Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS!

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

A Virgem Imaculada e a Medalha Milagrosa

TERCEIRA APARIÇÃO: A VIRGEM IMACULADA E A EUCARISTIA



Em dezembro passado postamos acerca da Terceira Aparição da Virgem Imaculada a Santa Catarina Labouré (VideAqui), e a Vidente inicia o relato dessa Aparição indicando o local escolhido por Nossa Senhora para se manifestar mais uma vez: Um dia, às cinco horas e meia da tarde, depois da meditação, no mais completo silêncio, julguei ouvir um ruído como o fru-fru dum vestido de seda, vi a Santíssima Virgem, perto do Sacrário, um pouco atrás...1 Foi a última Aparição das três ocorridas no ano de 1830, em Paris, na capela da rue du Bac.

Diferentemente das duas anteriores (em julho e novembro), quando a SS. Virgem apareceu pelo lado da tribuna onde ficava um quadro de São José, ou seja, lado esquerdo do altar (lado da epístola, segundo o Rito da época, hoje tido como Rito Extraordinário ou Tridentino2), na terceira, a manifestação se deu perto do sacrário, um pouco atrás. Daí vem a pergunta: por que Nossa Senhora escolheu a proximidade do Sacrário para se manifestar?

A primeira observação que nos vem, é a da própria Sagrada Escritura. No livro dos Provérbios, capítulo 16, versículo 4, lemos: «O Senhor faz tudo com um propósito …», isto é, em tudo há sempre um propósito divino, ao qual somos chamados a interpretar e absorver. Saber interpretar os sinais que o Céu nos envia, ajuda-nos a compreender e observar a vontade de Deus em nossas vidas. A título de exemplo, podemos citar a mensagem angelical aos pastores de Belém, anunciando-lhes o nascimento do Salvador: «É que hoje vos nasceu, na cidade de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos servirá de sinal: encontrareis uma criança envolta em faixas e deitada numa manjedoura» (Lc 2, 11-12), e assim os pastores foram a Belém, chegando lá, encontraram «... Maria e José, e o recém-nascido deitado na manjedoura» (Lc 2, 16), sinal conforme indicado pelos anjos.

Portanto, a Aparição próxima ao Sacrário é um detalhe que não nos pode passar despercebido, era um sinal incontestável da indicação de Jesus Eucaristia, como fonte (de energia) e alimento para nossa caminhada, como outrora foi o maná do deserto para o povo hebreu a caminho da Terra Prometida (Ex 16: 15).

A escolha desse lugar (Sacrário, centro do altar) se harmoniza e complementa um convite da Virgem à sua Vidente, na primeira Aparição: Vinde aos pés deste altar, aqui as graças serão derramadas sobre todas as pessoas que as pedirem com fervor …3.

Na 1ª Aparição, a Santíssima Virgem apontando o
pé do altar, onde a Irmã Catarina deveria lançar-
se para receber as consolações necessárias.
Ainda no relato da Aparição de julho de 1830, a Irmã Catarina acrescenta: Ela me disse … a maneira de me conduzir em meus sofrimentos: vir lançar-me ao pé do altar (e mostrava com a mão esquerda o pé do altar) e ali abrir meu coração. Ali receberia todas as consolações de que tivesse necessidade.4

Nossa Senhora ao indicar à Santa o pé do altar, e em sua última Aparição se manifestar tão próxima ao Sacrário, está nos ensinando também o caminho que devemos tomar para abrirmos os corações, buscarmos consolo nas horas difíceis, e haurirmos a força necessária para a nossa jornada neste mundo; e, convenhamos, não há ninguém melhor que Ela para nos indicar Cristo, afinal de contas foi Seu Sacrário vivo, carregou-O em seu puríssimo ventre por nove meses; apresentou-O aos pastores e aos reis magos na gruta de Belém, e foi quem mediou o primeiro milagre, nas Bodas de Caná (Jo 2: 1-11).

