Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS!

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018


SANTA CATARINA LABOURÉ: A SANTA DO SILÊNCIO


Retrato de Santa Catarina Labouré (já idosa), com seu autógrafo.

Vale a pena fazermos algumas considerações sobre o silêncio, que tem seus aspectos positivos e negativos, embora no caso de Santa Catarina, ao conhecermos sua vida, descobriremos imediatamente que o seu silêncio era, às vezes, fruto e instrumento proteção de sua grande humildade. Nunca falou com o fim de atrair a atenção ou a admiração dos demais em razão das grandes e extraordinárias graças que recebeu do Senhor. E mais, 'nunca falava de si mesma — dirá uma das testemunhas interrogada durante o processo da causa de sua beatificação, mas permanecia silenciosa' (Sor de La Haye Saint Hilaire, 6 de julio de 1909).

Mais de uma vez Irmã Catarina respondeu com o silêncio acompanhado de um sorriso às Irmãs que se dirigiam a ela com palavras de certo desprezo. Soror Gil Moreno de Mora dirá a 5 de julho de 1909: 'Uma de suas companheiras a tratava de tonta e boba. Ela não respondia uma palavra e se contentava com sorrir'. Este silencio refletia de novo a grande humildade e caridade de nossa Irmã.

O silêncio de Santa Catarina não era indiferença, nem mutismo, nem hermetismo. Era da sua natureza serena e quiçá pouco comunicativa pelos muitos acontecimentos dolorosos que vivenciou desde sua infância; em nenhum momento utilizou o silêncio como evasão ou fuga da comunicação com as demais e menos ainda como expressão de amargura ou mal humor. Não faltou quem a acusasse de abandonar o recreio para ir à capela. As testemunhas do processo ratificam essa afirmação: 'Se dirigia regularmente para lá [capela], menos quando um ancião enfermo precisava de seus cuidados' (Vida de Catalina Labouré —Pruebas— R. Laurentin, pág. 505, n.° 1299, Sor Maurel, 21 de julio de 1909).
Primeira Aparição da Virgem Imaculada a Santa
Catarina Labouré.

O que é certo é que Catarina tinha um elevado conceito do silêncio como meio apropriado para fazer bom uso de outro dom importante que é a palavra. O silêncio permite a utilização da palavra em todo seu valor, evita seu uso inútil e, sobretudo, impede que se a utilize como arma ofensiva e destruidora contra Deus e contra o próximo.

O silêncio dispõe falar-se no tempo e de modo apropriado. O pensamento elaborado no silêncio dá densidade e valor à palavra que o expressa. Catarina conhecia bem a doutrina de seu Fundador São Vicente, sobre este ponto:

'O silêncio atrai, tanto sobre as comunidades como sobre as pessoas, abundâncias de graças e de bênçãos, posto que guardar o silêncio não é outra coisa que escutar a Deus…'. São Vicente considera que é uma grande sabedoria 'falar oportunamente, é o que fez Nosso Senhor quando aproveitou a ocasião na qual a samaritana retirava a água para falar-lhe da graça'. E exclama ainda o Santo: 'Quem nos dera ter este dom de 'falar oportunamente' (Síg. XI/4, 787).

Nossa irmã, Santa Catarina, supôs calar a tempo e falar a tempo. Tanto seu silêncio como sua palavra não pretendiam mais que o cumprimento da vontade de Deus e a caridade para com o próximo. Graças a seu silêncio, suas palavras eram mais apropriadas, mais densas de conteúdo e ofereciam mais credibilidade.

'Falava muito pouco, disse uma das testemunhas, porém, o fazia sempre muito bem. Cada palavra que dizia era oportuna (para) levar a Deus e dar ânimo' (Sor Cosnard, 9 de julio de 1909).

'Não era expansiva, falava pouco. Se lhe pedissem conselho? Dava-o, de maneira simples, em poucas palavras e sempre com muito acerto. Era o Espírito de Deus que falava por ela' (Sor Tanguy, 2 de junio de 1909).

Para Santa Catarina o silêncio é antes de tudo o ambiente onde se cultiva uma grande união com o Senhor, união que refletia em toda sua pessoa e atitudes. 'Eu estava impressionada pelo espírito de silêncio e de recolhimento de Soror Catarina — disse Soror Mauche em seu testemunho de 2 de julho de 1909 —. Sua união com Deus se refletia perfeitamente sobre seu rosto que, ao olhá-la, eu não cessava de admirá-la''.
Santa Catarina Labouré na portaria da Casa Mãe

Santa Catarina fez de sua vida eco à afirmação de São Vicente: '…o silêncio serve para falar-se com Deus: no silêncio é que Ele nos comunica suas graças' (S. V., Conf. 1 de agosto de 1655 – C. E. n.° 1344).

