Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS!

domingo, 30 de julho de 2017

SÃO VICENTE DE PAULO, APÓSTOLO DA CARIDADE

SÃO VICENTE DE PAULO, APÓSTOLO DA CARIDADE

         Numa França devastada por guerras, a Providência suscitou o santo para combater heresias e atender a quase todas as obras espirituais e materiais de misericórdia.
São Vicente de Paulo foi uma figura extraordinária da Igreja Católica no século XVII. São Francisco de Sales, seu contemporâneo, o considerava “o padre mais santo do século”. E o renomado pregador francês Bossuet, também seu contemporâneo, exclamava: “Que bom deve ser Deus, quando fez Vicente de Paulo tão bom!”. Essa bondade tão grande era fruto de seu amor a Deus e de uma humildade que se manifestava até em meio das maiores honras. Por outro lado, praticamente não houve obra de misericórdia espiritual ou temporal na França a que São Vicente não estivesse ligado. Sua vida foi tão cheia, que nos permite dar apenas um apanhado geral dela, ressaltando alguns traços marcantes.
DE INFÂNCIA HUMILDE, DESTINADO A GRANDES MISSÕES
Vicente de Paulo nasceu no dia 24 de abril de 1581 num pequeno casario da diocese de Dax, próximo aos Pirineus, na França. Seus pais eram humildes e piedosos lavradores.
Em sua infância guardava os porcos pertencentes à família até que seu pai, notando-lhe aguda inteligência, mandou-o estudar com os franciscanos de Dax. Para financiar seus estudos, Vicente foi preceptor dos filhos de um advogado da cidade. Depois estudou teologia em Toulouse e em Zaragoza, na Espanha, sendo ordenado em setembro de 1600.
Tendo ido a Marselha buscar importante legado, foi sequestrado no mar por piratas da Barbaria e vendido como escravo em Tunis. Ele mudou várias vezes de senhor até que com um deles, renegado reconvertido por ele, fugiu para a França.
Depois de uma estadia em Roma, Vicente foi para a França, encarregado pelo Papa de uma mensagem sigilosa para o rei Henrique IV. Nomeado capelão da esposa deste, a rainha Margarida de Valois, ele fazia, em nome dela, a distribuição de esmolas aos pobres, e visitas aos enfermos no hospital. Após o assassinato de Henrique IV, em 1610, São Vicente passou um ano na Sociedade do Oratório, fundada pelo Cardeal Pierre de Bérulle, introdutor do Carmelo na França, e pôs-se sob sua direção.
Quando Bérulle foi nomeado bispo de Paris, encarregou São Vicente da paróquia de Clichy, nos arredores da Cidade-luz. Sempre obedecendo a seu diretor, foi depois preceptor dos filhos de Felipe Emanuel de Gondi, conde de Joigny e General das Galeras da França. A piedosa Sra. de Gondi escolheu São Vicente como seu diretor, e pediu-lhe que evangelizasse as povoações de suas imensas propriedades. Foi no contato com essas populações que foi amadurecendo no santo o desejo de fundar uma congregação de missionários dedicados às missões.
O santo foi depois vigário em Châtillon. Foi ali que, em 1617, reunindo as senhoras da sociedade local, fundou as Confrarias da Caridade (ou Damas da Caridade), visando ordenar a distribuição de recursos para os necessitados. Essas confrarias difundiram-se depois por toda a França.
Voltando ao palácio dos Gondi, Vicente de Paulo foi nomeado Capelão Geral das Galeras por Luís XIII, o que lhe permitiu assistir pessoalmente aos condenados às galés. Estes eram muitas vezes autores de crimes comuns, condenados para suprir à necessidade de mão de obra da marinha francesa em expansão. Carregados de correntes, viviam nos porões, alimentando-se de pão preto e água, geralmente cobertos de úlceras. Seu estado moral era ainda pior do que a miséria física em que viviam. São Vicente obteve para esses infelizes vários benefícios e alívios materiais, conquistando seus corações para falar-lhes então do Céu. Converteu muitos deles e procurou que pessoas importantes também se interessassem por esses condenados.
CONGREGAÇÃO DA MISSÃO E DAS FILHAS DA CARIDADE
Quando São Vicente evangelizava as terras da família de Gondi, outros sacerdotes se juntaram a ele para instruir aquela gente abandonada. Esse grupinho começou depois a pregar missões em outras localidades. Foi o início da Congregação dos Sacerdotes da Missão, fundada oficialmente em abril de 1625. “Íamos — dizia o santo — ingênua e simplesmente, enviados pelos senhores bispos, evangelizar os pobres como Nosso Senhor havia feito: eis o que fazíamos. E Deus fazia, de seu lado, o que havia previsto desde toda a Eternidade. Ele dava algumas bênçãos aos nossos trabalhos. O que, sendo visto, outros bons eclesiásticos juntaram-se a nós e nos pediram para ser dos nossos”. Considerando depois a grande expansão de seus sacerdotes, o santo exclama: “Ó Salvador! Quem pensou jamais que isso chegasse ao estado em que está agora? A quem me dissesse isso então, eu julgaria estar zombando de mim”.1
Em novembro de 1633 fundou, com Santa Luísa de Marillac, a Congregação das Filhas da Caridade. Santa Luísa, de nobre nascença e de muito maior nobreza de alma, foi o braço direito de São Vicente tanto para a fundação das Filhas da Caridade quanto na direção das Damas da Caridade.
