À VIRGEM IMACULADA: “SALVE RAINHA, MÃE DE MISERICÓRDIA”
(Segunda
Parte/Continuação)
MARIA
TAMBÉM É MÃE DOS PECADORES ARREPENDIDOS
Maria
garantiu a Santa Brígida que é Mãe não só dos justos e
inocentes, mas também dos pecadores que se querem emendar. Se,
desejoso de emenda, recorre um pecador a esta Mãe de Misericórdia,
oh, como a encontra pronta para o abraçar e socorrer, ainda mais do
que se fosse sua mãe corporal. Era justamente o que o Papa Gregório
VII escrevia à princesa Matilde: “Desiste
da vontade de pecar e acharás Maria, eu o garanto, mais pronta em
amar-te do que tua própria mãe”.
Portanto,
quem aspira ser filho desta grande Mãe, é preciso que primeiro
deixe o pecado, e depois será sem dúvida aceito por filho. […]
Mas
como ousará chamar-se filho de Maria quem tanto a desgosta com a sua
má vida? Certo pecador disse um dia a Maria: “Mostra
que és minha Mãe?”
E
a Virgem lhe respondeu? “Mostra
que és meu filho!”
Um
outro, invocando-a, chamava-lhe Mãe de Misericórdia. Mas Ela lhe
disse: “Vós,
os pecadores, quando quereis que vos ajude, me chamais de Mãe de
Misericórdia; e depois por vossos pecados não cessais de me fazer
Mãe de misérias e de dores”.
[…]
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EFEITOS
DO AMOR DE MARIA PARA COM OS PECADORES
Suponhamos
que uma mãe soubesse que dois filhos seus eram inimigos mortais,
intentando um tirar a vida do outro. Em tal conjuntura não seria
dever de toda boa mãe procurar encarecidamente como pacificá-los?
Assim pergunta Conrado de Saxônia. “Ora,
Maria é Mãe de Jesus e Mãe dos homens. Aflige-se quando vê um
pecador inimizado para com Jesus e tudo faz por reconciliá-lo com
seu divino Filho”.
Virgem com o Globo (Virgem Poderosa), Rainha do Mundo |
Do
pecador só exige a benigníssima Rainha que se recomende a Ela e
tenha o propósito de emendar-se. Vendo-o a seus pés a implorar-lhe
perdão, não olha para o peso de seus pecados, mas para a intenção
com que se apresenta. Se esta é boa, nem que o pobre haja cometido
todos os pecados do mundo, abraça-o e como terna Mãe, não desdenha
curar-lhe as chagas que traz na alma. Pois é Mãe de Misericórdia,
não só de nome, senão de fato, e em verdade tal se mostra pela
ternura e pelo amor com que nos socorre. A própria Virgem Santíssima
assim o revelou a Santa Brígida. “Por
mais culpado que seja um homem, se vem a mim com sincero
arrependimento, estou sempre pronta a acolhê-lo. Não considero a
enormidade de suas faltas, mas tão somente as disposições do seu
coração. Não recuso ungir e curar as suas feridas, porque me chamo
e realmente sou Mãe de Misericórdia”.
É
Maria a Mãe dos pecadores que se querem converter. Como tal não
pode deixar de compadecer-se deles. Parece até que sente como
próprios os males de seus pobres filhos. A cananéia, ao pedir que o
Senhor lhe livrasse a filha do demônio que a atormentava,
disse-lhe:“Senhor,
Filho de David, tem compaixão de mim; minha filha está muito
atormentada pelo demônio”
(Mt
15, 22). Mas se a filha, e não a mãe, era atormentada pelo demônio,
parece que deveria dizer: “Senhor,
tem piedade de minha filha!”
Mas
não; ela disse: “Tem
compaixão de
mim”
e
com muita razão. Pois sentem as mães como próprios os sofrimentos
dos filhos. Ora, do mesmo modo, disse Ricardo de São Lourenço, pede
Maria a Deus quando intercede por qualquer pecador que a Ela recorre.
Pede-lhe que dela se compadeça. Meu Senhor — parece dizer-lhe —
esta pobre alma, que está em pecado, é minha alma; por isso
compadecei-vos não tanto dela, como de mim, que sou sua mãe. […]
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“VIDA
E DOÇURA NOSSA”
A
oração de Maria obtém-nos a graça da justificação. Para a exata
compreensão do porquê a Santa Igreja nos ordena que chamemos Maria
de nossa vida, é necessário saber que, assim como a alma dá vida
ao corpo, assim também a graça divina dá vida à alma. Uma alma
sem a graça divina só tem nome de viva, mas na realidade está
morta, como foi dito àquele bispo no Apocalipse: “Tens
reputação de que vives, mas estás morto”
(Apoc.