Assim mesmo nossa Santa fez já realidade em sua vida o que nos recomendam nossas Constituições: 'Para favorecer a intimidade de cada uma das Irmãs com Deus e despertar em todas uma indispensável recuperação interior, é necessário possuir momentos de silêncio. Clima de Deus, o silencio, aceitado de comum acordo, prepara os momentos de maior riqueza no plano espiritual' (C. 2,14). Entre esses momentos, merecem menção especial o retiro mensal e os exercícios espirituais.

Sua santidade de vida e, sobretudo, sua humildade e sua caridade extraordinárias com o próximo, especialmente com os anciãos que cuidava, só podem ter explicação em uma vida profundamente enraizada em Deus.

O silêncio predispõe facilmente à escuta. Prepara o ambiente propício não só para escutar a Deus, senão também ao irmão necessitado. Suas duas horas de conversa com Maria, na noite do dia 18 para 19 de julho, preparam-na sem dúvida para esse importante serviço de escuta. Ali aprendeu a vez e o valor do silêncio, da escuta e da palavra.
Santa Catarina rezando diante de uma
imagem da Virgem existente no pátio
entre o asilo e a Casa Mãe.

Irmã Catarina, entretanto, não vacilou ao romper o silêncio e fez uso da palavra quando a vontade de Deus e a mensagem recebida de Maria lhe exigiram. Falou e insistiu, inclusive diante das pessoas que podiam realizar o conteúdo do encargo recebido.

Como recordou Sua Santidade Pio XII na homilia da Missa de sua canonização, 'o caso de Santa Catarina não foi como o de outras místicas, como Ângela de Foligno ou Magdalena de Pazzi, que guardaram em seus corações as comunicações sobrenaturais íntimas de que foram objeto. Santa Catarina recebeu uma mensagem que havia de transmitir e cumprir: despertar o fervor esfriado nas duas Companhias do Santo da Caridade; submergir o mundo sob o dilúvio de pequenas medalhas portadoras de todas as misericórdias espirituais e corporais da Imaculada; suscitar uma Associação piedosa de Filhas de Maria para a salvaguarda e santificação das jovens' (Ecos de la Casa Madre, setembro de 1947, pág. 118).

Até o fim de sua vida padeceu o martírio de não ser atendido seu pedido de confeccionar a estátua da Virgem do globo, tão solicitada por Maria. Porém não cessou de falar até que ser atendida, mesmo reconhecendo (depois) que não correspondia à beleza que havia contemplado nas aparições.

Suas confissões lhe proporcionaram mais de um desgosto, posto que nem sempre lhe foi dado crédito e nem se respondeu a tempo ao que pedia, porém, apesar disso a Vidente, vencendo sua timidez, falou quantas vezes se fez necessário para levar adiante o encargo recebido. Ademais, não se contentou com falar a suas contemporâneas senão também, apesar de sua pouca cultura e suas deficiências de estilo e ortografia, deixar por escrito para posteridade o relato das manifestações de Maria. Nestes escritos, nem palavras inúteis, nem preocupações de estilo, nem complexos por não saber expressar-se corretamente. Não buscou enaltecer a si mesma, nem a glória humana que pudesse advir dos privilégios de que foi objeto; só a movia a missão confiada pela Mãe de Deus.
Santa Catarina, a primeira propagadora da
Medalha Milagrosa

Em nossa Irmã, o silêncio e a palavra bem compreendidos e utilizados se enriqueciam mutuamente. O silêncio engrandece a palavra e a palavra apropriada, empregada em seu devido tempo, justifica e dá valor ao silêncio em cujo seio foi gerada. Nem o silêncio teria tido tanto sentido se não tivesse servido como laboratório da palavra, nem esta teria sido tão significativa e densa de conteúdo se não tivesse sido elaborada no silêncio, engendrada nele.

Em Santa Catarina, tanto seu silêncio como suas palavras, falam, criam interrogações, transmitem mensagens. Tanto mais porque encontram respaldo em sua compostura externa e seu comportamento.

