder e majestade, que ao proferi-lo, quer que se dobrem os
joelhos dos que estão no Céu, na Terra e no inferno. O Senhor
outorgou vários privilégios ao nome de Maria. Consideremos apenas
um entre todos os demais: quanto Deus o fez suave na vida e na morte
aos servos dessa Santíssima Senhora”.
Honório,
santo anacoreta, dizia que o nome de Maria é cheio de divina doçura,
e o glorioso Santo Antônio de Pádua nele achava tanta doçura como
São Bernardino no de Jesus. “O
nome da Virgem Mãe
—
repetia ele —
é
alegria para o coração, mel para a boca, melodia para o ouvido de
seus devotos”.
Muito grande era a doçura que achava nesse nome o venerável
Juvenal, Bispo de Saluzzo. Lê-se em sua vida que se lhe notava nos
traços do rosto a sensível doçura, que lhe ficara nos lábios,
sempre que pronunciava o nome de Maria. Coisa idêntica sabe-se de
uma senhora de Colônia, que contou ao Bispo Marsilio sentir sempre
um sabor mais doce que o mel, toda vez que pronunciava o nome da
Virgem Santíssima. E, repetindo-o devotamente, o bispo experimentou
a mesma doçura.
No
momento da Assunção da Senhora, três vezes perguntaram-se os anjos
pelo nome: “Quem
é esta que sobe pelo deserto, como uma varinha de fumo composta de
aromas de mirra e de incenso?”
(Cânt.
3, 6). “Quem
é esta que vai caminhando como a aurora quando se levanta?”
(Cânt.
6, 9). “Quem
é esta que sobe do deserto inundando delícias?”
(Cânt.
8, 5). E por que lhe indagam com tanta insistência o nome? —
pergunta Ricardo de São Lourenço. É para terem o prazer de ouvi-lo
mais vezes, tão suavemente lhes soava aos ouvidos.
Mas
não falo aqui dessa doçura sensível, porque esta não se concede
comumente a todos. Falo dessa salutar doçura de conforto, de amor,
de alegria, de confiança e de fortaleza, que este nome de Maria
ordinariamente dá àqueles que o pronunciam com devoção.
Na
opinião de Franco abade, “é
esse nome tão rico de bênçãos que, depois do nome de Jesus, nem
no Céu nem na Terra outro se profere e do qual as almas devotas
recebam tanta graça, tanta esperança, nem tanta doçura. Porque o
nome de Maria contém em si uma virtude tão admirável, tão doce e
tão divina, que deixa nos corações amigos de Deus um odor de santa
suavidade”.
[…]
Abrasado
de amor, assim falava ternamente São Bernardo à sua bondosa Mãe:
“Ó
excelsa, ó bondosa e veneranda Virgem Maria! Como é vosso nome tão
cheio de doçura e de amabilidade! Ninguém o pode proferir, sem que
se veja abrasado de amor para com Deus e para convosco”.
[…]
Pelo
contrário, os demônios, diz Tomás de Kempis, tanto receiam a
Rainha do Céu que, como do fogo, fogem de quem invoca o seu grande
nome. A própria Virgem revelou o seguinte a Santa Brígida: “Por
endurecido que seja um pecador, imediatamente o abandona o demônio,
se invoca meu nome com o propósito de emendar-se”.
Isso
mesmo lhe confirmou em outra revelação, dizendo: “Todos
os demônios têm um grande pavor e respeito diante de meu nome.
Assim que o ouvem invocar, largam de pronto a alma presa em suas
garras”.
E
se os anjos maus se afastam dos pecadores que chamam pelo nome de
Maria, os anjos bons tanto mais se chegam às almas justas que o
pronunciam com devoção.
Sigamos
sempre, por conseguinte, o belo conselho de São Bernardo: “Nos
perigos, nos apuros, nas dúvidas, pensa em Maria, invoca a Maria;
nunca
se aparte seu nome de teus lábios, de teu coração. Em todos os
perigos de perder a graça divina pensemos em Maria, invoquemos o seu
nome e o de Jesus, para que andem sempre unidos esses dois nomes.
Nunca se apartem nem do nosso coração, nem da nossa boca, esses
dois dulcíssimos e poderosíssimos nomes. Pois eles nos darão
forças para não cairmos e para vencermos sempre todas as
tentações”.
❀ ❀
❀ ❀ ❀
O
NOME DE MARIA É DOCE, SOBRETUDO NA HORA DA MORTE
Santíssimo Nome de Maria |
Dulcíssimo
é, pois, na vida, aos devotos de Maria, seu nome santíssimo, porque
— como já vimos — lhes alcança graças extraordinárias. Muito
mais doce, porém, ser-lhes-á na última hora, proporcionando-lhes
uma suave e santa morte. […]
Roguemos,
pois, meu amado e devoto leitor; roguemos a Deus que nos conceda a
graça de ser o nome de Maria a última palavra que a nossa língua
pronuncie. Roguemos a Deus que no-la conceda, como lha pedia um São
Germando, dizendo: “Ó
doce e segura morte, a que é acompanhada e protegida com este nome
de salvação, o qual Deus só concede proferir àqueles a quem quer
salvar!”.
Ó
minha doce Mãe e Senhora, eu vos amo, e porque vos amo, amo também
o vosso nome. Proponho e espero com o vosso socorro invocá-lo sempre
na vida e na morte. Concluo, pois, com a terna oração de São
Boaventura: “Para
a glória do vosso nome, ó bendita Senhora, quando minha alma sair
deste mundo, vinde-lhe ao encontro e tomai-a em vossos braços.
Dignai-vos vir consolá-la com a vossa doce presença; sede o seu
caminho para o Céu, alcançai-lhe a graça do perdão e o eterno
descanso. Ó Maria, advogada nossa, a vós pertence defender os
vossos devotos, e tomar a vosso encargo a sua causa diante do
tribunal de Jesus Cristo”.
FIM
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FONTE:
Revista “Catolicismo”,
nº 725, Maio de 2011.
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