3,1). Obtendo Maria, por meio de sua intercessão, a graça aos
pecadores, deste modo lhes dá vida. Ouçamos as palavras que a
Igreja lhe põe na boca, aplicando-lhe a seguinte passagem do livro
dos Provérbios: “Os
que vigiam desde manhã por me buscarem, achar-me-ão.”
(8,
17). Os que recorrem a mim desde manhã, isto é, sem demora,
certamente me acharão. Ou, segundo a tradução grega: encontrarão
a graça. De modo que, recorrer a Maria é recorrer à graça de
Deus. Lemos por isso pouco depois: “Quem
me encontra, encontra a vida e receberá do Senhor a salvação”
(Prov.
8, 35). “Ouvi-o,
vós que procurais o reino de Deus
—
exclamou São Boaventura —
honrai
a Santíssima Virgem Maria e achareis a vida juntamente com a eterna
salvação”.
Na
afirmação de São Bernardino de Siena, Deus não destruiu o homem
logo após o pecado, devido ao singular amor para com esta sua futura
filha. Não lhe resta a menor dúvida de que todas as misericórdias
e mercês, em favor dos pecadores na Antiga Lei, só lhes tinham sido
feitas por Deus em consideração desta abençoada Virgem. […]
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MARIA
É TAMBÉM NOSSA VIDA, PORQUE NOS ALCANÇA A PERSEVERANÇA
A
perseverança final é um dom divino tão grande que, como disse o
santo Concílio de Trento, é um dom todo ele gratuito que de nenhum
modo podemos merecer. Contudo, Santo Agostinho diz que alcançam de
Deus a perseverança todos aqueles que lha pedem. E conforme diz o
Padre Suárez, infalivelmente a alcançam os que são diligentes até
ao fim da vida em pedi-la a Deus. Por isso escreve São Belarmino:
“Peça-se
a perseverança todos os dias, para que ela seja obtida cada dia”.
Ora, se é verdade — como eu o tenho por certo, conforme sentença
hoje comum que depois mostrarei — que todas as graças que Deus nos
dispensa passam pelas mãos de Maria, é também verdade que só por
meio de Maria podemos esperar e conseguir esta sublime graça da
perseverança. Esta mesma graça Ela promete a todos aqueles que
fielmente a servem nesta vida. “Os
que agem por mim não pecarão; aqueles que me tornam conhecidos,
terão a vida eterna”
(Ecli.
24, 30). […]
A Virgem Imaculada com a coroa do martírio a São Maximiliano M. Kolbe |
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POR
INTERMÉDIO DE MARIA OBTEREMOS A GRAÇA DA PERSEVERANÇA
Com
as palavras do livro dos Provérbios, a nós se dirige Maria: “Feliz
aquele que me ouve e que vela todos os dias à entrada da minha casa”
(8,
34). Feliz quem escuta a minha voz e por isso está alerta para vir
sempre à porta da minha misericórdia, em busca de socorro e de
luzes. Sem dúvida não deixará Maria de obter-lhe luzes e força
para sair do vício e trilhar a vereda da virtude. Pelo que
graciosamente Inocêncio III a chama “lua
de noite, aurora de manhã, sol de dia”.
É
lua para quem está cego na noite do pecado, a fim de esclarecê-lo e
mostrar-lhe o miserável estado de condenação em que se acha. É
aurora, isto é, precursora do sol para quem já está iluminado, a
fim de fazê-lo sair do pecado e recuperar a divina graça. Para quem
já está em graça é finalmente sol, cuja luz o livra de cair em
algum precipício. […]
Concluamos,
pois, com as palavras de São Bernardo: “Homem,
quem quer se sejas, já sabes que nesta vida vais flutuando mais
entre perigos e tempestades, do que caminhando sobre a terra. Se não
queres ser submergido, não apartes os olhos dos resplendores desta
estrela. Olha para a estrela, chama por Maria. Nos perigos de pecar,
nas moléstias das tentações, nas dúvidas do que deves resolver,
considera que Maria te pode ajudar, chama logo por Ela para que te
socorra. O seu poderoso nome nunca se aparte do teu coração pela
confiança, nem da tua boca para o entoares. Seguindo a Maria, não
errarás o caminho da salvação. Quando te encomendares a Ela, não
desconfies; sustendo-te, não cairás. Protegendo-te Ela, não temas
perder-te; sendo tua guia, sem fadiga te salvarás. Em suma,
pretendendo Maria defender-te, certamente chegarás ao reino dos
bem-aventurados”.
