A VIRGEM IMACULADA NOSSA SENHORA DA MEDALHA MILAGROSA E O DOGMA DA IMACULADA CONCEIÇÃO – PARTE I
A Imaculada Conceição |
«Com grande alegria rejubilo-me no Senhor, e minha alma exultará no meu Deus, pois me revestiu de justiça e salvação, como a noiva ornada de suas joias.» (Is 61,10)
Com
essas palavras da Antífona da Entrada1,
inicia-se a grande celebração da Missa da Solenidade da Imaculada
Conceição da Bem-Aventurada Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe
(próximo dia 8 de Dezembro). Na verdade, é com este espírito de
júbilo e gratidão a Deus que devemos celebrar esse grande
privilégio da Mãe de Deus.
Sua
Santidade, o Beato Papa Pio IX2,
expressou essa grande alegria ao proclamar como dogma de fé a
Imaculada Conceição de Maria, em 8 de Dezembro de 1854, por meio da
Bula “Ineffabillis
Deus”,
e em sua exortação final, expressou e transmitiu a todo orbe esse
espírito de alegria e de confiança:
Proclamação do Dogma da Imaculada Conceição pelo Beato Pio IX, em 8 de Dezembro de 1854 |
“A
nossa boca está cheia de alegria e os Nossos lábios de exultação,
e damos e daremos sempre as mais humildes e as mais vivas ações de
graças a Nosso Senhor Jesus Cristo, por nos haver concedido a graça
singular de podermos, embora imerecedor, oferecer e decretar esta
honra, esta glória e este louvor à sua Santíssima Mãe. E depois
reafirmamos a Nossa mais confiante esperança na beatíssima Virgem,
que, toda bela e imaculada, esmagou a cabeça venenosa da
crudelíssima serpente, e trouxe a salvação ao mundo; naquela que é
glória dos Profetas e dos Apóstolos, honra dos Mártires, alegria e
coroa de todos os Santos; seguríssimo refúgio e fidelíssimo
auxilio de todos os que estão em perigo; poderosíssima mediadora e
reconciliadora de todo o mundo junto a seu Filho Unigênito;
fulgidíssima beleza e ornamento da Igreja, e sua solidíssima defesa
…”3
Há
pouco menos de oito dias, comemorávamos a Festa da Virgem Imaculada
Nossa Senhora da Medalha Milagrosa ou Nossa Senhora das Graças, essa
precedência parece ter cunho histórico e teológico-mariano, pois
foi na segunda Aparição da Virgem Santíssima a Santa Catarina
Labouré, no dia 27 de Novembro de 1830, que foi revelada a grande
missão que Deus lhe confiaria: ser a mensageira e propagadora da
Medalha Milagrosa para todo mundo.
E
qual seria essa relação da Medalha com a Imaculada Conceição?
Nossa
Senhora ao mostrar a medalha cujo modelo deveria ser cunhada, vinha
escrita ou
gravada, “em
letras de ouro”
– como relatou a Vidente – a invocação “Ó
Maria concebida sem pecado rogai por nós que recorremos a vós”!
O anverso da Medalha Milagrosa com a in- vocação e a efígie da Virgem Imaculada pisando sobre a infernal serpente |
Essa
crença era mesmo muito antiga. “Os
mais antigos Padres da Igreja, amiúde se expressam em termos que
traduzem sua crença na absoluta imunidade do pecado, mesmo o
original, concedida à Virgem Maria. Assim, por exemplo, São
Justino, Santo Irineu, Tertuliano, Firmio, São Cirilo de Jerusalém,
Santo Epifânio, Teodoro de Ancira, Sedulio e outros comparam Maria
Santíssima com Eva antes do pecado. Santo Efrém, insigne devoto da
Virgem, A exalta como tendo sido "sempre,
de corpo e de espírito, íntegra e imaculada".
Para Santo Hipólito Ela é um "tabernáculo
isento de toda corrupção".
Orígenes A aclama "imaculada
entre imaculadas, nunca afetada pela peçonha da serpente".
Por Santo Ambrósio é Ela declarada "vaso
celeste, incorrupta, virgem imune por graça de toda mancha de
pecado".
