Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS!

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

SOLENIDADE DA SANTA MARIA, MÃE DE DEUS


«Salve, ó Santa Mãe de Deus, vós destes à luz o Rei que governa o céu e a terra pelos séculos eternos.» (Sedúlio)1

Escultura representando a Virgem Imaculada Nossa Senhora da Medalha Milagrosa na 1ª
Aparição a Santa Catarina Labouré, Julho de 1830, revelando os  acontecimentos  que
viriam, mas numa atitude bastante maternal, sentada em uma cadeira e a Vidente apoiando
os braços sobre os joelhos da Mãe de Deus.
 

Hoje – o primeiro dia do novo ano – a Igreja celebra a Solenidade de SANTA MARIA MÃE DE DEUS, e por esta solenidade nos lembra também que a paz nos veio por meio d'Aquela que gerou e deu ao mundo o PRÍNCIPE DA PAZ (Isaías 9,6), da verdadeira paz, da paz evangélica de que nos fala o próprio Cristo: «Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou» (João 14,27).
Beato Paulo VI. Foi papa entre 1963 e 1978.

Falo sobre paz, embora o nosso tema seja o dogma da Maternidade Divina de Maria, porque hoje, 1º de Janeiro, celebra-se também o Dia Mundial da Paz, instituído por sua Santidade o Papa Paulo VI, em 1967, expressando o desejo que essa celebração não se restringisse apenas aos Católicos, mas se difundisse a toda humanidade: A proposta de dedicar à paz o primeiro dia do novo ano não tem a pretensão de ser qualificada como exclusivamente nossa, religiosa ou católica. Antes, seria para desejar que ela encontrasse a adesão de todos os verdadeiros amigos da paz.2, ou seja, o desejo do Santo Padre era o de que sua iniciativa fosse aderida por todo orbe, através de uma sincera e consciente adesão, reconhecendo-se esse dom como meio eficaz de nos livrar, e libertar, de conflitos bélicos que ceifam tantas vidas inocentes. Questão não menos atual e preocupante em nos nossos dias.

A propósito, na primeira aparição da Virgem Imaculada a Santa Catarina Labouré, em Julho de 1830, foram anunciadas grandes desgraças para o mundo inteiro, especialmente para a França, e nas vezes que Nossa Senhora falava desses terríveis acontecimentos, a Santa notava a tristeza em seu semblante, especialmente quando se referia à perseguição à Igreja, desciam lágrimas de seus olhos. Esse sentimentos de preocupação e sofrimento expressados pela Virgem Santíssima, revelam seu maternal compromisso com a humanidade, cuja maternidade também assumiu quando deu seu Fiat ao anúncio do anjo, de que geraria o Filho de Deus.

A grande importância do “sim” de Maria para toda humanidade foi assim interpretada pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira: De modo que a aceitação por parte de Maria do dom divino foi altamente meritória. E o bem infinito que daí decorreu para todos nós, com a Redenção, efetivamente dependeu do fiat (faça-se) d’Ela. Assim, depois de Deus, a Ela devemos a possibilidade que nos foi aberta de salvarmos nossas almas e irmos para o Céu, até então fechado aos homens pela culpa de Adão.”3
A Anunciação do Anjo Gabriel.

Pois bem.

A Maternidade Divina de Maria é o primeiro dos quatro dogmas marianos4, e o mais antigo. É a primeira Festa Mariana da Igreja Ocidental, celebrada em Roma desde o século VI, no dia 1º de Janeiro de cada ano, provavelmente em razão da dedicação do templo de “Santa Maria Antiga” no Foro Romano5. A data desta celebração mariana já sofreu alterações. Inicialmente era festejada no dia 1º de Janeiro, oitava da Solenidade do Natal, quando comemorava-se a Festa da Circuncisão do Menino Jesus, mas, com o desaparecimento dessa festa, o Papa Pio XI instituiu, em 1931, em comemoração e memória ao XV Centenário do Concílio de Éfeso (431), o dia 11 de Outubro para celebração da proclamação solene de Santa Maria como verdadeira Mãe de Cristo, verdadeiro Filho de Deus.

