A CRUZ PRESENTE NAS APARIÇÕES DA VIRGEM IMACULADA
No reverso da Medalha Milagrosa vemos a Cruz gravada sobre o travessão apoiado no M, primeira letra do nome de Maria, e logo abaixo, os corações justapostos de Jesus e Maria. |
Se
atentarmos para os relatos das aparições da Virgem Imaculada a
Santa Catarina Labouré, no ano de 1830, constataremos que,
invariavelmente, em todas elas há referência à Cruz. Na primeira
Aparição ocorrida na noite do dia 18 para o dia 19 de Julho, em
meio às diversas revelações feitas à Vidente, a Santíssima
Virgem adverte: «Minha filha, a cruz será desprezada … ».
Nas Aparições subsequentes, segunda e terceira, embora não haja
uma referência expressa à cruz, ao revelar o modelo da medalha a
ser cunhada, a Cruz vem gravada no reverso da Medalha Milagrosa,
acima dos corações justapostos de Jesus e Maria.
A primeira Aparição da Virgem Santíssima |
Na
terceira Aparição, em Dezembro de 1830, muito parecida à segunda
do dia 27 de Novembro, a Virgem Santíssima aparece logo atrás do
Sacrário, local onde repousam as Hóstias consagradas, que
representam o corpo, sangue, alma e divindade do Salvador, Cristo por
inteiro (vide CIC-Catecismo da Igreja Católica, § 1377). A “cruz”
gravada é, por assim dizer, completada pelo “travessão” sobre o
qual está, significando a mesa da Eucaristia, onde se renova, a cada
Santa Missa, o Sacrifício do Senhor.
Essa
presença marcante da Cruz nas Aparições aliada a toda simbologia
da Medalha Milagrosa, como os corações justapostos de Jesus
e Maria, que fazem indubitável referência à corredenção de Nossa
Senhora, trazem-nos uma mensagem muito clara: SOMOS CRISTÃOS,
e como tal, estamos sob o signo da Cruz, símbolo e sinal de nossa
Redenção, motivo mais que suficiente para nos alegrarmos ao
trazermos no corpo, e sobretudo no coração, esse “distintivo”,
por exemplo, quando utilizamos a Medalha Milagrosa pendurada
ao pescoço, ou tão somente a um cruz pendurada no cordão.
Sem
dúvida Nossa Senhora se referia à terrível crise política e
social que a França iria se ver submersa quando falou do “desprezo
da Cruz”, mas, penso, existir também um cunho profético nesta
advertência da Mãe de Deus, pois, passados quase duzentos anos de
suas aparições, hoje vemos de uma forma muito explícita certa
intolerância, para não dizer repúdio, a esse distintivo do
cristão. Há leis, decretos e outras normas que proíbem a presença
deste símbolo em ambientes públicos, e os argumentos são os mais
diversos: nosso país é laico, não possui religião oficial;
deve-se respeitar as crenças religiosas de todos, cristãos e não
cristãos, logo, não se pode “impor” aos que não professam a
mesma fé símbolos próprios de certa religião; a presença da cruz
no ambiente evoca dor e sofrimento, mas Cristo venceu a morte e
ressuscitou, por isso não se deve prestar culto à cruz (argumento
próprio de algumas denominações protestantes, e que, às vezes,
optam em utilizar a figura de um “peixe”, um dos primeiros
símbolos do cristianismo, ainda na época da perseguição aos
cristãos); a cruz, por representar Cristo sofredor, atrai
sofrimentos, dificuldades, provações … (argumentos típicos de
alguns místicos e supersticiosos), e assim por diante vai se criando
e espalhando argumentos para excluir da vida e ambientes o mais
autêntico símbolo cristão: a Cruz.
Cruz com o Cristo crucificado. Foto: Arautos do Evangelho |
Contra
todos esses e outros argumentos contrários à presença desse
símbolo genuinamente cristão,
devemos responder como o Apóstolo dos gentios: «nós
pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para
os pagãos … Pois
a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de
Deus é mais forte do que os homens.»
(1Cor 1:23.25).
Desde
os tempos mais remotos do cristianismo, a Cruz é tida como sinal dos
cristãos, também símbolo de vitória e arma poderosa contra toda
espécie de mal. Célebre é o relato da ação salvífica e
vitoriosa da Cruz na vida do imperador Constantino:
“Por
ocasião da batalha da Ponte Milvia, no ano 312, o exército de
Constantino viu uma cruz luminosa brilhar nos céus, circundada pelos
dizeres. Com
este sinal vencerás
– In
hoc signo vinces.
