Ó MARIA CONCEBIDA SEM PECADO, ROGAI POR NÓS QUE RECORREMOS A VÓS!

segunda-feira, 9 de abril de 2018

A Virgem Imaculada e a Medalha Milagrosa

A CHEIA DE GRAÇA E A SOLENIDADE DA ANUNCIAÇÃO DO SENHOR

O mais sublime dos anjos foi enviado dos céus para saudar e anunciar a encarnação do Verbo à Virgem Maria. A virtude do Altíssimo tendo coberto Maria com sua sombra, tornou Mãe àquela que era Virgem sem núpcias: eis o mistério celebrado na Festa da Anunciação.1

A Anunciação do Anjo

     Hoje a Igreja celebra a grande Solenidade da Anunciação do Senhor2. No início, esta festa teve outras designações: “'Anunciação da Bem-aventurada Virgem Maria', 'Anunciação do Anjo à Bem-aventurada Virgem Maria', 'Anunciação do Senhor', 'Anunciação de Cristo', 'Concepção de Cristo'. Nos últimos séculos prevaleceu a 'Anunciação da Bem-aventurada Virgem Maria', sinal de que a festa foi entendida principalmente em perspectiva mariana. Na reforma litúrgica determinada pelo Concilio Vaticano II foi dado a essa festa a denominação de 'Anunciação do Senhor', com um valor, portanto, predominantemente cristológico, e com razão, pois … o tema central do episódio e da respectiva narrativa da Anunciação é a Encarnação do Filho de Deus, e a veneração cristã de Maria radica no fato que a grandeza de sua missão e pessoa está em ter sido ela inserida por pura graça singular e divina no mistério de Jesus Cristo como Mãe do Messias Filho de Deus (cf. LG 67).3

     Neste espírito de festa e gratidão a Deus, queremos meditar esta passagem do Evangelho de São Lucas ao narrar a cena da Anunciação, quando o Anjo Gabriel se dirige à Santíssima Virgem saudando-A: Alegra-Te, cheia de graça … (Lc 1:28). Foi a primeira saudação do Embaixador celeste ao ingressar no humilde cômodo da Casa de Nazaré onde estava a Virgenzinha, e é o início da oração mariana por excelência, a Ave Maria.
Anjo Gabriel, o mensageiro celeste

     Pois bem, o que significa a expressão cheia de graça(gratia plena)?

  O Pe. Antônio Miranda, Missionário de Nossa Senhora do Santíssimo Sacramento, nos dá uma definição teológica: Toda criatura, antes de existir no tempo, existiu na eternidade, dentro dos eternos desígnios de Deus. Para Deus não houve passado e nem haverá futuro. Existe, existiu e existirá sempre o eterno presente, pelo conhecimento atual de tudo, conhecimento esse que é, n'ELE, Deus, uma atualização eterna das causas. A história do mundo e das criaturas, é escrita e lida eternamente por Deus num presente sem principio e sem termo.

E é assim que Maria Ss. existiu, no seio e no pensamento de Deus, eternamente. E pode-se até dizer, mais que doutra criatura, Deus ocupou-se d'Ela, pois nenhuma outra mais intimamente está com Ele relacionada.

São Bernardo chega a afirmar que Maria Ss. é a 'obra da eterna idealização de Deus' opus oeterni concilii – e a sua 'preocupação de todos os séculos' – negotium soeculorum. (Sermo II De Pentecoste).

'É uma coisa inconcebível diz o Venerável Olier como Deus, desde a eternidade, antes da formação de todas as criaturas, trazia presente a seu espírito esta divina Esposa. Para Ele não há futuro nem passado; tudo é presente aos seus olhos: na luz eterna Ele vê distintamente todas as coisas. Desde toda a eternidade havia, portanto, no Pai, um caráter, uma figura, que representava Jesus Cristo e sua Mãe, e, desde então, estava Maria tão presente aos olhos e ao espírito de Deus, como se fora formada, como se estivera já efetivamente no mundo'4.
São João Paulo II, Papa

     De forma magistral, Sua Santidade, o Papa João Paulo II, hoje canonizado5, na Primeira parte de sua Carta EncíclicaRedemptoris Mater” - Sobre a Bem-Aventurada Virgem Maria na Vida da Igreja que Está a Caminho, expõe, à luz do Magistério da Igreja, este singular privilégio da Virgem Imaculada, escolhida desde a eternidade como a Mãe do Verbo Encarnado.