Com a reforma do Calendário Litúrgico, após o Concílio Vaticano II, a solenidade voltou para o dia 1º de Janeiro, com o título de “Santa Maria, Mãe de Deus”6.

Embora esse privilégio de Nossa Senhora fosse reconhecido desde os primeiros séculos do cristianismo, sua proclamação, de fato, veio no Concílio de Éfeso, em 22 de Junho de 431, que assim expressou: Que seja excomungado quem não professar que Emanuel é verdadeiramente Deus e, portanto, que a Virgem Maria é verdadeiramente Mãe de Deus, pois deu à luz segundo a carne aquele que é o Verbo de Deus7, afirmando, por conseguinte, a unidade da pessoa de Cristo, ou seja, reconhecer Maria como Mãe de Deus (Theotókos) significa professar que Jesus, seu Filho segundo a geração humana, é o Filho de Deus.

Os fundamentos bíblicos desta profissão de fé são, sem dúvida, o anúncio da Encarnação pelo anjo: «O Espírito Santo descerá sobre ti, e o poder do Altíssimo te cobrirá com sua sombra. Por isso, aquele que vai nascer será chamado santo, Filho de Deus.» (Lucas 1:35), e a saudação de Isabel, cheia do Espírito do Santo: «Como mereço que a mãe do meu Senhor venha me visitar?» (Lucas 1:43). Assim, esse privilégio reconhecido à Santíssima Virgem está inteiramente apoiado na pessoa de Cristo, Deus e homem, isto é, se Jesus reunia em si as naturezas divina e humana, como professou o Apóstolo São Paulo (Filipenses 2:6-8), e tendo nascido de Maria, justo era reconhecer-se a Ela o título de Mãe de Deus.
A Visitação de Maria à sua prima Santa
Isabel

Não esqueçamos também do profeta Isaías, que muito antes da plenitude dos tempos, anunciou a encarnação do Messias no seio da Virgem: «Eis que a virgem conceberá, e dará luz um filho, e seu nome será Emanuel» (Isaías 7:14), que significa "Deus Conosco".

Entretanto, ao contrário do que se podia esperar, a definição deste dogma se deu após o inferno e seus sequazes representados, à época, por Nestório, terem lançado joio no meio do trigo, pregando que a Virgem Santa era apenas Mãe de Jesus homem, mas não Mãe de Deus, pois, para o heresiarca, Deus tinha habitado em um homem, mas não se tinha feito homem. Era a negativa do Mistério da Encarnação.

Vejamos o relato do trinfo de Maria Santíssima narrado pelo Padre Júlio Maria Lombaerde:

Aparece Nestório, que foi o primeiro a ousar negá-lo. Era uma novidade.

Não queria o heresiarca que se dissesse de nenhum modo que Deus ou o Verbo nascera de Maria, e que nem sequer morrera, mas que unicamente fora unido àquele que sofreu e morreu.

Deste modo ele estabelecia, no cristianismo, total distinção entre um homem e um Deus, arrebatando a Maria o seu título de Mãe de Deus – Deipara ou Theotócos, para substitui-lo pelo título de mãe de um homem unido à Divindade 'Theótocos', e pela diferença em pronunciar esta palavra tirava-lhe o sentido católico, para impingir-lhe a sua heresia.

Apenas começava a desabrochar o nestorianismo, e já era condenado pela Igreja inteira.

Numa das grandiosas assembleias um grande bispo, São Proclus, diante de Nestório e de seus partidários, bradou com toda a força: 'Dizer que Jesus Cristo é puramente homem é ser judeu; afirmar que é unicamente Deus, e que nada tem da natureza humana, é ser maniqueu, e, enfim, ensinar que o Cristo e o Verbo são dois, é estar separado de Deus'.
Santa Maria, Mãe de Deus (Theotókos)

E quando um dos adeptos do heresiarca proferia estas palavras: 'Anátema àquele que diz que Maria é Mãe de Deus', todo o povo que estava reunido na igreja soltou um grande e forte brado, levantando-se dali horrorizado e votando desprezo ao blasfemador audaz.

Este protesto do povo de Constantinopla, tão unânime e espontâneo, se assemelhava a um verdadeiro anátema, infligido ao heresiarca, porque, na verdade, era o brado da antiguidade, o brado do Evangelho, o brado do Espírito Santo, que, pela voz de Isabel, haviam proclamado Maria a Mãe de Deus.

