À VIRGEM IMACULADA: “SALVE RAINHA, MÃE DE MISERICÓRDIA”
(Primeira
Parte)
Rainha Imaculada, Nossa Senhora da Medalha Milagrosa a Dispensadora de Todas as Graças (Rua du Bac, 140, Paris) |
Neste
mês que a Igreja celebra a Solenidade da Assunção de Maria1
ao céu, em corpo e alma, e em seguida, a Festa Nossa Senhora
Rainha2,
reproduziremos artigo publicado pela Revista “Catolicismo”,
número 725, de Maio de 2011, sob o título “Mas
quem terá escrito coisas tão belas sobre a Mãe de Deus?”,
consistente num maravilhoso resumo da primeira parte de uma das obras
– talvez a mais célebre – de Santo Afonso Maria de Ligório:
“Glórias
de Maria”.
A
obra foi escrita pelo Santo no ano de 1750, quando tinha 53 anos de
idade, e em pouco tempo alcançou 11 edições, estando atualmente
traduzida em praticamente todas as línguas. É, sem dúvida, um
verdadeiro tributo à Santíssima Virgem Maria, que continua
promovendo inestimável divulgação da devoção mariana.
Uma
fato curioso: quando já estava bem idoso, Santo Afonso pediu a um de
seus irmãos Redentorista, que lesse-lhe algum livro de piedade,
tendo o referido irmão lido o “Glórias
de Maria”,
e logo depois perguntou o Santo: “Mas
quem terá escrito coisas tão belas sobre a Mãe de Deus?”
O
religioso olhou a capa e leu o nome do autor: Afonso Maria de
Ligório. Diante da resposta, Santo Afonso, com sua peculiar
humildade, mudou de assunto.
A
primeira parte da obra corresponde à Explicação da oração da
SALVE
RAINHA3,
e das
“abundantes e numerosas graças dispensadas pela Mãe de Deus aos
que a servem devotamente”, como destaca o artigo publicado.
Em
razão da extensão e preciosidade dos textos, resolvemos dividi-lo
em três partes, e hoje publicamos a Primeira Parte.
Sou todo teu, Maria.
Sou todo teu, Maria.
“SALVE,
RAINHA, MÃE DE MISERICÓRDIA”
Tendo
sido a Santíssima Virgem elevada à dignidade de Mãe de Deus, com
justa razão a Santa Igreja a honra, e quer que seja honrada por
todos com o título glorioso de Rainha. Se o Filho é Rei — diz o
Pseudo Atanásio — justamente a Mãe deve considerar-se e chamar-se
Rainha.
Santo Afonso M. de Ligório, idoso, rodeado por Redentoristas |
Desde
o momento que Maria aceitou ser Mãe do Verbo Eterno — diz São
Bernardino de Siena —, mereceu tornar-se Rainha do mundo e de todas
as criaturas. Se a carne de Maria, conclui Arnoldo abade, não foi
diversa da de Jesus, como, pois, pode a Mãe ser separada da
monarquia do Filho? Por isso deve julgar-se que a glória do reino
não só é comum entre Mãe e o Filho, mas também que é a mesma
para ambos.
Se
Jesus é Rei do Universo, do Universo também é Maria Rainha —
escreve Roberto abade. De modo que, na frase de São Bernardino de
Siena, quantas são as criaturas que servem a Deus, tantas também
devem servir a Maria.
Por
conseguinte, estão sujeitos ao domínio de Maria os anjos, os homens
e todas as coisas do Céu e da Terra, porque tudo está também
sujeito ao império de Deus. Eis por que Guerrico abade lhe dirige
estas palavras: “Continuai,
pois, a dominar com toda a confiança; disponde ao vosso arbítrio
dos bens de vosso Filho; pois, sendo Mãe, e Esposa do Rei dos reis,
pertence-vos como Rainha o reino e o domínio sobre todas as
criaturas”.
❀ ❀
❀ ❀ ❀
MARIA
É RAINHA DE MISERICÓRDIA
Maria
é, pois, Rainha. Mas saibamos todos, para consolação nossa, que é
uma Rainha cheia de doçura e de clemência, sempre inclinada a
favorecer e fazer bem a nós, pobres pecadores. Quer por isso a
Igreja que a saudemos nesta oração com o nome de Rainha de
Misericórdia. O próprio nome de rainha — considera Santo Alberto
Magno — denota piedade e providência para com os pobres, enquanto
o de imperatriz dá ares de severidade e rigor. A magnificência dos
reis e das rainhas consiste em aliviar os desgraçados, diz Sêneca.
Enquanto os tiranos governam tendo em vista apenas seus interesses
pessoais, os reis devem procurar o bem de seus vassalos. Por isso na
sagração dos reis se lhes unge a testa com óleo. É o símbolo da
misericórdia e benignidade de que devem estar animados para com seus
súditos.