[…]
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“DOÇURA
NOSSA, SALVE”
“Aquele
que é amigo o é em todo tempo; e nos transes apertados conhece-se o
irmão”
(Prov.
17, 17). Os amigos verdadeiros e os verdadeiros parentes não se
conhecem no tempo de prosperidades, mas sim no das angústias e das
desventuras. Os amigos do mundo não deixam o amigo, enquanto ele
está na prosperidade. Mas o abandonam imediatamente, se lhe acontece
uma desgraça ou dele se avizinha a morte. Tal não é o procedimento
de Maria para com seus devotos. Nas
suas angústias e especialmente nas da morte, que de todas são as
piores, essa boa Senhora e Mãe não abandona seus fiéis servos. […]
Quando
uma alma está para sair desta vida, diz Isaías, o inferno todo se
conturba e manda os demônios mais terríveis a tentá-la antes de
sair do corpo para depois acusá-la, quando se apresentar ao tribunal
de Jesus Cristo. “O
inferno lá embaixo se agita para receber-te à tua chegada e diante
de ti levanta gigantes”
(Is
14, 9). Mas Ricardo diz que os demônios, em se tratando de uma alma
patrocinada por Maria, não terão atrevimento, nem mesmo para
acusá-la. Pois sabem muito bem que o Juiz nunca condenou, nem
condenará jamais uma alma patrocinada por sua grande Mãe.
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“ESPERANÇA
NOSSA, SALVE”
Não
suportam os hereges que saudemos e chamemos a Maria nossa esperança.
Dizem que só Deus é nossa esperança, e que Ele amaldiçoa quem põe
sua confiança na criatura. “Maldito
o homem que confia no homem”
(Jer
17, 5). Maria é criatura, objetam eles; como, pois, uma criatura há
de ser a nossa esperança? Isto dizem os hereges. Entretanto a Santa
Igreja quer que cada dia todos os eclesiásticos e todos os
religiosos em voz alta, e em nome de todos os fiéis, invoquem e
chamem a Maria com este nome de esperança nossa.
De
dois modos — diz o angélico Santo Tomás — podemos pôr nossa
esperança numa pessoa: como causa principal ou como causa mediata.
Quem deseja obter do rei uma graça, espera alcançá-la dele como
soberano senhor, e espera obtê-la do seu ministro ou válido, como
intercessor. No último caso a graça concedida veio do rei, mas por
intermédio do seu valido. Portanto, quem pretende a graça, com
razão chama aquele seu intercessor de sua esperança. Por ser de
infinita bondade, o Rei do Céu deseja sumamente nos enriquecer com
as suas graças. Mas porque para isso é necessária da nossa parte a
confiança, para aumentá-la deu-nos o Senhor sua própria Mãe por
advogada e intercessora, e concedeu-lhe plenos poderes a fim de nos
valer. Por esta razão quer também que nela coloquemos a esperança
de nossa salvação e de todo nosso bem. Sem dúvida são
amaldiçoados pelo Senhor — como diz Jeremias — aqueles que põem
sua confiança unicamente na criatura.
Tal
é o procedimento dos pecadores que, em troca da amizade e dos
préstimos de um homem, não se incomodam de ofender a Deus. São
abençoados pelo Senhor e lhe são agradáveis, porém, os que
esperam em Maria, tão poderosa como Mãe de Deus, para impetrar-lhe
as graças e a vida eterna. Pois assim Deus quer ver aquela excelsa
criatura honrada, Ela que neste mundo o amou e honrou mais do que
todos os anjos e homens juntos.
É,
portanto, com muita razão que chamamos a Virgem de esperança nossa,
porque, como diz o Cardeal São Roberto Belarmino, “esperamos
pela sua intercessão obter o que não alcançaríamos só com nossas
orações”.
Invocamo-la,
observa Suárez, “para
que a dignidade da intercessora supra a nossa falta de méritos”.
De modo que, continua ele, “invocar
a Virgem com tal esperança não é desconfiar da misericórdia de
Deus, senão temer pela própria indignidade”.
[…]
Continua
…
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FONTE:
Revista
“Catolicismo”,
nº 725, Maio de 2011.
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