Ali estava, sem dúvida nenhuma, diante do jovem general, o sinal dos
cristãos.
À
noite, segundo a tradição, Jesus apareceu em sonhos a Constantino,
pedindo que adotasse a cruz como símbolo de seu exército. Na manhã
seguinte, o jovem general mandou gravar a cruz de Cristo nos
estandartes de seus soldados e alcançou a vitória sobre os seus
inimigos. Um ano mais tarde, o Imperador promulgou o Edito de Milão,
que deu liberdade para a Igreja Católica.
Foto: Rumo à Santidade |
À
medida que o Império Romano foi se convertendo ao cristianismo,
dentre as ruínas do paganismo, surgia um mundo novo, banhado pela
luz do Evangelho.”1
S.
Eusébio de Cesaréia (†
339),
faz expressa alusão a ação vitoriosa da Cruz na vida do imperador:
“(...)
Constantino cantou estas e outras palavras semelhantes e afins,
através de suas ações, a Deus, chefe supremo e autor da vitória,
ao entrar com hinos de triunfo em Roma. Todos em conjunto, os membros
do Senado, os dignitários, o povo romano, bem como suas criancinhas
e mulheres, o recebiam com a alegria nos olhos, cordialmente, qual
libertador, salvador, benfeitor, entre exuberantes aclamações de
júbilo. Mas ele, que possuía como coisa natural a piedade para com
Deus, sem se deixar absolutamente comover pelos clamores, nem exaltar
pelos louvores, estava bem cônscio do socorro vindo de Deus. Logo
ordenou que se colocasse o troféu da paixão salutar na mão da sua
estátua. Sustentando na mão direita o sinal salvífico da cruz,
ergueu-a no lugar mais freqüentado pelos romanos. Mandou gravar em
latim uma inscrição nesses termos: 'Por intermédio deste sinal
salutar, verdadeira prova de denodo, livrei e salvei vossa cidade do
jugo do tirano; e ainda restabeleci o Senado e o povo romano em sua
antiga dignidade e esplendor, após a libertação'. (...)”
2
O
sinal da Cruz também nos livra do mal, e assim nos exorta a sempre
fazê-lo São
Cirilo de Jerusalém (†
386): “Não
vamos ter vergonha de confessar o Crucificado. Seja a Cruz nosso selo
feito com ousadia por nossos dedos na nossa testa, e em tudo; sobre o
pão que comemos, os copos que bebemos; em nossas idas e vindas;
antes de nosso sono, quando nos deitar e quando nos levantar; quando
estamos no caminho, e quando ainda estamos. Grande é essa
conservante; é sem preço, para o bem dos pobres; sem trabalho, para
os doentes; uma vez que também a sua graça é de Deus. É o sinal
dos fiéis, e o medo de demônios[...]”3
A visão da Cruz luminosa pelo imperador Constantino na Batalha da Ponte Milvian em 312. Afresco de Rafael, pin- tado entre 1520-1524. |
O
desprezo da Cruz é, portanto, a negação da nossa condição de
cristão, do Batismo que recebemos, é
uma recusa à sua ação salvífica e vitoriosa, e o mais grave,
equivale à negação de Cristo, e nos remete àquelas passagens dos
Evangelhos: «Quem
não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim.»
(Mt 10:38), ou, ainda, «Porque,
se nesta geração adúltera e pecadora alguém se envergonhar de mim
e das minhas palavras, também o Filho do homem se envergonhará
dele, quando vier na glória de seu Pai com os seus santos anjos.»
(Mc 8:38).
Ao
fazer expressa referência à Cruz e gravá-la em sua Medalha, Nossa
Senhora quer nos lembrar que somos cristãos e estamos todos sob o
signo da Cruz, pela qual alcançaremos a vitória e a paz que tanto
almejamos no início de cada novo ano.
Na
postagem seguinte, relataremos um fato extraordinário acerca da
Cruz, relatado por Santa Catarina e que impressionou muito o Tribunal
Canônico.
Por
Maria a Jesus!
Sou
Todo Teu, Maria.
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2 cf.
http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/patristica/estudos-patristicos/813-pais-da-igreja-sobre-o-sinal-da-cruz
- Eusébio
de Cesareia – História Eclesiástica IX, 9-11.