VIRGEM IMACULADA EM LOURDES: 160 ANOS DO TRIUNFO DA IMACULADA CONCEIÇÃO (1858-2018)
Pouco
menos de quatro anos da proclamação do dogma da Imaculada Conceição
da Beatíssima Virgem Maria por Sua Santidade o Papa Pio IX, através
da bula “Ineffabillis
Deus”
(traduzindo-se do latim: “Deus Inefável”), no dia 8 de Dezembro
de 1854, “o inefável Deus” abriu mais uma vez seu magnânimo
Coração à humanidade pecadora, permitindo que Àquela que gerou em
suas entranhas virginais seu Filho Unigênito, Àquele que nem os
céus puderam conter, viesse como a confirmar o que a Igreja
proclamara, ou como diria mais tarde o Santo Padre Papa Pio XII: “'O
que em Roma, pelo seu magistério infalível, o sumo pontífice
definia, a Virgem Imaculada Mãe de Deus, a bendita entre as
mulheres, quis, ao que parece, confirmá-lo por sua boca, quando
pouco depois se manifestou por uma célebre aparição na gruta de
Massabielle'. Certamente, a palavra infalível do pontífice romano,
intérprete autêntico da verdade revelada, não necessitava de
nenhuma confirmação celeste para se impor à fé dos fiéis. Mas
com que emoção e com que gratidão o povo cristão e seus pastores
não recolheram dos lábios de Bernardete essa resposta vinda do céu:
'Eu
sou a Imaculada Conceição'!”1
Essa
foi a sensação que se verificava entre os católicos que tomavam
conhecimento da nova aparição da Santíssima Virgem Imaculada,
também na França, mas agora em uma cidade situada às margens do
rio Gave, Lourdes, hoje mundialmente conhecida e que atrai milhões
de peregrinos pelos extraordinários acontecimentos que se
realizaram, e ainda se realizam, por meio da Medianeira de todas as
Graças.
Não foi diferente a reação de Santa Catarina Labouré ao tomar conhecimento das aparições: “É a mesma!”, e mais tarde, em correspondência confidencial à sua Superiora, Irmã Dufès, fez a seguinte reflexão: “Quando a Santíssima Virgem apareceu a Bernadette, disse-lhe: Eu sou a Imaculada Conceição. Vê-se logo que é a nossa.”2
A
propósito, a imagem da “Virgem
da Acolhida”
existente na Paróquia de Lourdes (foto ao lado), já na época das
aparições, depois identificada por Santa Bernadette Soubirous como
parecida à Senhora que lhe aparecia na gruta de Massabiele, lembra
muito a Virgem Imaculada Nossa Senhora da Medalha Milagrosa.
Apresenta a Virgem Maria sobre meia esfera, pisando na serpente e com
os braços estendidos.
Pois
bem.
Foram
dezoito as aparições da Mãe de Deus, em Lourdes, a Santa
Bernadette, todas no ano de 1858: a 1ª no dia 11 de fevereiro, a 2ª
no dia 14 de fevereiro, a 3ª no dia 18 de fevereiro, a 4ª no dia 19
de fevereiro, a 5ª no dia 20 de fevereiro, a 6ª no dia 21 de
fevereiro, a 7ª no dia 23 de fevereiro, a 8ª no dia 24 de
fevereiro, a 9ª no dia 25 de fevereiro, a 10ª no dia 27 de
fevereiro, a 11ª no dia 28 de fevereiro, a 12ª no dia 1º de março,
a 13ª no dia 2 de março, a 14ª no dia 3 de março, a 15ª no dia 4
de março, a 16ª no dia 25 de março (Festa da Anunciação, quando
a Virgem revelou seu nome), a 17ª no dia 7 de abril, e a 18ª e
última aparição, no dia 16 de julho (Festa de Nossa Senhora do
Carmo).
Cada
aparição traz uma mensagem e tem seu valor mariano e teológico,
entretanto, destacaremos apenas algumas que julgamos se destacarem
sobre as demais.
