Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS!

quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

O TESTAMENTO DE SANTA CATARINA LABOURÉ


Fotografia autêntica de Santa Catarina Labouré tirada
em vida, em 1876, pouco antes de sua morte, e a assi-
natura é um fac-símile.
Testamento? Como assim?

No sentido corrente do vocábulo, especialmente no âmbito jurídico, é de um ato pelo qual alguém dispõe de seus bens, na sua totalidade ou parte deles, para depois de sua morte (espécie de ato de última vontade). Infelizmente, tais atos de última vontade terminam gerando enormes confusões entre seus beneficiários.

Na vida dos Santos, o sentido não difere muito, mas eles não deixam, em regra, bens materiais para possíveis herdeiros. Em geral, são recomendações, exortações, ensinamentos, testemunho de vida e conversão, e, eventualmente, algum bem que possuíram em vida. Mas, ao contrário dos Testamentos mundanos, não costumam gerar brigas e discórdias, são luzes para o caminho daqueles que desejam servir a Deus seguindo o exemplo de vida do autor do Testamento.

Nas obras que narram a vida do Poverello de Assis, São Francisco de Assis, há um livro denominado “Testamento de São Francisco”, que constitui sua última vontade, o patrimônio que recolheu em sua breve, mas intensa vida evangélica, o tesouro do seu coração que agora deixa como herança, ou seja, como possibilidade de toda uma vida que seus seguidores podem e devem assumir, aprofundar e fazer frutificar.1

É com esse objetivo que, prescrutando a vida da Santa Vidente de Nossa Senhora em 1830, encontramos uma espécie de testamento oral deixado por ela pouco antes de sua morte, no dia anterior de sua partida para o céu.

Pois bem.

Corria o ano de 1876, e a irmã Catarina Labouré continuava no Asilo de Enghien, situado no número 77 da rua Reuilly, Paris, cuidando dos idosos ali asilados, e naquele lugar estava desde o fim de seu período de formação, em 5 de Fevereiro de 1831. Entretanto, a Santa sabia que se aproximava o momento de sua partida para o céu, e a cada festividade ou celebração anual que participava, dizia: É a última vez que celebro esta festa, Eu não verei o ano próximo …, ou, ainda, Não querem me acreditar, mas repito que não verei o ano de 1877.
Jardim do Asilo d'Enghien, muito apreciado por Santa
Catarina no período que residiu lá;

Já era a decana no Asilo desde 25 de Novembro de 1871, após o falecimento da Irmã mais velha, Vicente Bergerot, e, à época, Irmã Catarina já contava 65 anos de idade, porém, desde agosto de 1876 suas forças se declinavam a olhos vistos, tanto que precisou guardar o leito, a fim de aliviar suas crises de asma, tosse e dores nos joelhos.

Vendo aproximar-se sua hora, o pensamento da morte não lhe deixava, e continuava dizendo Eu não verei o ano próximo, e quando eu morrer, não será preciso levar meu corpo para o cemitério, será enterrado debaixo da capela.2 Essa profecia se concretizou, tendo sido inicialmente enterrada num túmulo construído embaixo do assoalho da capela do Asilo, ainda não usado por ninguém, por vontade da Superiora, à época, Irmã Mazin.

Em Novembro daquele ano, já bem melhor, obteve autorização de participar do retiro anual na Casa-Mãe das Filhas da Caridade, na rue du Bac, 140, local das aparições da Santíssima Virgem. Participou ativamente de todos os exercícios juntamente com as demais irmãs, como o de permanecer ajoelhada nos momentos apropriados, embora fosse a mais idosa e sofresse das doenças antes citadas.

Antiga fotografia do interior da Capela da Rue du Bac,
local das Aparições de 1830.
Após o retiro, retornou para Enghien e voltou a piorar, ficando de novo de cama. Entretanto, para sua grande alegria, sua Superiora, Irmã Dufès, em 8 de Dezembro, festa da Imaculada Conceição, resolveu levá-la, mais uma vez, à Capela das aparições, na Casa-Mãe. Após participar da celebração festiva, Santa Catarina sofreu um pequeno acidente no caminho. “Ao subir no carro, para a volta (julgaram-na demasiado corajosa), Catarina caiu e deslocou o pulso. Não disse palavra alguma, e ninguém se deu conta do acontecido. Ela mesma enrolou num lenço o braço machucado.

O que houve, Irmã Catarina? – Perguntou irmã Dufès.

Ela mostrou o punho enfaixado do outro braço e respondeu alegremente: Ah, irmã, estou levando meu buquê. Todos os anos a Virgem Santa o manda deste modo!

Catarina tomava como dádiva as alegrias e infortúnios. Irmã Charvier não ficou menos chocada.

– Ela lhe faz cada uma, a Virgem Santa!

Catarina respondeu com muita calma:

Quando a Virgem Santa nos manda um sofrimento, é uma graça que recebemos!

Sim, tudo era graça para Santa Catarina.”3

No Jardim do Asilo de Enghien,  havia
uma estátua da Santíssima Virgem, pe-
rante a qual Santa Catarina Labouré fa-
zia diariamente uma curta oração.
Ainda no mês de dezembro, dia 30, Santa Catarina foi visitada pela Irmã Cosnard, e esta queria ter uma conversa mais íntima com a Vidente, mas havia outras irmãs no ambiente, tendo então a visitante se aproximado do leito e murmurado:
Minha irmã Catarina, quereis partir sem me dizer uma palavra sobre a Santíssima Virgem?”.