     Vejamos:

Maria é introduzida no mistério de Cristo definitivamente mediante aquele acontecimento que foi a Anunciação do Anjo. Esta se deu em Nazaré, em circunstâncias bem precisas da história de Israel, o povo que foi o primeiro destinatário das promessas de Deus. O mensageiro divino diz à Virgem: «Salve, ó cheia de graça, o Senhor é contigo» (Lc 1, 28). Maria «perturbou-se e interrogava-se a si própria sobre o que significaria aquela saudação» (Lc 1, 29): que sentido teriam todas aquelas palavras extraordinárias, em particular, a expressão «cheia de graça» (kecharitoméne).

Se quisermos meditar juntamente com Maria em tais palavras e, especialmente, na expressão «cheia de graça», podemos encontrar uma significativa correspondência precisamente na passagem acima citada da Carta aos Efésios6. E se, depois do anúncio do mensageiro celeste, a Virgem de Nazaré é chamada também a «bendita entre as mulheres» (cf. Lc 1, 42), isso se explica por causa daquela bênção com que «Deus Pai» nos cumulou «no alto dos céus, em Cristo». É uma bênção espiritual, que se refere a todos os homens e traz em si mesma a plenitude e a universalidade («toda a sorte de bênçãos»), tal como brota do amor que, no Espírito Santo, une ao Pai o Filho consubstancial. Ao mesmo tempo, trata-se de uma bênção derramada por obra de Jesus Cristo na história humana até ao fim: sobre todos os homens. Mas esta bênção se refere a Maria em medida especial e excepcional: ela, de fato, foi saudada por Isabel como «a bendita entre as mulheres».
O Anjo revela a Maria o plano salvífico do
Pai: Ela daria luz a um filho, e lhe colocaria
o nome de JESUS, "Ele será grande   e
chamar-se-á Filho do Altíssimo
" (Lc 1:32)

O motivo desta dupla saudação, portanto, está no fato de ter se manifestado na alma desta «filha de Sião», em certo sentido, toda a «magnificência da graça», daquela graça com que «o Pai ... nos tornou agradáveis em seu amado Filho». O mensageiro, efetivamente, saúda Maria como «cheia de graça»; e chama-lhe assim, como se este fosse o seu verdadeiro nome. Não chama a sua interlocutora com o nome que lhe é próprio segundo o registo terreno: «Miryam» (= Maria); mas sim com este nome novo: «cheia de graça». E o que significa este nome? Por que é que o Arcanjo chama desse modo a Virgem de Nazaré?

Na linguagem da Bíblia «graça» significa um dom especial, que, segundo o Novo Testamento, tem a sua fonte na vida trinitária do próprio Deus, de Deus que é amor (cf. 1 Jo 4, 8). É fruto deste amor a «eleição» ― aquela eleição de que fala a Carta aos Efésios. Da parte de Deus esta «escolha» é a eterna vontade de salvar o homem, mediante a participação na sua própria vida divina (cf. 2 Pdr 1, 4) em Cristo: é a salvação pela participação na vida sobrenatural. O efeito deste dom eterno, desta graça de eleição do homem por parte de Deus, é como que um gérmen de santidade, ou como que uma nascente a jorrar na alma do homem, qual dom do próprio Deus que, mediante a graça, vivifica e santifica os eleitos. Desta forma se verifica, isto é, se torna realidade aquela «bênção» do homem «com toda a sorte de bênçãos espirituais», aquele «ser seus filhos adotivos ... em Cristo», ou seja, n'Aquele que é desde toda a eternidade o «Filho muito amado» do Pai.

