SANTA CATARINA LABOURÉ E A CRUZ MISTERIOSA
Na postagem anterior,
falávamos sobre a presença da Cruz nas Aparições da Virgem
Imaculada e no quanto esse sinal é importante na vida dos cristãos.
Hoje queremos reproduzir a narrativa de um fato extraordinário
relatado por Santa Catarina e que muito impressionou o Tribunal
canônico, e, vale dizer, até hoje não há explicação
satisfatória.
Vejamos:
“A 30 de Julho de
1848, a Irmã Catarina escreveu ao Padre Aladel, que vira uma cruz,
carregada por muitos homens encolerizados; esses homens percorriam as
ruas de Paris, lançando o terror nos corações. A um dado momento,
lançaram a cruz na lama e fugiram. A cruz é erguida por outros
homens, que a cobrem com um véu; e ouviu-se essa voz: 'O
sangue corre, o inocente morre, o pastor dá a vida por suas
ovelhas.'
A cruz é ereta sobre o
pedestal e ornada com a imagem de Jesus crucificado, como no momento
da sua morte, e por trás vê-se a bandeira da França: a parte
branca toca a cabeça de Nosso Senhor e simboliza a inocência, a
vermelha significa o sangue que corre, e a azul é o emblema de
Maria. Esta cruz, chamada cruz da vitória, será muito venerada e
será um lugar de peregrinação.
E a Vidente termina com
essas palavras ao Padre Aladel: 'Esta é a terceira vez que vos
escrevo sobre esta cruz. Consultei a Deus, a Santíssima Virgem e ao
nosso bom pai São Vicente, no dia de sua festa e durante a oitava,
pedindo que esse pensamento singular saia da minha cabeça. Mas, em
lugar de me sentir aliviada, sinto um tormento de declarar tudo isto
ao meu diretor.'1
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Padre Aladel, diretor espiritual de Santa Catarina Labouré |
Que pode significar essa
cruz? E que poderia fazer o Padre Aladel para satisfazer a visão da
Irmã Catarina? Muitos perguntam e ninguém sabe explicar. A própria
Vidente pretendia ver uma realidade ou um simbolismo? As palavras: 'O
pastor dá a vida por suas ovelhas', podem se referir ao
Arcebispo de Paris, Monsenhor Affre, que foi mortalmente ferido ao
saltar uma trincheira, a 25 de Julho de 1848, cinco dias antes da
carta acima referida.
O notável é que, em
todas as aparições da Santíssima Virgem, aparece a cruz. No
reverso da Medalha Milagrosa, encimando o monograma de Maria,
está a cruz, e embaixo os dois corações de Jesus e Maria.
Na noite que precedeu a
conversão de Ratisbonne, segundo ele mesmo declarou ao Tribunal, não
pôde conciliar o sono, porque lhe parecia ver uma grande cruz,
semelhante à da Medalha Milagrosa.
A própria Virgem
Imaculada, na visão da noite de 18 para 19 de Julho de 1830, tinha
dito à Vidente, entre soluços: 'Minha filha, a cruz será
desprezada.' Nossa Senhora referia-se à Comuna de 1870, porque a
Irmã Catarina escreveu: 'Eu pensava quando isto haveria de
acontecer, e ouvi bem: daqui há quarenta anos.'2
Há, pois, um mistério
nessa visão da Irmã Catarina relativa à cruz, a percorrer Paris,
carregada por bandidos, e por eles jogada na lama. A Vidente
sentiu-se interiormente atormentada até que comunicasse tudo ao seu
diretor. O fato desta aparição parece, pois, incontestável.”
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Cristo Crucificado. Imagem em madeira policromada. Foto: Pinterest. |
É, de fato, uma
narrativa extraordinária, e, a nosso modesto modo de ver, referia-se
ao grave período de guerra e perseguições à Igreja na França.
Todavia, deixemos as especulações à parte, pois o que mais
sobressai na narrativa dessa visão da santa Vidente é seu
simbolismo: a cruz desprezada por uns é acolhida e levantada como
estandarte de vitória por outros, por quem a reconhece como símbolo
máximo de sua redenção.
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1 Conserva-se
até hoje essa narração da Irmã Catarina ao Padre Aladel, entre
os papéis manuscritos pela Santa.
2 Depois
do falecimento da Irmã Catarina, em 1876, circulou uma
pseudoprofecia, atribuída a ela. Diziam que ele escrevera: “Pensei
quando isto devia acontecer, e ouvi bem: daqui há quarenta anos, e
depois de dez anos haverá a paz.” – Portanto em 1880. Ora,
nesse ano não houve algum acontecimento que produzisse a paz … –
Mas conservam-se esses manuscritos da Vidente, e em nenhum deles
leem-se essas palavras: e dez anos depois haverá paz. Basta isto
para provar a falsidade dessa pseudoprofecia que impressionou o
Tribunal canônico.
FONTE: CASTRO, Padre Jerônimo Pedreira de. “Santa Catarina Labouré e a Medalha Milagrosa”, Editora Vozes, 2ª edição/1951, Cap. VII – A Bela Alma de Santa Catarina Labouré, pp. 209 a 211. O título e os destaques são nossos, bem como o texto foi revisto e atualizado.