Imagens do filme "A Canção de Bernadette", de 1943. |
A
primeira Aparição se deu em 11 de Fevereiro de 1858, numa fria
manhã de quinta-feira, por volta do meio-dia, tendo Bernadette ido
à procura de gravetos com suas companheiras Toinette (irmã) e
Jeanne Abadie (sua vizinha). Após chegarem às margens do rio Gave,
onde havia na parede rochosa uma gruta, conhecida pelo nome de
Massabielle, as duas companheiras da Vidente logo entraram na água a
fim de atravessar o canal, mas Bernadete exitou haja vista as
diversas recomendações de sua mãe, por causa da asma. Entretanto,
terminou abaixando-se, e após tirar os sapatos e começar a tirar as
meias, ouviu um forte barulho como se fosse “um pé de vento”.
Tendo
olhado para as árvores, constatou que os galhos e as folhas não se
mexiam (não balançavam), dando continuidade à retirada das meias
quando o barulho se repetiu, e ao olhar ao redor, viu que brilhava
uma luz dentro da gruta, num buraco acima dos ramos de uma roseira
brava. Dentro da luz havia “uma jovem maravilhosa, vestida de
branco com as mãos estendidas em acolhimento, como a chamá-la.
Trazia um longo cinto azul na cintura, um véu transparente sobre os
cabelos longos, e sobre cada pé descalço havia uma rosa dourada”.
Bernadette
ficou estupefata, parecia-lhe um sonho, esfregou os olhos, mas aquela
figura e aquele sorriso acolhedor não desapareciam. Depois, assim
relatou a visão:
Santa Bernadette rezando o terço |
“Meti
a mão no bolso e encontrei o Terço. Queria fazer o sinal-da-cruz,
mas não pude levantar a mão à testa. O espanto apossou-se de mim
mais fortemente, a minha mão tremia. A Senhora fez o sinal-da-cruz.
Então tentei pela segunda vez, e consegui. Logo que fiz o
sinal-da-cruz, a grande comoção que sentia desapareceu. Pus-me de
joelhos e rezei meu Terço na presença da linda Senhora. Ela fazia
passar pelos dedos as contas do rosário que tinha nas mãos, mas não
mexia os lábios. Quando acabei o Terço, ela fez-me sinal para me
aproximar. Mas não ousei. Então, desapareceu de repente”.
Após
aquele encontro foi em direção às companheiras, e teve que
responder o motivo de ter ficado de joelhos, rezando por tanto tempo.
Mas suas companheiras nada viram e, ao chegarem em casa, contaram
tudo aos pais, tendo a santa Vidente sido duramente repreendida, e
impedida de retornar à gruta.
A
segunda aparição se deu no domingo subsequente, dia 14 de Fevereiro
de 1858, aproximadamente no mesmo horário. Nesta aparição se
destaca a atitude da Menina ao levar consigo uma garrafinha de água
benta para aspergir sobre a aparição. Após a reza do Terço,
apareceu-lhe a Santíssima Virgem,
e Bernadette assim narra o ocorrido: “Então
comecei a jogar água benta nela, dizendo que, se vinha da parte de
Deus, que permanecesse; se não, que fosse embora; e me apressava
sempre a jogar-lhe água. Ela começou a sorrir, a inclinar-se. Mais
água eu jogava, mais sorria e girava a cabeça, e mais a via fazer
aqueles gestos. Eu então, tomada pelo temor, me apressava a
aspergi-la mais, e assim o fiz até que a garrafa ficou vazia. Quando
terminei de rezar meu terço, Ela desapareceu e não me disse nada.
Nós nos retiramos para assistir às vésperas”.
A Santa apresenta um papel à Virgem Imaculada |
As
primeiras palavras da Virgem Imaculada a Santa Bernadette só ocorreu
na terceira aparição, 18 de Fevereiro de 1858 (quinta-feira),
quando apresentou um papel para que Nossa Senhora escrevesse seu nome
e o que desejava, sorrindo respondeu a Virgem: “Não
é necessário”,
e mais adiante, “Quer
ter a bondade de vir aqui durante 15 dias?”