Devem,
pois, os reis empenhar-se principalmente nas obras de misericórdia,
mas sem omitir, quando necessária, a justiça para com os réus. Não
assim Maria. Se bem que seja Rainha, não é rainha de justiça,
zelosa do castigo aos malfeitores. É Rainha de Misericórdia,
inclina só à piedade e ao perdão dos pecadores. Por isso deseja a
Igreja que expressamente lhe chamemos Rainha de Misericórdia. […]
Quanta
não deve ser, pois, a nossa confiança nesta Rainha, sabendo nós
quanto Ela é poderosa perante Deus e cheia de misericórdia para com
os homens![...]
Recorramos,
pois, e recorramos sempre à proteção desta dulcíssima Rainha, se
queremos seguramente salvar-nos. Espanta e desanima-nos a visão de
nossos pecados? — Lembremo-nos então que Maria foi eleita Rainha
de Misericórdia, precisamente para, com sua proteção, salvar os
maiores e mais abandonados pecadores que a Ela se recomendam. […]
❀ ❀ ❀
❀ ❀
MARIA
É NOSSA MÃE ESPIRITUAL
O
pecado, quando privou a nossa alma da divina graça, privou-a também
da vida. Estávamos, pois, miseravelmente mortos, quando veio Jesus,
nosso Redentor, com excessiva misericórdia e amor, restituir-nos a
vida pela sua morte na cruz. Ele mesmo o declarou: “Eu
vim para elas
(as ovelhas) terem
a vida, e para a terem em maior abundância”
(Jo
10, 10). […]
Se
Jesus é Pai de nossas almas, Maria é a Mãe. Pois concedendo-nos
Jesus, deu-nos Ela a verdadeira vida. Em seguida proporcionou-nos a
vida da divina graça, quando ofereceu no Calvário a vida do Filho
pela nossa salvação. Em duas diferentes ocasiões tornou-se,
portanto, Maria nossa Mãe espiritual, como ensinam os Santos Padres.
[…]
Jesus
quis ser o único a morrer pela redenção do gênero humano. “Eu
calquei o lagar sozinho”
(Is
63, 3). Mas viu como Maria desejava ardentemente tomar parte na
salvação dos homens. Decidiu então que Ela, com o sacrifício e a
oferta da vida do seu mesmo Jesus, cooperasse para nossa salvação,
e deste modo viesse a ser Mãe de nossas almas. […]
❀ ❀ ❀ ❀ ❀
MARIA
É MÃE MUITO SOLÍCITA E DESVELADA
“Eu
sou a Mãe do belo amor”
—
diz Maria (Ecli. 24, 24). O amor de Maria — observa certo autor —
embeleza nossas almas aos olhos de Deus e leva essa amorosa Mãe a
nos ter por filhos. Onde está a Mãe, pergunta São Boaventura, que
ame seus filhos e vele sobre eles como vós, dulcíssima Rainha, nos
amais e cuidais de nosso adiantamento espiritual? […]
Em
todas as batalhas com o inferno seremos sempre vencedores
seguramente, se recorrermos à Mãe de Deus e nossa, dizendo e
repetindo: “Sob
a tua proteção nos refugiaremos, ó Santa Mãe de Deus!”
[…]
Alegrai-vos,
portanto, todos os que sois filhos de Maria. Sabei que Ela aceita por
filhos seus quantos o querem ser. Exultai! Como temer por vossa
salvação, tendo esta Mãe que vos defende e protege?
❀ ❀ ❀
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GRANDEZA
DO AMOR DE MARIA PARA CONOSCO
Maria
não pode deixar de amar-nos. Se, pois, Maria é nossa Mãe,
consideremos quanto Ela nos ama. O amor dos pais para com os filhos é
um amor necessário. E esta é a razão — adverte Santo Tomás —
por que, pondo a divina lei preceito aos filhos de amarem os pais,
não pôs preceito expresso aos pais de amarem os filhos. Pois o amor
aos próprios filhos é amor com tanta força imposto pela própria
natureza, que mesmo as feras mais cruéis — como disse Santo
Ambrósio — não podem deixar de amá-los.
Contam
os naturalistas que até o tigre, ouvindo o bramido dos filhotes
capturados pelos caçadores, se lança ao mar e vai nadando até o
navio em que os levam. Se, pois, nem os próprios tigres se esquecem
de sua prole — diz nossa Mãe terníssima —, como poderei eu
esquecer-me de meus filhos? “Pode
acaso uma mulher esquecer sua criança de braço, de sorte que não
tenha compaixão do filho de suas entranhas? Mas se ela a esquecer,
eu todavia não me esquecerei de ti”(Is
49, 15). “E
se em algum tempo
— continua a Virgem — se
desse o caso de uma mãe se esquecer de um filho, não é possível
que eu cesse de amar uma alma, de que sou Mãe”.
