A “COROA” DA IMAGEM DE MARIA IMACULADA E A CONFIANÇA INQUEBRANTÁVEL DE SANTA CATARINA LABOURÉ
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Escultura representando a Primeira Aparição da Virgem Imaculada a Santa Catarina Labouré, sua mensageira |
Há pouco celebrávamos
o último dia de maio, Mês de Maria, com a coroação das imagens de
Nossa Senhora, uma piedosa tradição que ainda resiste, em muitas
famílias e comunidades, em meio a tantas transformações do mundo
contemporâneo.
Na época de Santa
Catarina Labouré se deu um fato relacionado ao Mês de Maria e a
coroa da imagem que fica na capela, que nos traz uma valiosa lição
de fé e de confiança no poder de intercessão de Maria, a
dispensadora de todas as graças.
Era início do ano de
1871, a grave situação política na França alcançava o auge de
sua instabilidade, em decorrência de seu fracasso na guerra
franco-prussiana, e que resultaria na deflagração da Comuna de
Paris, e não demoraria por chegar à rua Picpus, número 12, ao lado
do asilo de Enghien, onde Santa Catarina cuidava da recepção.
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Antiga foto do interior da capela da rue du Bac, 140, Paris |
Em meio à tensão que
se instalou entre as Irmãs de Caridade, Irmã Catarina se mantinha
serena e confiante na promessa de proteção especial que a
Santíssima Virgem lhe havia feito, não só durante a Aparição da
noite do dia 18 para o dia 19 de julho de 1830 (Primeira Aparição),
como também em um sonho que teve em março de 1871, tendo a Virgem
Santa lhe revelado: “Diga
à Irmã Dufès que fique tranquila. Nada acontecerá a esta casa, ela
pode partir, sou eu quem ficará em seu lugar”.
Irmã Dufès, a
superiora, como já era de costume, não deu importância à
mensagem, julgava ser mais um sonho imaginário ou fantasioso da
humilde Vidente.
O Pe. René Laurentin
narra-nos o ocorrido1:
“A luta, porém, se
intensificava entre Versailles e Paris. A violência crescia. Em 28
de abril, uma facção votou pela morte do Arcebispo de Paris.
Em Reuilly, lançaram
acusações contra as irmãs. Acusaram-nas de ter matado três
mulheres da vizinhança. Assim, o cidadão Phillipe intimou Catarina
a comparecer a um interrogatório, que ela enfrentou com êxito,
graças a sua calma.
No dia 28, uns homens
encolerizados, armados de fuzis, invadiram a casa da comunidade. As
irmãs, num total de catorze, refugiaram-se no primeiro andar, na
lavanderia, bem acima deles. Através do soalho, elas ouviram os
gritos e ameaças.
“Elas temiam a
profanação. Na manhã seguinte, uma das irmãs foi pegar o cibório
na capela e deixou-o numa pequena mesa entre duas velas acesas. Em
paz, fizeram a adoração enquanto esperavam a sequência dos
acontecimentos. A vocação dos fieis costuma retomar impulso em
tempos de crise. Os ocupantes, porém, haviam descoberto garrafas de
vinho escondidas na enfermaria. As rolhas saltaram. A investigação,
estimulada por esse incidente, prosseguiu numa euforia exaltada,
provocando até ameaças de morte. As irmãs sentiram que seu retiro
seria violado.
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Santa Catarina Labouré diante de um soldado da Comuna de Paris |
“O que fazer? À
meia-noite, de 29 para 30 de abril, as irmãs comungaram e
sentiram-se fortes, como Elias, para caminhar por quarenta dias e
quarenta noites. Já não havia outra solução senão partir.
“Antes deixar a casa,
Catarina foi se ajoelhar uma última vez diante da imagem de Nossa
Senhora. No dia seguinte seria 1º de maio: o Mês de Maria.
'Voltaremos antes do
fim do mês!', disse Catarina.
As irmãs entoaram um
cântico: 'Nenhuma partidária da Comuna ousa intervir, nem mesmo a
Valentin'. Catarina retirou a coroa da imagem para evitar profanação.
'Eu a devolverei para
Senhora!', disse ela.
Os ocupantes as deixaram
partir depois de as terem submetido a uma inspeção minuciosa.
Esvaziaram sobre o chão a bolsa azul das irmãs, não sem zombarias.
'Não se perturbem,
não acontecerá nada de grave', disse Catarina às irmãs
inquietas.