Além dessas duas instituições, foi possível a São Vicente ocupar-se de mais uma importante obra, que foi o cuidado dos recém-nascidos abandonados. Naquela época difícil, de 300 a 400 crianças eram abandonadas anualmente pelas mães, geralmente às portas das igrejas. Felizmente o crime do aborto não estava disseminado como hoje e às crianças era dada uma oportunidade de vida. São Vicente passou a recolhê-las em um hospital que fundou para esse fim, sendo seu primeiro cuidado regenerá-las pelas águas do santo Batismo. Cuidava depois de sua alimentação e formação religiosa, até que estivessem prontas para enfrentar a vida.
LUTA CONTRA A HERESIA JANSENISTA
São Vicente de Paulo combateu muito as influências maléficas do jansenismo, uma das mais perigosas heresias que infectaram a Igreja, com vários traços de semelhança com o progressismo de nossos dias. O santo trabalhou com todas suas forças para manter sua Companhia infensa ao erro, no qual caíram outras comunidades religiosas e mesmo bispos. E, no Conselho de Consciência (órgão real que tratava de questões eclesiásticas), empenhou-se pela indicação de candidatos a bispos que fossem avessos a tal heresia.
Com efeito, o Cardeal de Richelieu de tempos em tempos consultava São Vicente de Paulo a respeito de assuntos da Igreja, sobretudo quanto aos eclesiásticos que ele achava dignos para o episcopado. O santo o alertou de que, para ter bons eclesiásticos, era necessário ir ao seu nascimento, isto é, ao seminário menor, segundo intenção do Concílio de Trento. O cardeal concedeu então a São Vicente uma grande quantia, para estabelecer um seminário menor e outro maior nos quais se deviam incentivar sobretudo a virtude e a oração. Vendo os belos frutos desses seminários, vários bispos quiseram ter o mesmo em suas dioceses, e confiaram sua direção aos Padres das Missões.
Nas desolações provocadas pelas guerras dos Trinta Anos e de religião, São Vicente recolheu em Paris os sacerdotes, religiosas e fidalgos das regiões devastadas, que a guerra tinha expulsado de suas terras. Fez o mesmo com os católicos e nobres da Irlanda e da Inglaterra, perseguidos pelo infame Cromwel. A respeito desses nobres empobrecidos, dizia ele: “É justo assistir e socorrer essa pobre nobreza para honrar Nosso Senhor que era, ao mesmo tempo, muito nobre e muito pobre”.
Em 1643, o rei Luís XIII, vendo-se às portas da morte, quis ser assistido por São Vicente de Paulo. Este ficou sempre em sua presença para ajudá-lo a elevar seu espírito e seu coração a Deus, e a formar interiormente atos de religião e de conformidade com a morte. O virtuoso rei morreu em seus braços. Sua viúva, Ana d’Áustria, que ficou como regente durante a minoridade de Luís XIV, nomeou o santo para seu Conselho de Consciência. Nele, São Vicente esforçou-se para levar às mais altas esferas a renovação religiosa, por meio da indicação de bons bispos.
TODO O BEM POSSÍVEL, AFASTAR TODO O MAL POSSÍVEL”
São Vicente de Paulo foi auxiliado em suas múltiplas atividades pela Companhia do Santíssimo Sacramento, sociedade fundada em 1627 por nobres franceses profundamente católicos, com a missão de fazer “todo o bem possível e afastar todo o mal possível”. O santo filiou-se a essa companhia, que muito trabalhou em prol da reforma católica desejada pelo Concílio de Trento.
Não se pode ter um verdadeiro afervoramento religioso se não se iniciar pelo clero, então muito decadente e desordenado. Começou tal reforma secundando o bispo de Beauvais na preparação dos neo-sacerdotes para o ministério, por meio de um retiro de 20 dias antes da ordenação, no qual eram tratados problemas tanto de ordem moral, religiosa quanto prática para que os recém-ordenados pudessem exercer seu múnus sacerdotal. Essa prática estendeu-se depois para Paris e toda a França e Itália.
Entretanto, era necessário preservar e aumentar o fruto desse retiro. Para isso o santo propôs aos sacerdotes uma conferência espiritual semanal, na qual eles poderiam ser esclarecidos sobre pontos de dúvida, e se ajudarem e encorajarem mutuamente nos trabalhos de seu ministério. A Conferência das Terças-feiras, que se realizava em São Lázaro (Casa Mãe de seus missionários) com esse fim, atraiu eclesiásticos que depois se notabilizaram como arcebispos, bispos, vigários-gerais ou párocos em diferentes dioceses do reino.
São Vicente ambicionava ainda mais. Não era suficiente ter eclesiásticos bem formados, se estes não fossem auxiliados por leigos também com boa formação religiosa. Abriu então as portas da Casa Mãe dos Lazaristas (como ficaram conhecidos seus sacerdotes) para todos os leigos que quisessem retemperar sua fé por meio de um retiro espiritual bem feito. Isso foi de grande importância para a reforma religiosa.
O corpo incorrupto de São Vicente está em uma
riquíssima urna de prata, na Casa-Mãe dos Lazaristas,
em Paris
 