Esta negação ímpia sublevou também todo o mundo cristão, que, possuído de santa indignação até em suas entranhas, reuniu em Éfeso cerca de duzentos bispos para protestar e defender diante de Deus e perante a humanidade a Virgem ultrajada!

A reunião teve lugar em Éfeso, na grandiosa igreja de 'Santa Maria', onde repousavam as relíquias do seu grande apóstolo, São João Evangelista.

Ora, desde que tiveram conhecimento desta célebre reunião, a Éfeso se dirigiram milhares de fiéis, vindos de todas as partes do Oriente, impacientes por saberem qual seria a decisão dos Santos Padres do Concílio.

Mas, como a última sessão durasse desde a manhã até alta noite, legiões de homens e mulheres acorreram de todos os lados da cidade ao templo de Maria Santíssima, onde se achavam reunidos os bispos, e, cercando-a por todos os lados, pediam, com lágrimas, que fossem confundidos os seus inimigos.


Para satisfação de tantos rogos e instâncias, o secretário do Concílio escreveu sobre uma folha avulsa estas curtas palavras: 'Maria triunfou!', e lançou o papel pela janela.

Ao ouvir esta palavra que, no momento, correu de boca em boca, irrompeu em toda a assembleia uma aclamação universal que fende os ares e em toda parte só se ouve este canto de triunfo: 'Viva a Mãe de Deus! Viva a Mãe de Deus!'

Num instante a noticia circula e propaga-se por toda a cidade, embandeiram-se as ruas, iluminam-se todas as casas, junca-se de ervas odoríferas o caminho por onde deviam transitar os padres do Concilio.

Desde que eles apareceram, foram saudados por milhares e milhares de vozes, em que se manifestava o contentamento e o júbilo, sendo conduzidos em triunfo ao som dos mais variados instrumentos e acompanhados em meio das mais vibrantes aclamações. São escoltados pela força pública, com as honras devidas à mais augusta assembleia do universo. Precedem-nos os homens, que carregam tochas acesas; as mulheres, do alto das janelas, lançam sobre as suas cabeças flores e mais flores; as crianças, apanhando-as todas, depositam-nas onde eles têm de passar.

Na frente caminhavam cem virgens, que levavam e queimavam odorífero incenso; enfim, cada estado e cada idade procura mostrar a sua alegria e testemunhar o seu reconhecimento.

Uns, prostrando-se à sua passagem, lhes imploram a bênção; outros curvam-se sobre as suas pegadas. Todos elogiam tão acertada decisão: e durante toda a noite, até ao amanhecer, repetem-se sem cessar, por toda parte, estas consoladoras palavras: 'Viva a Mãe de Deus! Viva a Mãe de Deus!'

Os habitantes de Éfeso e todos os peregrinos estranhos que ali haviam acorrido, representavam condignamente os sentimentos da humanidade inteira e exprimiam assim toda a veemência e a ternura expansiva do amor que votavam à Mãe do Salvador.

Seria possível que semelhantes cenas repercutissem ainda, no correr dos tempos, aos olhos dos cristãos? . . .

Bem sei que em Lourdes, em La Salette, em Pontmain, em Pellevoisin, Beauring, Fátima, Aparecida . . . testemunhas da aparição de Maria, a fé com impetuosidade, com vida e esperança, eleva os peitos e faz pulsarem os corações, como jamais o pôde conseguir amor humano.

Mas haveria ai toda a convicção e generosidade que tanto se admira em Éfeso? . . .

É isto o que poderia perguntar e a que só responderiam com certeza os atores destas cenas.

A alma desta grandiosa assembleia foi São Cirilo, por cujos lábios falava a Igreja inteira e aclamava Maria Santíssima.

As palavras do santo bispo ficarão para sempre como sendo o raio de luz, aureolando a fronte virginal de Maria, e serão como um hino de amor para todos os corações cristãos.

Citemos, pelo menos, a conclusão do seu célebre discurso, pronunciado perante os duzentos bispos, reunidos em concilio.