“Às seis da tarde
embarcaram num veículo coletivo e decidiram às pressas o destino
que cada qual tomaria: Catarina iria para Balainvilliers, com Irmã
Tranchemer. As duas ajudariam de boa vontade a corajosa dirigente
daquela casa: Irmã Mettavent.
Pelo caminho, passavam
Lazaristas, vestidos como 'leigos, como burgueses, à paisana'.
Em 18 de maio, dezesseis
dias depois da chegada de Catarina a Balainvilliers, um batalhão de
'vingadores da República' saqueou Notre-Dame-des-Victoires [Nossa
Senhora das Vitórias], sede da mundialmente conhecida
Arquiconfraria, cuja insígnia era a medalha milagrosa. Declarou
Catarina: 'Já chegaram a Notre-Dame. Não irão adiante'.
À Cécile Delaporte,
roupeira de Reuilly, ela confirmou tranquilamente: 'A Virgem Santa
guarda nossa casa. Nós a encontraremos intacta!'.
“Em 21 de maio, as
tropas de Versailles entraram em Paris pela porta de Saint-Cloud. Dom
Darboy, Arcebispo de Paris, refém da Comuna, foi fuzilado com vinte
e um padres. Assim se realizavam uma das previsões de Catarina
registradas no famoso caderno negro guardado por Padre Chincon.
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A estátua da Virgem no Jardim do Asilo de Enghien, havia sobre a qual foi colocado um pano vermelho |
“Em 27 de maio, Irmã
Tranchemer, que voltava de Longju-meau, viu o clarão do incêndio no
centro de Paris e exclamou: 'Paris está em chamas! O que será da
casa-mãe?'.
Catarina mostrou-se
imperturbável: 'Nada tema por nossas casas, a Virgem Santa as
protege. Não tocarão nelas!'.
E apesar das condições
dramáticas (que não cabe aqui relatar), foi bem o que aconteceu.
Em 28 de maio, o
exército de Versailles dominava Paris.
“Irmã Dufès, avisada
em Toulouse, reencontrou em Versailles as companheiras de
Balainvilliers, Catarina e Irmã Tranchemer. Desejavam voltar desde a
terça-feira, dia 30, mas, como precisavam de autorização,
custou-lhe tempo obtê-la. A partida foi então adiada para o dia 31.
Às cinco da manhã, assistiram juntas à missa. Logo cedo toda a
comunidade já estava de volta, menos a Irmã Claire, que por estar
no sul do país só retornaria em 6 de junho.
Catarina encontrou a
imagem do jardim coberta por um pano vermelho e logo devolveu à
Virgem da capela a coroa retirada em 30 de abril.
'Bem que vos disse, minha boa Mãe, que voltaria para vos coroar antes do fim do mês!'.
A casa estava em
desordem, mas os danos eram insignificantes. Irmã Dufès relembrou o
sonho de Catarina e a promessa de Nossa Senhora: 'Protegerei a
casa. Vocês estarão de volta antes do fim do mês de Maria!'.
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Santa Catarina Labouré devolvendo a coroa à imagem da Virgem da capela, em 31 de maio de 1871 |
As duas famílias de São
Vicente voltaram incrivelmente protegidas.
Foi com alegria que
Catarina reencontrou seus velhinhos, que durante o mês de maio
muitas vezes repetiram aos cidadãos-enfermeiros: 'O que Irmã
Catarina fazia, nós faremos'.”
Como se viu, o momento
era bastante crítico. Havia eminente risco para aquelas irmãs da
comunidade, mas a fé inquebrantável de Santa Catarina Labouré nas
promessas da Virgem Imaculada, proporcionava serenidade nos momentos
de maior tensão.
Santa Catarina, com seu
exemplo, nos ensina que a recompensa para quem tem fé, é a
realização das promessas, pois, como nos lembra
o Apóstolo São Paulo: «Sem
fé é impossível agradar a Deus, pois quem dele se aproxima precisa
crer que ele existe e que recompensa aqueles que o buscam.»
(Hb 11,6).
Portanto,
que a Santíssima Virgem conserve sempre íntegra e incólume nossa
fé em sua segura e poderosa intercessão, por meio da Medalha
Milagrosa.
Por
Maria a Jesus!
Sou
todo teu, Maria.
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1 LAURENTIN,
René. “Catarina Labouré Mensageira de Nossa Senhora das
Graças e da Medalha Milagrosa”, Paulinas Editora, 2012, pp.
79 a 83 (excertos - Os destaques são nossos).
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