A Medalha Milagrosa: devoção própria para a luta contra o demônio em nossos dias
Estátua da Virgem Imaculada Nossa Senhora da Merdalha Milagrosa no altar principal da capela da rue du Bac, em Paris. |
Como
sabemos, as Aparições da Virgem Imaculada a Santa Catarina Labouré
em 1830, na capela da Rue du Bac, Paris, tiverem
como fim principal a revelação da Medalha Milagrosa, que desde suas
primeiras cunhagens, e distribuição, espalhou inúmeras graças
sobre as pessoas que passaram a usá-la com fé e devoção,
materializando as palavras que a Vidente ouviu da própria Santíssima
Virgem: “Estes
raios simbolizam as graças que derramo sobre as pessoas que mas
pedem”.
Pois
bem, o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, em Conferência proferida no dia 27 de Novembro de 1964, fez tão excelente quanto profunda reflexão do simbolismo desse Sacramental, e de sua ação sobre os demônios que, hoje mais do que nunca, querem desviar e afastar o homem de Deus:
“Quando
esta revelação foi divulgada, verificou-se que a Medalha Milagrosa
era ocasião de um número enorme de graças de conversão, das mais
extraordinárias, com que se patenteou ou se documentou mais uma vez
que esta devoção era muito desejada por Nossa Senhora. Por causa
disso estabeleceu-se o excelente costume de colocar, no ponto de
entroncamento das contas do Rosário, a Medalha Milagrosa. Porque o
uso da Medalha Milagrosa é cercado de toda a espécie de graças. E
essa devoção preparou as almas, muito poderosamente, para a
definição de um dos mais importantes dogmas de Nossa Senhora, que é
o da Imaculada Conceição.
Vale
a pena, portanto, nós fazermos aqui uma análise da Medalha e de tudo
quanto ela simboliza, para compreendermos o que a Providência Divina
teve em vista quando favoreceu com tantas graças essa devoção que
Ela mesma revelou a Santa Catarina Labouré.
Anverso da Medalha Milagrosa |
Nós
temos, numa face da Medalha, Nossa Senhora calcando o mundo. Quer
dizer, pondo os pés sobre o mundo na afirmação de Sua realeza
sobre toda a Terra.
É
exatamente essa a doutrina da realeza de Nossa Senhora que veio
lembrada em Fátima, como uma vitória da Contra-Revolução: "o
comunismo espalhará os seus erros por toda parte; o Papa terá muito
que sofrer; a Igreja será perseguida; por fim, o Meu Imaculado
Coração triunfará." Quer dizer, a Revolução será
derrotada e teremos então a vitória do Coração Imaculado de
Maria.
Essa
doutrina da realeza de Maria está afirmada desse lado: Nossa Senhora
calcando o mundo aos pés e também uma serpente; o que está
inteiramente coerente, concludente, com os demais símbolos da
Medalha. Porque desse lado da Medalha está escrito: 'Ó
Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós'.
Quer dizer, é a Imaculada Conceição.
Mas
não é pura e simplesmente a Imaculada Conceição, porque há aqui
um atributo que não se encontra nas imagens da Imaculada Conceição
como tal. E que é o seguinte: Nossa Senhora está com as mãos
abertas, em sinal de aquiescência, em sinal de atendimento, e de
Suas mãos partem feixes luminosos imensos, que são graças e os
favores que pelas mãos d'Ela – quer dizer pela ação d'Ela, por
meio d'Ela – descem ao mundo. E então nós temos aqui algo que faz
pensar na Mediação Universal de Nossa Senhora. As graças todas que
vêm de Deus e que, pelas mãos de Nossa Senhora, que são as mãos
distribuidoras das graças de Deus numa quantidade enorme, se
precipitam sobre o mundo. Exatamente, a vitória sobre a Revolução
dar-se-á no momento culminante das vicissitudes da Santa Igreja e,
pois, com a realização completa das profecias de Fátima ("por
fim, o Meu Imaculado Coração triunfará").
Conjunto escultural no Santuário da Rue de Bac |
Essas
graças que descem são a conversão dos pecadores, mas são também
o castigo dos irredutíveis à graça divina, e para a proteção
daqueles que se mantiveram fiéis até ao fim. E as graças para que
os fiéis continuem fiéis. Tudo isto sai das mãos de Nossa Senhora
como de um manancial. E Ela está afável, risonha, acolhedora para
todos aqueles que, tendo em vista esse conjunto de fatos, esse
conjunto de símbolos, de atributos, de noções, se dirigem
confiantes a Ela pedindo as graças que precisam.
O
verso da Medalha não é menos simbólico. Ele contém os elementos
de várias devoções que se conjugam. Por quê? Eu mostrei que [na
Medalha] onde está a imagem de Nossa Senhora, está lembrada a
Imaculada Conceição, por causa da jaculatória. Deste outro lado,
vemos doze estrelas, como na coroa de Nossa Senhora que esmaga a
Serpente, da qual fala o Apocalipse. E depois nós temos um M
central, que é o M de Maria, que é o nome de Nossa Senhora, e sobre
o qual está uma cruz. Isso lembra muito a São Luís Grignion de
Montfort, "O Tratado da Verdadeira Devoção", a "Carta
aos Amigos da Cruz" [ambos escritos por este Santo].
E
depois as duas grandes devoções (que constituem, no fundo, uma só
devoção): ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de
Maria, e que se encontram abaixo desse M. São todas as graças dadas
nos tempos modernos para a luta contra Revolução: a afirmação da
Imaculada Conceição de Nossa Senhora, o dogma da Imaculada
Conceição que deveria ser definido algumas dezenas de anos depois
da aparição da Medalha Milagrosa; as devoções ao Sagrado Coração
de Jesus e ao Imaculado Coração de Maria, e que foram para evitar a
Revolução na França; e de outro lado a obra de São Luís Maria de
Grignion de Montfort, que foi também dada para evitar a Revolução.