[…]
Reuníssemos
nós, enfim, o amor de todas as mães a seus filhos, de todos os
esposos às suas esposas, de todos os anjos e santos para com seus
devotos, não igualaria todo esse amor ao que Maria tem a uma só
alma. É mera sombra o amor de todas as mães aos seus filhos, quando
comparado ao de Maria para conosco, diz o Padre Nieremberg. Muito
mais nos ama Ela só — diz o mesmo padre —, do que amam uns aos
outros os anjos e santos. […]
É
notório que Maria foi solícita para com todo o gênero humano. É,
portanto, muito recomendável a prática de alguns devotos de Maria,
os quais — como refere Cornélio a Lápide — costumam pedir ao
Senhor lhes conceda aquelas graças, que para eles lhe pede a
Santíssima Virgem. E com razão, diz o citado a Lápide, pois a
nossa Mãe deseja-nos bens maiores do que nós mesmos poderíamos
desejar.
O
devoto Bernardino de Busti afirma que Maria deseja fazer-nos bem, e
conceder-nos favores, ainda mais do que nós desejamos recebê-los.
Segundo Santo Alberto Magno, aplicam-se essas palavras do livro da
Sabedoria: “Ela
se antecipa aos que a desejam e se lhes patenteia primeiro”
(Sab.
6, 14). Antecipa-se Maria a quantos a Ela recorrem, para que a
encontrem antes que a busquem. “É
tal o bem-querer alvoroçado desta Mãe,
diz
Ricardo,
que
vem logo ao nosso socorro e descobre as nossas precisões. Tão boa
Mãe é, pois, Maria para todos, até para os ingratos e indiferentes
que pouco a invocam e amam! Que Mãe será então para aqueles que a
amam e com frequência a invocam?”
“Os
que a amam encontram-na facilmente”
(Sab.
6, 12). […]
Tem,
pois, razão São Boaventura ao exclamar: “Bem-aventurados
aqueles que têm a dita de ser fiéis servos e amantes desta Mãe
amantíssima!”
Sim,
porque esta gratíssima Rainha não admite que a vençam em amor os
seus devotos servidores. Maria, imitando nisto Nosso Senhor Jesus
Cristo, com seus benefícios e favores dá a quem a ama o seu amor
duplicado. Exclamarei, pois, com o inflamado Santo Anselmo: “Sempre
arda por vós o meu coração, e toda a minha alma se consuma no
vosso amor, ó Jesus, meu amado Salvador, ó Maria, minha amada Mãe.
Concedei, pois ó Jesus e Maria, a graça de amar-Vos, já que sem a
vossa graça não posso fazê-lo. Concedei à minha alma pelos vossos
merecimentos, não pelos meus, que eu vos ame quanto vós mereceis. Ó
Deus tão amante dos homens, vós pudestes morrer pelos vossos
inimigos. E a quem vo-la pede, poderíeis negar a graça de amar a
vós e a vossa Mãe?”
[...]
Continua
…
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FONTE:
Revista
“Catolicismo”,
nº 725, Maio de 2011.
_________________
1 Sua
Santidade, o Papa Pio XII, por meio da Constituição Apostólica
Munificentissimus
Deus,
em
1º de Novembro de 1950, instituiu como dogma a Assunção de Nossa
Senhora em Corpo e Alma ao Céu (cf.
http://w2.vatican.va/content/pius-xii/pt/apost_constitutions/documents/hf_p-xii_apc_19501101_munificentissimus-deus.html )
2 Essa
Festa também foi
instituída pelo Santo Padre Pio XII, através da Carta Encíclica
Ad
Caeli Reginam sobre
a Realeza de Maria e a Instituição de sua Festa, em 10 de Outubro
de 1954, com essa exortação: “Depois
de atentas e ponderadas reflexões, tendo chegado à convicção de
que seriam grandes as vantagens para a Igreja, se essa verdade
solidamente demonstrada resplandecesse com maior evidência diante
de todos como luz que brilha mais, quando posta no candelabro, –
com a nossa autoridade apostólica decretamos e instituímos a festa
de Maria rainha, para ser celebrada cada ano em todo o mundo no dia
31 de maio. Ordenamos igualmente que no mesmo dia se renove a
consagração do gênero humano ao seu coração imaculado. Tudo
isso nos incute grande esperança de que há de surgir nova era,
iluminada pela paz cristã e pelo triunfo da religião.”
(cf.
https://w2.vatican.va/content/pius-xii/pt/encyclicals/documents/hf_p-xii_enc_11101954_ad-caeli-reginam.html)
Com a Reforma do Calendário Universal do Rito romano, a festa
passou a ser celebrada na Oitava da Assunção de Maria, ou seja, 22
de Agosto.
3 A
título de curiosidade, a edição mais recente que possuímos da
obra “Glórias de Maria”, publicada pela Editora Santuário, é
de 2015 (30ª impressão), e a 1ª Parte, cujo resumo postaremos em
três partes, contém 199 páginas.
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