Assim mesmo nossa Irmã pôs ao serviço da caridade com o próximo tanto o seu silencio como suas palavras. Os anciãos a ela confiados, nos quais descobria Deus, encontravam em Soror Catarina compreensão, atenção e perdão. Seu comportamento com os que abusavam da bebida era considerado demasiado 'indulgente'. Uma de suas companheiras de Comunidade, Soror Charvier, como tantas outras testemunhas do processo de beatificação, disse: 'Indulgente com seus anciãos, repreendia-os quando algum deles voltava bebido à casa. Nós lhe dizíamos: ''Por que não lhe repreende com mais rigor?'' Ela respondia: ''não lhe posso repreender com mais vigor. Vejo nele Nosso Senhor''. Eram descartadas palavras de acusação ou expressões de impaciência e crítica.

O silêncio era também para Irmã Catarina um meio de defesa contra a utilização indevida do dom da palavra, seja transformando-a em discurso superficial e inútil que, de certa maneira, é uma profanação deste maravilhoso instrumento de comunicação, seja empregando-a como arma ofensiva que fere diretamente o próximo, por meio de críticas ao seu comportamento. A heroicidade de suas virtudes demonstram que nossa Santa foi fiel às orientações recebidas de nossos Fundadores com relação à caridade fraterna, que facilmente se rompe com a palavra mal utilizada:
Antigo postal francês de Santa Catarina
Labouré

'Guardem-se bem em suas conversações de se ocupar dos defeitos do próximo, e muito menos os de suas Irmãs… e como o silêncio é o meio mais eficaz para evitar não só uma multidão de faltas contra a caridade que se cometem com a língua, como também outros muitos pecados que resultam do muito falar, segundo o testemunho da Sagrada Escritura, que propõe um especial cuidado em observá-lo' (Reglas Comunes, cap. VI, artículos 3.° y 4.°).

Não é difícil imaginar que Santa Catarina encontrou também no silêncio e no recolhimento que lhe era permitido, o espaço adequado para o encontro consigo mesma e para a reflexão, necessária a todo ser humano.

Num mundo onde há tanto barulho e dispersão, faltam esses espaços de reflexão, corremos o risco de caminhar embalados pelo que nos rodeia e arrasta, sem clara consciência para onde vamos e quais são as influências de tudo isso sobre nossa pessoa e comportamento, inclusive sobre nossa liberdade. Sob tais condições, caímos na maior das escravidões, porque nem a inteligência nem a vontade exercem todas as suas capacidades. Aceitamos como bom o que o sistema e a moda reinantes nos oferecem, sem arranjar tempo, nem procurarmos o espaço apropriado ao silêncio e à reflexão necessária para — à luz dos critérios evangélicos, dos ensinamentos da Igreja e dos compromissos próprios de um membro da Companhia — fazer um exame sério de tudo quanto nos acontece.

A Maria Imaculada 'totalmente aberta ao Espírito… exemplo perfeito dos que escutam a Palavra e a guardam' (C. 1,12), confiemos nosso desejo de continuar, com fidelidade renovada, a Missão de Cristo entre nossos irmãos necessitados.

Santa Catarina Labouré deixou este mundo e partiu para o céu no dia 31 de Dezembro de 1876, por volta das 19 horas, após receber os últimos sacramentos com uma felicidade e serenidade impossíveis de se descrever, e a seu pedido, as irmãs Filhas da Caridade que a cercavam, rezavam a Nossa Senhora a invocação que ela própria repetia muitas vezes:

Terror dos demônios, rogai por nós! …



USE A MEDALHA MILAGROSA



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FONTE: excertos do artigo publicado, com o mesmo título, no periódico “Ecos de la Compañía”, da autoria da Irmã Juana Ezlizondo, Filha da Caridade, ano/1997, capturado em http://vincentians.com/es/santa-catalina-laboure-la-santa-del-silencio-2/ – Tradução e adaptação para o português do Brasil são nossos, assim como alguns destaques.

Um comentário:

  1. Meu Deus peço que interceda por este sr. João Geraldo e família,cure a sua saúde totalmente completamente e liberte Ele de ferida que não está estancando para que tenha uma vida saudável,e possa passa por cirurgia para retirada de varizes, e que a sua vida seja prospera com a Tua paz Jesus e voltar a ser feliz e ter vitórias .. Em Teu Nome Meu Jesus Cristo de Nazaré amém assim seja graças glórias a Deus e a Jesus de bençãos sem medidda para sua família Jesus Cristo de Nazaré Amém

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