Não há como falar-se de Maria e da Eucaristia sem citarmos São João Paulo II, de saudosa memória, apresentando-nos, através da Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia, Maria como a «Mulher Eucarística»:

Se quisermos redescobrir em toda a sua riqueza a relação íntima entre a Igreja e a Eucaristia, não podemos esquecer Maria, Mãe e modelo da Igreja. Na carta apostólica Rosarium Virginis Mariæ, depois de indicar a Virgem Santíssima como Mestra na contemplação do rosto de Cristo, inseri também entre os mistérios da luz a instituição da Eucaristia. Com efeito, Maria pode guiar-nos para o Santíssimo Sacramento porque tem uma profunda ligação com ele.

Maria, «Mulher Eucarística»
À primeira vista, o Evangelho nada diz a tal respeito. A narração da instituição, na noite de Quinta-feira Santa, não fala de Maria. Mas sabe-se que Ela estava presente no meio dos Apóstolos, quando, «unidos pelo mesmo sentimento, se entregavam assiduamente à oração» (Act 1, 14), na primeira comunidade que se reuniu depois da Ascensão à espera do Pentecostes. E não podia certamente deixar de estar presente, nas celebrações eucarísticas, no meio dos fiéis da primeira geração cristã, que eram assíduos à «fracção do pão» (Act 2, 42).

Para além da sua participação no banquete eucarístico, pode-se delinear a relação de Maria com a Eucaristia indirectamente a partir da sua atitude interior. Maria é mulher « eucarística » na totalidade da sua vida. A Igreja, vendo em Maria o seu modelo, é chamada a imitá-la também na sua relação com este mistério santíssimo.

De certo modo, Maria praticou a sua fé eucarística ainda antes de ser instituída a Eucaristia, quando ofereceu o seu ventre virginal para a encarnação do Verbo de Deus. A Eucaristia, ao mesmo tempo que evoca a paixão e a ressurreição, coloca-se no prolongamento da encarnação. E Maria, na anunciação, concebeu o Filho divino também na realidade física do corpo e do sangue, em certa medida antecipando n'Ela o que se realiza sacramentalmente em cada crente quando recebe, no sinal do pão e do vinho, o corpo e o sangue do Senhor.

Existe, pois, uma profunda analogia entre o fiat pronunciado por Maria, em resposta às palavras do Anjo, e o amém que cada fiel pronuncia quando recebe o corpo do Senhor. A Maria foi-Lhe pedido para acreditar que Aquele que Ela concebia «por obra do Espírito Santo» era o «Filho de Deus» (cf. Lc 1, 30-35). Dando continuidade à fé da Virgem Santa, no mistério eucarístico é-nos pedido para crer que aquele mesmo Jesus, Filho de Deus e Filho de Maria, Se torna presente nos sinais do pão e do vinho com todo o seu ser humano-divino.

«Feliz d'Aquela que acreditou» (Lc 1, 45): Maria antecipou também, no mistério da encarnação, a fé eucarística da Igreja. E, na visitação, quando leva no seu ventre o Verbo encarnado, de certo modo Ela serve de «sacrário» – o primeiro «sacrário» da história –, para o Filho de Deus, que, ainda invisível aos olhos dos homens, Se presta à adoração de Isabel, como que «irradiando» a sua luz através dos olhos e da voz de Maria. E o olhar extasiado de Maria, quando contemplava o rosto de Cristo recém-nascido e O estreitava nos seus braços, não é porventura o modelo inatingível de amor a que se devem inspirar todas as nossas comunhões eucarísticas?

Ao longo de toda a sua existência ao lado de Cristo, e não apenas no Calvário, Maria viveu a dimensão sacrificial da Eucaristia. Quando levou o menino Jesus ao templo de Jerusalém, «para O apresentar ao Senhor» (Lc 2, 22), ouviu o velho Simeão anunciar que aquele Menino seria «sinal de contradição» e que uma «espada» havia de trespassar também a alma d'Ela (cf. Lc 2, 34-35). Assim foi vaticinado o drama do Filho crucificado e de algum modo prefigurado o «stabat Mater» aos pés da Cruz. Preparando-Se dia a dia para o Calvário, Maria vive uma espécie de «Eucaristia antecipada», dir-se-ia uma «comunhão espiritual» de desejo e oferta, que terá o seu cumprimento na união com o Filho durante a Paixão, e manifestar-se-á depois, no período pós-pascal, na sua participação na celebração eucarística, presidida pelos Apóstolos, como «memorial» da Paixão.5