Santo Agostinho afirma, disputando contra Pelágio, que todos os
justos conheceram o pecado, "menos
a Santa Virgem Maria, a qual, pela honra do Senhor, não quero que
entre nunca em questão quando se trate de pecados"4.
As imagens e pinturas da Imaculada Conceição sempre apre- sentam a Virgem esmagando a serpente infernal |
Também
no próprio seio da Igreja já se celebrava essa festa desde o século
XV, tendo o Papa Sisto IV, em 28 de Fevereiro de 1476, definido o dia
8 de Dezembro como o dia dedicado à celebração da Imaculada
Conceição, e, posteriormente, foi também proibido qualquer
discussão sobre assunto ou doutrina contrária (Papa Alexandre VII,
em 1661), como nos lembrou o Papa Pio IX na Bula “Ineffabillis”:
“Tudo
isto foi expresso pelo Nosso já lembrado Predecessor Alexandre VII,
com as seguintes palavras: 'Nós
temos bem presente que a santa Igreja Romana celebra solenemente a
festa da Conceição da imaculada e sempre Virgem Maria, e aprovou
outrora um ofício especial e próprio para a dita festa, segundo as
disposições que então foram dadas por Sisto IV, Nosso Predecessor.
Desejamos, pois, favorecer esta louvável e piedosa devoção, a
festa e o culto a ela prestado e que permaneceu inalterado na Igreja
Romana desde a instituição da mesma; e, consoante o exemplo dos
Romanos Pontífices Nossos Predecessores, defender este devoto modo
de venerar e honrar a beatíssima Virgem preservada do pecado
original por virtude da graça proveniente do Espírito Santo. Além
disto, é Nossa viva preocupação conservar no rebanho de Cristo a
unidade do espírito no vínculo da paz, suprimindo as ofensas e as
contendas, e removendo os escândalos. Por isto, acolhendo as
instâncias e as súplicas a Nós apresentadas pelos preditos bispos,
pelos Cabidos das suas igrejas, e pelo rei Filipe e pelos seus
reinos, renovamos as Constituições e os Decretos emanados dos
Romanos Pontífices Nossos Predecessores, e especialmente de Sisto
IV, Paulo V e Gregório XV, em defesa da sentença que sustenta que a
alma da bem-aventurada Virgem Maria, na sua criação e infusão no
corpo, teve o dom da graça do Espírito Santo e foi preservada do
pecado original; e em favor da festa e do culto da Conceição da
mesma Virgem Mãe de Deus, entendidos segundo a piedosa sentença
supra exposta; e ordenamos que tais Constituições e Decretos sejam
plenamente observados sob pena de incorrer nas censuras e nas outras
sanções previstas pelas próprias Constituições.”5
Pois
bem, no anverso da Medalha Milagrosa não só a jaculatória faz
referência clara à imaculada conceição de Maria, como a própria
efígie nela gravada reproduz a Virgem Imaculada esmagando a serpente
infernal, símbolo do pecado, da antiga inimizade posta entre esta e
a Mulher, entre a descendência dela e a da Mulher (Gn 3, 15) e a
vitória da «mulher
vestida com o sol»
(Ap 12,1). Era, portanto, o grande sinal vindo do Céu para que a
Santa Igreja confirmasse este privilégio como dogma.
A
grande contribuição que as Aparições de 1830 na Capela da Rue
du Bac trouxeram
para futura confirmação do dogma, também foi por meio da Medalha
Milagrosa, e logo após a cunhagem e distribuição das primeiras em
meados de 1832, em razão dos inúmeros prodígios realizados por
meio desse sacramental, atraindo para a medalha da Imaculada
Conceição o atributo de “milagrosa”.
Continua
….
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1 Cf.
“Missal Dominical Missal da Assembléia Cristã”, Editora
Paulus, 1995, p. 1415.
2 O
Papa Pio IX foi beatificado pelo Papa [São] João Paulo II, em 3 de
Setembro de 2000.
3 Cf.
http://www.capela.org.br/Magisterio/Pio%20IX/ineffabilis8dez.htm,
“Sentimentos
de esperança e exortação final”, § 43.