E uma e outra devoções dadas também para lutar contra a Revolução
e para abatê-la.
Reverso da Medalha Milagrosa |
De
maneira que esses símbolos todos se conjugam como uma espécie de
compêndio dos temas ou dos pontos mais sensíveis para a piedade
católica, que lembram mais a piedade católica, objeto natural de
suas inclinações, de seus atos de devoção, de sua confiança, e
que, portanto, devem ser vistos nesse sentido pelos católicos.
Os
senhores têm aí a razão pela qual essa Medalha foi objeto de
tantas graças.
E, por causa disso, nós devemos amar muito essa
Medalha, vendo nela como que um programa para nós. E usá-la sempre,
tê-la sempre conosco.
Os
senhores compreendem, por esta forma, como a piedade católica sabe
fazer bem as coisas. Porque outra devoção esplêndida e que sempre
os católicos tiveram, da Idade Média para cá, foi o Rosário.
Então, colocar essa Medalha unindo as dezenas do Rosário, é uma
ideia harmoniosa, felicíssima, adequadíssima, muito razoável,
constituindo um todo de objeto de piedade que nos deve falar muito à
alma, e que deve despertar muito a nossa devoção.
Vamos
pedir a Nossa Senhora que, pelas graças da Medalha Milagrosa, Ela
apresse o dia de sua vitória de um lado. E que, do outro lado
também, Ela nos ajude a sermos fiéis durante todas as tormentas que
se aproximam. Porque nós nos devemos lembrar bem disso: a
perseverança é uma graça inestimável. Com efeito, do que adianta
a gente ter uma fé [e outras] virtudes, se depois vai cair em
pecado? Essa perseverança não é fruto de nossas qualidades
pessoais, não é o fruto de nada que parte de dentro de nós. Ela é
um fruto da graça, que se trata de pedir humildemente, de implorar
com insistência, e à qual se trata de corresponder. Portanto
precisamos pedir as graças que nos asseguram a perseverança. E é
isso que nós então devemos especialmente pedir.
Há
tantas almas que o demônio vai levando para os rumos mais péssimos,
mais execráveis. Talvez nem todo mundo tenha a ideia de qual é a
ação, a força do demônio, na época em que estamos.
Não
me lembro qual foi o Doutor da Igreja que disse que os demônios que
pairam pelos ares e que não foram levados ao inferno – mas que o
serão no fim do mundo, e que pairam para a perdição das almas –
são tão numerosos que se eles pudessem ser vistos obscureceriam até
o sol, porque formariam uma espécie de capa em torno da Terra. E são
os demônios predispositivos que atuam – segundo li em certo autor – sobre as almas, não diretamente para as levar ao pecado, mas para
criar um clima que torna, depois, a tentação dos outros demônios
como que irresistível. Não é irresistível, mas é como que
irresistível, avassaladora. E se o mal hoje em dia tem tanta
possibilidade de progressão, é porque ele encontra, por toda parte,
o clima psicológico preparado.
Alguém
poderia perguntar se no tran-tran da vida espiritual, uma
pessoa é tentada pelo demônio todos os dias ou passam-se muitos
dias em que as tentações são sobretudo naturais, não são
preternaturais e, portanto, em que o demônio não atua. A minha
impressão pessoal não tem nenhuma autoridade para afirmar nada
nesse sentido, mas minha impressão pessoal é que nessa pergunta
haveria ingenuidade. E que muitas vezes por dia, no tran-tran da
vida espiritual, o normal é que o demônio tente as pessoas. Não
serão tentações sensíveis, é evidente. Mas é desse jeito,
daquele jeito, uma ação. Pode ser também um pulo violento... e os
pulos violentos não são os mais perigosos.
Santa Catarina Labouré, a vidente e mensageira da Medalha Milagrosa |
Então,
nós devemos compreender que essa Medalha, com todos esses símbolos,
e recomendada por Nossa Senhora, é um dos penhores da aliança d'Ela
com seus verdadeiros devotos. É um dos meios, uma espécie de escudo
que Ela dá para a luta contra todas essas tentações do demônio. E
que essa invocação de Nossa Senhora das Graças, ou Nossa Senhora
da Medalha Milagrosa, é particularmente eficiente por tudo quanto
Ela contém. E pela Imaculada Conceição que está esmagando a
cabeça do demônio, é particularmente eficiente nesta luta contra o
poder das trevas, que tanto e tanto nós devemos conduzir nos dias de
hoje.
Há
uma razão a mais, portanto, para nós nos aferrarmos nesses
símbolos, para nós nos aferrarmos a essa Medalha, para nós nos
aferrarmos ao escapulário do Carmo, para nós nos aferrarmos ao
Rosário. Termos sempre conosco esses objetos de devoção como meio
para ação contra o demônio. E essa é uma consideração que me
parece particularmente importante nos dias que passam.
Era
o que eu tinha a dizer a esse respeito.”
_________Prof.
Plinio Corrêa de Oliveira, Conferência do dia 27.Novembro.1964
☞ NOTA
DA PRÓPRIA FONTE: As
palavras "Revolução" e "Contra-Revolução",
são aqui empregadas no sentido que lhes dá o Prof. Plínio Corrêa
de Oliveira em seu livro "Revolução
e Contra-Revolução",
cuja primeira edição foi publicada no Nº 100 de "Catolicismo",
em abril de 1959.
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FONTE: http://www.pliniocorreadeoliveira.info/DIS_SD_19641127_medalhamilagrosa.htm#.WgOOkVtSzIW - Texto revisto e atualizado, e destaques acrescentados por nós.