Quando lemos que o mensageiro diz a Maria «cheia de graça», o contexto evangélico, no qual confluem revelações e promessas antigas, permite-nos entender que aqui se trata de uma «bênção» singular entre todas as «bênçãos espirituais em Cristo». No mistério de Cristo, Maria está presente já «antes da criação do mundo», como aquela a quem o Pai «escolheu» para Mãe do seu Filho na Encarnação ― e, conjuntamente ao Pai, escolheu-a também o Filho, confiando-a eternamente ao Espírito de santidade. Maria está unida a Cristo, de um modo absolutamente especial e excepcional; e é amada neste «Filho muito amado» desde toda a eternidade, neste Filho consubstancial ao Pai, no qual se concentra toda «a magnificência da graça». Ao mesmo tempo, porém, ela é e permanece perfeitamente aberta para este «dom do Alto» (cf. Tg 1, 17) Como ensina o Concílio, Maria «é a primeira entre os humildes e os pobres do Senhor, que confiadamente esperam e recebem d'Ele a salvação». [Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 55]
A "cheia de graça"

A saudação e o nome «cheia de graça» dizem-nos tudo isto; mas, no contexto do anúncio do Anjo, referem-se em primeiro lugar à eleição de Maria como Mãe do Filho de Deus. Todavia, a plenitude de graça indica ao mesmo tempo toda a profusão de dons sobrenaturais com que Maria é beneficiada em relação com o fato de ter sido escolhida e destinada para ser Mãe de Cristo. Se esta eleição é fundamental para a realização dos desígnios salvíficos de Deus, a respeito da humanidade, e se a escolha eterna em Cristo e a destinação para a dignidade de filhos adotivos se referem a todos os homens, então a eleição de Maria é absolutamente excepcional e única. Daqui deriva também a singularidade e unicidade do seu lugar no mistério de Cristo.

O mensageiro divino lhe diz: «Não temas, Maria, pois achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz um filho, ao qual porás o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo» (Lc 1, 30-32). E quando a Virgem, perturbada por esta saudação extraordinária, pergunta: «Como se realizará isso, pois eu não conheço homem?», recebe do Anjo a confirmação e a explicação das palavras anteriores. Gabriel diz-lhe: «Virá sobre ti o Espírito Santo e a potência do Altíssimo estenderá sobre ti a sua sombra. Por isso mesmo o Santo que vai nascer será chamado Filho de Deus» (Lc 1, 35).
"O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força
do Altíssimo te envolverá com sua sombra
"
(Lc 1:35)

A Anunciação, portanto, é a revelação do mistério da Encarnação exatamente no início da sua realização na terra. A doação salvífica que Deus faz de si mesmo e da sua vida, de alguma maneira a toda a criação e, diretamente, ao homem, atinge no mistério da Encarnação um dos seus pontos culminantes. Isso constitui, de fato, um vértice de todas as doações de graça na história do homem e do cosmos. Maria é a «cheia de graça», porque a Encarnação do Verbo, a união hipostática do Filho de Deus com a natureza humana, se realiza e se consuma precisamente nela. Como afirma o Concílio, Maria é «Mãe do Filho de Deus e, por isso, filha predileta do Pai e templo do Espírito Santo; e, por este insigne dom de graça, leva vantagem a todas as demais criaturas do céu e da terra». [ibid., 53]

A Carta aos Efésios, falando da «magnificência da graça» pela qual «Deus Pai ... nos tornou agradáveis em seu amado Filho», acrescenta: «N'Ele temos a redenção pelo seu sangue» (Ef 1, 7). Segundo a doutrina formulada em documentos solenes da Igreja, esta «magnificência da graça» manifestou-se na Mãe de Deus pelo fato de ela ter sido «redimida de um modo mais sublime». [cf. Pio IX, Carta Apost. Ineffabilis Deus (8 de Dezembro de 1856): Pii IX P. M. Acta, pars I, 616; Conc. Ecum. Vat. II, Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium, 53]. Em virtude da riqueza da graça do amado Filho e por motivo dos merecimentos redentores d'Aquele que haveria de tornar-se seu Filho, Maria foi preservada da herança do pecado original. [cf. S. Germano de Const., In Annuntiationem SS. Deiparae Hom.: PG 98, 327 s.; S. André de Creta, Canon in B. Mariae Natalem, 4: PG 97, 1321 s.; In Nativitatem B. Mariae, I: PG 97, 811 s.; Hom. in Dormitionem S. Mariae 1: PG 97, 1067 s]. Deste modo, logo desde o primeiro instante da sua concepção, ou seja, da sua existência, ela pertence a Cristo, participa da graça salvífica e santificante e daquele amor que tem o seu início no «amado Filho», no Filho do eterno Pai que, mediante a Encarnação, se tornou o seu próprio Filho. Sendo assim, por obra do Espírito Santo, na ordem da graça, ou seja, da participação da natureza divina, Maria recebe a vida d'Aquele, ao qual ela própria, na ordem da geração terrena, deu a vida como mãe. A Liturgia não hesita em chamá-la «genetriz do seu Genitor» [Liturgia das Horas, de 15 de Agosto, solenidade da Assunção de Nossa Senhora, Hino das I e II Vésperas; S. Pedro Damião,Carmina et preces, XLVII: PL 145, 934] e em saudá-la com as palavras que Dante Alighieri põe na boca de São Bernardo: «filha do teu Filho» [Divina Comedia, Paraíso XXXIII, 1; cf. Liturgia das Horas, Memória de Nossa Senhora nos Sábados, Hino II para o Ofício da Leitura (edição latina)]. E, uma vez que Maria recebe esta «vida nova» numa plenitude correspondente ao amor do Filho para com a Mãe, e por conseguinte à dignidade da maternidade divina, o Anjo na Anunciação chama-lhe «cheia de graça».
A Virgem Imaculada esmagando a serpente infernal