Diante da resposta afirmativa da Vidente, acrescentou: “Não
prometo tornar-te feliz neste mundo, mas no outro”.
A
quarta aparição foi marcada pelo silêncio, mas na quinta aparição
a Santa Virgem ensinou à Bernadette uma oração somente para ser
rezada por ela, nunca foi revelada. Na oitava aparição, a Vidente
repetiu às pessoas que se encontravam próximas à gruta as palavras
da Mãe de Deus: “Penitência!
Rezem a Deus pela conversão dos pecadores”,
pedindo ainda a Santa um ato de penitência: “Vai
beijar a terra em penitência pelos pecadores”,
tendo todos ficado muito impressionados com a mensagem.
Santa Bernadette cava a fonte, e as pessoas ficam decepcionadas. |
Na
nona aparição a afluência de pessoas já era grande
(aproximadamente 300 pessoas), tendo nesta aparição do dia 25 de
Fevereiro de 1858 (quinta-feira) a Virgem Santa dito à menina que
bebesse e banhar-se na água da fonte, “Mas,
como não a via, fui beber no Gave. Ela me disse que não era ali, e
me fez um sinal com o dedo para ir à gruta, mostrando-me a fonte. Eu
fui, mas só vi um pouco de água suja. Parecia lama, e em tão
pequena quantidade, que com dificuldade pude colher um pouco no
côncavo da mão. Eu me pus a arranhar a terra, até poder colhê-la,
mas três vezes a joguei fora. Foi só na quarta vez que pude
bebê-la, de tal maneira estava suja”,
e ainda ordenado para que comesse a grama da gruta: “Ela
me disse para comer da erva que se encontra no mesmo local onde eu
fui beber. Foi só uma vez, ignoro por quê”.
A
décima aparição, no dia 27 de Fevereiro de 1858 (sábado), foi
marcada pelo gesto de Bernadette: caminhou por 15 minutos de joelhos
e beijando o chão, recomendando que a multidão que ali se
encontrava (800 pessoas), repetissem como ato de penitência. A
partir daquele dia, a pedra sagrada e o chão da gruta de Massabielle
passaram a ser beijados por pessoas do mundo inteiro.
Na
décima terceira aparição, dia 2 de Março de 1858 (terça-feira),
a quantidade de pessoas que acorriam à gruta passava de 1600, e a
Virgem se dirige à Vidente, dizendo: “Vai
dizer aos sacerdotes que venham aqui em procissão e construam uma
capela”.
A Virgem revela seu nome a Santa: "Eu sou a Imaculada Conceição" |
Somente
na décima sexta aparição – na manhã do dia 25 de Março de 1858
(Festa da Anunciação) – a Mãe de Deus revela seu nome à Santa:
“Depois
dos quinze dias, eu lhe perguntei de novo seu nome, três vezes
seguidas. Ela sorria sempre. Por fim ousei uma quarta vez, e foi
então que ela, com os dois braços ao longo do corpo [como na
Medalha Milagrosa], levantou os olhos ao Céu e depois me disse,
juntando as mãos na altura do peito, que ela era a
Imaculada Conceição”,
ou no dialeto local: “Que
soy era Immaculada Counceptiou”.
Santa
Bernadette, porém, não conhecia e não compreendia o significado
desse nome, e falou decepcionada: “Mas
então você não é a Virgem Maria?”,
vendo-A desaparecer, entristecida se dirigiu ao pároco, Padre
Peyramale, que ao questioná-la a respeito da identidade da Aparição,
se era Nossa Senhora, recebeu como resposta: “Eu
creio que não, Padre Vigário. Ela me disse que é a Imaculada
Conceição”.
