Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS!

terça-feira, 18 de julho de 2017

ERA NOITE DO DIA 18 PARA O DIA 19 DE JULHO DE 1830: “VINDE À CAPELA”



ERA NOITE DO DIA 18 PARA O DIA 19 DE JULHO DE 1830: “VINDE À CAPELA”

Santa Catarina Labouré, Filha da Caridade,
a vidente e mensageira da Medalha Milagrosa
       Irmã Catarina tinha ingressado no noviciado das Filhas da Caridade, de São Vicente de Paulo, em 21 de abril de 1830, quando deixou para trás o traje de simples camponesa pela touca e lenço das noviças, e após algumas revelações místicas do coração de São Vicente e do Senhor na Eucaristia, naquela noite – véspera da festa de São Vicente1 – deitava desejando ver Nossa Senhora, pois ainda não havia visto. A própria vidente fala desse seu desejo quando faz o relato da primeira aparição ao seu diretor, o Padre Aladel.

     Seu desejo foi atendido, e a Virgem Santíssima lhe apareceu pela primeira vez naquela noite, da forma como relatou a própria vidente, pois é a narrativa que contem suas palavras e exprime, com toda sua ingenuidade e simplicidade, a fisionomia da encantadora visão:

     “Na véspera da festa de S. Vicente, nossa Madre Marta fez-nos uma instrução sobre a devoção aos Santos, em particular sobre a santíssima Virgem. Esta instrução deu-me um grande desejo de ver Nossa Senhora. Deitei-me com o pressentimento de que nessa noite eu veria minha boa Mãe. – Havia tanto tempo que eu desejava vê-la! – Enfim adormeci.

Santa Catarina ajoelha-se diante da Santíssima Virgem
apoiando suas mães sobre o joelho de Nossa Senhora

        “As onze e meia da noite, ouvi chamar pelo meu nome: Irmã Catarina. Irmã Catarina. – Acordei, olhei para o lado donde vinha a voz, que era do lado da passagem.2 Afastei a cortina e vi um menino, vestido de branco, de quatro a cinco anos, o qual me disse: 'Vinde à capela. A Santíssima Virgem vos espera.' Logo me lembrei que poderiam estar ouvindo. O menino respondeu: 'Ficai tranquila; são onze e meia; todas dormem profundamente. Vinde, eu vos espero.'

        “Vesti-me depressa e dirigi-me para o lado onde estava o menino, junto à cabeceira do meu leito. Ele me seguiu, ou, antes, eu o segui, tendo-o sempre à esquerda, pelo que caminho que tomou. As luzes, por onde passávamos, estavam acesas, o que muito me admirava; mas muito maior foi a minha admiração, quando, ao chegar à capela, a porta se abriu, mal o menino a tocou com a ponta dos dedos. Mina admiração chegou ao cúmulo, quando vi todas as velas acesas; o que me recordava a Missa de Natal.

        “No entanto, eu não via a Virgem Santíssima. O menino conduziu-me ao santuário, junto à cadeira do Padre Diretor; aí me ajoelhei; o menino ficou de pé. Como me parecia longa a espera! Olhei para o lado da tribuna, com receio de que por ali passassem as Irmãs da vigilância noturna.

       “Enfim, chegou o momento. O menino avisou-me dizendo: 'Eis a Santíssima Virgem! Ei-la!' Ouvi um leve ruído, como o farfalhar de um vestido de seda, que vinha da tribuna, perto do quadro de S. José, e foi assentar-se em uma cadeira, semelhante à de Sant'Ana, em cima dos degraus do altar.3

        “Nesse momento, eu não sabia manifestar o que senti, o que se passou dentro de mim; parecia-me que eu não estava vendo a Santíssima Virgem. Foi então que o menino me falou, não com a voz de um menino, mas de um homem feito e com palavras muito fortes. Então, olhando para a Santíssima Virgem, dei um salto e ajoelhei-me nos degraus do altar, com as mãos apoiadas sobre os joelhos da Mãe de Deus.

        “Foi este o momento mais feliz da minha vida; não sei exprimir a celeste comoção que se apoderou de mim. Ela me disse como eu devia proceder para com meu diretor, como devia proceder nas horas de sofrimento e muitas outras coisas que não posso revelar; disse-me também, apontando o pé do altar, que viesse sempre àquele lugar abrir o meu coração, e que ali acharia as consolações de que precisava.

O anjo que acordou e levou Irmã Catarina à Capela
permanece ao lado dela durante toda a Aparição

       “Perguntei-lhe o que significavam as coisas, que antes eu tinha visto, e ela me deu uma explicação de tudo.

      “Não sei quanto tempo fiquei junto à Virgem; apenas sei que quando ela partiu, percebi que alguma coisa vaporosa se afastava, como uma sombra que se encaminhava para a tribuna, pelo mesmo caminho por que tinha vindo.

       “Levantei-me e vi o menino onde eu deixara. 'Ela já partiu', disse-me ele. Voltamos para o dormitório, pelos lugares percorridos na ida para a capela. As luzes continuavam acesas e o menino caminhava à minha esquerda.

     “Creio que esse menino é o meu anjo da guarda, que tomara a forma humana, para levar-me a ver Nossa Senhora, porque eu o tinha invocado muitas vezes, pedindo-lhe que me alcançasse este favor. Ele estava vestido de branco e irradiava uma luz sobrenatural, isto é, estava resplandecente de luz milagrosa. Apresentava quatro a cinco anos de idade.

       “Quando cheguei ao leito, eram duas horas da madrugada; não pude mais dormir.”4






Bibliografia consultada:

LAURENTIN, René. Catarina Labouré Mensageira de Nossa Senhora das Graças e da Medalha Milagrosa, Edições Paulinas, São Paulo, 2012

CASTRO, Jerônimo P. de Castro. S. Catarina Labouré, Editora Vozes, 11ª edição, Petrópolis/RJ, 1951



Imagens:
1 Naquela época ainda se celebrava a festa do fundador São Vicente de Paulo em 19 de Julho, hoje sua festa é no dia 27 de Setembro.

2  Os leitos das Irmãs são cercados por cortinas; deixa-se o espaço de um metro para elas se moverem à noite e pela manhã. Esse espaço é o que a Irmã Catarina chamava de passagem.

3A Irmã Catarina, na sua linguagem simples, escreveu esta frase belíssima, sem tradução própria: “J'entends un bruit comme le frou-frou d'une robe de soie” - Segundo declarações da Vidente ao Padre Aladel, a Santíssima Virgem assentou-se, de fato, na cadeira do Padre Diretor, a qual cadeira era semelhante à do quadro, onde Sant'Ana se achava assentada. Hoje, nesse local, construíram o altar da Virgo Potens.

4 Carta ao Padre Aladel, em 1856 – Extraída do livro “S. Catarina Labouré e a Medalha Milagrosa, P. Jerônimo Pedreira de Castro, CM, Editora Vozes, 11ª edição/1951, p. 73 a 76. Os destaques em negrito, são nossos