'Nós vos saudamos, ó Maria, Mãe de Deus, exclama o piedoso prelado, venerável tesouro de todo o universo, chama inextinguível, coroa da virgindade, cetro da ortodoxa, templo incorruptível, laço daquele que não tem vinculo, pelo qual nos foi dado aquele que é chamado Bendito por excelência e que veio em nome do Senhor. É por vós que se glorifica a Trindade; por vós que se exalta e adora a cruz em todo o universo; é por vós que os céus estremecem de alegria, que se rejubilam os anjos. É por vós ainda que os demônios são afugentados e que o demônio tentador caiu do céu, para que a criatura caída ocupe ali o seu lugar . . .' e o final que foram estas palavras: 'Adoremos a Santíssima Trindade, celebrando, por meio de nossos hinos, a Maria sempre virgem, e ao seu Filho, Jesus Cristo, nosso Senhor, a quem pertence toda honra e toda a glória nos séculos dos séculos' (Discurso de São Cirilo, no Concílio de Éfeso, extr. De Bossuet.)

Deste modo, Nestório, que tencionava rebaixar a Mãe de Deus, tornou-se, a seu pesar, o grande promotor do seu culto. Com efeito, foi ele que o fez colocar em pleno dia, diz Augusto Nicolas (A Virgem Maria, livro III, cap. VII.), recolhendo, como num centro luminoso e único, esta verdade, que foi difundida em toda a doutrina da Igreja, desde os apóstolos, e pela qual a maternidade divina de Maria é o argumento heroico da divindade de Jesus Cristo e como que o paládio do cristianismo.

Na verdade, foi Nestório que deu ensejo a que esta verdade e o culto que a professa tivesse a sua forma mais concisa e sua justificação mais deslumbrante, enquanto que iam possuindo conhecimentos fundados a respeito de sua piedade para com a Mãe de Deus.”8

Lamentavelmente, hoje, e com muita frequência, ainda se ouve novos “Nestórios” blasfemarem negando a Maternidade Divina de Maria, são, por exemplo, os protestantes que não aceitam que Ela seja reconhecida como Mãe de Deus. Na verdade, parece que essa recusa se dá pelo desconhecimento, como observa o Pe. Neubert: “O título de Mãe de Deus não significa, nem jamis significou entre os fieis, aquilo de que Nestório nos acusava no século V e certos protestantes e racionalistas nos acusam ainda hoje, isto é, que consideramos Maria como mãe da divindade, ou como uma espécie de deusa como as da mitologia. Afirmamos sim que Maria é Mãe de Deus, mas não que Ela é mãe da divindade; Mãe de uma Pessoa que é Deus, e não mãe dessa Pessoa enquanto Deus.”9

Concluindo, rogamos à Virgem Santíssima, MÃE DE DEUS e nossa MÃE, que nos conduza em cada momento deste Novo Ano, guardando-nos na verdadeira fé e religião, alcançando-nos as graças espirituais e temporais que lhe recomendamos … AMÉM.

Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS!

Um santo e abençoado ANO NOVO a todos!

Por Maria a Jesus!



(*) Os destaques em amarelo no texto, são nossos.




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1 cf. “Missal Dominical - Missa da Assembleia Cristã”, Editora Paulus, 5ª edição/1995, Antífona da Entrada da Santa Missa da Solenidade de Santa Maria Mãe de Deus, p. 114.

3 cf. artigo publicado sob o título: “O fiat que nos abriu as portas do Céu – Meditação sobre o mistério da anunciação que se comemora em 25 de março”, capturado em https://ipco.org.br/o-fiat-que-nos-abriu-as-portas-do-ceu/#.WiQFwVWnHIU

4 São quatro os dogmas marianos: Maternidade Divina, Virgindade Perpétua, Imaculada Conceição e Assunção.

6 Idem.

8 MARIA, Pe. Júlio. “Por que Amo Maria”, Edições Paulinas/1960, Capítulo II – Maria Santíssima na Igreja, O Concílio de Éfeso, pp. 81 a 84. Texto revisto e atualizado por nós.


9 NEUBERT, Padre E. “Maria Santíssima Como a Igreja Ensina”, Editions Spes, Paris, 1945, Cap. I, p. 14, obtido em http://www.leiturascatolicas.com.