Maria, Mãe do Verbo Encarnado, está colocada no próprio centro dessa «inimizade», dessa luta que acompanha o evoluir da história da humanidade sobre a terra e a própria história da salvação. Neste seu lugar, ela, que faz parte dos «humildes e pobres do Senhor», apresenta em si, como nenhum outro dentre os seres humanos, aquela «magnificência de graça» com que o Pai nos agraciou no seu amado Filho; e esta graça constitui a extraordinária grandeza e beleza de todo o seu ser. Maria permanece, assim, diante de Deus e também diante de toda a humanidade, como o sinal imutável e inviolável da eleição por parte do mesmo Deus, de que fala a Carta paulina: «em Cristo nos elegeu antes da criação do mundo ... e nos predestinou para sermos seus filhos adotivos» (Ef 1, 4.5). Esta eleição é mais forte do que toda a experiência do mal e do pecado, do que toda aquela «inimizade» pela qual está marcada toda a história do homem. Nesta história, Maria permanece um sinal de segura esperança.”7

Portanto, a Festa que celebramos hoje nos faz lembrar – na Encarnação do Verbo – o imenso amor de Deus pelos homens, e que ... para a nossa salvação, desceu dos céus: e encarnou pelo Espírito Santo, no seio da Virgem Maria, e se fez homem.8, e uma vez unidos a Ele, Cabeça da Igreja, e em comunhão com todos os Santos, possamos venerar, com especial devoção, a Bem-aventurada sempre Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, a cheia de graça.

Por Maria a Jesus!

Sou todo teu, Maria.



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1 cf. Subsídios Homiléticos («Anunciação da nossa santíssima Senhora, a Mãe de Deus e sempre Virgem Maria»), Pe. Pavlos Tamanini, capturado em https://www.ecclesia.com.br/sinaxe/anunciacao.html.

2 Esta Solenidade é tradicionalmente celebrado no dia 25 de Março de cada ano (9 meses antes do Natal do Senhor), entretanto, no ano em curso, coincidiu com o Domingo de Ramos ou da Paixão do Senhor, daí sua transferência para essa data, logo após a Oitava da Páscoa do Senhor.

3 cf. “Lexicon – Dicionário Teológico Enciclopédico”, tradução João Paixão Netto e Alda da Anunciação Machado, Edições Loyola, 2003, verbete: Anunciação, p. 36.

4 MIRANDA, Pe. Antônio. “Nossa Senhora das Graças Estudo Doutrinário”, Editora Luzes, 1952, Primeira Parte: Maria, Cheia de Graça, Cap. I Nossa Senhora das Graças no Plano de Deus, pp. 19-20 (texto revisto e atualizado).

5O Santo Padre João Paulo II foi canonizado no dia 27 de abril de 2014 (Domingo da Divina Misericórdia), na Praça de São Pedro, pelo atual Sumo Pontífice Papa Francisco.

6 cf. «Bendito seja Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, o qual no alto dos céus, nos abençoou com toda a sorte de bênçãos espirituais em Cristo» (Ef 1, 3).

8 Credo Niceno-Constantinopolitano (Symbolum Constantinopolitanum), cf. https://www.ecclesia.com.br/biblioteca/fe_crista_ortodoxa/o_credo_niceno_constantinopolitano.html

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