Portanto, se Maria Santíssima – a «Mulher Eucarística» – nos indica o Sacrário como o local para o qual devemos dirigir nossas preces, nossos pedidos e súplicas, e lá receber toda a consolação necessária, é porque deseja que ingressemos mais profundamente no Mistério Eucarístico, que nos tornemos almas eucarísticas. Bem a propósito, foram as exortações de São Josemaria Escrivá: Sê alma de Eucaristia!”, das quais transcrevo duas:

Sê alma de Eucaristia! - Se o centro dos teus pensamentos e esperanças estiver no Sacrário, filho, que abundantes os frutos de santidade e de apostolado! (Forja, 835)

Jesus ficou na Eucaristia por amor..., por ti.
- Ficou, sabendo como é que os homens O receberiam..., e como é que tu O recebes.
- Ficou, para que O comas, para que O visites e Lhe contes as tuas coisas e, chegando ao trato íntimo na oração junto do Sacrário e na recepção do Sacramento, te enamores mais de dia para dia, e faças que outras almas - muitas! - sigam o mesmo caminho. (Forja, 887)6
Concluímos com a advertência do Frei Henrique Trindade em sua célebre obra, A Alma Gloriosa de Maria: Quão pouco eucarística é a nossa alma, ostensiva, egoísta, ingrata, dissipada, rebelde, esquecida dos interesses do Pai Eterno! Como comungamos? Como assistimos à Santa Missa? Como fazemos as nossas adorações e visitas? Digamos com o inspirado autor das Palhetas de Ouro: 'Há de ser sempre por Maria e com Maria que eu me aproximarei de Jesus Sacramentado'. Unidos, realmente, com Cristo, por meio da Senhora, teremos os sinais da Eucaristia gloriosa. O que não alcançou o grande irmão franciscano São Paschoal Baylon, por meio de Maria, junto ao tabernáculo?

Senhora, Mãe de Jesus Cristo, fazei que seja eucarística a nossa alma. Que, imitando as virtudes próprias de Jesus-Hóstia, vivamos cada vez mais sob o influxo suave deste Mistério de amor. Assim seja!”7

Por Maria a Jesus!

Sou todo teu, Maria.




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1 cf. CASTRO, Padre Jerônimo Pereira de. Santa Catarina Labouré e a Medalha Milagrosa, Editora Vozes, 2ª edição/1951, Cap. IV, p. 95.

2 cf. BERGMAN, Lisa. “Tesouro da Tradição Guia da Missa Tridentina”, tradução e adaptação de Nestor Forster Jr., Editora Ecclesiae, 2015, p. XXVII (“De que lado?”): “O lado esquerdo é onde ocorre a maior parte da Missa dos Catecúmenos, durante a qual nos preparamos para vinda de Nosso Senhor, ouvindo os Seus servos na Epístola e nos Salmos do Velho Testamento … As partes da Missa que envolvem água (o Lavabo, a mistura de água e vinho, e as abluções) ocorrem todas do lado esquerdo do altar, onde está a sacra com as orações correspondentes.” Ressalta-se, entretanto, que a maior parte da Missa nesse Rito, ocorre no centro do altar.

3 cf. CHARPY, Élisabeth. “Orar 15 Dias com Santa Catarina Labouré”, Editora Santuário, 2012, Sexto Dia, 46.

4 cf. SANTOS, Armando Alexandre dos. “A Verdadeira História da Medalha Milagrosa”, Editora Artpress, 2ª edição/2017, pp. 22-23.


7 TRINDADE, Frei Henrique G., “A Alma Gloriosa de Maria”, Editora Vozes, 2ª edição/1937, Cap. XXIV, pp. 128-129 (excertos – O destaque é nosso).