Diante
da pureza, ingenuidade e simplicidade da resposta, o Pe. Peyramale
estremeceu, empalideceu e não pôde conter as lágrimas, e a partir
de então não mais duvidou daquela humilde camponesa,
semianalfabeta, que não conhecia o sentido daquelas palavras da
Virgem Maria, cujo dogma havia sido proclamado quase quatro anos
antes.
Ainda
ocorreram mais duas aparições. Na penúltima houve o “milagre do
círio” (chama da vela que não queimou a Vidente, embora tenha
passado 15 minutos entre suas mãos), e a última se deu no dia da
Festa de Nossa Senhora do Carmo, 16 de Julho de 1858, tendo
Bernadette se ajoelhado à beira do rio Gave e diante da gruta rezado
o Terço, quando, de súbito, tendo seu rosto se iluminado, declarou:
“Sim,
sim, Ela está lá e nos sorri por detrás da cerca!...”,
e após a longa aparição dessa data, a santa Vidente afirmou:
“Jamais
a vi tão bela!”,
e logo depois, “Nunca
mais a verei...”.
Assim
se deram as aparições da Virgem Imaculada em Lourdes, e da fonte
donde até hoje brota água cristalina e inúmeras graças que fazem
de seu Santuário um dos mais visitados do mundo, senão o mais
visitado.
As
relações entre o Santuário de Lourdes e o da Capela da rue
du Bac
em Paris, são muitas, ambos ligados por um traço comum: a Imaculada
Conceição da bem-aventurada Virgem Maria.
Sua
festa litúrgica ocorre no dia 11 de Fevereiro de cada ano.
Concluímos
com a oração composta pelo Papa Pio XII à Virgem Imaculada Nossa
Senhora de Lourdes:
Dóceis ao convite de vossa voz maternal, Ó Virgem Imaculada de Lourdes, acorremos a vossos pés junto da humilde gruta onde vos dignastes aparecer para indicar aos que se extraviam, o caminho da oração e da penitência, e para dispensar aos que sofrem, as graças e os prodígios da vossa soberana bondade.
Recebei, Rainha compassiva, os louvores e as súplicas que os povos e as nações oprimidos pela amargura e pela angústia elevam confiantes a vós. Ó resplandecente visão do paraíso, expulsai dos espíritos – pela luz da fé – as trevas do erro. Ó místico rosário com o celeste perfume da esperança, aliviai as almas abatidas. Ó fonte inesgotável de água salutar com as ondas da divina caridade, reanimai os corações áridos.
Fazei que todos nós, que somos vossos filhos por vós confortados em nossas penas, protegidos nos perigos, sustentados nas lutas, nos amemos uns aos outros e sirvamos tão bem ao vosso doce Jesus que mereçamos as alegrias eternas junto a vosso trono no céu.
Amém.
Por Maria a Jesus!
Sou Todo Teu, Maria.
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Bibliografia
e outras fontes consultadas:
CASTRO,
Padre Jerônimo Pereira de. “Santa Catarina Labouré e a Medalha
Milagrosa”, Editora Vozes, 2ª edição/1951.
DAFAUR,
Luis Eduardo. “Lourdes e Suas Aparições Esperança para Quem
Precisa de Socorro”, Editora Petrus, São Paulo/2009.
BÖING,
Mafalda Pereira. “Lourdes: Fontes de Graças”, Edições
Loyola, São Paulo/2005.
Carta
Encíclica “Le Pèlerinage de Lourdes Sobre Centenário das
Aparições da SS. Virgem em Lourdes”, do Papa Pio XII, Roma em 2
de Julho de 1957, Festa da Visitação da Santíssima Virgem.
Blog
“Lourdes e Suas Aparições”
(https://lourdes-150-aparicoes.blogspot.com.br/)
____________________
1 Carta
Encíclica “Le
Pèlerinage de Lourdes
Sobre Centenário das Aparições da SS. Virgem em Lourdes”, de 2
de Julho de 1957, Lourdes e a Santa Sé, §6 (excerto).