São Vicente de Paulo faleceu em 27 de setembro de 1660 e foi sepultado na capela-mãe da Igreja de São Lázaro, em Paris. Foi canonizado em 1737, e em 1885 declarado patrono de todas as obras de caridade da Igreja Católica, por Leão XIII.
Recentemente foram descobertas mais de 3.000 cartas inéditas de São Vicente de Paulo que “não só refletem um homem que nos ensina, mas também um homem que luta”.*


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Notas da Fonte:
Les Petits Bollandistes, Saint Vincent de Paul, Vies des Saints, Bloud et Barral, Paris, 1882, tomo 8, p. 469.
Outras obras consultadas: Fr. Justo Perez de Urbel, San Vicente de Paul, Año Cristiano, Ediciones Fax, Madri, 1945, tomo III, pp. 145 e ss.; Edelvives, San Vicente de Paul, El Santo de Cada Dia, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoça, 1948, pp. 191 e ss.; Antoine Dégert, St. Vincent de Paul, The Catholic Encyclopedia, CD Rom edition.




(*) Texto revisto, os destaques e as imagens foram acrescentadas








FONTE: artigo de Plinio Maria Solimeo, Revista Catolicismo – Setembro/2012, capturado em http://catolicismo.com.br/materia/materia.cfm?IDmat=19FAB29F-E4E7-AA80-532A2F1E9D2735FE&mes=Setembro2012

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