Santa Catarina então soprou-lhe estas palavras: Nada posso dizer, murmurou a moribunda, inclinando-se; compete ao Padre Chavalier – diretor das Filhas da Caridade – dizer o que sabe4. Mas acrescentou:

Cuide para que rezem; que o bom Deus inspire os superiores a honrar Maria Imaculada. É o tesouro da comunidade. Que rezem o rosário. As vocações serão numerosas … se forem aproveitadas. Elas diminuirão se não forem fieis à regra, à Imaculada Conceição, ao rosário. Já não somos suficientes servas dos pobres. É preciso que as postulantes vão aos hospitais, para aprenderem a se superar.5

No dia seguinte, 31 de Dezembro de 1876, às 19 horas, rodeada por suas irmãs de Congregação, que recitavam as orações dos agonizantes, a Ladainha da Imaculada Conceição e outras preces, a Vidente da Santíssima Virgem deixava este mundo, rumo ao repouso eterno, ou, como costumava dizer quando era questionada se não tinha medo da morte: Medo? Por que hei de ter medo, se vou encontrar a Nosso Senhor, Maria Santíssima e S. Vicente?6

Eis, portanto, a nosso ver, o “Testamento” de Santa Catarina Labouré: honrar Maria Imaculada, por meio da fidelidade à regra, à Imaculada Conceição e ao Rosário.

Sem dúvida, essas exortações da Vidente da Virgem Imaculada, inicialmente, destinavam-se às suas irmãs da Congregação das Filhas da Caridade; no entanto, podem ser por nós também seguidas, observadas e praticadas. A “fiel observância à regra”, traduz-se na fiel observância – leia-se, obediência – aos Mandamentos de Deus e da Igreja, na fiel observância de nossas obrigações de estado (solteiros, casados ou viúvos), obrigações profissionais e, em especial, a prática do verdadeiro amor em nossas relações interpessoais, a caridade para com os pobres e necessitados …
Antigo postal da Santa, do período
anterior à sua canonização.

São nas relações com o outro que temos a oportunidade de exercitar o amor ao próximo, o perdão, a caridade. Com as diferenças, aprendemos a tolerância. Com aqueles de difícil relacionamento, aprendemos a ter paciência. São apenas alguns exemplos dos frutos que podemos colher das relações interpessoais.

A devoção “à Imaculada Conceição”, consistente na prática de uma autêntica devoção à Virgem Imaculada, ou seja, na imitação de suas virtudes, na preparação e realização de novenas e procissões por ocasião de das festas que a Igreja lhe reconhece, e outras também de natureza particular, na propagação da Medalha Milagrosa, que tantos prodígios tem operado nestes quase 200 anos de sua revelação, além de outras que já fazem parte de nossa vida devota.

Santa Catarina nos deixou um maravilhoso exemplo da verdadeira devoção à Virgem Imaculada: acolher como graça as alegrias e infortúnios que lhe sobreviessem, como o pequeno acidente narrado acima, sofrido após ter participado da festa da Imaculada Conceição.

O “Santo Rosário”, essa devoção tão cara a Nossa Senhora, sempre lembrada por Ela em suas aparições, sobretudo nas de Lourdes e Fátima, como poderoso instrumento de conversão, de defesa contra os ataques dos demônios, remédio para as diversas enfermidades da alma, do coração e do corpo, de alívio às almas do purgatório, de paz para o mundo.

Quantas graças alcançadas pelas pessoas que têm em seu cotidiano a prática dessa devoção. De quantos perigos já foram livradas, por meio da oração do Rosário?

São João Paulo II, inicia sua Carta Apostólica Rosarium Virginis Mariae, de 16.10.2002, afirmando: O Rosário da Virgem Maria (Rosarium Virginis Mariae), que ao sopro do Espírito de Deus se foi formando gradualmente no segundo Milênio, é oração amada por numerosos Santos e estimulada pelo Magistério. Na sua simplicidade e profundidade, permanece, mesmo no terceiro Milênio recém iniciado, uma oração de grande significado e destinada a produzir frutos de santidade. Ela enquadra-se perfeitamente no caminho espiritual de um cristianismo que, passados dois mil anos, nada perdeu do seu frescor original, e sente-se impulsionado pelo Espírito de Deus a «fazer-se ao largo» (duc in altum!) para reafirmar, melhor «gritar» Cristo ao mundo como Senhor e Salvador, como «caminho, verdade e vida» (Jo 14, 6), como «o fim da história humana, o ponto para onde tendem os desejos da história e da civilização»7

São caminhos que nos levarão, um dia, a desfrutar as alegrias eternas junto a Nosso Senhor, a Maria Santíssima, São Vicente, Santa Catarina Labouré e tantos outros bem-aventurados.

Que Santa Catarina Labouré interceda por nós junto a Deus e à Virgem Imaculada.

Por Maria a Jesus!

Sou Todo Teu, Maria.




☞ NOTA DO BLOG: Os destaques e grifo, são nossos.





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1 cf. “Fontes Franciscanas”, Edição Comemorativa do Oitavo Centenário da Conversão de São Francisco (tradução do original latino “Fontes Franciscani”), Editora Mensageiro de anto Antônio, Santo André-SP, 2005, 1ª Parte, 2. Testamentos, p. 81.

2 CASTRO, Padre Jerônimo Pereira de. Santa Catarina Labouré e a Medalha Milagrosa, Editora Vozes, 2ª edição/1951, p. 229.

3 LAURENTIN, René. “Catarina Labouré Mensageira de Nossa Senhora das Graças e da Medalha Milagrosa”, Edições Paulinas, São Paulo/2012, p. 108.

4 CASTRO, Pe. Jerônimo Pereira de. op. cit., p. 235.

5 LAURENTIN. René. op. cit. p. 114.

6 CASTRO, Pe. Jerônimo de. op. cit., p. 236.